Nota das Autoras: Não sabemos se alguma fanfiction por aqui já tenha feito isso, não sabemos se a ideia é verdadeiramente original, mas nós duas nos empolgamos com a ideia de fazermos algo que nos parece divertido e relaxante. Por isso, começamos essa fic que não tem qualquer previsão de quando vai acabar; se tudo der certo, ela terá vida muito longa. Afinal, a ideia é fazer com que ela seja parecida com uma série.
Como vai funcionar? Bem, nós somos apaixonadas pelo casal Ikki X Hyoga e, por isso, cada uma optou por trabalhar com um deles. Ficou assim:

- Mamba Negra: Hyoga
- Lua Prateada: Ikki

E, a partir daí, a fic acontecerá da seguinte forma: Haverá capítulos que escreveremos, literalmente, juntas. Serão os capítulos em que Ikki e Hyoga irão interagir. Em outros momentos, escreveremos capítulos separados, sob a forma de POV de cada um deles. Ou seja, haverá capítulos em que os dois conversarão e irão interagir normalmente... em outros, haverá apenas o POV do Hyoga, dando seguimento à história (e feito pela Mamba), e nos outros, POV do Ikki (feito pela Lua).
Nenhuma de nós duas definiu que caminho a fic irá seguir. A trama irá transcorrer naturalmente, aos poucos, causando surpresa inclusive a nós duas. Como um jogo de RPG, em que a Mamba controla o Hyoga e a Lua controla o Ikki. Eventuais outros personagens, também pertencentes ao universo de CDZ, poderão e irão aparecer, mas estes serão controlados por ambas as autoras.
Não há ordem certa nem um padrão a ser seguido para os capítulos. Poderá acontecer de três capítulos seguidos serem feitos com interação dos dois personagens, ou então pode ocorrer do primeiro capítulo mostrar interação entre eles, os dois próximos virem com um POV do Ikki, depois mais um capítulo de interação, depois um POV do Hyoga... enfim... (isso foi só um exemplo) Não há ordem definida. Nem extensão de capítulo predeterminada. A ideia principal dessa fic é diversão. Nós duas pretendemos relaxar e, se enquanto nos divertirmos, conseguirmos também entreter outras pessoas, melhor.
Esperamos que gostem!

OBS: A fim de facilitar a leitura, seguiremos a seguinte formatação:

- Narração do Hyoga: Itálico
- Narração do Ikki: Normal

Boa leitura!


Capítulo 1: Madrugada no MSN

Já passa da meia-noite. Olho para o relógio pendurado na parede da sala. É um gato Félix, cujo rabo fica balançando enquanto os olhos movem-se ritmados de um lado para o outro. Qualquer um acharia estranho esse objeto na parede da minha sala, mas eu o ganhei de alguns colegas do meu trabalho que, provavelmente, estavam querendo fazer uma brincadeira sem-graça comigo. Lembro-me de ter aberto o embrulho amarelo e visto esse gato com alguma surpresa. Não disse nada, não tive qualquer reação. Apenas coloquei o presente na minha mochila cáqui e fui embora. Acho que esse presente ficou encostado por alguns dias em algum canto da minha estante, até que um dia Shun veio aqui, mexeu em alguns livros, achou o relógio e pensou que seria divertido colocá-lo na minha parede. Eu não disse nada, fingi nem ter percebido o que ele fazia. E depois que ele foi embora do meu apartamento, achei que o tal relógio era simpático. E útil. Afinal, eu precisava ver as horas mesmo...

Bebo mais um gole do meu café. A xícara já está pela metade e o que sobrou está frio. Acho que vou até a cozinha encher o recipiente de café quente, para misturar ao que ainda resta. Preciso ficar acordado, ainda tenho de arrumar mais algumas fotos para enviar à revista amanhã cedo. Levanto-me sem pressa, vou à cozinha, encho a caneca e regresso para a frente do meu notebook. E, súbito, a janelinha do MSN sobe, indicando que uma pessoa de minha lista de amigos acabava de ficar online.

