Título: Um Céu Cheio de Estrelas

Casal: Oliver Wood/Percy Weasley

Disclaimer: O mundo de Harry Potter e seus personagens não me pertencem.

Classificação: M

Atenção: Slash (Se não gosta é melhor parar por aqui)

Resumo:

"Então, que tal você e as meninas passarem o Natal comigo?" Onde Percy aceita passar as festas de fim de ano com Oliver e sua família, fingindo ser seu marido. De repente muitas coisas fazem sentido.


O Caldeirão Furado estava lotado como sempre ficava naquela época do ano. O vento frio do lado de fora e a neve eram suficientes para fazer até o mais valente dos bruxos procurar um abrigo quente e seco. O fogo que queimava na lareira do bar e aquecia o salão era extremamente acolhedor. E também era a principal razão de Percy ter aceitado se encontrar com o amigo naquele dia, pelo menos, era isso o que ele dizia a si mesmo. Não queria parecer ingrato, mas dezembro era sempre um mês difícil para o Ministério. Parecia que de repente a comunidade bruxa acordava e decidia fazer todas as coisas malucas e perigosas possíveis antes do ano acabar. Sentia dor de cabeça só de lembrar a quantidade de relatórios de incidentes que tinha lido e assinado aquele dia.

Quando o fim do expediente finalmente chegou só conseguia pensar em ir para casa, tomar um banho quente, comer alguma coisa e desmaiar até o dia seguinte. Se alguém perguntasse diria que quase tinha esquecido o encontro, mas a verdade era que pensara nisso o dia inteiro. Sempre ficava nervoso quando marcava algo com Oliver. Não estava acostumado a ter amigos. Eles dois não passavam de conhecidos na época da escola, mas depois da Guerra e da Batalha de Hogwarts... As coisas tinham mudado. Um dia, depois de meses de encontros quase que semanais, percebeu que tinha um amigo. Um amigo de verdade, que não tinha seu sangue e nem era ligado a ele por causa do trabalho ou por terem sido casados. Sabia que tinha sorte por ter um relacionamento tão bom e civil com suas duas ex-esposas, mas também sabia que talvez as coisas não fossem assim se uma não trabalhasse diretamente com ele e a outra não fosse a mãe de suas filhas. Estava acostumado as pessoas se sentirem obrigadas a passarem um tempo em sua companhia por conveniência ou falta de alternativa. Talvez por isso ficasse tão ansioso, sempre na expectativa de que um dia Oliver fosse acordar e notar que estava na companhia do "Perfeito Percy" e saísse correndo antes que fossem vistos juntos.

Tirou o cachecol e olhou sobre a mesa na direção do bar, onde Oliver estava pegando as bebidas. Fazia quase um mês desde a última vez que os dois tinham tido tempo de se encontrarem. A temporada de Quadribol do ano tinha finalmente acabado e Wood, agora capitão do Puddlemere United, estava de férias depois de levar seu time a uma vitória histórica contra as Harpias de Holyhead. Seus cabelos tinham crescido e as pontas começavam a curvar dando sinal dos cachos indomáveis que Percy tinha visto apenas uma vez. E apesar do frio que já tomava conta do país desde o final de outubro, Oliver continuava exibindo um leve bronzeado que lhe dava uma aparência saudável e atraia olhares femininos. Percy engoliu em seco e afrouxou um pouco a gravata. Oliver olhou para trás, como se sentisse que era observado e acenou para ele, sorrindo. Percy passou os dedos pelos cabelos e empurrou os óculos pelo nariz, quando voltou a levantar os olhos o outro estava colocando as duas canecas fumegantes em cima da mesa e ocupando o lugar a sua frente.

"Um chocolate quente com mini marshmallows coloridos flutuantes para sua criança interior e... O mesmo para mim."

Oliver empurrou uma das canecas para Percy e tomou um grande gole da outra sem se importar com o líquido quente ou o bigodinho multicolorido que se formou evidenciando sua barba por fazer. O ruivo notou mais uma vez a aparência abatida do outro, imaginou que ele tivesse virado a noite festejando a grande vitória do campeonato. Sentiu a angustia e a inadequação costumeira começar a se anunciar.

