Capítulo 1 – Novo Lar Temporário
Seria muito estranho se eu dissesse que nunca na minha vida havia me apaixonado? Quer dizer, não que soubesse. Afinal, eu saberia se isso tivesse acontecido! Já havia tido alguns namorados, mas nada muito duradouro. Às vezes, me perguntava se não havia algo de errado comigo...
- Lily, você está mofando aí por quê? – ouvi a voz de Albus. Acordando dos meus devaneios, via que ele me observava de dentro d'água.
Eu sempre fui meio estranha. Bom, não é difícil chegar a essa conclusão vendo a seguinte cena: todos os meus primos se divertindo no lago atrás d'A Toca e eu sentada, encarando a água e mesmo estando de maiô, não mergulhara ainda.
- Se você não entrar logo, eu mesmo vou te empurrar! – outra voz masculina mais grave me "ameaçou". No mesmo momento, algo bloqueou o sol, fazendo sombra em mim.
Hugo.
- Você morre se fizer isso – semicerrei os olhos, desafiando-o a me desobedecer.
- Relaxa, ruiva. Eu não sou suicida. – Piscou para mim, se sentando ao meu lado, apoiando os braços nos joelhos.
Eu ainda não tinha me acostumado com esse novo "ele". É que houve muitas mudanças naquele último ano... Ele estava tão alto e sua voz tão grossa que eu poderia demorar pra reconhecê-lo se não o visse sempre. Os braços estavam mais fortes, eu via agora, os ombros bem largos e o peitoral... Er, será que era conveniente que eu descrevesse meu primo dessa forma? Sei lá, alguém poderia entender errado. Só estava fazendo uma breve observação, que mal havia nisso? Apesar de ser um Weasley, ele não possuía os cabelos ruivos. Eram de um tom castanho claro, com algumas mechas mais avermelhadas que só se dava para reparar quando batia sol. No momento estavam molhados, e os seus cachos soltos estavam quase lisos por isso. Caramba, a puberdade fizera bem a ele!
- E então? Por que ainda não entrou na água? – seus olhos azuis me analisavam com curiosidade.
- Será que eu não posso simplesmente querer ficar aqui na grama refletindo? – afinal, eu não tinha motivo especial pra estar ali. Calor de trinta e três graus, com um lago geladinho à disposição e eu fora dele pensando na vida. Sério, qual era o meu problema?
- Ah, já sei o que tá havendo. Você tá naqueles dias... – ele expôs sua brilhante conclusão.
- Que dias? Ah, você diz... Não, Hugo! Não tem nada a ver, eu até pus o maiô, ó... Mas mesmo se fosse isso eu não te diria, como você é indiscreto.
- Poxa, e que é que tem? Eu sei que isso acontece com você, assim como com a Rose... Eca, ainda bem que eu sou homem. Isso é muito nojento!
- É natural, mas é realmente um saco. – Admiti, revirando os olhos. – Se pararmos de falar nisso, eu prometo que mergulho nesse segundo!
Meu primo suspirou, aliviado.
- Fechado!
TCHBUUM! Cumpri minha promessa, arremessando meu corpo no lago. Nossa, que refrescante!
- Uma corrida até a outra margem, que tal? – Hugo propôs, com um sorriso desafiador.
- Com certeza – aceitei na hora.
Não sei se era muito certo ter um primo preferido, mas o que eu podia fazer se ele estava sempre lá por mim? Tínhamos a mesma idade e gostos, vivíamos na casa um do outro, ambos estávamos entrando no sétimo ano... O que mais era preciso pra nos tornássemos melhores amigos? Nada, né!
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Algumas horas depois, eu saí do lago enrolada numa toalha e com os dentes batendo. Afinal, já era de noite e a temperatura caiu drasticamente. Entrei dentro da casa e me deparei com meu pai e minha mãe conversando com tio Ron e tia Hermione. Fui logo saindo de fininho para não atrapalhar, mas fui impedida.
- Lily! Justamente com quem queríamos falar! – papai fez sinal para que eu me aproximasse. Ih, o que eles estavam querendo?
- O que foi? – cheguei perguntando, louca para tomar um banho e vestir algo confortável ao invés do maiô grudento que estava usando.
- Filha, lembra-se de quando a mamãe e eu estávamos comentando sobre passar algumas semanas fora como segunda lua-de-mel?
- Sim, pensei que nem fosse rolar... – aonde ele queria chegar com aquilo?
- Pois é, também pensamos, mas ela ganhou um bom dinheiro recentemente e eu finalmente poderei tirar as férias que estava querendo então... Achamos que era a oportunidade perfeita pra fazermos a viagem.
- Ah, legal! Mas não estou entendendo por que me chamou.
- É que você vai precisar de algum lugar pra ficar enquanto estivermos fora – minha mãe esclareceu.
- E ficar sozinha com os garotos em casa nem pensar?
