O mundo bruxo comemorava. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado havia sido, enfim, derrotado. O grande salvador do mundo, apenas um menino de um ano de idade. Em meio a todo o festejo da vitoria de um bebê, parecia que apenas uma pessoa em todo o mundo se lembrava das perdas... da tristeza. Parecia que apenas Severus Snape lamentava a morte de sua grande e querida amiga, Lily Potter.
E era para as lembranças suas com Lily, que Severus focava seus pensamentos, enquanto corrigia uma pilha de provas finais. Lembrava-se perfeitamente do sorriso doce, que parecia ter o imenso poder de iluminar o mais escuro lugar, e aquecer o mais frio coração. Os olhos tão verdes, que superavam o brilho de uma esmeralda, e demostravam todos os sentimentos que haviam em seu ser. Os olhos que sempre iluminariam seus pensamentos.
O pesar e tristeza da morte daquele anjo que havia sido sua melhor amiga, só o lembrava de que jamais poderia rever aqueles olhos, ou aquele sorriso. Lembrasse do dom maravilho daqueles olhos verdes, que eram capazes de ver a beleza até mesmo onde ela não existia.
- Sev... seremos amigos para sempre, não é?
Quando essa frase voltou a seus pensamentos, Severus teve de se controlar. A vontade imensa de chorar era forte, mas ele jamais cedia. Nunca cedeu a essa vontade. Ele sempre quis ser amigo daquele anjo por toda a eternidade, mas sua idiotice o impediu. Pois nem mesmo um anjo perdoaria aquele insulto.
Um barulho em sua janela o fez sair de todas aquelas lembranças. Olhou, vendo uma coruja acinzentada, que lhe pareceu muito familiar. Levantou-se, indo até a janela, para permitir a entrada da ave, que pousou majestosamente sobre as costas de sua cadeira.
Foi, então, que Severus reconheceu a coruja. Princesa, a coruja que havia presentado a Lily no terceiro ano. Não acreditava, Lily havia sido morta, e já estava enterrada aquela altura, como é que a coruja dela poderia estar ali.
Olhou para a pata da ave, vendo uma carta presa a pata. Não pensou duas vezes, apegando-a com tanta ansiedade, que quase machucou a pata da ave, que pio em protesto por tanta agressividade.
- Desculpe – disse, conhecendo o temperamento da ave.
Abriu o envelope, vendo duas cartas dentro do envelope. Pegou a primeira, reconhecendo imediatamente a letra delicada de Lily.
Querido Severus,
Caso estiver lendo essa carta, significa que os meus piores temores se tornaram realidade. Voldemort conseguiu nos encontrar, e matar a mim e a James. Não sei se meu filho também foi vítima daquele monstro, mas sei que são poucas as possibilidades dele ter sobrevivido, por mais que o meu coração deseje que ele esteja a salvo.
Mas está carta tem o objetivo de lhe expressar os meus últimos desejos, e lhe contar um segredo que guardo desde nossa época de escola.
Eu lhe amava muito Severus. Tu eras o irmão que não pude ter, cuidando de mim e me mostrando como viver no mundo bruxo, que para mim era desconhecido. Esse amor me fez fazer algo, que poderia ser classificado como um ato impensado, mas era algo que eu queria mais do que tudo.
Em nosso quarto ano, descobri um feitiço que poderia transformar a nos dois no que eu sempre quis. Irmãos. Eu lancei esse feitiço quando você estava distraído com uma poção, fazendo com que nossas magias se tornassem a mesma. Transformando nós dois em irmãos de magia.
Eu não sabia se havia funcionado, pois era um feitiço muito complexo. E eu não conseguia ver os sinais ainda. Isso me fez crer havia falhado na minha tentativa. Até que em nosso quinto ano, você deu os primeiros sinais de o feitiço tinham funcionado. Eu estava eufórica com isso, pensando em mil formas de lhe contar, e pensando nas mil repreendas que você me daria. Mas aconteceu algo que me impediu de lhe dizer. Aquela cena triste em que você me chamou de sangue-ruim.
Nunca pude me esquecer daquilo, Severus. Meu coração parecia ter se quebrado em mil pedaços. Mesmo que você tivesse vindo me pedir desculpas, eu não conseguia perdoar naquela época, porque doía muito. Doía saber que você me chamava daquilo. Mas o tempo curou essa ferida, e o carinho de James ajudou a cicatrizar. Agora, eu posso dizer, mesmo que por essa carta, que te perdoo. Eu te perdoo meu irmão.
Agora, que finalmente revelei o segredo que carregava comigo, posso dizer os meus últimos desejos, sabendo que você os cumprirá.. Quero que fique com tudo que é meu. Antes de fazer está carta, eu mandei uma para Gringotes, fazendo de ti o próximo herdeiro do meu cofre. E... caso meu filho, por um milagre, tenha sobrevivido, eu peço que cuide dele. De a ele o amor e o carinho que não poderei dar.
Com todo o amor,
Lily Evans Potter
Severus olhava para a carta sem acreditar. Havia relido seis vezes antes de se dar convencido sobre o que estava escrito. A cada palavra daquela carta, seu coração sentia um misto de alivio e dor. Alivio, por saber que Lily o havia perdoado por sua estupidez. E dor por saber que não poderia mais vê-la e dizer que sentia... sentia sua amizade rompida... sentia sua dor... sentia sua morte...
Fechou os olhos, tentando conter as lágrimas que ameaçam descer por sua face. Suspirou, tentando recobrar o controle de seu próprio corpo, pegar a segunda carta. Quando a abriu, viu que era o testamento de Lily. E como a própria havia dito em sua carta, estava tudo ali, incluindo a guarda de Harry.
Harry... pensou, lembrando-se da decisão de Dumbledore quanto ao destino do menino. Ele havia sido enviado para a casa dos tios muggles, onde estaria sobre a proteção de seu sangue com Lily. Apesar do pedido que Lily havia lhe feito, não sabia se poderia cuidar de um bebê. Muito menos se poderia cuidar do bebê que era aclamado por ser o derrotador de Voldemort, e se por um acaso Dumbledore permitisse que ele o fizesse.
Seria o mundo contra si, caso realmente acabasse por cuidar de Harry. O mundo que ainda o via como o terrível e desprezível comensal da morte, que havia apenas pensado no próprio pescoço quando se aliou a Dumbledore. Quando, na verdade, só havia mudado de lado por Lily. Por ela havia escolhido o lado da luz. Para tentar protegê-la, mas isso não havia adiantado. Não havia conseguido salvá-la.
Sentou-se em sua cadeira, olhando de forma triste para a carta de Lily.
- Será que você iria me perdoar se eu não concordasse com seu último pedido, Lily? - perguntou para o nada, sentindo as lágrimas querendo voltar a seus olhos.