"Não foi isso o que eu pedi." Comentou, tinha tantos mini marshmallows dentro de sua caneca que não podia ver o líquido. A bebida parecia ter sido feita por sua filha Lucy, que tinha apenas 6 anos. Oliver estalou a língua fazendo um som reprovador.

"Percy, todo mundo sabe que em dezembro só existem duas bebidas. Chocolate quente e Eggnog. E já que eggnog é a coisa mais nojenta do mundo e nós dois amamos chocolate..." Deu de ombros e passou a ponta da língua pelo lábio superior limpando parcialmente o bigodinho.

Percy mordeu o lábio inferior e torceu a boca para não rir da cena. Naquelas horas entendia a utilidade de se ter um daqueles aparelhos telefônicos móveis dos trouxas. Aparentemente todos eles possuíam câmeras fotográficas.

"Meus parabéns pela vitória, eu queria ter assistido a partida, mas achei melhor não. Ginny nunca me perdoaria se me visse torcendo contra o time dela." Sem mencionar a azaração que ela tinha jogado em Ron e George na primeira e última vez que eles tinham aparecido num jogo e torcido contra as Harpias.

"Sem ressentimento, eu entendo. Se Ginny fosse minha irmã eu também não ficaria me arriscando." Os dois riram.

E um longo e pesado silêncio se abateu sobre eles depois disso. Oliver evitava encara-lo e quando não fingia uma concentração desnecessária enquanto tomava a bebida, olhava fixamente para a toalha encardida da mesa e remexia as mãos. Aquele ar de inadequação e embaraço não os assombrava desde o início da amizade. A regressão de atitude fazia a angustia se expandir no peito de Percy ameaçando domina-lo. Tentou capturar o olhar de Oliver, mas o jogador se negava a fazer contato visual. Então era aquilo, o momento que sempre temeu tinha chegado. Oliver tinha notado com quem estava conversando e decidido que não podia ser amigo de alguém feito Percy. Tomado por sua imaginação negativa sentiu o rosto esquentar e as bochechas corarem, não estava pronto para perder seu único amigo. Fechou a mão que estava em cima da mesa e preparou um discurso mental para tentar convencer Wood a não desistir deles.

Torceu o nariz, agora estava pensando feito um adolescente apaixonado diante do fim inesperado de um namoro de uma semana. Não era nenhuma surpresa que Oliver quisesse se livrar dele.

"Eu estava pensando, que tal passarmos o Natal juntos esse ano?"

Estava tão preparado para ouvir o pior que levou alguns segundos para entender o que Oliver tinha dito. Tempo bastante para transformar o olhar de expectativa no rosto moreno num de embaraço misturado com alguma outra coisa que Percy não conseguiu reconhecer.

"O que? Você quer passar o Natal com a minha família?" Estranhou o pedido, Oliver visitava A'Toca no Natal desde que Percy se divorciara, já fazia cinco anos. Então não entendia porque do nada o outro tinha decidido pedir por algo que ele já fazia há tanto tempo. "Você quer passar todo o feriado é isso? Quer saber se tem espaço na casa dos meus pais..."

Mas Oliver já balançava a cabeça antes mesmo que Percy parasse de falar.

"Não, eu..." Limpou a garganta e desviou o olhar. "Estava pensando se você não queria passar o Natal comigo na Escócia. Com a minha família."

Aquele convite era realmente novidade, mas ainda assim não explicava o comportamento estranho de Oliver. Tinha algo mais ali. Percy chegou a cadeira para mais perto da mesa.

"Oliver, você sabe que esse ano as meninas vão ficar comigo até o Ano Novo porque a Audrey está trabalhando."

"Então, que tal você e as meninas passarem o Natal comigo?" Oliver voltou a perguntar, dessa vez com um brilho mais animado e decidido no olhar. "Você não acha que elas iriam gostar de uma mudança de ares?"