"Pato? Acordado a essa hora?" penso comigo mesmo. Fico sem saber se falo com ele. Maldita a hora em que deixei Shun me cadastrar nesse negócio. Aliás, ele não só me cadastrou, como foi adicionando na minha suposta lista de amigos todos os contatos da lista dele. E agora? Falo com o Hyoga? Bom, se o russo apareceu online, ele não deve estar querendo se esconder do mundo. Acho que um cumprimento rápido seria educado. Não que eu me preocupe com essas coisas, mas enfim... falar com alguém pode até me ajudar a ficar acordado.

Oi, Pato. Acordado?– digito e envio a mensagem sem pensar muito. E logo em seguida me arrependo. Que pergunta idiota.

Oi. Na verdade, estou na base do energético. Tenho que finalizar o projeto de um site, e acabei me atrasando um pouco... E você? O que faz acordado a essa hora?

Eu estou na base do café. Energético não funciona comigo. Da última vez que tomei, dormi bem até demais.– pondero um pouco. Desde que regressei e me assentei enfim, como Shun gosta de dizer, nem me dei ao trabalho de perguntar sobre o que os outros estavam fazendo da vida. Mas eu estava ocupado dando um rumo à minha vida. De qualquer forma, agora posso perguntar e me inteirar a respeito: – Projeto? Que tipo de projeto?

Eu sou web designer. Eu poderia me vangloriar e te encher de explicações técnicas, mas não acho que você teria paciência pra isso. Basicamente? Eu monto sites. – era a primeira vez que Ikki se prontificava a conversar comigo assim. Confesso que estranhei um pouco, ainda mais por se mostrar interessado com o que eu estava fazendo. Desde que ele voltou, praticamente só interage com o Shun...

Arrogante como sempre. Impressionante como ele consegue transmitir isso até por uma conversa virtual – Legal. Eu estou fazendo photoshop em algumas fotos que tirei hoje. Preciso mandar amanhã para uma revista sem falta. Odeio prazos, mas tenho contas a pagar. Então não tenho muita escolha.– fico olhando a mensagem na tela alguns segundos antes de enviar. Acabo dando de ombros e admitindo que estou meio carente de conversa. Nos últimos dias, não tenho conversado com ninguém porque Shun viajou e está muito atarefado naquele tal Congresso. Fico aqui esperando para ver se ele aparece e nada. A essa hora, ele deve estar dormindo. Para variar, deve ter chegado cansado demais para se conectar. E ainda me fez entrar para essa droga de rede, alegando que apareceria todas as noites para falar comigo... – E esse site que você está fazendo... é sobre o quê?– pergunto, apenas para puxar conversa. E bebo mais um largo gole de café.

Provavelmente, eu era a única pessoa online na lista dele. Estava insistindo na conversa, comigo? Ele nunca se mostrou interessado em bater papo, pelo menos não com o 'pato' aqui. Bom, o cara deve estar carente de conversa. Não posso dizer que não esteja também, tenho trabalhado tanto... – Uma empresa de compras coletivas...

Empresa de compras coletivas? Como isso funciona?– pergunto sem me importar o mínimo se ele vai me achar um ignorante. Não sei ainda usar todas essas ferramentas que a modernidade oferece. Mais da metade da minha vida me vi afastado disso. E sinceramente só me interessa aprender aquilo que me vai ser útil. Como esse photoshop. Incrivelmente útil...

Essas empresas fazem parceria com várias outras, e oferecem promoções em seus sites. As ofertas são válidas apenas quando uma quantidade mínima de gente compra, e todo mundo sai ganhando. Algumas ofertas são realmente boas. Por exemplo, você pode comprar um fim de semana numa pousada, com a diária pela metade do preço... Sua namorada iria adorar! – Eu não pretendia fazer uma propaganda, mas acho que me empolguei um pouco.

