O dia começou cedo com o despertador, era quinta-feira, dia de escola. Elisa levantou-se, lavou os dentes, vestiu-se e preparou as coisas para a escola. Saiu pela porta e entrou no quarto ao lado, onde o seu irmão mais pequeno, Neil, de 3 anos dormia profundamente e pacificamente. Elisa não conseguiu evitar um sorriso, beijo-lhe a bochecha e saiu do quarto devagarinho. Eram 8h da manhã, daqui a meia hora a Jane chegara cá a casa para levar Neil para o infantário, já que a sua mãe está incapacitada. Elisa passou pelo quarto da mãe sem fazer um mínimo de barulho. A mãe havia-se trancado no quarto desde o dia em que o pai de Elisa morrera um acidente de carro, 1 ano passado desde o nascimento do Neil. A partir desse dia, quem passou a limpar a casa, a fazer a comida e a tomar conta do irmão havia sido ela.

Elisa dirigiu-se á cozinha e tirou uma maçã da fruteira, de seguida em vês de sair pela porta da frente, saltou pela janela da cozinha e aterrou no seu magnífico jardim. Era inverno por isso as arvores e as flores, ou estavam congelados ou cobertos por neve. Ficava absolutamente belo. Elisa acabou de comer a maçã, aproveitou as sementes e plantou-as num cantinho do seu jardim.

Mary subiu para uma das árvores, e do topo saltou para a cerca do seu lado direito. Equilibrada na madeira, Elisa começou a andar e quando chegou ao fim saltou para o passeio. Caminhou para a escola com os fones nos ouvidos e chegou mesmo quando deu o toque de entrada.

Estava a congelar o lago quando as crianças começaram a sair pelas portas das suas casas e a caminharem em direção á escola. Como era de manhã, as crianças estavam com sono, frio e sem vontade nenhuma de fazerem uma luta de bolas de neve.

Por volta do meio-dia, Jack estava a sobrevoar a escola, quando uma bola de voleibol quase que lhe acerta. A bola foi parar ao telhado, a 25 metros do chão. Jack pousou os pés no chão e encostou-se á sua vara.

-Gostava de saber o que vão vocês fazer agora?- riu-se Jack.

Como para lhe dar uma resposta, um rapaz que estava a jogar vólei olhou através do Jack e chamou um nome em tom pedinte:

-Elisa?!

Jack olhou para trás e viu uma miúda, que devia ter uns 16 anos, sentada com as pernas á chinês, a ler um livro com umas 300 páginas. Ao lado da miúda estava duas malas, uma a tiracolo larga cor de mel cheia de livros, e outra ao lado pequena preta. Parecia ser uma bolsa para uma máquina fotográfica.

O miúdo não teve de dizer mais nada, a miúda sem tirar os olhos do livro caminhou em direção á parede, e quando estava a poucos centímetros da mesma, tirou os olhos do livro, pousou-o no chão com jeitinho, e começou a escalar a parede. Agarrava-se aos canos, às janelas, aos buracos na parede e às plantas que apareciam de dentro da parede. Em menos de 10 minutos a miúda já estava no telhado. Desapareceu de vista e de repente uma bola aparece vinda do nada.

Todos retomam as suas atividades, como se ver uma miúda de 16 anos escalar uma parede lisa sem equipamento para tal, fosse a coisa mais normal de sempre.

-Too para ver como é que ela vai descer!

A miúda saltou do cimo do telhado e agarrou-se a um candeeiro e escorregou por ele até chegar ao chão sem fazer o mínimo de barulho. A miúda agarrou o seu livro e olhou diretamente para Jack, que imediatamente congelou. A olhar para ele estava uma miúda com uns olhos azuis-escuros ganga misturado com amarelo, mais abertos mais do que o normal, cabelo liso loiro claro apanhado num trança, tapado por um barrete verde. Tinha sardas castanhas escuras a cobrir-lhe o nariz e as bochechas vermelhas. Usava umas calças de ganga justas, uma camisola azul com um casaco de ganga por cima. Quando Jack pensou que ela o conseguia ver, a miúda abanou a cabeça como se estivesse a acordar de um sonho e trespassou o Jack. Agarrou nas suas malas e foi para a sala de aula, 5 segundos depois tocou para entrada.

Jack ficou a olhar para a rapariga até que ela desapareceu, depois olhou para o seu próprio corpo. De repente sentiu-se zangado e revoltado. Mas principalmente triste por as pessoas não o poder ver ou falar com ele. Olhou mais uma vez para os adolescentes da escola e levantou voo.

Já eram 4h30, deu o toque de saída e dezenas de miúdos começaram a sair pelas portas da escola. Os mais velhos foram logo para casa, mas os mais novos foram divertir-se com o Jack no parque central. Jack estava a divertir-se imenso. Desviava-se das bolas de neve e atirava umas contra as outras crianças. Todas as crianças conseguiam ver Jack.