"Eu não sei..." Percy podia imaginar Lucy gostando, mas Molly estava numa fase bem mais difícil e imprevisível. As duas gostavam muito de Oliver, mas isso não era garantia de que se empolgariam com a ideia de passar o Natal num local isolado e longe da bagunça dA'Toca.

"Tá, me deixa refazer essa frase!" Oliver abriu a mão direita pedindo tempo e segurou a mão de Percy com a esquerda. Olhando diretamente em seus olhos. "Eu preciso que você passe o Natal comigo esse ano."

"Precisa?" Percy perguntou, desconfiando do rumo suspeito que a conversa estava tomando. "E por que você precisa disso?"

Podia ser a luz ou o calor do ambiente, mas o rosto de Oliver parecia realmente vermelho. Principalmente quando murmurou algo que Percy não entendeu.

"Desculpe, não entendi nada."

"É a minha mãe. Minha mãe acha que nós meio que somos casados."

De todas as coisas que Percy esperava ouvir, aquela não estava nem na lista. Por falta do que fazer tomou um gole do chocolate que já estava quase frio, o tempo todo encarando Oliver sem piscar. "Ah, claro. Sua mãe... só..." Respirou fundo tentando organizar os pensamentos. "Como alguém consegue estar meio que casado?"

"É porque eu disse que nos casamos num cartório trouxa. Na França."

"Na França? Oliver, quando foi que nós..."

"Você lembra, daquela ano que eu fui com você para Paris porque a Audrey tinha acabado de se mudar e as meninas ainda eram muito pequenas para viajarem sozinhas?"

"Isso foi há 3 anos! Nós somos casados há 3 anos?" Perguntou incrédulo e um pouco mais alto do que gostaria num lugar tão público e lotado.

"Bem, teoricamente, nós vamos fazer três anos de casados nesse Natal!" E Oliver teve a coragem de sorrir como se tivesse acabado de anunciar uma boa notícia.

"Ah. Acho que então o único problema nessa história é que nós não somos casados. Nem meio que, nem totalmente, nem de forma alguma casados!" Achou válido deixar bem claro qual era a falha mais evidente daquela história absurda. Não podia acreditar que estavam tendo aquela conversa.

"Eu sei, Percy. Eu sei. E é por isso que eu preciso que você vá comigo esse ano. Você podia fingir não podia? Só por uns dias. Nem precisamos ficar lá até o Ano Novo. Nós chegamos no dia 23, ficamos até dia 26 e pronto. Voltamos para A'Toca e esquecemos tudo."

"Não!" O rosto de Percy estava tão quente e vermelho de vergonha que era possível que estivesse até suando. Coçou o pescoço e desfez totalmente o nó da gravata para evitar a tentação de se enforcar com ela. "Você ouviu o que eu falei sobre as meninas? Como vou explicar isso para elas? E tem mais, nós nunca nem mesmo fomos namorados. Como sua mãe acreditou nessa história? Ou melhor, por que você inventou que nos casamos? Por que não dizer que estávamos namorando ao invés de inventar toda essa mentira absurda?

"Primeiro, não é só a minha mãe. É toda a minha família. E segundo, eles já achavam que nós estávamos namorando há uns dois anos. Desde o seu divórcio. E eu não vejo porque não contar para as meninas."

Percy apenas ficou em silêncio durante alguns minutos encarando Oliver e digerindo toda aquela mentira extremamente elaborada que o outro havia construído em torno do relacionamento deles e vendido para a própria família. "Contar para as meninas que nós somos casados?"

"Bem, não... Eu pensei em contar a verdade para Molly, ela já tem 12 anos e é inteligente demais para escondermos uma coisa dessas dela. Já a Lucy é pequena e eu sei que você não gosta que ela fique mentindo então... Nós não contaríamos nada, ela não ia perceber porque não vamos fazer nada de fora do normal na frente delas."

"Oh que consideração a sua!" Falou com afetação.