Promoção? Parece bom.– pagar menos é sempre algo que me atrai. Dinheiro para mim é algo que sempre anda curto e não gosto de depender de empréstimos – Depois me passa esse site. Vou querer dar uma olhada.– envio e, logo em seguida, como se houvesse me esquecido de dizer algo muito importante, abro novamente a janela de conversação e acrescento – E quem disse que eu tenho namorada? De onde tirou essa ideia, pato esclerosado?

Eu pensei que você e a Esmeralda tivessem algo mais... Não tem?

Não, isso ficou pra trás. Achei ótimo Athena ter trazido Esmeralda de volta, porque eu sempre achei que ela merecesse uma vida com direito a tudo que ela não pôde ter antes. Mas entre a gente ficou só amizade. O Shun não te contou isso?

Não tenho falado muito com o Shun ultimamente...– Na verdade, estou um pouco afastado de todos. Mas o Ikki não perceberia isso, nunca fomos próximos. Isso foi um lamento? Claro que não! Acho que é hora de outro energético...

Não? Pensei que vocês fossem grudados, melhores amigos e tudo o mais.– digito me sentindo estranho. Não tem se falado? E esse russo fala quase como se não sentisse tanta falta do meu irmão. Ah, que besteira. E daí? – E a Flair? Ou era a Eiri? Qual das duas você estava namorando mesmo?– Não me recrimino. Foi ele quem começou com esse assunto.

Eu me afastei de todo mundo, na verdade. É culpa minha, tenho trabalhado demais...– não era apenas isso, mas era complicado demais explicar. – E quanto às garotas, a resposta é: nenhuma delas. Pra ser sincero, elas não fazem muito o meu tipo...– tentei ser discreto, esperando que ele compreendesse nas entrelinhas a minha homossexualidade.

Nenhuma? Sério?– não consegui disfarçar a surpresa. Ora, esse pato sempre foi muito cobiçado, todas as garotas sempre tiveram olhos para ele. É verdade que ele é bonito, tem um tipo diferente, por ser meio russo... Não que eu preste atenção demais. Mas tem coisas que são óbvias – Então nem a Flair nem a Eiri fazem o seu tipo? Mas elas são lindas, pato exigente. Então me fala. Que garota faz o seu tipo?– pergunto, sentindo-me estranhamente ansioso por uma resposta. E até já me esqueci das fotos, entretido com a conversa. Minimizo a janela e volto a cortar e modificar as fotos. Mas não tiro os olhos da janela minimizada, esperando que ela comece a piscar, indicando que recebi logo uma resposta.

Ah, Ikki... Tão esperto pra certas coisas, mas tão devagar para outras... Agora, eu estava num dilema: contar ou não. Não que me sentisse envergonhado, nada disso. Mas confesso que me importava com o que ele pensaria de mim. Bom, já que o cara não é bom em ler nas entrelinhas, vai escancarado mesmo: – Garotas não fazem meu tipo, Ikki.

Assim que a janela piscou, abri-a de uma vez. E quando li a resposta, engoli em seco. Li de novo. E de novo. Estava lendo certo? – Você é gay? – nem pensei enquanto escrevia. Meus dedos começaram a teclar e eu sequer os comandava.

Oh! Finalmente ele entendeu! Você nunca reparou isso? – eu ri sozinho, olhando a tela do computador. Pude imaginar a cara dele, ao ler o que escrevi.

Fiquei estático, olhando para o meu notebook. O que eu ia responder? Não, eu nunca tinha notado. Quero dizer... Não, eu nunca tinha notado! Sim, era exatamente isso que eu ia dizer: – Não, pato idiota! Eu nunca tinha notado. Não sou o tipo de pessoa que fica bisbilhotando a vida alheia.– Súbito, uma ideia passa pela minha cabeça – Espera um pouco! Por acaso, você e o meu irmão... vocês dois têm alguma coisa? – pergunto sentindo minha mão tremer. Sinto que uma resposta positiva me derrubaria...

Não. Ele é um amor, mas... Também não faz o meu tipo.– Eu nunca tinha reparado no quanto sou exigente... Mas sempre enxerguei o Shun como um irmãozinho mesmo, e acho que ele me via da mesma forma. Pra ser sincero, tipos como o Ikki me agradam bem mais, mas nem sob tortura eu diria isso a ele. Percebo que deixei meu trabalho completamente de lado, e volto a testar mais uma cor de banner...

