Camus andava distraído pelas ruas movimentadas de Atenas. Corria os olhos pelas vitrines com certa displicência na certeza de que, quando encontrasse O presente, o reconheceria. Sim, o francês não queria comprar UM presente para o aniversariante, mas sim O presente. O único problema era que o aniversário de Miro seria dali há uma semana e ele ainda não tinha nem idéia do que esse presente seria.

Isso tudo era, para ele, muito desgastante, não tinha o mínimo prazer em "ir às compras", não no sentido amplo da expressão. Era um homem de extremo bom-gosto e exigente como consumidor, por isso, quando gostava de alguma loja ou produto, logo se tornava cliente fiel, evitando que perdesse o seu tempo em buscas infindáveis por qualquer besteirinha. Achava isso uma completa irracionalidade.

Acontece que ele já havia percorrido todas as suas lojas preferidas, revirado pilhas de roupas, perfumes, jóias e uma infinidade de outros objetos... nada disso era O presente que ele estava procurando. Procurava por algo que não fosse a cara dele, mas sim a cara do grego, queria algo que o surpreendesse pela originalidade e, se para encontrar essa "coisa" fosse necessário perder horas do seu dia caminhando aleatoriamente pelas ruas do centro de Atenas, assim o faria. Aliás, essa situação por si só já tinha muito mais a cara do escorpiano do que a dele.

Lembrou-se do primeiro aniversário de Miro que passaram juntos, como namorados e da briga que tiveram 3 dias antes. Isso foi há quase dois anos atrás, e marcou profundamente o relacionamento dos dois como sendo o primeiro real indício de que poderiam dar certo se ambos cedessem um pouco. Por que até então nem eles mesmos se arriscariam a afirmar alguma coisa sobre o seu futuro.

FlashBack

– Inteligente, eficiente, integro... acho que só faltou ela dizer que você era bom de cama... – Miro estava visivelmente irritado.

Camus havia acabado de receber a notícia, da própria Athena em uma reunião que contava com a presença de todos os Cavaleiros de Ouro, que ele fora escolhido para Mestre Interino do Santuário e que precisaria fazer uma viagem urgente para Asgard.

– Do jeito que ela falou... parece que vocês se conhecem profundamente – disse reforçando o duplo sentido do "profundamente", enquanto o francês continuava escolhendo algumas peças de roupa para levar em sua primeira viagem no novo cargo.

Athena ainda não havia se decidido sobre o nome do próximo Mestre do Santuário, mas precisava de alguém que desempenhasse essa função provisoriamente, alguém que a ajudasse a manter o Santuário em ordem. E, segundo a própria Deusa, Camus era o Cavaleiro que apresentava as qualidades necessárias para desempenhar satisfatoriamente essa função, sem se apegar à ela.

– Leva esse suéter aqui, você fica bem sexy nele, ela vai gostar – disse com ironia, puxando o suéter cor de creme de dentro de uma gaveta e jogando com raiva dentro da mala aberta sobre a cama.

Fazia apenas 2 meses que os dois namoravam, e, apesar de evitarem ficar juntos em público, era óbvio para todos que havia algo a mais do que amizade entre os dois. Mas as diferenças de temperamento entre eles geravam brigas e discussões intermináveis, que conferiam certo ar de instabilidade ao relacionamento.

– E isso aqui também – disse retirando agora uma sunga vermelho sangue de dentro de uma outra gaveta. Ele mesmo havia dado de presente para o aquariano, mas nunca havia conseguido faze-lo usar – talvez ela seja mais persuasiva que eu – atirando a peça sobre Camus.

Agora o grego estava quase conseguindo que o outro perdesse a paciência, e era mesmo melhor que Camus entrasse logo na discussão, por que a cada segundo que se mantinha alheio à cena de Miro, mais a raiva do escorpiano aumentava e ele ia se tornando capaz de dizer e fazer coisas cada vez piores.

– Então é por isso que você não quer assumir publicamente o nosso relacionamento... Como vão ficar os seus casos paralelos quando essas piranhas souberem que você trepa comigo? – disse aos gritos já com lágrimas nos olhos, sabia que essa seria a sua última cena solo.

Camus passou a mão pelo rosto, demonstrando que a sua paciência havia realmente acabado.