"Obrigado!" Oliver agradeceu orgulhoso, então notou o olhar contrariado do ruivo e se encolheu de embaraço. "Foi sarcasmo não foi?"

"Você me conhece tão bem... meu marido."

Se Oliver ficasse mais vermelho acabaria ficando ruivo. Percy apontou para ele. "Sabe isso explica absolutamente tudo sobre o comportamento da sua mãe e dos seus tios naquele jogo que eu fui assistir na Albânia! Eles ficaram tão felizes em me ver. Ninguém fica tão feliz em me ver. Só a minha mãe..." Falou a última parte quase num sussurro, encarando a mão de Oliver que ainda estava sobre a sua, em cima da mesa.

"Eu fico feliz em te ver. Eu sempre fico feliz em te ver!" O jogador afirmou num tom levemente desesperado. Tentou impedir que Percy puxasse a mão que estava sob a sua, mas no fim não teve coragem de obrigar que o outro aguentasse seu toque. Principalmente diante do olhar enigmático que ele exibia. Não tinha mentido. Realmente ficava feliz em vê-lo. Sempre ficava. Sentia falta de seu companheirismo e até de seus olhares julgadores quando estavam longe.

Tinha inventado aquela mentira num momento de desespero e fraqueza quando notara que a mãe e o resto de sua família tinha chegado a conclusão errada graças a seu falatório sem fim sobre Percy e as meninas. Não tivera coragem de corrigir o erro. Como explicar que não fazia parte daquela pequena família que amava tanto? E ter que voltar a aguentar as pretendentes que a mãe e até as tias insistiam em lhe apresentar? Devia ter notado que havia algo errado quando elas tinham parado, mas nem mesmo desconfiara que aquilo tinha acontecido porque elas achavam que ele estava em um relacionamento sério com Percy Weasley. "Um amigo da escola!" "Uma história tão romântica!" Até hoje conseguia lembrar das expressões de alegria diante da história do casamento espontâneo impulsionado pela atmosfera romântica de Paris. Sentiu o suor frio escorrendo por suas costas a medida que seu corpo ficava cada vez mais quente e vermelho de vergonha. Talvez a culpa fosse realmente só sua.

Observou Percy afastar a cadeira e se levantar desenrolando o cachecol e passando-o lentamente pelo pescoço. Estava sentado tão reto e com os dentes tão apertados que chegava a sentir dor. "Devo dizer a eles que ... que nós estamos nos separando?" Conseguiu perguntar sem engasgar.

Percy parou o que fazia e o encarou num olhar estreito, as maçãs do rosto ainda estavam levemente coradas e os cabelos já não exibiam a perfeição habitual. O que sempre fazia com que Oliver sentisse vontade de passar os dedos por aqueles fios ruivos para despentear ainda mais. "Claro que não, que tipo de desalmados se divorciam no Natal?" Terminou de arrumar o cachecol e puxou a pasta de trabalho.

Oliver ficou sem fala apenas piscou algumas vezes e sentiu a tensão começando a se desfazer.

"Tenho que ir para casa escrever uma carta para Molly explicando essa novidade e outra para Audrey falando sobre a mudança de planos para o Natal." Foi a vez de Percy abaixar os olhos para fugir do contato visual. Ainda assim Wood pode notar que o vermelho em sua face tinha intensificado e até as pontas de suas orelhas pareciam levemente coradas. Oliver teve que conter um sorriso. Não queria que Percy pensasse que estava rindo dele ou se ofendesse por algum motivo. "De qualquer forma, eu e Lucy vamos estar te esperando em King's Cross no dia 23. Me mande uma coruja com o horário."

"Pode deixar." Respondeu, mas o que queria mesmo dizer era: Muito Obrigado! Por um breve instante os olhares dos dois se cruzaram e se despediram em silêncio com um aceno de cabeça. Percy deixou o lugar sem olhar para trás, todo tempo sentindo os olhos de Wood queimando suas costas.

Oliver só voltou a respirar normalmente depois de muito tempo.