Hetalia não me pertence. A imagem usada também, mas eu que fiz a edição dessa vez e tal. A Ironborn está betando em geral, a Esparafuso e a Ingrid estão me ajudando no enredo, e pra finalizar, a Coward-san me deu umas ideias legais.

Mesma coisa de sempre. Scott/Scotland, Michelle/Seychelles, Amèlie/Mônaco e por ai vai. Ah é, sem nenhum casal em foco principal. Surgirão alguns casais e algumas insinuações, sim, mas não pretendo manter nenhum em foco principal. Also... TUDO que eu escrevi aqui foi baseado em algum artigo médico ou em alguma pessoa mesmo. Não escrevi nada que eu não soubesse, juro. Se tiver algo de errado ou alguém tiver qualquer sugestão, pfvr, fale comigo. :3

E isso daqui é dedicado a qualquer pessoa que precise de um ombro amigo ou que pense que está sozinho. Vocês não estão sozinhos.


Tem uma música tocando. Está alta, consigo ouvir um pequeno zumbido no fundo do meu ouvido - talvez não tenha sido uma boa ideia colocar nesse volume. Mas Amèlie está se divertindo - eu olho para o lado e a vejo rindo, olhando para trás. Eu sorrio, feliz - não saio com minha irmã desde que entrei na faculdade. Dizem que gêmeos sentem excessivamente a falta um do outro quando estão longe - posso comprovar isso, porque os meses que passei em Ottawa me fizeram querer voltar logo.

Eu volto a olhar para a frente, tentando prestar atenção na estrada. Agora eles estão cantando o refrão da música, animados. Por alguns segundos, vejo Gilbert segurar a mão da minha irmã - ah, eu tinha certeza que eles se dariam bem. Talvez, bem até demais - vou precisar conversar com meu melhor amigo sobre isso depois.

Olho de relance para minha irmã e suas bochechas estão coradas. Está usando seu vestido favorito - um rosa com flores amarelas e brancas que eu a dei no Natal do ano passado. Ao invés de usar sua trança usual, o cabelo estava preso em coque. Seus cabelos são um pouco mais escuros que o meu, mas temos olhos iguais - azul-piscina. Ela parece estar feliz e apaixonada... Gosto de vê-la assim.

Minha atenção volta ao trânsito. Quando estava chegando perto do cruzamento, o sol atrapalhou minha visão - tive apenas o vislumbre do sinal aberto, então continuei.

Foi tudo rápido demais. A buzina, o impacto, a dor latejante em minha cabeça. E então, o branco total.


Abri os olhos lentamente. Ao ver a luz fluorescente do quarto, voltei a fechá-los - argh, como minha cabeça doía. Após algum tempo, arrisquei abri-los novamente, e com alguns minutos, consegui me acostumar. Olhei para os lados - vários aparelhos perto da minha cama - e abaixei um pouco o rosto, tentando me olhar. Alguns arranhões nos braços, perna enfaixada... Levantei a mão, encostando na minha cabeça - ela também estava enfaixada.

Droga, eu devo estar horrível.

Voltei a olhar para a frente, tentando me lembrar do que aconteceu - e ficando um pouco irritado por causa do bip constante ao meu lado. Estava no carro com meus amigos e Amy, a música estava alta, o sol bateu em meu rosto... Então um outro carro atingiu o meu. Tenho quase certeza que capotamos... Ou será que era minha cabeça que rodava?

Então eu lembrei. Amèlie. Olhei em volta novamente e percebi alguns buquês de flores - rosas, minhas favoritas - e cartões, mensagens... Onde estava minha irmã? Decidi que procuraria por ela. Me sentei na cama, e logo quando ia sair, uma enfermeira entrou no quarto.

— Você não pode se levantar, senhor Bonnefoy, por favor. — Ela se aproximou de mim, tentando me acalmar.

— Onde está a Amy? — Perguntei, respirando fundo e prendendo a respiração logo após.

— Senhor... Francis — Ela falou, olhando para uma placa perto da minha cama —, você precisa descansar, não pode se levantar agora...

— Não foi isso que perguntei - onde está a minha irmã? Amy! Amy! — Gritei, olhando pra trás e, ugh, minha coluna doendo.

— Senhor, por favor, será que pode se acalmar? — Tentei sair da cama, mas estava fraco e, por causa das costas, dolorido. Logo o médico entrou no quarto.

— Enfermeira, dê um sedativo. — Ele falou, se aproximando de mim.

Então eu entendi. Eles estavam evitando me falar o que tinha acontecido com minha irmã... Porque o pior tinha acontecido. E assim que entendi isso... Perdi os sentidos novamente.