– Chega, Miro – falou com a voz firme, finalmente encarando o escorpiano.

– Chega de que? De falar a verdade? – disse se aproximando de Camus.

– Dessa sua maluquice. Será que você não consegue perceber o papel ridículo que está fazendo?

– Te amar é um papel ridículo?

– Sentir ciúme de Athena é.

– Eu aposto que Athena, as servas e até as amazonas são muito parecidas quando tiram a roupa e abrem as per..

– Cala a boca – avançando para cima de Miro, segurando-o pelos braços e lançando-lhe um olhar odioso – eu não vou deixar você terminar de falar um absurdo desses – a reação violenta do aquariano silenciou Miro.

– Você já falou muito, agora vai ouvir – disse empurrando o outro para a cama, obrigando-o a sentar-se.

– Se você desconfia tanto assim de mim, por que continua comigo, hein, Miro?

Aquelas palavras entraram como milhares de facas no peito do escorpiano. Por alguns segundos ele ficou paralisado sem conseguir mover um músculo sequer, qualquer xingamento seria menos doloroso do que aquela pergunta. Sem que ele percebesse os olhos voltaram a ser inundados por lágrimas e, assim que conseguiu reunir forças, tratou de abaixar a cabeça e cobrir o rosto com as mãos, na inútil tentativa de esconder do outro o quão profundo fora o seu golpe.

Camus observava Miro com o seu mais petulante ar de superioridade, esperava para retomar a discussão a qualquer momento. Sabia exatamente tudo o que devia dizer para o outro agora, sabia até o que ele responderia, os argumentos de ambos eram sempre pequenas variações sobre o mesmo tema.

– Olha pra mim, Miro – as palavras vieram num tom de ordem, a qual o grego não demonstrou nenhum interesse em obedecer.

Assim como não parecia demonstrar o mínimo interesse em gritar, xingar, argumentar ou sequer em parar com toda aquela choradeira. O escorpiano dizia, de um jeito muito peculiar, que não queria continuar com aquela discussão absurda, com aquela troca de ofensas.

E, de alguma forma, Camus compreendeu. Não que o aquariano fosse um completo insensível como a maioria no Santuário imaginava, Miro bem sabia que ele não era, mas tinha uma certa dificuldade em perceber essas pequenas pistas, as pequenas e subjetivas dicas que o escorpiano às vezes deixava. Porém, de alguma estranha e mágica forma, Camus conseguiu, naquele exato momento, compreender que Miro sofria por não conseguir controlar o seu ciúme, que se arrependia de tudo o que dissera.

O francês via Miro quase como um kamikaze, que não hesita em se afogar em suas próprias emoções pois, como ele mesmo gostava de dizer, preferia sofrer a não sentir nada, a ter o coração vazio. A raiva que sentia do escorpiano ia, pouco a pouco, evaporando, até que já quase não se lembrasse do por quê tivera esse sentimento dentro de si alguns momentos antes. Sentia vontade de proteger Miro, protegê-lo do próprio instinto suicida que tem o escorpião quando se sente acuado.

Mas não era tão simples, não era simplesmente sentar ao lado de Miro na cama e oferecer-lhe colo para que terminasse de chorar e, em seguida, pedisse desculpas. Por que se Miro tinha defeitos, Camus também tinha, e não eram poucos. Além da natural dificuldade para perceber as sutilezas das reações de Miro, quando as percebia era absolutamente difícil para Camus aceitar e responder a elas, assim como a qualquer outro estímulo que não fosse captado por um dos seus 5 sentidos. Não conseguia confiar no que seu coração dizia, apesar de ter certeza de que dizia a verdade.

Tinha medo de parecer um idiota apaixonado, de parecer ter sido facilmente manipulado pelo astuto escorpiano, enfim, tinha medo de parecer estar perdendo o controle.

Se Miro soubesse o que passava pela mente de Camus naquele momento, se tivesse acesso ao drama que o aquariano estava vivendo apenas para conseguir ouvir a sua intuição, certamente exibiria o seu sorriso mais debochado e diria, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

– Depois eu que sou o fútil! Não percebe que está se preocupando mais com a sua imagem do que com você mesmo?

Era essa a lição que Miro tentava ensiná-lo diariamente e que só agora ele estava disposto a aprender.

