NA: Para o Projeto Pandora, da Seção TG do 6V, CLARO. Item, pesadelos. | Dedicada à Karen, porque era pro Challenge dela, mas aí não deu tempo, com todos os agradecimentos do mundo pra Kolly, que betou e me ajudou a conseguir um título. (L)
Malmequer
Ela não sabia onde estava.
Normalmente, essa percepção lhe causaria pânico, mas ela não conseguia se sentir assim; aquele lugar simplesmente não lhe permitia essa sensação. Era bonito demais para isso.
Um penhasco, e ela estava a meros passos de cair dali.
O mar batia violentamente contra as pedras, e ela pensou que, se de fato caísse, seria feita em pedaços em questão de minutos, se demorasse tanto.
O vento carregava seus cabelos e seu vestido para onde queria, arrastando-a para frente, compelindo-a a dar mais um passo em direção ao horizonte.
Ela cedeu.
E então ouviu a voz de uma menininha chamando um nome que talvez fosse o dela, mas ela não podia ter certeza.
Deu meia-volta, e então tudo virou escuro.
.x.
Ginny nunca tinha conseguido esquecer o que Tom Riddle tinha feito com ela.
Mesmo que tudo tivesse acontecido quando tinha apenas onze anos, mesmo que outros onze anos tivessem passado, mesmo que ela agora estivesse casada, tivesse um filho e estivesse esperando o segundo.
Para os pesadelos, o tempo, o marido e os filhos pouco importavam.
Não havia nenhuma noite em que ela não sonhasse com o penhasco, a masmorra, o cemitério. Alguns detalhes podiam ser diferentes, mas, no fundo, era sempre a mesma coisa.
Era sempre ela, acordada no meio da madrugada, contemplando o teto até conseguir cair no sono de novo - e então ela dormiria até o dia seguinte como uma pessoa absolutamente normal.
.x.
Estava escuro. Ela estava sentada no chão, as costas apoiadas numa parede de pedra, os tornozelos e os pulsos presos a correntes ligadas a algum lugar além do que ela conseguia enxergar.
Uma camada de ao menos um centímetro de água cobria o chão; cada movimento dela ecoava nas paredes.
Uma luz se materializou à distância, e ela pôde ouvir alguém - ou algo, ou talvez os dois - se aproximando. Os passos a distraíram da serpente que subiu por seu tronco até que elas estivessem cara a cara.
.x.
Ginny tinha acordado gritando, aterrorizada, o que foi o suficiente não só para acordar Harry, mas também para fazer James Sirius aparecer na porta do quarto, perguntando se estava tudo bem com ela.
Ela assumiu a tarefa de cuidar do filho até ele voltar a dormir só para não ficar sozinha enquanto Harry fazia isso, e então voltou para o quarto, onde o marido a esperava com uma caneca de chocolate quente, pronto para ouvi-la dizer que não queria falar sobre aquilo.
Harry não precisava que ela dissesse com o que tinha sonhado. Ele conhecia aquele tipo de sonho bem demais.
.x.
Ela sabia muito bem onde estava, dessa vez - o cemitério de Godric's Hollow, diante da lápide de Lily e James Potter -, mas não imaginava como tinha ido parar ali, ou como sonhava com aquilo desde pequena.
Jamais saberia dizer, também, por que olhava para o lado. Mas, ao fazê-lo, ela sempre via a lápide nova, com o nome de Harry e as palavras "o menino que sobreviveu". A data de morte era sempre a do dia seguinte. E, no lugar de alguma citação famosa ou algo que o valesse, as letras que ela sempre vira no diário de Tom formavam as palavras "você ainda me deve isso, Ginny".
