Capítulo um: BR 101
Por Kami-chan
Entre tanta destruição que aquela batalha sem sentido proporcionava, a chuva que cobria suas cabeças era a única pequena trégua para as pequenas cabanas em chamas. O loiro fazia sua parte para defender aquele pequeno pedaço de chão, esta era sua missão no momento. Impedir que aquelas pessoas impiedosas acabassem com uma vila inteira apenas porque era pequena, pouco conhecida e ninguém moveria uma pá para ajudar na reconstrução das casas daqueles inocentes.
– Naruto se ficarmos todos juntos vai ser menos produtivo, você é o mais rápido e tem mais chakra, vai pro norte. Sakura pelo leste, Sai avance por aqui e eu vou por lá.
– Hai – Gritaram os ninjas do grupo em coro antes de cada um fazer o que lhe tinha sido pedido.
Em frente como ordenara Yamato era onde se encontravam as criaturas mais estranhas que já havia visto. Eram três e protegiam a mulher imponente que parecia liderar aquela loucura. Eles eram fortes, mas Naruto estava se dando bem até levar um golpe que o fez rolar metros adiante. Parecia que tinha levado uma marretada de chakra maciço e foi acompanhada de mais outra antes mesmo que o loiro pudesse se erguer para a batalha novamente e ele viu o mundo escurecer por segundos antes de conseguir abrir os olhos para receber mais um golpe.
Cada golpe o feria e parecia absorver um tanto de seu chakra deixando-o cada vez mais fraco, agora ele nem tentava mais se mover, cada golpe tinha um breve intervalo de alguns segundos e ele sabia exatamente quando seria o próximo. Seu corpo parecia estar em um lugar muito longe de sua mente, pois não sentia mais nenhum golpe.
"Talvez assim seja morrer" pensou enquanto ouvia a agradável música dos pássaros.
"Nada mais justo, no céu deve haver muitos pássaros" pensou se concentrando naquele som tão bonito que parecia aumentar a cada instante, até chegar ao ponto de ficar tão alto que se tornou insuportável e fez Naruto franzir o cenho.
Neste mesmo instante ouviu o grito alto, claro, tão estridente quanto o nome sugeria:
– Chidori!
Aquela voz tão conhecida fez Naruto abrir os olhos mais uma vez, ignorando a tempestade de nuvens negras que se formava sobre si e a ira da mulher que a conjurara após ver seus três capangas ao chão com apenas um golpe. Será que após tanto tempo e tanta busca poderia acreditar no que seus olhos viam?
– Sasuke? – O chamado do loiro fez a silhueta em sua frente se virar ignorando os gritos de perjúrio da mulher e a tempestade escura que ela guiava para cima de ambos.
– Vocês vão me pagar caro por isso! O domínio de todo país do fogo será meu – nenhum dos dois ouvia as palavras daquela mulher, o loiro estava perdido na surpresa e o moreno no constrangimento da falta de palavras.
Estavam perdidos com aquela situação. Sasuke ainda se lembrava de que na última vez que estivera junto com Naruto, disse ao mesmo que o mataria por mero capricho. E mesmo que o moreno soubesse que aquilo era uma inverdade, seus atos neste momento o denunciavam para expor este fato à Naruto de maneira vergonhosa. Ora, pois havia invadido uma luta para salvar o rival.
Ambos presos na mesma situação de constrangimento. Uma voz interna cobrava do moreno aquela situação, bem como ocorria com Naruto e por isso, nenhum dos dois garotos pode ver o que descia do céu naquele momento e prendeu o moreno pela cintura, como que por tentáculos elevando-o.
– Sasuke – O loiro viu o moreno tentar se soltar daquilo com a Katana, mas como um raio tudo o que conseguiu foi machucar a mão e perder a arma.
Naruto se ergueu no chão e estendeu a mão para o moreno para puxá-lo. Como última opção, o outro aceitou também esticando o braço que fora agarrado pelo loiro.
Fora ingenuidade acreditar que poderia puxar Sasuke daquela coisa, no fim tudo o que conseguiram foi ficar os dois presos para logo em seguida serem arremessados como dois pesos mortos ao nada. Mas então como que se caíssem nas profundezas de um rio, eles foram ao meio daquela tempestade e quando caíram em solo novamente nenhum dos dois ninjas sabia onde estava.
Naruto sentiu o baque de seu tombo no chão e breve segundos depois, o baque de Sasuke caindo sobre si fazendo-o bater com o queixo no chão. Era dia e o céu estava cinza como que se prometesse uma tempestade para a noite.
.:.
– Teme! Podia cair no chão por gentileza "cê" me fez morder a língua – O loiro resmungava quase incompreensivelmente enquanto passava a mão pelo queixo.