Já havia alguns segundos que apenas podia-se ouvir no quarto do aquariano os soluços chorosos de Miro, foi quando Camus se sentiu preparado para fazer a sua parte e, finalmente, acabar com todo aquele sofrimento, dele e do outro. Abaixou-se em frente ao grego, permitindo que ficassem, mais ou menos, da mesma altura. Com um gesto carinhoso levou suas mãos até as mãos do outro, puxando-as para longe do rosto, que se encontrava completamente molhado pelas lágrimas.

– Vamos, meu anjo, olha pra mim – disse com a voz mais amorosa que foi capaz.

Miro se surpreendeu, aquilo não estava no roteiro que as brigas entre eles costumavam seguir. Mas, diferentemente de Camus, ele não levou nem 2 segundos para entender que o aquariano, assim como ele próprio, estava se esforçando para que aquilo tudo não durasse mais. Sem movimentar a cabeça levantou os olhos, já vermelhos e inchados pelo choro, encontrando os do outro.

Camus levou uma das mãos ao queixo do grego, fazendo com que ele levantasse finalmente a cabeça. Em seguida, pôs-se a ajeitar delicadamente os cabelos de Miro que caíam sobre a face, posicionando os fios rebeldes atrás das orelhas em uma seqüência de gestos muito amáveis.

– Eu já te dei algum motivo para desconfiar de mim, Miro? – a pergunta não tinha um tom desafiador ou de cobrança, mas causou certo desconforto em Miro.

Ele tentou voltar a abaixar a cabeça mas Camus o impediu novamente pousando os dedos delicadamente no queixo de Miro que, como não podia esconder o rosto, permitiu que uma lágrima solitária saltasse dos olhos, tendo logo a sua trajetória interrompida por mais um gesto delicado de Camus.

– Me desculpa, que pergunta boba...

– Tudo bem...

Ficaram se olhando como se não acreditassem no rumo inédito que aquela "briga" estava tomando.

– Vem, você precisa lavar o rosto, essa cara de choro não combina com você, gosto de vê-lo sorrindo. Você fica ainda mais lindo quando sorri, sabia? – Camus disse em uma tentativa desesperada de amenizar um pouco o clima. Acabou conseguindo arrancar um sorriso de canto de boca de Miro.

Camus o pegou pela mão e o foi guiando até o banheiro, como se Miro não conhecesse aquele caminho...

– Esquece tudo o que eu disse... – disse enquanto era puxado por Camus até o banheiro.

– Você disse alguma coisa? – franzindo a testa, novamente tentando descontrair.

Miro, percebendo que o aquariano estava fazendo de tudo para que a discussão de minutos atrás fosse esquecida, resolveu ajudar também.

– Só não esquece a parte em que eu disse que eu te amo.

– O quê? – fazendo uma cara divertida de interrogação, apertando os olhos como se realmente estivesse tentando entender o que o escorpiano dizia.

– Eu te amo.

Camus puxou o outro para um abraço cheio de amor.

– Eu também te amo – disse ao ouvido do escorpiano, provocando-lhe arrepios.

Logo estavam trocando beijos e carícias sobre a cama do aquariano. Aliás, se havia algo em que os dois sempre se entendiam muito bem, era sexo. E foi justamente devido à essa forte atração entre eles que o relacionamento havia tido início. Começaram quando, após tomarem algumas na festa de aniversário de Aioria acabaram trocando carícias mais ousadas atrás da Casa de Leão. Mas a verdade é que sempre sentiram muito mais do que amizade um pelo outro, só que não acreditavam que seriam correspondidos da forma que gostariam. Camus não queria se deixar envolver pelo escorpiano por que sabia bem de sua fama de garanhão, sabia que Miro era capaz de se apaixonar e desapaixonar no mesmo dia, que seria difícil conseguir fidelidade dele. Já Miro, tinha medo que Camus não aprofundasse a relação da forma que ele exigiria, já que o aquariano tinha um apego levemente exagerado à sua liberdade e individualidade. Então, a única desculpa que tinham para ficarem juntos era o sexo sem compromisso.