Respirei aliviado. Contudo, ao reler a frase "Ele é um amor", me senti incomodado. – Você é muito exigente, pato. Por isso está trabalhando demais. Aposto como não tem com quem sair, porque ninguém é bom suficiente para você.– acabo alfinetando o russo sem querer. Força do hábito. Após o término das batalhas, há cinco anos, saí para viajar, rodei o mundo, mas nunca encontrei algo que me divertisse mais ou tanto quanto discutir com esse pato das neves...

Eu senti falta disso. Ikki me tira do sério a ponto de querer matá-lo, mas eu senti falta disso. Ninguém me chama de pato, ou me provoca dessa forma. – Pois então, frango, engula suas palavras e saiba que eu posso até trabalhar demais, mas não estou sozinho. Eu estou vendo alguém, sim...

Acabo rindo sozinho no meu apartamento. Frango. Só esse russo pra ter coragem de me chamar assim. Mas então me dou conta do que acabo de ler. Ele está vendo alguém? – Está vendo alguém? Um homem?– envio e depois dou um tapa na minha testa. Mas que mania de mandar e depois ler o que escrevi! Claro que é um homem! Hyoga sai com homens, ele tem atração por homens, homens como eu. Quero dizer, não necessariamente como eu. Quero dizer... ah, eu preciso de mais café.

Bom, a última vez que chequei, era um homem sim. E não acho que uma mudança de sexo esteja nos planos dele... hahaha Ikki, acho que você precisa de mais café!– o embaraço dele está me divertindo tanto, que esqueci do meu trabalho novamente.

Devo ter ficado vermelho. Senti minha face ficar quente. Pato idiota. – Não tem graça, Hyoga. É só que não estou acostumado com a ideia de que você é... assim.– Fiquei sem saber o que dizer. E depois percebi que, do modo como escrevi, ficou parecendo que eu estava com preconceitos – Digo; nada contra sua opção. Vários cavaleiros de ouro são assim também. É só que você parecia diferente. Sabe, as mulheres gostam tanto de você e você é muito bonito e – MERDA! Apertei o botão do "enter" sem querer e a mensagem saiu pela metade! E terminou justo naquela parte! - E eu só estava me acostumando com a ideia, só isso!– escrevi outra mensagem complementando, o mais rápido que pude, porque aquela última frase, sozinha, ficou estranha demais.

Ok, ele me achava bonito, e daí? Isso é motivo pra me sentir nervoso? – Tudo bem, desculpe. Eu não podia deixar passar a oportunidade de caçoar de você. Mas, se serve de consolo, a reação do Seiya foi muito pior... A propósito, obrigado pelo 'muito bonito'!

Ele falou isso de propósito, só pra me sacanear. Só pode. – Eu não sou cego, só isso.– envio e depois releio. Que droga. Em vez de parecer uma boa justificativa, ficou pior. – O que eu quero dizer é que não tenho problemas em reconhecer essas coisas. Afinal, eu sou muito bonito e confiante, não preciso ter medo de concorrência.– Pronto. Acho que agora ficou uma resposta decente. Aperto a tecla "enter" com gosto e me levanto da cadeira. Busco mais uma caneca de café. E acabo com o que tinha na garrafa.

Perguntei-me se já havia pegado pesado o bastante, e conclui que não. Ikki merecia bem mais, e eu estava entediado, portanto, Fênix sofreria um pouco mais nas minhas mãos. – Você não precisa temer a minha concorrência, deveria temer se tornar a minha caça, sr. 'muito bonito e confiante'.– hesitei um pouco antes de enviar, mas ainda assim apertei 'enter'. Era apenas uma brincadeira.