– Pelo menos a queda foi macia – Gozou o outro sem se mover.
– Bastardo – Continuou resmungando baixo, cada vez mais incomodado com a situação por algum motivo.
– Bastardo que salvou sua vida – Disse sem se exaltar.
– Salvei sua queda – Respondeu, já identificando o que o incomodava tanto.
– Eu já disse que foi uma excelente queda, dobe.
Pronto, a última frase foi a gota da água para o loirinho sob si. Naruto se sentia mais incomodado a cada resposta no tom tipicamente vazio de emoções.
– Sasuke você pode parar de falar no meu ouvido teme, eu não sou surdo. E sai logo de cima de mim. – Disse se virando com força fazendo o outro despencar de cima de suas costas de uma vez.
– Acho melhor corrermos. – Foi o que ele respondeu.
O moreno ignorou os comentários do outro se deitando de barriga pra cima na grama. É claro que fazia aquilo tudo de propósito.
Desde quando ainda pertenciam à mesma equipe Sasuke pode reparar a forma como o menor costumava se mostrar sensível demais à sua presença. O Uzumaki acabava sempre por se arrepiar quando se aproximava demais, ficava nervoso sem motivo e ainda assim estava sempre correndo atrás de si.
Naruto desde de sempre mendigava sua atenção, querendo sempre provocá-lo de alguma maneira fosse com a eterna rivalidade ou apenas para incomodá-lo. O mais novo estava sempre em torno de si.
Sasuke sabia o que era aquilo, sentia exatamente a mesma coisa. Ele sabia que aquilo não era a aparente rivalidade, na verdade ele acreditava que a rivalidade ferrenha fosse apenas mais um sintoma. E não negaria jamais o quanto gostava deste sintoma.
Sabia exatamente o que Naruto sentia, pois dividia o mesmo desejo pelo loiro. A diferença era que ele tinha completa ciência desta situação, enquanto o outro não.
Cabia ao moreno esperar até que Naruto se desse conta de tudo isso e desse abertura ao que poderiam ter. O tempo até então havia servido à seu favor, pois a inconsciência do Uzumaki permitia que ele seguisse com seus planos de vingança sem nada a se arrepender.
Era o foco no tempo e na vingança que o moreno encontrava forças para permitir que Naruto entendesse seus sentimentos sozinhos, que encontrasse aquela resposta por sai só. Assim Sasuke não faria nada que pudesse ferir ou assustar seu mais fiel amigo.
Havia apenas um ponto controverso nos pensamentos de Sasuke. Quando ele tomou esta decisão de usar o tempo para Naruto perceber o sentimento, ambos tinham apenas treze anos. Agora estavam com dezessete, e os anos haviam deixado o Uchiha cada vez menos paciente.
– Por que devemos correr? – Perguntou o loiro se levantando sem jeito do chão.
Não gostava da forma como seu corpo tomava atitudes inconscientes quando o Uchiha se aproximava. Até mesmo aquele situação acidental tinha feito sua pele pinicar e seu corpo reagir de forma estranha só pelo fato de Sasuke estar falando em seu ouvido.
– Porque vem chuva – Sasuke também se levantou – E eu não faço ideia de onde estamos, e você? Ei espera um pouco – Ele pareceu se lembrar de algo – Você não estava quase morrendo?
– Ah que bom que você lembrou disso ANTES de cair em cima de mim e quase me achatar na terra – Reclamou – Mas não, eu estou bem. Me recupero rápido lembra... e bem... – Naruto olhou tudo ao seu redor, a grama rala e não tão verde, as árvores quase secas e com aparência de velhas, o céu cinza completamente sem vida e sem nenhum pássaro – Não faço ideia de onde estamos.
– MARIA! – gritou um senhor rechonchudo com algo que eles não foram capazes de identificar nas mãos – TEM LADRÃO NA PLANTAÇÃO MARIA – ele corria desengonçado na direção dos meninos estáticos.
– Obaa-san é um mal entendido – Disse o loiro apavorado ao ouvir o velho os confundirem com ladrões.
– Eu acho que ele não quer ouvir Naruto – Disse o outro ao seu lado.
– Cala essa boca teme! – Disse entre dentes e logo voltou a gritar – Veja, não somos ladrões somos ninjas – Dizia apontando para o símbolo da folha em sua testa.
– Ah são ninjas... eu vou mostrar minha "arte ninja" de fazer trombadinha dançar no miudinho – Disse mexendo e apontando aquela coisa estranha na direção dos meninos..
– Sasuke o que é aquela coisa na mão dele?
Nem bem Naruto havia terminado de falar e a resposta veio em um som estridente que ricochetou em um lata grande de latão que estava jogada no chão alguns metros a sua frente. O estado em que a mesma ficou assustou ambos os garotos.