E era no sexo que Camus liberava a sua faceta mais imprevisível, era nos momentos de maior intimidade dos dois que ele se permitia abandonar qualquer racionalismo e Miro adorava vê-lo assim, tão humano. Era simplesmente fascinante para o grego observar as alterações que seus toques provocavam no sempre impassível francês. Camus chegava, com o total consentimento de Miro, a ser violento uma noite, para na noite seguinte paparicar o escorpiano como a uma criança, e o contrário também acontecia quando era Miro quem ficava no controle. Eram capazes de passar horas nas preliminares ou então de se satisfazerem com uma rapidinha de menos de 10 minutos. Os outros jamais acreditariam que Camus podia ser assim, tão... quente, e Miro também não tinha o mínimo interesse em revelar essas intimidades entre os dois para ninguém, podia acabar despertando o interesse de alguns.

Mas o fato é que, se no começo ambos faziam questão de classificar esses encontros como furtivos e casuais, direcionados apenas ao prazer, o tempo acabou revelando uma realidade diferente. Miro solicitava com cada vez maior freqüência a presença de Camus em suas noitadas, e o aquariano começava a arrastar Miro para os programas que ele costumava fazer sozinho, como assistir à peças teatro, visitar museus. Aos poucos um trazia o outro mais para dentro do seu "universo" e logo estavam dormindo a acordando juntos, dia após dia, nesse momento já não era apenas sexo, então resolveram iniciar um relacionamento mais sério.

Miro acordou no dia seguinte sentindo no copo os efeitos da noite de amor com Camus e, como o quarto ainda estava bastante escuro, ele imaginou que ainda encontraria o aquariano ao seu lado. Porém, quando esticou o braço para o lado da cama geralmente ocupado por Camus, percebeu que estava sozinho e levantou sobressaltado.

Reparou que as cortinas estavam fechadas, Camus costumava "esquecer" as cortinas abertas quando levantava, sempre bem antes do escorpiano. Essa era uma forma de fazer com que Miro acordasse um pouco mais cedo do que de costume, recebendo os primeiros raios de Sol da manhã pelo rosto.

Olhou para o relógio localizado sobre a mesa de cabeceira, eram quase 10 horas, já passava muito do horário do vôo do aquariano. Miro levantou-se e abriu as cortinas observando o lindo dia de Sol que fazia lá fora. Agora com o quarto iluminado pôde perceber o bilhete embaixo do relógio, imediatamente o tomou e leu.

"Bom dia, meu anjo! Espero que não tenha se assustado ao acordar e não me encontrar ao seu lado. Sei que deve estar fazendo uma cara de "menino mimado que foi contrariado" agora, mas me deixe explicar o por quê de eu não tê-lo acordado antes de partir."

– É bom que tenha uma boa explicação para isso Camus de Aquário – disse para si mesmo com um sorriso nos lábios.

"Eu mesmo levantei um pouco atrasado e, juro, até pensei em te acordar antes de sair, mas quando me aproximei de você, parecia estar em um sono tão gostoso, que não tive coragem. Inclusive "lembrei" de fechar as cortinas para que pudesse descansar até um pouco mais tarde. Eu bem sei o quanto você aprecia uma boa noite de sono, se bem que nesse caso foi uma boa manhã de sono, mas acho que você não tem do que reclamar..."

– Convencido...

"Além do mais, tenho certeza que tudo o que precisávamos dizer um para o outro antes da minha partida foi dito na noite passada e você sabe que eu detesto despedidas. Espero que eu consiga estar de volta antes do dia 8 para que possa comemorar o seu aniversário contigo mas, caso eu não chegue à tempo, por favor, não deixe de se divertir devido à minha ausência. Sei o quanto você gosta de comemorar o seu aniversário e vou ficar chateado se souber que você deixou de fazê-lo por minha causa. Com amor e saudades, Camus."

– Lindinho, também vou sentir a sua falta.

"Obs.: Não esqueça de desligar e trancar tudo quando sair, as chaves estão na primeira gaveta da cômoda. E não faça muita bagunça!"

– Não seria ele se não tivesse essa recomendação – ria sozinho.

Miro já estava morrendo de saudades do outro, mas não conseguia ficar triste. Não tinha como ficar triste depois de uma noite daquelas, pela primeira vez sentia uma estranha certeza de que teriam muitos dias e muitos aniversários para passarem juntos.

Tomou um banho rápido e nem comeu nada antes de sair, pisando em nuvens, da Casa de Aquário em direção à de Peixes, precisava pensar na sua programação de aniversário.

