Olhei o mar uma ultima vez. Recordei o seu som, a sua cor, a sua bravura…
E então virei as costas… Porque virar as costas ao mar, era como virar as costas a ela. E deixei para trás a areia branca, o mar que batia nas rochas e os segredos compartilhados. Deixei para trás o amor que a praia testemunhou e todas as juras de amor eterno.
Mas eu esqueci-me que aquilo era tudo o que eu tinha. E tirar isso da minha vida, era tirar-me a chance de viver. E ali, de costas voltadas, eu não era mais ninguém. Não mais do que um bocado de matéria no meio de todo aquele universo. E sabia que não podia virar as costas àquele mundo, porque aquele não era apenas o mundo onde tu estavas, era o mundo em que eu existia.
E foi assim que o vazio me assaltou. O escuro tomou conta dos meus olhos e o meu coração encheu-se de nada. Eu não era ninguém. Não havia calor, nem alma, nem som, nem cor… Por menos fora do mundo que eu conhecia.
E por momentos eu pensei em virar-me de novo e encarar-te. Porque eu sabia, eu sentia, que tu ainda ali estavas. Em pé sobre a areia olhando-me ao longe. Os cabelos vermelhos acompanhando o vestido branco numa leve valsa, com o vento. E os olhos… os olhos tão azuis quanto o mar atrás de ti… Eles choram. Tristes lágrimas corriam a partir deles quando eu disse o último adeus. Quando eu pedi desculpas, quando eu te abracei e te dei o último beijo. Quando te disse que te amava mas os nossos mundos nunca poderiam viver juntos, ignorando por completo o facto de que esses dois mundos já não existiam e que há muito tempo que nós tínhamos construído o "nosso" próprio mundo. Nessa altura tu choravas…
E quando eu vi as tuas lágrimas percorrerem o teu rosto delicado eu quis chorar também. Porque tu sempre foste forte. Tu eras a força enquanto eu era a fraqueza. Tu mantiveste-me em pé, tu fizeste-me lutar e encheste o meu coração de fogo. O teu fogo…
Mas eu não olhei para trás e segui caminho. Sentia o calor do teu olhar penetrar-me nas costas, mas resisti á tentação de voltar a cair no pecado.
No entanto e apesar dos meus passos serem firmes, mantive a cabeça baixa por todo o caminho.
Recusei-me a olhar as pessoas e ver os seus olhares vazios, saber que elas não têm nada e que eu tive tudo e o perdi por livre vontade. Recusei-me a admitir a culpa de todo o fracasso. Recusei-me a olhar em frente e a ver o novo mundo a que eu agora pertencia… Um mundo sem ela.
FIM
Dedicado a todos aqueles que se sentem excluídos neste mundo, porque um dia pertenceram a um muito melhor.
Continuem lendo…
DanielaMPotter