Volto com a caneca na mão, aspirando satisfeito o aroma do café. Sento-me na minha cadeira e olho para a tela do notebook, a fim de ler a resposta daquele russo. E quase cuspo o café no teclado. Mas que diabos...? Fiquei com os olhos arregalados e pregados naquela mensagem. Mas o que esse pato tem na cabeça? Ele está brincando, claro. Só pode estar brincando. Aliás... finalmente caio em mim. Esse pato deve estar rindo muito da minha cara agora! Ele está me sacaneando, o espertinho. Deve estar se achando muito inteligente. Me deixou sem-graça e agora fica falando isso? Ah, mas ele vai aprender que comigo não se brinca. – Ah, sim. Medo de você? Nem em sonho, pato. E, se eu fosse você, não brincava com fogo. Não sabe que pode se queimar? – rio com minhas próprias palavras e acrescento logo em seguida – Mais uma coisa. Se entre nós dois houvesse uma caça e um caçador, eu garanto que o caçador seria eu... – Aperto a tecla "enter" e recosto em minha cadeira, satisfeito. Vamos ver quem vai ficar sem graça agora, penso com um sorriso estampado no rosto.

Ele demorou a responder, então voltei a me focar no meu trabalho. Quando a janelinha começou a piscar, indicando que a mensagem dele havia chegado, confesso que fiquei apreensivo, imaginando a reação dele. Bom, eu deveria ter me preocupado com a minha reação, pois quase caí da cadeira. O feitiço virou contra o feiticeiro, e fiquei literalmente sem palavras. Eu deveria ter previsto isso, o Ikki não é tão facilmente encurralado. Eu poderia aceitar a minha derrota e pedir desculpas, ou continuar a brincadeira... Mas, havia uma terceira opção: mudar drasticamente de assunto. Seria uma forma de admitir a derrota, mas sem dizer propriamente, então: – Em que você trabalha mesmo?

Sorri vitorioso. Ele mudou de assunto. É um pato mesmo... – Sou fotógrafo. Free-lancer. Faço alguns bicos para vários jornais e revistas. E, quando a grana aperta, eu tiro fotos de casamentos, aniversários, essas coisas. – Fiquei tamborilando os dedos na mesa, pensativo. Pensei se deveria ser mau. Ri sarcástico. Claro que sim. – Se quiser, qualquer dia, eu faço um ensaio fotográfico com você, "patinho"... – fiz questão de enfatizar o diminutivo. Hyoga tinha de reconhecer sua derrota. Enviei a mensagem com um sorriso de orelha a orelha. Adorava quando vencia uma discussão com o russo.

Você simplesmente não consegue deixar pra lá, não é? Ok, frango, você venceu! Está satisfeito agora? Eu sinto muitíssimo pela brincadeira, não queria te envergonhar, muito menos despertar sua libido... – se fechasse os olhos, eu seria capaz de ver direitinho o sorriso zombeteiro dele.

Você não despertou minha libido.– respondi rápido, e muito sério. – Era só uma brincadeira.– Enviei logo e fiquei quieto. De repente, não sabia o que dizer. E me veio à mente aquela frase de que algumas brincadeiras são destinadas a acabar mal. Essa foi uma delas. Ficou uma situação constrangedora. – Bom, eu... não queria ter provocado tanto. Desculpa. E eu sei que você tem namorado, não queria ter te colocado numa situação chata com essa brincadeira.

Está tudo bem.– O clima pesou tanto, se soubesse não teria brincado daquela forma. Não nos vemos há tanto tempo, eu já vou logo falando este tipo de coisa... Sou um idiota mesmo. – Quem deve desculpas aqui sou eu, Ikki.

Tudo bem.– digitei e fiquei olhando para essas duas palavras, como se eu buscasse entender o que parecia faltar. E vi que tinha conseguido insinuar na conversa o tal "namorado". Ele não me corrigiu. Ele não está só de rolo, é sério mesmo. Estranho pensar no Hyoga com alguém. Ainda mais com um homem. Não que eu fique imaginando ou deixando de imaginá-lo dessa ou daquela forma, mas... Enfim; fiquei tentado a perguntar e não me segurei: – E esse seu namorado? É alguém que eu conheço?– tentei perguntar de forma casual.