– Corre! – Gritou Sasuke já correndo.
– Oh Zé, por que é foi que "ce" atirou nos meninos ora? Era só dois moleques que de certo só vieram pegar manga.
– Era só chumbinho bem, era só chumbinho. Eu to cansado desses trombadinhas correndo, pisoteando tudo minha plantação!
Os dois garotos correram pelo campo até verem a grama rasa ser trocada pelo capim alto sem olhar pra trás, deixando pouco a pouco aquele velho louco para trás. Suas pernas sentiram em meio à corrida a elevação do solo, deixando-os em uma trilha muito estranha.
– O que é isso? – perguntou o loiro pulando uma cerquinha de arame farpado e pisando na "trilha".
– Um caminho para algum lugar – O outro respondeu evasivamente.
– Ta louco? Olha a largura disso da pra passar com um exercito de ninjas por aqui. E onde estão as árvores? Sem falar que esse chão é de concreto. Nunca vi disso!
– Ta, esquece, tem uma placa lá vamos ver o que diz – Falou apontando para uma placa metálica tingida em azul com escritas brancas.
– BR 101 – Leu o loiro – Nunca ouvi falar dessa vila – Disse inocente vendo suas palavras serem consumidas pelo silêncio e o silencio ser invadido pela trovoada que vinha ligeira do horizonte.
– Droga! A chuva! – Resmungou Sasuke se lembrando do dia cinza.
– Tebayo Sasuke, a placa aponta para lá então vamos seguir, temos que chegar em algum lugar ne..
Correram por alguns poucos quilômetros e a chuva os alcançou. Tudo bem no começo, era apenas raras e largas gotas que caiam sobre suas cabeças refrescando os corpos quentes da corrida.
Pouco a pouco os pingos grossos foram caindo com mais intensidade até se tornarem uma grossa tempestade. Pior ainda foi quando o vento se aliou fortemente a ela, impedindo os garotos de olharem com atenção o que os cercava e fazendo-os sentir como que cada novo tufo os arrastaria junto com o temporal. A noite já caía quando Naruto avistou algo, uma luz.
– Tem algo ali. – O loiro tentou falar mais alto que a tempestade, puxando Sasuke pelo braço.
Correram pela entradinha sinuosa e se depararam com uma porta muito grande ao lado de um guichê de vidro escuro que tinha uma bandejinha metálica na base.
– Tem preferência por algum quarto? – A voz feminina se fez ouvir entre os dois, assustando-os de inicio.
Sasuke identificou que o som vinha do círculo prateado cheio de furinhos bem no meio do vidro. O garoto se aliviou a principio, por sorte haviam chegado a algum tipo de pousada.
– Não! – Respondeu muito alto, quase gritando com Naruto ainda segurando o seu braço.
– A suíte 431 está disponível. Sendo dois garotos desejam a liberação do canal especial? – Sasuke não entendeu o motivo da pergunta, mas as palavras "canal" e "especial" fizeram os olhos de Naruto brilhar e o loiro fazia sinais afirmativos com a cabeça.
– Pode ser! – Respondeu e pela bandejinha escorregou um chaveiro com o número 431.
– Ligaremos para o quarto assim que o seu canal for liberado – Disse a voz por fim e o grande portão se abriu.
– Sasuke o que é um canal especial para dois garotos? – Naruto perguntou enquanto caminhavam em busca de seu quarto, mas o moreno preferiu o silêncio a dizer que também não sabia. – Será que é aquele canal que passa "A Saga de Um Ninja" sem os cortes e censuras pra TV normal? Ah eu sempre quis ver como o irmão do mocinho era esquartejado logo no começo do filme – Perguntou com os olhos brilhando novamente.
– Você não percebeu ainda que estamos muito longe de Konoha, olha essas coisas todas parece até que fomos mandados para outro mundo. E aquele velho maluco, ele não acreditou que éramos ninjas e falou isso de maneira satirizada – Respondeu puxando Naruto para uma grande porta com uma plaquinha "431"
– Ah ainda bem que você falou em Konoha teme, só pra lembrar, quando acharmos o caminho para casa você vai voltar pra la comigo! – Disse entrando no ambiente e finalmente saindo da chuva.
– Quantas vezes você já disse isso dobe e você sabe que eu não vou voltar. – Disse enquanto os dois passavam juntos pela segunda porta do ambiente e chegando enfim no quarto!
Naruto e Sasuke olharam para aquele lugar, depois se olharam para então olhar o lugar mais uma vez. O loiro caminhou até o centro do quarto enquanto Sasuke permaneceu no mesmo lugar. O queixo do moreno caiu, nunca havia entrado num lugar como aquele, mas não precisava disso para saber que estavam em um quarto de motel.