Em pouco tempo chegou na 12a Casa e encontrou o seu habitante obviamente cuidando das suas rosas. Estava tão distraído em tal tarefa que nem percebeu que alguém se aproximava.

– Olá Frô! – com uma felicidade indisfarçável.

– Miro... está tudo bem? – imediatamente se levantando para falar com o escorpiano, tinha um ar de preocupado que divertiu Miro.

– Está tudo ótimo, Frô, tudo ótimo! – abriu os braços e se deixou cair no gramado do jardim onde se encontravam.

Afrodite fez uma cara de surpresa que provocou uma gostosa gargalhada em Miro, ainda deitado na grama.

– É você realmente parece estar muito bem... mas ontem... eu ouvi a discussão de vocês, acabou tão rápido que eu cheguei a pensar que tinham se matado.

Miro apenas acenou que sim com a cabeça, arrancou uma das rosas de Afrodite e pôs-se a sentir o seu aroma. Afrodite ficava cada vez mais intrigado.

– E o Camus, ele já foi pra Asgard, né?

– Frô – disse enquanto se levantava com a rosa na mão – acho que nós estamos, finalmente, nos entendendo. Essa noite foi a melhor noite da minha vida!

– Olha, eu ainda não entendi muito bem essa história, mas se você está assim tão feliz, fico mais despreocupado.

– Olha, eu vim até aqui para te pedir ajuda sobre a comemoração do meu aniversário.

– Jurava que você ia querer ficar trancado em casa na ausência dele.

– Ah, Afrodite, eu não sou tão previsível assim. Além do mais, talvez ele chegue à tempo.

Ficaram a manhã inteira discutindo onde, como e quando seria a comemoração do aniversário de Miro. Chegaram à conclusão que não tinham tempo para organizarem, eles mesmos, uma festa já que o aniversário de Miro seria dali há 3 dias, então reuniriam todos os amigos do escorpiano em uma boate badaladíssima de Atenas. No final daquele dia todos que Miro queria em sua festa já estavam devidamente avisados da data, horário e local.

Os preparativos eram tantos que os três dias passaram voando e, quando Miro se deu conta, já era o dia 8 de novembro, quase 11 da noite. Foi quando começou a se arrumar para a festa. Tomou um banho demorado, em seguida vestiu-se com uma calça jeans escura e uma camisa de botões branca com delicadas estampas tribais em vinho, as mangas iam displicentemente dobradas até os cotovelos. No dedo anelar da mão esquerda um belo anel de prata. Os sapatos marrons completavam o visual.

Miro não precisava de muita produção para chamar atenção, o jeito magnético, associado ao rosto perfeito e ao corpo esculpido por anos de treinamento já eram suficientes para que não passasse despercebido onde quer que fosse. Mas naquela produção estava simplesmente deslumbrante, e ele sabia disso. Entrou no seu esportivo preto e guiou ate a Casa de Peixes, onde Afrodite já o esperava. Seguiram para boate, animadíssimos.

Foram dos últimos a chegarem e Miro passou quase 1 hora sendo cumprimentado e felicitado por seus convidados. Depois dessa maratona de beijos e abraços, começou a se divertir. Para Miro, se divertir em uma boate era quase sinônimo de dançar e seduzir. Cada movimento do escorpiano na pista de dança era acompanhado por dezenas de olhares femininos e masculinos, totalmente inebriados pela sensualidade daquele ser. Mas, para surpresa geral, Miro não se mostrava interessado em nenhum deles. Ao contrário do que se esperava chegou mesmo a dispensar algumas moças mais atiradas que se aproximaram dele com intenções libidinosas.

As horas iam correndo e todos já estavam se arranjando. Afrodite investia pesado em Carlo, apesar de já haver levado várias negativas pela cara, agora parecia estar perto de conseguir alguma coisa com o italiano. Mu, depois de tomar 3 tequilas, alugava Shaka com um papo totalmente repetitivo sobre Saori, o ariano se sentira traído por Athena ter escolhido Camus e não ele para Mestre Interino. Shaka, por sua vez, tentava não perder a classe revelando os seus sentimentos sobre e para o Cavaleiro de Áries. Shura e Aioria já haviam desaparecido da festa com Shina e Marin, sabe-se lá para onde. Saga e Aioros discutiam, como já era de costume, em uma mesa isolada do lugar e Aldebaran divertia um grupo de cerca de 4 garotas com suas piadas e histórias fantásticas, essa era a tática que costumava usar para escolher a vítima do dia. Enfim, estava tudo correndo normalmente.