Sim. Você se lembra do Isaac?

Isaac? Aquele ex-general Marina? Aquele cara que se juntou com o Poseidon pra matar a Athena? Aquele cara que quase te matou quando lutamos para salvar o planeta de ficar debaixo d'água?

É, parece que você se lembra muito bem dele...– ele foi duro demais em suas palavras, mas não iria perguntar o porquê.

É claro que eu me lembro! Como você pode se juntar com um cara como aquele? Ele tentou te matar, Hyoga!– digo e me esqueço momentaneamente de que também eu, uma vez, quase matei o Cavaleiro de Cisne. Mas não conseguia raciocinar, essa notícia me revoltou mais do que o esperado.

Por que você se importa com isso? E não se esqueça de que você tentou me matar também...– pergunto-me por que ele estava tão revoltado. Há um momento atrás ele nem sabia da minha vida, agora quer dar palpite?

Não é que eu me importe, Pato. Só acho que você devia escolher melhor suas companhias. – respondo ríspido, com o orgulho ferido. – Como você tem coragem de me comparar com esse seu namorado caolho?

As pessoas mudam, Ikki. Se você mudou, por que ele não mudaria também?

E ele insiste em continuar me comparando... – Porque ele não passou pelas mesmas experiências que eu. Então não sei se ele mudou de fato. Esse Isaac nunca me pareceu confiável. Vocês estão juntos há quanto tempo?– pergunto sem me importar se estava sendo indiscreto. Simplesmente, meu orgulho estava ferido e não aceitava ser comparado àquele cara dessa forma.

Dois anos. Podemos mudar de assunto? Não quero falar do meu relacionamento... Não me entenda mal, não me ofendi com a sua opinião. Só não quero falar disso...

Dois anos? Isso é muito tempo. Nenhum dos meus relacionamentos durava tanto. Bom, não posso chamar os encontros casuais que eu tenho com estranhas de "relacionamentos". Afinal, acho que o normal é que os relacionamentos durem mais que uma noite... – Tudo bem. Não precisamos falar sobre ele.– Fiquei tentado a perguntar por quê. Mas não me intrometo. Não é do meu feitio. – Quer falar sobre o quê, então? Seu site já está pronto?

Está quase.– eu espero que não tenha soado grosseiro de minha parte, mas não quero ouvir todas aquelas opiniões contrárias à minha relação. Não de novo...

Ele parece não querer mais assunto comigo. Só então me dou conta de que devo tê-lo atrapalhado com seu trabalho. Aliás, me atrapalhei com o meu também. – Desculpa, acho que te atrasei com seu projeto, não é?

Claro que não, Ikki! É ótimo conversar com você, depois de tanto tempo... Fui sincero. Realmente gostei de falar com Fênix novamente. Percebi que estava sentindo falta dele e de suas implicâncias.

Digo o mesmo. Tinha sentido falta disso.– respondi impulsivamente. Era verdade. Sempre me sentia à vontade com essas nossas conversas que mais eram provocações, mas que, mesmo assim, me agradavam muito. – Aliás, se não estiver tão atarefado, qualquer dia desses, poderíamos sair pra comer algo e lembrar dos velhos tempos. Se o Isaac não se importar, claro.

Eu adoraria. E não, ele não se importa.– nem um pouco, pra falar a verdade... – Você está livre esse final de semana?

Tem certeza? Não seria bom checar com ele primeiro?– primeiro, eu falo mal do cara até não poder mais e agora insisto para o Hyoga perguntar se ele se importa? Ah, a quem estou querendo enganar? Estou curioso. Dá pra ver que tem algo estranho nesse relacionamento. – Afinal, fim de semana... até onde sei, é o momento de casais de namorados saírem juntos. Ainda mais quando se tem o tempo tão escasso, como parece ser o seu caso, pato.

