B r e a k a b l e
[Prólogo]
Ele, então, rasgou a ponta do envelope e de dentro puxou um pergaminho que desenhava-se em uma letra graciosa e elegante.
"Sei que não desejas corresponder a meus sentimentos, mas ainda assim espero que me entendas quando confesso que..."
De novo. Será que ele não teria paz? Todo aquele assédio, intermitente e irrefreado, começava a incomodar-lhe seriamente. O que ele haveria de fazer? Não poderia fitá-lo nos olhos. Não havia como, sequer, manter uma conversa genérica e informal. Não havia nem a quem pedir conselhos. Seria tudo lateralizado demais, irresponsável demais.
Ele não esperava aquilo, muito menos com as proporções que tinham sido atingidas. Ele precisava dar um basta em tudo. De que adiantam declarações quando seu coração já possui um norte definido e um par tão óbvio? Definitivamente, era chegada a hora.
Ele amassou a carta sem ler o restante das palavras que serpenteavam por toda a página cáqui e depois de jogá-la em uma lixeira, pegou sua bolsa e deixou o dormitório como o restante de seus companheiro já haviam feito. Será que ele deveria, pelo menos, contar o que estava acontecendo? Talvez fosse perigoso de mais.
Os passos na escada foram apressados e saltaram alguns degraus. A primeira aula já deveria estar a ponto de começar e o Professor Binns não toleraria meio segundo de atraso. Precisava parar de pensar naquilo, conseguir uma fonte de distração. Um álibi?
Os corredores passavam como borrões, as pernas apressavam-se ao mesmo tempo que tentavam não fazer barulho. Um ranger de porta, alguns passos contidos e ofegantes e ele sentou-se em sua cadeira habitual exatamente dois segundos antes de o Professor atravessar o quadro negro e saudar a turma com seu usual "Bem-vindos à História!".
Em cinco minutos de aula, seus pensamentos já estavam tão divagantes que ele tomava por inevitável o encontro com o assunto que tanto preferia evitar.
Tossiu, então, para disfarçar enquanto rasgava um pedaço de pergaminho. Nele rabiscou um bilhete que passou para o colega à sua esquerda por debaixo da mesa.
"Tiago. Preciso de você na biblioteca depois da aula do Binns. Explico lá."
Tiago olhou para o lado e meneou a cabeça afirmativamente enquanto amassava o bilhete e guardava num bolso das vestes.
Por quarenta minutos a tarefa de evitar um assunto nunca parecera tão complicada. Tão complicada que ele resolvera até prestar atenção na aula o que, claro, não fez muito efeito, mas nos últimos cinco minutos seu coração começou a bater mais forte pela expectativa.
Quando a aula acabou ele conversou um pouco com os amigos, evitando alguns olhares, mas logo dirigiu-se ao local combinado. Tiago Potter logo fez o mesmo, dizendo que precisava dar uma olhada no armário de vassouras.
Quando chegou na biblioteca, encontrou um Sirius relutante, com um olhar distante e, por vezes até mesmo vazio.
- O que é tão importante, Padfoot? - Disse, sentando-se ao lado do amigo numa das inúmeras mesas de carvalho da biblioteca.
- Tenho um problema. - Sirius parecia estranhamente interessado nos desenhos que o carvalho era capaz de formar. Falava com um olhar vidrado, voltado para o tampo da mesa.
- Alguma coisa com Remus? Você nem falou com ele direito. Discutiram?
Madame Pince emitiu uma rajada de ar e olhou por cima do livro que estava lendo e, percebendo quem eram os dois que atrapalhavam seu querido silêncio sepulcral, ergueu-se e gritou para que voltassem para a aula, pois não queria ser mais uma vez alvo das broncas do diretor Dumbledore.
Tiago levantou-se prontamente, assentindo com a cabeça e batendo no ombro de Sirius:
- Vamos para a aula, você me conta no caminho.
Sirius virou lentamente a cabeça e olhou para o amigo que estava de pé.
Aquele olhar lembrou a Tiago uma árvore prestes a tombar.