Carl, um miúdo de 9 anos era aquele que mais gostava e passava mais tempo com o Jack Frost. Jack considerava-o como o seu novo Jaime, pois este já tinha 19 anos. Carl abriu a boca para bocejar, mas o que ele não estava á espera era que o jovem guardião lhe enfiasse uma mão cheia de neve pela goela a baixo. Não teve outra alternativa sem ser engolir a neve. Carl levou as mãos á cabeça e gritou:

-Ai o meu cérebro! Há! O meu cérebro congelou.

Jack que estava a rir às gargalhadas olhou para o Carl e disse-lhe:

-Como é que é possível o teu cérebro pode ter congelado, se nem sequer tens um?!- provocou o Jack. Carl agarrou numa bola de neve e atirou-a a Jack:

-Toma lá esta!- Jack que se estava a rir, mal viu a bola ir na direção da sua cara, baixou-se e a bola foi acertar na pessoa que estava sentada no banco do parque. Carl ficou com a cara branca e correu para essa pessoa, para lhe pedir desculpa. Jack olhou para trás a rir-se, para ver em quem é que tinha Carl acertado. Mas mal viu a pessoa calou-se logo. Era a miúda de abocado, a Elisa. Esta levantou-se logo e começou a sacudir o livro que agora estava cheio de neve:

-Mas vocês são parvos o que? Olha para o que fizeram?- e lançou um olhar zangado a todos. Jack não gostou, e fez-lhe uma cara zangada, estava prestes a mandar-lhe com uma bola de neve a cara quando ouviu um choro atrás de si. A sua cara de zangado desapareceu, e o mesmo aconteceu á rapariga, que passou a usar a expressão de preocupação e de arrependimento. Jack virou-se para trás para ver quem é que chorava. Lágrimas escorriam pelas pequenas bochechas de Carl. Jack começou a andar na sua direção, mas a Elisa foi mais rápida e ajoelhou-se no chão para poder olhar Carl nos olhos.

-Ho! Não chores. Eu…Eu não queria gritar contigo.- Parecia que até Elisa estava á beira das lágrimas.

-Ma…Mas tu gritas...gritaste.- disse Carl no meio dos soluços.

-Foi sem querer. É que me apanhas-te de surpresa, nada mais.- Disse Elisa a sorrir-lhe e a colocar-lhe uma mão no ombro.

Carl levantou a cabeça e olhou Elisa nos olhos:

-Des…Desculpa.

-Não faz mal. Era só um estupido livro. Nada que não possa ser arranjado.- Elisa olhava para o pequeno, que ainda chorava, quando, de repente teve uma ideia. Foi ao bolso do casaco e tirou de lá um chocolate.- Toma. Por te teres portado bem.

Carl olhou-a com se ela fosse maluca:

-Mas eu acertei-te com uma bola de neve!

Elisa sorriu-lhe, um magnífico sorriso pensou Jack.

-Isso não interessa, o que importa é que vieste pedir desculpa.- Carl parou de chorar e sorriu-lhe, aceitou o chocolate e Elisa deu-lhe um beijinho na testa.

Carl correu para os seus amigos, todo contente com o seu novo chocolate. Elisa levantou-se e sorriu para os miúdos, depois deu meia volta e quando passou ao lado de Jack, uma voz masculina sussurrou-lhe:

-Nada mal!

Olhou para o lado e viu o rapaz com o cabelo branco de novo. Parou fechou os olhos e quando os abriu de novo, o rapaz já não estava lá.

Era de noite, mais propriamente 3h00 da manhã. Já toda a gente dormia descansadamente. Toda a gente menos Jack. Passou todo o tempo a desenhar flores, coelhos, corações, fadas, cachorros, tudo e mais alguma coisa nas janelas dos quartos das crianças, para que quando acordassem, tivessem uma surpresa. Estava a desenhar uma bola quando ouviu um bebé a chorar na casa ao lado. Foi ver o que se passava. Olhou para a janela e num berço um bebé com cabelo loiro, chorava. Jack estava á espera de ver um adulto a entrar no quarto e a adormecer o bebé de novo, as estava muito enganado. Quem entrou no quarto foi uma menina, mais precisamente Elisa. Jack ficou muito espantado ao vê-la. Elisa aproximou-se do berço e agarrou no bebé e levou-o para o seu quarto. Jack foi espreitar á janela do quarto dela. Esta deitou-se com o irmão ao seu colo e começou a cantar uma canção de embalar.

Jack ficou surpreendido com a beleza da voz da menina. Cantava maravilhosamente. Passado pouco tempo já o menino dormia pacificamente nos braços dela. Não tardou muito a que ela também adormecesse de novo.

Jack decidiu dar-lhe um presente pela sua boa ação. Aproximou-se da janela e começou a escrever.