01 - Separação

Inclinei-me em uma das árvores, olhando para o rosto de Bella, tentando evitar transparecer a imensa dor que sentia. Parecia que ia me matar. Nunca senti nada tão forte, mal conseguia respirar.

- Tudo bem, vamos conversar. - Ela disse.

Respirei fundo, tentando reunir forças para fazer o que era certo.

- Bella, nós estamos indo embora.

Ela respirou fundo antes de falar.

- Porque agora? Outro ano...

Tive que interrompê-la, não podia deixá-la continuar, poderia voltar atrás tão facilmente, não confiava mais em mim mesmo. Tinha que manter minha decisão. Era o melhor para Bella.

- Bella, está na hora. Quanto tempo mais poderíamos ficar em Forks, afinal? Carlisle mal pode fingir que tem trinta anos, a agora ele já está dizendo que tem trinta e três. Nós vamos ter que recomeçar tudo de novo em breve de qualquer jeito.

Minha resposta pareceu confundi-la. Manti minha expressão vazia e esperei que ela absorvesse minhas palavras.

- Quando você diz nós... – Disse Bella em um sussurro.

- Eu estou falando de minha família e de mim mesmo. – Respondi, dando ênfase a cada palavra.

Esperei pacientemente, apesar de doloroso, essa seria a última vez em que veria o rosto de minha amada, a última vez que escutaria sua suave voz acariciando meus ouvidos. Por mais que meu coração estivesse a ponto de desintegrar, não podia deixar de memorizar lentamente, cada traço de seu rosto. Um rosto que nunca mais tocaria.

Seus olhos... olhos que proporcionaram tantas alegrias, a janela para sua alma. Não sabia como poderia viver sem eles, só sabia que teria que tentar, teria que conseguir. Por ela.

Ela balançou a cabeça, procurando compreender o que dizia. Passaram-se alguns minutos antes que pudesse responder.

- Tudo bem. - Ela disse. Eu vou com vocês.

Eu precisava continuar, precisava fazê-la entender.

- Você não pode, Bella. O lugar pra onde estamos indo... não é o lugar

certo pra você. – Comecei com a verdade – ela não estava segura comigo - tentando fazê-la entender da maneira mais delicada possível. Não queria ter que recorrer a métodos mais drásticos – mais cruéis, na verdade – mas o faria se fosse necessário.

A conhecia muito bem... ela nunca aceitaria tal argumento.

- Onde você estiver é o lugar certo pra mim.

E não aceitou, então tentei de novo, e de novo com a verdade.

- Eu não sou bom pra você, Bella.

A mais pura verdade.

- Não seja ridículo, você é a melhor parte da minha vida.

Eu queria muito acreditar nisso.

Não, EU não era a melhor parte de sua vida, mas sim sem dúvida a mais perigosa, mas ELA era a melhor parte de minha vida, de minha existência.

Eu teria que ser direto, mais objetivo.

Novamente, precisei reunir todas as minhas forças para falar e continuei sendo honesto.

- Meu mundo não é pra você. – Minha voz soou severa. Não com ela, mas sim por ouvir ecoando ao fundo a verdade de minhas palavras.

- O que aconteceu com Jasper - aquilo não foi nada, Edward! Nada!.

Ela estava alterada. Eu podia ver o que minha ausência iria lhe causar muita dor, mas estava confiante no fato de que um dia, sua mente humana empurrasse para o fundo de sua consciência todo esse momento, todos os nossos momentos.

Um dia Bella me esqueceria. Essa era uma das boas coisas da mente humana.

E ela estava certa, o que aconteceu não foi nada, porque é exatamente daquela forma que vampiros reagem a presença de sangue.

Absolutamente nada.

Uma reação normal. Uma reação que apesar de esperada - diante da situação - poderia ter significado tudo. Significado o fim de Bella – só em pensamento, o fato de Bella deixar de existir, fazia o que eu já era uma dor insuportável, se intensificar - o que acarretaria em um efeito cascata, porque seria o fim de Charlie, Renée, meu fim e automaticamente o fim de minha família.

