Por Enquanto
por Nanda
Se lembra quando a gente chegou um dia acreditar que tudo era pra sempre?
Quase podia contar as estrelas do céu. Não por gosto, porque desde sempre fora muito grato por nascer bruxo e longe das matemáticas trouxas; mas simplesmente porque podia. Podia porque sua cama era logo abaixo da janela. Podia porque o céu parecia sempre receptivamente estrelado. Porque parecia que ele o chamava e o despertava. E porque seus olhos não conseguiam despregar dele, noite após noite. Como eles faziam quando eram crianças...
Naquela época era só divertimento. Era engraçado correr até o quintal na ponta dos pés e se jogar no gramado para tentar contar as incontáveis estrelas do céu. Fred é quem gostava de enumerá-las, por mais impossível que fosse. George seguia o irmão e fingia que também achava legal, porque as pessoas diziam que eles eram idênticos e ele gostava disso. Idênticos e inseparáveis, eles diziam. Pra sempre.
Ele ainda acreditava em felizes para sempre e todas essas coisas de contos de fadas. Mas ele era só uma criança; o que crianças sabem sobre eternidade?
Até então, não havia fantasmas da guerra. Não para ele. Ouvia sua mãe dizer de algum tio que a guerra tinha levado, geralmente como lição de moral do tipo 'Não enfie feijões no nariz. Seu tio Alfred morreu na guerra logo depois de fazer isso, dá azar!'. Era tudo distante. Distante o suficiente, pelo menos. Sempre sem afetá-lo, sem incomodá-lo.
Naquela época, George nem pensava que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltaria.
Muito menos pensaria que ele levaria seu irmão.
Mas ele voltou. E agora, tudo o que George tinha eram insônias e as estrelas no céu. Às vezes tinha a impressão de que elas pediam-lhe que as contasse. Todas as noites, próximo ao mesmo horário, ele acordava e lá estavam elas, encarando-o. Mas ele se recusava a contá-las, apontando-as, como Fred fazia. Era doloroso, e até então ele tinha fugido a todo custo da dor.
Agora, já fazia quase um ano que ele tinha ido. E George fugia, desde então. Do enterro, de sua família, de seus amigos, de qualquer pessoa ruiva que entrava na loja ou que via na rua quando era obrigado a sair de lá por falta de mantimentos. Ron e Ginny vinham procurá-lo constantemente, e Charlie e Bill também apareciam quando podiam. Até Percy havia aparecido uma ou duas vezes. Sua mãe mandava corujas que nunca eram lidas todos os dias e visitava a loja uma vez por semana, no mínimo. Mas não eram eles que George queria ver.
Ele fugia principalmente do espelho. Ver a si mesmo era mais doloroso do que qualquer coisa, por mais diferente que estivesse pelo descuido com sua aparência. Mas não era seu cabelo, quase maior que o de Bill, ou suas olheiras provocadas pelas insônias que o faziam totalmente diferente do que um dia fora.
George não tinha mais brilho algum nos olhos. Parecia que havia perdido sua essência. Sua metade.
Agora e sempre, ele sentia e sentiria saudades.
Agora e sempre, George não era e jamais seria o mesmo. Nunca conseguiria dizer adeus. Não por completo. E contar estrelas nunca mais seria tão divertido como era antes.
N/A: acho que dá pra notar, mas o título é em relação à música da Cássia Eller (:
Fic escrita pro I Challenge Gen do 6V. Muito obrigada mesmo pelo primeiro lugar, Lucas! *-*
