Capítulo 1
Quinze criados, usando a tradicional libré azul e prata da casa Swan, saíram de Havenhurst na mesma madrugada. Todos carregavam mensagens idênticas e urgentes que o tio de Isabella, sr. Charlie Swan, os incumbira de entregar em quinze diferentes residências por toda a Inglaterra.
Todos os destinatários das mensagens tinham apenas uma coisa em comum: haviam, certa vez, pedido a mão de Lady Isabella em casamento.
Os quinze cavalheiros, depois de ler a mensagem, reagiram a seu conteúdo. Uns ficaram incrédulos, outros desconfiados, e outros ainda, cruelmente satisfeitos. Doze deles enviaram respostas imediatas, declinando a oferta ultrajante de Charlie Swan, e depois correram à procura de amigos com quem pudessem compartilhar o saboroso, inesperado e incrível mexerico.
Três destinatários tiveram reações bem diferentes.
Lord Jacob Black acabara de retornar da caçada, sua atividade diária favorita, quando o criado de Havenhurst chegou à sua casa e um lacaio lhe entregou a carta.
– Com mil demónios – ele murmurou enquanto lia.
A mensagem afirmava que o sr. Charlie Swan estava desejoso de ver a sobrinha, Lady Isabella Swan, imediata e convenientemente casada. Por essa razão, o sr. Swan dizia estar agora disposto a reconsiderar o pedido de John, previamente rejeitado, e conceder a mão de Isabella em casamento. Reconhecendo o fato de que um ano e meio se passara, desde a última vez em que Jacob e Isabella se encontraram, Charlie Swan se dispunha a mandar a sobrinha, devidamente acompanhada por uma dama, para passar uma semana na casa de Jacob, a fim de que pudessem "renovar os laços de amizade".
Incapaz de acreditar no que estava lendo, Lord Black andava de um lado para outro, enquanto lia a carta mais duas vezes.
– Com mil demónios – repetiu.
Passando a mão pelo cabelo Preto, lançou um olhar distraído para a parede à sua frente, completamente forrada com seus mais adorados tesouros: cabeças empalhadas de animais que havia caçado por toda a Europa e em outros continentes. Um alce encarou-o de volta, com seus olhos vítreos; ao lado deste, um javali selvagem arreganhava os dentes. Aproximando-se, Lord Black largou o alce por trás dos chifres, num gesto de afeição que, embora absurdo, expressava sua gratidão pela esplêndida caçada que aquele prémio em particular lhe proporcionara.
A visão encantadora de Isabella Swan dançava diante de seus olhos – um rosto incrivelmente adorável, com os olhos cor de chocolate, pele de camafeu e lábios macios, sorridentes. Um ano e meio atrás, ao conhecê-la, ele a considerara a jovem mais bela que jamais havia visto. E, depois de encontrá-la somente duas vezes, o encanto de seus dezessete anos o conquistara de tal forma que ele se apressara em escrever ao irmão dela, pedindo-a em casamento, apenas para ser friamente rejeitado.
Mas era evidente que o tio de Isabella, agora seu guardião, tinha diferentes padrões de julgamento.
Talvez a própria adorável Lady Isabella estivesse por trás dessa decisão, pensou. Talvez os dois encontros que tiveram no parque significassem tanto para ela quanto haviam significado para ele.
Jacob foi até outra parede, recoberta com uma variedade de varas de pesca. Pensativo, escolheu uma delas. As trutas deviam estar mordendo, esta tarde, considerou enquanto recordava os magníficos cabelos cor de chocolate de Isabella.
Sob a luz do sol, os cabelos dela brilhavam como as escamas reluzentes de uma bela truta saltando na água. A analogia parecia perfeita e tão poética que Lord Black parou, fascinado com a frase que acabara de criar. Pousou a vara de pesca no chão. Iria elogiar os cabelos de Isabella com aquelas exatas palavras, decidiu, quando aceitasse a oferta de Charlie e ela viesse para sua casa no mês seguinte.
Sir Mike Newton, o décimo quarto destinatário da mensagem de Charlie Swan, leu-a sentado em seu quarto, envolto
num robe de cetim, enquanto sua amante o esperava, deitada nua na cama do outro lado do cómodo.
– Mike, querido – ela ronronou, arranhando o lençol de cetim com as longas unhas. – O que há de tão importante nesta carta para que fique aí, em vez de estar aqui comigo?
Ele ergueu os olhos e franziu a testa, ouvindo o ruído que as unhas dela produziam.
– Não estrague os lençóis, amor – disse. – Custaram trinta libras cada um.
– Se você gostasse de mim – retrucou ela, tentando não dar a impressão de queixar-se -, não iria se importar com o preço.
– Mike era tão avarento que, às vezes, Eloise imaginava que, se fosse casada com ele, não ganharia mais do que um ou dois vestidos por ano.
– E se você gostasse de mim – ele disse suavemente, – seria mais cuidadosa com meu dinheiro.
Aos quarenta e cinco anos, Mike Newton ainda não se casara, mas companhia feminina era o que não lhe faltava. Adorava imensamente as mulheres – seus corpos, seus rostos, seus corpos...
Agora, no entanto, precisava gerar um herdeiro legítimo e, para isso, precisava de uma esposa. Durante o ano anterior, havia calculado seriamente os rígidos requisitos que exigiria da afortunada jovem que, eventualmente, escolhesse. Queria uma esposa moça, bonita e dona de seu próprio dinheiro, para que não precisasse esbanjar o dele.