Era melhor continuar sendo honesto nesse ponto.

- Você está certa, foi exatamente como o esperado.

- Você prometeu! Em Phoenix, você prometeu que ia ficar...

- Enquanto isso fosse o melhor pra você.

- Não! Isso é por causa da minha alma, não é? Carlisle me falou sobre isso, e eu não ligo, Edward. Eu não ligo! Você pode ficar com minha alma. Eu não a quero sem você, ela já é sua!

Mesmo após tudo que aconteceu, mesmo após tudo o que a fiz passar, ela ainda me amava, eu podia ver em seus olhos. Eu não a merecia... mais a queria tanto... tanto.

Respirei fundo, não conseguia encará-la, não poderia fraquejar em minha decisão agora.

Era a coisa certa a se fazer. A coisa certa a se fazer.

Repeti para mim mesmo.

Preciso ser mais firme, mais duro, preciso fazê-la entender.

Momentaneamente perdi completamente a habilidade de falar. Estava sem ar, sem forças. Eu a estava machucando tanto. Eu iria machucá-la ainda mais.

Era necessário.

Respirei fundo. Minha primeira tentativa foi um fracasso, minha voz iria entregar que eu estava sofrendo. Não podia tornar isso mais difícil para ela. Então, tentei engolir através do enorme nó que estava em minha garganta e falei lentamente para que ela pudesse entender e absorver cada palavra.

- Bella, eu não quero que você venha comigo.

Novamente, ela ficou em silêncio, me observando e percebi como minhas palavras estavam sendo absorvidas.

- Você... não... me quer.

Não era uma pergunta. Era a conclusão que ela havia chegado.

- Não.

Eu queria poder voltar atrás, retirar o que havia dito apagar as palavras de sua mente. Gostaria de nunca ter precisado dizê-las.

Como eu a queria. Tanto.

Mas sua segurança sempre viria primeiro. Antes de qualquer necessidade minha.

Bella me observou atentamente.

- Bem, isso muda tudo. – Disse ela, calmamente.

Tentei conter minha expressão de choque.

Ela acreditou em mim, acreditou que não a queria mais.

Por que? Por que ela acreditou em tamanha mentira tão rapidamente.

Argh! Rosnei internamente.

Eu não deveria estar questionando nada, deveria estar satisfeito por minhas palavras terem surtido efeito.

Era isso que você queria, Edward. Disse a mim mesmo. Que ela aceitasse suas mentiras.

Não fui capaz de encara-la, não saberia como iria reagir a dor presente em seus olhos.

Precisava dizer algo mais, algo que mostrasse a ela que eu amava, mais sem dizer exatamente isso, não poderia partir sem pelo menos amenizar o estrago que estava fazendo.

- É claro que eu sempre amarei você... de certa forma. Mas o que aconteceu na noite passada me fez perceber que estava na hora de uma mudança. Porque eu estou... cansado de fingir ser uma pessoa que eu não sou, Bella. Eu não sou humano.

Não, eu não era humano. Nunca desejei tanto ser, como desejava agora.

- Eu deixei isso ir longe demais, eu lamento por isso.

- Não lamente.

Sua voz era apenas um sussurro. Ela parecia entorpecida.

- Não faça isso. – Bella pediu.

Não queria ter que fazer.

Ser honesto não parecia estar sendo o suficiente, então decidi mentir.

- Você não é boa pra mim, Bella.

Não podia mais tolerar tamanho tormento, tamanha agonia.

Ela abriu a boca para falar, mas desistiu.

Ela tentou novamente.

- Se... isso é o que você quer.

Não, não é o que quero! - gritava em minha mente. É o melhor para você, seguir a sua vida humana sem os perigos que acompanham a minha.

Não podia dizer isso a ela. Apenas concordei, querendo muito que ela não acreditasse em minhas absurdas palavras.