Miro continuava na pista de dança, só que agora olhava com certa insistência para a porta de entrada da boate. Havia conseguido, até aquele momento, evitar pensar em Camus mas estava ficando mais difícil a cada minuto evitar pensar e sentir falta do aquariano. Repentinamente parou com os movimentos sensuais que acompanhavam o ritmo da musica que tocava e se dirigiu à Afrodite, interrompendo qualquer coisa entre ele e Carlo.

Pegou o Cavaleiro de Peixes pelo braço e o arrastou para longe do italiano, dizendo para ele, aos gritos, já que o som estava muito alto.

– Estou indo embora, Frô... estou muito cansado.

– Cansado? – as noitadas dos dois costumavam durar até o amanhecer e ainda não passava das 3 da madrugada, era óbvio para Afrodite o real motivo pelo qual Miro queria ir embora.

– Ele pediu para você se divertir, Miro, vai te congelar inteirinho se você não fizer isso – disse já apresentando alguns sinais do alto teor alcoólico do seu sangue.

– Será que ele não vem mesmo? – disse, entregando os pontos para Afrodite.

– Eu tenho certeza que ele virá assim que a nossa Deusa Athena – disse isso revirando os olhos com um deboche incrível – permitir.

– Eu sei...

Nesse momento foram interrompidos por uma voz que vinha de trás de Miro.

– Será que eu mereço um minuto da atenção do aniversariante?

Aquelas palavras, ou melhor, aquela voz soava como a mais maravilhosa música aos ouvidos de Miro, que imediatamente se virou em busca do seu dono e nem viu quando Afrodite saiu de perto dos dois de fininho.

– Desculpe ter demorado – disse já olhando Miro nos olhos.

Camus vestia uma calça verde musgo e o suéter cor de creme, estava lindo mas aquela roupa, definitivamente, não combinava nada com o ambiente da boate, certamente tinha vindo direto do aeroporto para a festa.

Miro sentia vontade de abraça-lo, beija-lo, mas resolveu que não agiria impulsivamente, afinal o relacionamento deles ainda não era algo público. Camus, percebendo a tensão nos olhos do outro, resolveu parar com aquela tortura.

– Parabéns, meu anjo – disse passando uma das mãos pela nuca de Miro e o puxando para um beijo, deixando o escorpiano confuso. Camus nunca fora de demonstrações públicas de afeto, não esperaria por uma reação dessas mesmo que todos já soubessem dos dois.

– Por que você fez isso... na frente de todo mundo... – Miro disse ainda sem entender muito bem a atitude de Camus, depois de terminado o beijo.

– O que eu posso fazer se eu te amo? – disse envolvendo o escorpiano pela cintura mantendo os corpos o mais próximos possível.

– Eu também, e você não imagina o quanto, lindinho – Miro tinha que admitir que, quando queria, Camus conseguia ser bastante sedutor.

– Infelizmente eu não tive como comprar nada...

– O meu presente já está aqui.

Dessa vez foi Miro quem o puxou para um beijo. Passaram o resto da noite juntos, surpreendendo a todos com os olhares, toques e beijos carinhosos que trocaram até o amanhecer, quando foram, juntos, para a Casa de Aquário.

000000

Nossa, em pensar que eu queria escrever essa fic para publicar no aniversario do Miro... hahaha... e ainda pensei que seria one-shot! O fato é que agora já estou pensando essa fic em 3 capitulos.

Outra reclamação, queria ter colocado um lemon nesse capítulo mas não consegui... sei lá, outro bloqueio mental desse ser humano que sou eu!

Agora uma observação, fiquei quase um dia inteiro pensando nos apelidinhos carinhosos que eles usariam, cheguei à meu anjo e lindinho, nada original, mas foi o melhor que eu consegui. Agora, chamar o Miro de meu anjo, no mínimo é uma grande ironia!

Mas, olhem, muita emoção estar escrevendo pela primeira vez com esse que é o meu casal preferido de CDZ.

Bjinhos!

Lola Carilla Spixii