Ikki Amamiya, você está me saindo um curioso! hahahaha O Isaac tem outro compromisso, pra este final de semana, tenho certeza. E ele não se importaria, por duas razões: eu e você somos apenas amigos; E eu e ele temos uma relação aberta.– eu detesto contar este detalhe, mas o Ikki insistiria até descobrir, então contei de uma vez. Apertei o 'enter', reclinei mais a cadeira e fechei os olhos, esperando a mensagem recriminadora que viria.

Lembrei-me de que, antigamente, antes de eu ficar tanto tempo fora, quando meu contato com meu irmão e amigos era um pouco mais frequente, eu costumava ter essa impressão. A impressão de que esse russo lê meus pensamentos. Às vezes, acontecia de eu olhar para ele de um jeito, ele sorria e simplesmente me respondia ao que eu indagava interiormente. Ele percebeu minha curiosidade. Tudo bem que não sou mesmo bom em esconder o que penso, mas ainda assim... às vezes, eu tinha a impressão de que esse loiro me conhecia bem, talvez até demais. Mas era sempre só uma impressão. – Relação aberta? Então... Vocês podem sair com outras pessoas?– hesitei em continuar, mas não pude me conter – E você não se importa? Porque, por mais liberal que você seja, eu nunca te vi como sendo desse tipo, Hyoga.

E aí está ela, a pergunta da qual eu queria fugir. Eu me importo? É, acho que me importo... – Isso ainda é novo pra mim, Ikki. Nós namoramos há dois anos, e somente há três meses o Isaac surgiu com esta proposta. Claro que eu não aceitei de cara, mas depois de muita insistência e argumentação, acabei cedendo. Fica tranquilo, eu não mudei tanto assim, ainda sou aquele cara que você conhecia, antes de sumir.– Eu tentei escolher bem minhas palavras, pois me importo com o que ele vai pensar de mim. Seria como os outros?

Espera um pouco. Vocês namoraram há dois anos, e há três meses ele resolveu que quer sair com outras pessoas? É sério isso? – não consigo esconder minha irritação. Isso me parece tão... tão... absurdo! Se o caolho estava com o Hyoga, por que iria querer outra pessoa? – Você cedeu? Olha, pato... você vai me desculpar, mas não está parecendo o mesmo cara que eu conhecia. O Hyoga que eu conhecia não cedia. Ele era teimoso e orgulhoso; talvez a única pessoa nesse mundo mais cabeça-dura que eu. Fora isso, por que você teria que ceder? Cara, você sempre teve gente correndo atrás de você! Pra que se prestar a um papel como esse por causa de alguém que, pelo visto, nem te merece?– digitei com pressa, nervoso. E quando estava relendo minha resposta, me lembrei de acrescentar: – E eu não sumi. Eu fui viajar. Queria conhecer o mundo. Pedi que Shun avisasse a vocês no dia em que fui embora. Ele não avisou?

Eu ainda sou teimoso e orgulhoso, Ikki. Eu tive minhas razões, ok? E não foram tantos assim, correndo atrás de mim... Se você retirar as mulheres desta lista, quem sobra? Quanto à sua 'viagem', eu gostaria de ser avisado por você, pessoalmente, como um amigo faria...– Droga, eu sei que estava soando amargo demais, mas ele precisava ler isto.

Fiquei sem ter o que responder. Fiquei olhando para a tela, com a mente em branco. E acabei sorrindo num suspiro. Só esse russo conseguia essa proeza de me deixar sem palavras. Ele nunca teve medo de me confrontar. Pelo visto, ainda continua o mesmo, sim... – Está bem, desculpa. A vida é sua, eu não tenho nada que opinar. Mas eu tenho certeza de que alguns caras deviam ser a fim de você. Só que eles não deviam falar nada, porque talvez você não tivesse deixado sua opção clara para todo mundo. Eu, por exemplo, nunca tinha percebido essa sua inclinação.– terminei de digitar e respirei fundo. A segunda parte da resposta era mais difícil – Eu saí muito cedo da mansão naquele dia e não queria acordar ninguém. Para o Shun mesmo, eu tinha deixado só um bilhete. Mas ele acordou e me viu saindo, aí tive que me explicar... – paro um pouco para deixar o ar abandonar meus pulmões pesadamente – De qualquer forma, eu sinto muito, pato. De verdade. Sei que não foi a melhor forma de agir. Eu era mais imaturo. Estava confuso. Precisava descobrir quem eu era, depois que as batalhas acabaram. Não estava sendo fácil para mim.