Ela não gostaria disso. Eu tenho certeza; posso parecer louco, mas Amèlie não gostaria disso. Estava tudo negro demais, escuro demais - sua irmã gostava de rosa, azul, verde. Ela odiaria aquilo tudo. Provavelmente diria que eles precisavam de mais cores em suas vidas, então daria aquela risada maravilhosa dela. Mas Amy não podia fazer aquilo mais. Não... Eu tinha matado ela.

E eu sei que todos sabem disso. Eles me olham - com pena, todos pensariam -, mas eu reconheço esse olhar. Eles estão me acusando. Foi o mesmo olhar dos meus pais quando eles foram me ver no hospital. Foi o mesmo olhar de Gilbert quando nos encontramos quando recebi alta. Foi o mesmo olhar do Antonio quando ele apareceu naquela cadeira de rodas. Eles me odeiam. Eles sentem raiva de mim. Eles me culpam pela morte de Amèlie.

Agora estão descendo o caixão da minha irmã. O pastor ainda está falando e as pessoas à minha volta estão orando junto com ele... Onde estava Deus quando aconteceu aquele acidente? Onde estava Deus quando o carro acertou meu carro, matando minha irmã e colocando meu melhor amigo na cadeira de rodas? Onde estava Deus, pela santa paciência, quando meus pais pediram para que Ele salvasse a vida de Amèlie? Deus não estava lá, e também não está aqui.

Agora eles jogam suas rosas na cova. Um por um, o local vai ficando vazio. Gilbert joga a rosa, então olha para mim. Ele me odeia. Ah, ele realmente me odeia. Michelle, ao meu lado, joga uma rosa, fala alguma coisa comigo e se afasta. Eu sou o último.

— Me perdoe, soeur. — Então dou um beijo na rosa, jogando-a em seguida.

Queria que, dos céus - se é que existe alguma coisa além desse plano no universo -, ela ouvisse meu pedido.


Desliguei o telefone, então o guardei no bolso. Michelle terminou comigo. De acordo com ela, eu preciso... Como foi que ela falou mesmo? Ah, "resolver os meus assuntos" para ficar com ela, que "já passou muito tempo" e eu preciso seguir em frente. Ela disse que, por mais que ela me ame, ela não pode curar as minhas dores, eu tenho que criar forças para seguir em frente. E eu entendo os motivos da minha namorada... Ex-namorada.

Solto um riso nervoso, olhando para o céu, e apago outro cigarro no meu braço - é o quinto ou o sexto do dia, perdi a conta depois que sai pra beber. Gosto de olhar as estrelas. Viemos delas e voltamos para elas quando morremos. Somos todos feitos de pó de estrelas. É reconfortante saber que ela está lá, me observando há um ano.

Um ano, mas ainda parece que foi ontem. Parece que tudo está voltando ao seu devido lugar. Meus pais seguiram em frente, Gilbert seguiu em frente... Até Antonio, que está na fisioterapia, seguiu em frente. Michelle precisava seguir em frente, também, por isso me abandonou. Porque eu sou o único que ainda está parado no mesmo lugar.


Eu estou escutando o barulho novamente. Acho que é ambulância ou uma viatura, mas não importa. Não mais. Eu tomei mais Valium do que devia, regando-o com alguns goles de uísque. Estou trancado no quarto agora. Não consigo me mexer, estou fraco demais pra isso. Provavelmente Michelle encontrou minha carta de despedida.

Senti meu coração vacilar. Eu fechei os olhos então, esperando que a gloriosa morte viesse me buscar. Mas não foi isso que aconteceu. Eu vi tudo novamente. Amy do meu lado, Gilbert segurando sua mão, Antonio rindo e comentando alguma coisa sobre a música... Ugh, a música. Ela está mais alta, a voz da cantora está mais fina, parece que eu vou ficar surdo.

Talvez... Talvez isso tudo foi um sonho. Talvez eu fosse acordar agora mesmo, Amy estará do meu lado, me esperando acordar do coma induzido, e vai fazer algum comentário sobre como eu a deixei preocupada - talvez, nem o acidente aconteceu mesmo, eu vou acordar no meu quarto, com ela pulando em cima de mim para que eu acordasse.

Eu abro os olhos e vejo Amy na minha frente. Ela está triste... Suas feições são tristes, preocupadas. Eu tento chamar seu nome, mas minha boca não mexe, minha voz não sai. Tento tocar seu rosto, mas não consigo sequer levantar o braço. Então eu escuto um barulho alto - parece que conseguiram arrombar a minha porta. E a última coisa que vejo antes de perder a consciência é o olhar triste da minha irmã.


Então, pessoal, é isso. Mais uma tentativa de longfic aqui. Reviews, sim? :3