O campo silencioso cheirava a sangue. No topo de uma colina, ele respirou fundo. O cheiro era o da vitória. No vale abaixo só havia corpos e um ou outro soldado revirando os cadáveres, em busca de pequenas riquezas.
Silêncio.
O pensamento viajava. Antigamente batalhas épicas como aquela o faziam feliz. Bem, talvez não "feliz", mas pelo menos o deixavam satisfeito. Agora, ele não sabia bem, mas a verdade era que aquilo não tinha mais o mesmo significado de antes... A sensação de vazio, outrora pequena, agora começava a aumentar naquele coração machucado.
Mas quem é que se importava? Nem ele mesmo. Tinha tudo o que podia querer. Dinheiro? Fácil... Mulheres? Aos montes... Poder? Bem, poder era a única coisa que ele não tinha na medida de suas pretensões, porém ele não planejava o futuro. Um dia seria tão poderoso quanto fosse possível e isso ele jurava para si próprio. E havia mais uma jura feita: nunca mais se apaixonar de novo. Se por acaso isso acontecesse, seus planos fracassariam totalmente e "fracasso" não fazia parte de seu vocabulário.
Enfim, aquele soldado cansou-se de suas divagações. Desceu para o acampamento, reverenciado por todos no caminho como o melhor guerreiro de sua divisão. Talvez o melhor de todo o Exército Imperial Japonês.
A armadura pesava, os passos eram lentos. O sol estava quente, mesmo sendo ainda o começo da primavera. O inverno tinha castigado a todos naquele ano e aquela guerra contra invasores provenientes do resto da Ásia estava arrasando o Japão. Soldados da China, Mongólia e outra regiões tentavam tomar o território japonês e algumas praias já tinham até mesmo sido invadidas.
Mas o Japão não planejava cair diante daquela ameaça - e ele? Ele muito menos. Seria o melhor capitão daquele exército e seria ele o responsável por fazer seu país vencer aquela guerra. Pelo patriotismo, mas principalmente pela glória.
Adentrou em sua tenda silenciosamente e começou a se despojar dos equipamentos, não percebendo a presença de uma linda moça loira que o aguardava lá:
–Sasuke... Sabia que voltaria e estava te esperando...
–Queira se retirar, Ino. Quero tomar um banho.
–Cansado... Mas obteve uma grande vitória hoje. Meu parabéns. -A garota se aproximou do soldado e o envolveu com os braços, em seguida ajudando-o a se despir. Claro que Sasuke sabia bem onde ela queria chegar com aquele movimento. Ele até aceitaria, se não estivesse tão cansado.
Sasuke se virou lentamente e com uma expressão muito séria disse:
–Fora.
Ino não gostou do que ouviu, mas sabia ter classe apesar de ser apenas uma prostituta que acompanhava os homens daquela divisão, assim como várias outras. Permaneceu impassível, sabendo que, assim como já fizera antes, logo Sasuke estaria procurando por ela novamente quando a vontade batesse. Sorriu e sarcasticamente desejou a seu amado bons sonhos.
Sim, seu amado. Muito mais do que amante. Se ela pudesse escolher, Ino transformaria seu amor de infância em marido.
Após o banho Sasuke se deitou e rapidamente adormeceu, o que não era habitual... Teve um sonho esquisito. Sonhou que estava num campo e com uma cerejeira ao seu lado. Ventava muito e então uma sakura caiu e tocou seus lábios, antes de chegar ao chão. De repente ele não estava mais sozinho. Sentiu um abraço. O abraço mais gostoso que já sentira na vida. Ia se virar para ver quem o estava abraçando, quando:
–UCHIHA SASUKE! ACORDE!
Sasuke abriu os olhos a contragosto e viu Hatake Kakashi, seu superior:
–Dormindo logo agora?
–E ainda estaria se a sua voz cretina não tivesse me acordado.
–Sasuke... Sua insubordinação ainda vai lhe causar problemas... Acabei de ver a Yamanaka Ino saindo daqui, não parecia muito feliz. O que foi? Não te agradou? Você anda muito exigente ultimamente...
–...
–Sua performance hoje foi louvável e nos rendeu mais uma batalha ganha nessa maldita guerra. Se continuar assim vai subir de Capitão à Comandante em pouco tempo.
–Pode ter certeza de que é esse o meu objetivo. Mas acho que o Senhor não veio até aqui apenas para me elogiar.
Kakashi sorriu sob a máscara: "Como é esperto esse garoto"...
–Não. Na verdade, surgiu um problema e eu vou precisar dos meus melhores guerreiros para solucioná-lo. Vim chamá-lo de antemão para que entre nessa missão. Não é nada no seu estilo, entretanto não vejo motivos para você recusar.
Sasuke ficou quieto e encarou seu superior. Missão? Não era dado a esse tipo de coisa. Como parecia que ele não iria responder, Kakashi retomou a palavra:
–Você é um prodígio, Sasuke! Tem apenas 18 anos e já é um excelente capitão! Eu deposito a minha total confiança em você para comandar essa missão.
–Do que se trata, exatamente?
–Bem, vou ter que te explicar algumas coisas...
Após mais ou menos meia hora de conversa, Sasuke ficou de pensar no assunto e ganhou uma semana de prazo para dar a resposta. Definitivamente, aquilo não fazia o seu estilo. Porém talvez ele não devesse desprezar assim e, ele não sabia por que, mais se sentia inclinado a aceitar. Quem sabe isso não o traria um pouco de paz?
Paz.
Fazia tanto tempo que tudo que Sasuke conhecia era sangue e guerra que ele não se lembrava mais de como é dormir sem estar alerta, andar sem se sentir vigiado, sem temer uma emboscada ou um ataque inimigo a cada passo.
Talvez ele precisasse... Descansar.
Bem, mal é que não vai fazer... Mas mesmo assim, Sasuke aproveitou a semana de prazo e ao final desta, foi falar com Kakashi:
–E então? Decidiu?
–Hai! Eu aceito.
Essa resposta deixou Kakashi muito satisfeito.
Fim do cap 1.
