Então nós estávamos lá, ele ia me beijar. Ele se aproximava cada vez mais, fechando lentamente os olhos. Nesse instante a cozinha parecia girar. Eu ainda não tinha feito essa escolha, mas devido aos últimos acontecimentos, o turbilhão de coisas que tinham acontecido em apenas um dia, a exaustão tomou-me e eu cedi, porque era fácil, porque era seguro, porque era o que precisava, porque no fundo eu queria. Não importava nesse momento se Alice estava ali, se tinha um funeral acontecendo, se eu tinha acabado de pular de um penhasco. Nesse momento era só eu e ele. E como eu precisava dele. Então eu me rendi, fechei levemente os meus olhos e me rendi. Encontrei os lábios macios e quentes de Jacob. Os seus braços me envolveram e o que eu fiz foi abraçá-lo e retribuir o beijo. Era novo, diferente. Foi um beijo suave, como era o momento. Foi rápido, eu abri os olhos e lá estava Jacob com o meu sorriso favorito. Ele estava radiante como um sol, eu não pude fazer outra coisa que não sorrir diante de tamanha felicidade. Então ele se aproximou e tocou de leve os meus lábios mais uma vez. Ele não conseguia conter sua alegria e foi com relutância, sempre me olhando nos olhos profundamente, não acreditando no que tinha acabado de acontecer, que ele disse:

- Eu tenho que ir agora, ajudar no funeral de Harry.

E deu um passo pra trás. Era evidente o conflito existente nele. Ele queria ficar. Ele pegou a minha mão. E eu disse:

- Tudo bem.

Eu estava calma. A sensação de paz que me invadiu durante o beijo ainda estava presente e me fez segurar o sorriso até que ele se virou e eu ouvi a porta batendo. Nesse momento, ao baixar meus olhos para o chão eu pensei no que havia feito. A compreensão me invadiu como um banho de água fria. O que eu havia feito? A culpa começava a queimar e eu não pude mais sustentar o meu corpo de pé. Eu cai, lentamente. As lágrimas brotavam volumosas pelos meus olhos. O que eu havia feito? Eu estava dividida, devastada. Eu amava Edward insanamente, o buraco no meu peito agora ardia, eu envolvi meus braços ao redor do peito. Eu não pude conter os soluços. Eu estava me machucando e pior ainda, machucando Jacob de uma maneira cruel. Estava claro agora, como água, que eu queria Jacob, que eu o amava, mas eu sabia, eu sentia que não era suficiente para me curar, para fechar o buraco no meu peito. Eram tipos diferentes de amor, de intensidade diferente, mas com certeza, agora eu sabia, era amor o que eu sentia por Jacob. A necessidade que eu sentia da presença dele, de vê-lo sorrir, de conversar com ele, de apenas olhar pra ele, era isso, era amor. Um amor que eu deveria ter lutado contra, pois só nos machucaria. Eu devia ter sido forte, eu devia ter pensado sobre esse sentimento antes, ter entendido antes que algo como esse beijo acontecesse. Devia ter me precavido para que esse sentimento não crescesse em mim, porque eu sabia, disso eu sempre soube, nenhum outro amor, nenhuma outra pessoa seria capaz de me fazer esquecer, de reduzir o amor que eu sentia por Edward.

Eu não ouvi Alice entrar na cozinha. Eu tinha me desacostumado do seu toque frio e não pude evitar o susto quando ela tocou no meu braço, me chamando de volta à superfície:

- Bella!

Eu só pude continuar a soluçar. As lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, e eu não tinha voz para respondê-la. Ela segurou meu rosto entre as mãos e eu não tive como evitar o seu olhar. Isso só me fez verter mais lágrimas. O dourado dos seus olhos me fez sentir mais culpa por trair o que eu sentia, por magoar e brincar com o sentimento de uma das pessoas mais importantes da minha vida: Jacob. O que eu iria fazer agora? Como eu olharia e falaria com o meu melhor amigo que eu havia cometido um erro? Que o nosso beijo, tão inocente e gracioso, nunca deveria ter acontecido.

A falta de uma resposta alertou Alice, ela não esperou e me pegou em seus braços e me colou em seu colo, ninando-me.

- Bella, por favor, me conte o que aconteceu? Porque você está chorando?

- Eu...

Foi tudo o que eu consegui falar. Eu apenas chorava e soluçava, sem forças para juntar as palavras, sem saber o que dizer. Alice não falou mais nada, apenas continuou me ninando. Aos poucos o nó na minha garganta foi cedendo e o desespero do momento foi passando, eu me obriguei me manter lúcida, a não me entregar ao torpor e tentar colocar as coisas em proporção. Eu devia isso a Alice, eu devia isso a Jacob, eu tinha que me recuperar e começar a pensar no que fazer agora.

Então eu tentei me mover, Alice percebeu e me soltou. Eu olhei em seus olhos mais uma vez e então baixei os meus.

- Alice, me desculpe. Eu me descontrolei.

Ela tocou o meu queixo e percebi como seus olhos pareciam preocupados e como seu rosto estava tenso.

- Bella, eu não consigo ver o que aconteceu. O lobisomem te machucou?

- Não. Ele... Eu apenas...

Eu suspirei. Eu devia contar a ela? O que ela iria pensar de mim?

- Bella, eu...

Ela começou e então parou. Eu olhei para ela e parecia que ela também estava decidindo se me deveria me dizer alguma coisa.

- O que é Alice, pode dizer.

Ela então balançou a cabeça, sacudindo seus cabelos, que ficaram um pouco arrepiados.

- Não é nada, sua boba. Eu só estou preocupada com você.

Dizendo isso ela sorriu. E eu fiquei um pouco hipnotizada com a beleza de seu rosto, desacostumada com essa sensação de deslumbramento que os Cullen produziam.

Então o seu celular tocou.