Não foi fácil para ninguém...– A franqueza dele me surpreendeu. Não esperava obter uma explicação sobre a saída repentina de Ikki da mansão. Naquela época eu fiquei muito magoado, mas acho que agora já passou... – Você acha que sou um idiota? Por causa do meu relacionamento?

"Eu sei que não era fácil para ninguém. Por isso mesmo, precisava me afastar. O que me mantinha próximo de vocês, durante a batalha, era me saber necessário. Mas quando tudo acabou, e ficamos todos sentindo que não fazíamos parte da sociedade... sentindo que não nos encaixávamos... eu vi que me sentia tão perdido quanto vocês. Não era mais útil. Vocês não precisavam mais de mim...", eu penso comigo, absorto nesses pensamento sombrios. Então sacudo a cabeça e, finalmente, volto minha atenção para a tela: – Idiota? Não, Hyoga. Não penso isso de você. Mas acho que você está com alguém que não te merece. Por que ele te faz passar por algo assim? É muito humilhante. Fica parecendo que ele quer os benefícios da vida de solteiro, mas sem querer perder você. Ele quer ficar com você sem te tratar como você merece. Eu realmente não entendo...

É complicado explicar. O Isaac não é o monstro que todos imaginam, ele gosta muito de mim... E o final de semana? Está de pé? – eu tento mudar de assunto novamente.

Desse jeito, você nem parece um cavaleiro de gelo, Pato. Defendendo esse cara dessa forma, você demonstra um coração mole demais.– suspiro; e acho melhor não forçar mais esse assunto – Está bem, então. Se você diz que ele não vai se importar... Vai estar livre no sábado, na hora do almoço?

Resolvi ignorar o comentário dele. – Claro. Onde?

Eu vou ter um trabalho na parte da manhã, mas termino antes do almoço. Daí, vou levar as fotos para a revista. Lá no centro tem uma pizzaria muito boa. Forneria di Lorenzza, conhece?

Conheço. Nos encontramos lá? À uma da tarde, pode ser?– Por que eu estava tão feliz, com a possibilidade de reencontrá-lo?

Combinado. Bom, eu acho que vamos ser capazes de nos reconhecer. Pela sua foto aqui, estou vendo que você não mudou nada. – brinquei e, reparando mais na foto, percebo que os cabelos loiros estão mais curtos. E os traços, um pouco mais másculos. Novamente, não me recrimino. Sempre fui muito observador; apenas isso.

Mudei pouca coisa, tenho certeza de que você me reconhecerá, frango! Até lá, então?

Até. Bom falar contigo, pato.– sorrio e depois bocejo de sono. Levo meus olhos cansados para o gato Félix na parede – Você viu? Já são quase 6 horas da manhã.– É, meu trabalho tinha atrasado... mas não conseguia me arrepender – Vou tirar um cochilo e tentar acabar as fotos mais tarde. Te atrapalhei muito com o seu site?

Valeu a pena. Foi bom falar contigo também.– olho o relógio e não acredito que o tempo passou tão rápido. – Até mais!

Saio do MSN e, logo em seguida, coloco meu note no modo hibernar. Do mesmo modo, pretendo cochilar. As fotos só precisam estar prontas às 8 horas. Dá pra cochilar uma horinha...

Levanto-me e vou para o sofá, onde me jogo como estou e fecho os olhos, mais que preparado para cair no sono. Inevitavelmente, o sono chega rápido. E assim, durmo logo, embalado pela lembrança da conversa que atravessou a minha madrugada...

Não era a primeira vez que eu varava a noite assim. Mas fazia muito tempo que não ia dormir me sentindo tão bem...


Continua...