E mais uma vez, o silêncio reinou por vários minutos.

Havia algo que precisava dizer antes de partir. Algo que precisava pedir. Não que eu tivesse direito de pedir o que fosse a ela, mas não poderia deixar de fazê-lo.

- Eu gostaria de te pedir um favor, se não for pedir demais.

Ela estava sofrendo, isso eu podia ver. Quase escorreguei em minha resolução. Montei rapidamente minha expressão.

- Qualquer coisa.

- Não faça nada perigoso ou estúpido. - Ordenei. - Você entendeu o que eu disse?

Ela precisava prometer. Eu precisava de uma confirmação.

Ela acenou com a cabeça. Ela havia prometido.

Percebi que meus olhos poderiam me entregar, tornando tudo mais difícil para ela do que precisava ser. Falei com muita intensidade, pois era o que mais queria. Sua segurança.

Novamente, tive que recompor minha máscara e me apressei em justificar.

- Eu estou pensando em Charlie, é claro. Ele precisa de você.

EU PRECISO DE VOCÊ, pensei, mais foi só o que fiz

- Tome conta de si mesma por ele.

E por mim.

- Eu vou. – Ela sussurrou.

Relaxei ao escutar sua promessa. Bella era uma mulher de palavra. Sabia que ela iria se cuidar.

Precisava dar um fim a esse momento, precisava aliviar a sua dor. Sabia que não iria acontecer de imediato, mais sabia que prolongar minha despedida não seria bom para ela.

- E eu te farei uma promessa em retorno. Eu prometo que essa será a última vez que você vai me ver. Eu não vou voltar. Eu não vou te envolver em nada assim novamente. Você pode seguir a sua vida sem mais nenhuma interferência da minha parte. Será como eu nunca tivesse existido.

Eu realmente esperava que fosse assim. Para ela.

Seu corpo pareceu tremer. Pelo menos sua memória não tinha vida longa. Humanos se esqueciam de tudo, eventualmente, bastava jogar tudo bem lá no fundo.

Sorri gentilmente.

- Não se preocupe. Você é humana – sua memória é como uma peneira. O tempo curas as feridas para as pessoas da sua espécie.

- E as suas memórias? –Perguntou ela. Sua voz soou sufocada.

- Bem... Eu não vou esquecer. Mas a minha espécie... nós nos distraímos muito facilmente.

Verdade, mais duvidava que fosse válido em meu caso.

Sorri, tentando demonstrar conforto em minhas palavras.

- Isso é tudo, eu suponho. Nós não vamos te incomodar de novo.

Ela pareceu surpresa com algo.

- Alice não vai voltar.

Sua voz era tão baixa que ela mesma mal poderia ter escutado.

- Não. Eles já foram todos embora. Eu fiquei pra trás pra te dizer adeus.

- Alice foi embora?

Ela parecia não acreditar.

Alice não concordava com que estava fazendo. Ela não queria se afastar de Bella, e estava certa de que eu não conseguiria. Que eu iria sofrer.

Claro que iria sofrer, merecia sofrer, depois de tudo que fiz Bella passar.

Eu tinha que assumir responsabilidade por tudo e por todos.

A culpa era minha.

- Ela queria dizer adeus, mas eu a convenci de que uma despedida limpa seria o melhor pra você.

Já chega. Deixe-a ir. Ordenei a mim mesmo.

- Adeus, Bella.

As palavras finais pareciam ter saído de minha boca suavemente para seus ouvidos humanos, mas quando na realidade nada poderia ter me machucado mais.

O fim havia chegado. Realmente havia chegado.

- Espere. – Disse ela se aproximando.

Beijei sua testa, brevemente, me deliciando pela última vez com a suavidade e o aroma de sua pele.

Foi difícil me afastar.

- Cuide-se.

Foi só o que disse, antes de partir, antes de ser tomado pela mais completa e arrebatadora agonia.

NOTA

É isso aí.

Não esqueçam de me dizer o que acharam, ok?

Beijos