Desviando a atenção da carta de Charlie, lançou um olhar ávido aos seios de Eloise e acrescentou mentalmente um novo requisito para a futura esposa: ela deveria ser compreensiva em relação ao seu apetite sexual e sua necessidade de um menu variado. De nada adiantaria eriçar-se toda, simplesmente por ele se envolver num caso trivial com outra mulher de vez em quando. Com quarenta e cinco anos, Sir Newton não tinha a menor intenção de ser tolhido por alguma pirralha zelosa, com ideias de moral e fidelidade.
A imagem de Isabella Swan se sobrepôs à de sua amante nua. Que beleza luxuriante ela possuía, quando ele lhe propusera casamento, cerca de dois anos atrás. Os seios, como frutas maduras, a cintura fina, o rosto... inesquecível. A fortuna... adequada. Desde então, surgiram rumores de que ela estava praticamente na miséria, depois do misterioso desaparecimento do irmão, mas Julius Cameron indicava que ela viria com um dote razoável, demonstrando que, como sempre, os rumores não tinham fundamento.
– Mike!
Ele se levantou, encaminhou-se para a cama e sentou-se ao lado de Eloise. Pousou uma das mãos em seu quadril, carinhosamente, ao mesmo tempo em que com a outra tocava a sineta.
– Espere só um momento, querida – disse quando um criado entrou apressado no quarto. Entregou-lhe a carta e instruiu: Diga ao meu secretário para mandar uma resposta afirmativa.
A última carta foi levada da residência de Londres de Edward Cullen para sua propriedade rural em Montmayne, onde acabou juntando-se a uma pilha de correspondência, de convites sociais a cartas de negócios, esperando pelo momento de sua atenção.
Edward abriu a carta de Charlie Swan quando estava no meio de um rápido ditado ao seu novo secretário, e não demorou nem a metade do tempo que Lord Black e Sir Newton levaram para tomar uma decisão.
Olhou para a carta com absoluta incredulidade, enquanto Peters, o secretário que estava a seu serviço havia apenas duas semanas, murmurava uma silenciosa prece de agradecimento pela pausa e continuava escrevendo o mais depressa que podia, tentando acompanhar o ritmo do patrão.
– Isto aqui – disse Edward, brevemente – foi enviado ou por engano ou por brincadeira. Em qualquer caso, é de um mau gosto excruciante.
A lembrança de Isabella Swan relampejou diante de seus olhos – a jovem namoradeira, mercenária e frívola, dona de um rosto e um corpo que lhe embotaram a mente. Estava noiva de um visconde, quando a conhecera. Claro que não se casara sem dúvida o desprezara em favor de alguém com melhores perspectivas. A nobreza inglesa, como Edward bem sabia, casava-se apenas por prestígio e dinheiro, e depois ia procurar a realização sexual em outros lugares. Era evidente que os parentes de Isabella Swan a estavam colocando de volta no páreo dos casamentos e, se assim fosse, deviam estar desesperados para desencalhá-la, chegando ao ponto de renunciar a um título em favor do dinheiro...
Porém, esta linha de conjectura lhe pareceu tão improvável que Edward a descartou. Era óbvio que a carta se tratava de uma brincadeira estúpida, certamente perpetrada por alguém que se lembrava dos rumores que eclodiram durante a festa naquele fim de semana distante... Alguém que imaginara que ele pudesse achar graça na mensagem.
Afastando tanto o remetente como Isabella Swan dos pensamentos, Edward voltou-se para o atormentado secretário, que continuava escrevendo com frenético empenho.
– Não é necessário responder a esta aqui – disse, atirando a carta sobre a escrivaninha, na direção do rapaz.
Entretanto, a folha de papel deslizou na superfície polida da mesa de carvalho e flutuou para o chão. Com um mergulho desajeitado, Peters tentou apanhá-la no ar, mas, ao inclinar-se para o lado, levou consigo todas as outras cartas, que se esparramaram em seu colo e no chão.
– E-eu sinto muito, senhor – ele gaguejou, ajoelhando-se e tentando juntar as dezenas de folhas espalhadas no tapete. Sinto muito mesmo, sr. Cullen – acrescentou, amontoando com gestos nervosos todos os contratos, convites e cartas, numa única pilha desordenada.
Mas seu patrão nem parecia ouvi-lo. Já disparava mais instruções enquanto lhe passava, por cima da mesa, o restante da correspondência aberta.
– Recuse os três primeiros convites – Edward dizia -, aceite o quarto, decline o quinto. Envie minhas condolências a este aqui. Para este outro, explique que vou estar na Escócia e mande um convite para que me encontre lá, juntamente com instruções para chegar ao chalé.
Agarrando a papelada contra o peito, Peters esticou a cabeça no outro lado da mesa.
– Sim, sr. Cullen! – disse, esforçando-se para demonstrar confiança. Mas era difícil ser confiante quando se estava de joelhos,
e ainda pior quando não se tinha muita certeza de quais das instruções daquela manhã deveriam seguir com quais convites, ou como respostas a que cartas.
Edward ficou o resto da tarde fechado com Peters, enchendo com mais ditados o já sobrecarregado secretário.
Depois, passou parte da noite em companhia do conde de Melbourne, seu futuro sogro, discutindo o contrato de seu noivado com a filha do conde, que estava em negociações.
Peters, por sua vez, passou aquela mesma noite tentando descobrir, com a ajuda do mordomo, quais os convites que seu patrão provavelmente iria aceitar ou rejeitar.