- Até poderia ser, mas o James também vai viajar com os amigos e o Albus já combinou de ficar lá no Scorpius. Daí pra você ficar sozinha por lá não dá! Eu sei que você já é grandinha, mas bom, é preocupação de mãe. – Ela confessou.
- Então você pode ficar lá em casa! – tia Hermione sugeriu entusiasmada. – Temos um quarto sobrando, Rose e Hugo estarão lá para te fazer companhia...
Bom, a ideia não era nada má na verdade. Me pegara de surpresa essa história desenterrada de segunda lua-de-mel, mas tudo bem. Meus pais mereciam uma folguinha, coitados, trabalhavam feito dois condenados... Mamãe com suas reportagens e papai no Ministério sempre até bem tarde.
- Ok! – concordei, tentando mostrar ao máximo minha animação. Caso contrário, eles poderiam mudar de ideia e isso eu não queria por puro capricho.
- Ótimo! Agora vá tomar um banho, porque está encharcando todo o chão... – minha mãe disse.
Bom, essas férias de verão seriam interessantes...
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- Não se esqueceu de nada, certo querida? – mamãe não conseguia sossegar nem mesmo quando estava prestes a viajar justamente pra relaxar.
- Sim, mãe – respondi, pegando a pesada mala que eu preparara e saindo do carro. Acreditem, com o peso que estava aquele negócio não tinha como estar faltando nada!
- Espero que se divirta aí com seus tios e primos... – ela beijou minha testa.
- Voltamos no dia quinze do mês que vem. – Papai lembrou-me pela décima vez no dia.
- Eu sei, gente. Tentem não se preocupar comigo, eu já sei me cuidar!
- É que nunca fizemos uma viagem tão longa sem vocês... – ele falou, tão comovido quanto a ruiva ao seu lado. Ah, qual é! Eram só umas cinco semanas, que dramáticos... Eu passava o ano todo na escola, o que era bem pior!
- É melhor vocês irem indo, o avião não vai esperar...
- Devíamos ter contatado o hotel e pedido para ir por rede de flú, eu te disse, Harry...
- Agora já é tarde, Lily tem razão, vamos perder o voo.
- Tchau, filhinha – minha mãe me mandou um beijo, enquanto papai acenava com uma mão.
Finalmente, o carro acelerou e foi embora, sumindo de vista ao descer a ladeira e virando numa curva.
A coisa mais irritante em ser a filha caçula era que meus pais eram grudentos ao extremo comigo! Às vezes era bom ser paparicada, mas chegava a um determinado momento que não havia nada que eu quisesse mais que um pouco de independência. E achei que aquele tempo sem eles serviria pra isso, afinal. Veríamos como eu me sairia sem eles por perto...
Fui arrastando a minha bagagem com dificuldade até a entrada da casa. Eles moravam numa grande casa no topo de uma colina. Todos os cômodos da casa eram espaçosos no geral, decorados pela tia Hermione até o último quadro e vaso florido. Era um lugar bastante aconchegante, por isso que sempre gostei de passar fins de semana por lá...
DING DONG. Toquei a campainha.
Tio Ron abriu a porta, exibindo um sorriso.
- E aí, baixinha? – me abraçou e depois bagunçou meus cabelos, como sempre fazia. – Deixa essa mala comigo, eu levo lá pra cima. O resto do pessoal está lá na sala. Anda, pode entrar!
Limpei os pés no capacho da entrada e adentrei. Estava exatamente como eu me lembrava... Uma mistura de fotos enfeitiçadas com outras do modo trouxa enfeitava as paredes do hall. Ali a gente via um pouco dos dois mundos...
Segui meu caminho para a sala de estar, timidamente.
- Lily, nem me avisou que vinha! – Rose se adiantou para mim, me cumprimentando com um beijo e um abraço. – Vocês todos sempre me deixam na ignorância das coisas que realmente importam. – Ela se queixou, dando passagem para minha tia.
- Bem vinda, Lilian! Essa casa é tão sua quanto nossa, por favor, faça dela o seu lar durante essas semanas. – me cumprimentou com os mesmos gestos que minha prima.
Era a vez do moreno dos olhos azuis de me dizer olá. Ele se levantou do sofá, onde estava sentado vendo a televisão provavelmente.
- Então te expulsaram de casa e sobrou pra gente cuidar de você? – brincou. – Bom, por mim tudo bem desde que você não roube meu controle remoto.
- Você realmente sabe recepcionar as visitas... Já pensou em trabalhar com a área de hotelaria?
- Me dá um abraço, sua ruiva irônica. – Hugo me puxou para si, me envolvendo num abraço de quebrar as costelas. Droga, ele estava mesmo forte! Antes de se afastar, depositou um beijo na minha testa como havia feito minha mãe. Acho que isso era um sinal de proteção. Por que todos pensavam que eu era um bebê? Ok, Lily, sem estresse...
- Sua sortuda, vai ficar com o melhor quarto da casa. – Rose pegou na minha mão e me arrastou escada acima. – Olha, se você quiser mais tarde a gente pode ir ao vilarejo aqui perto e comprar algumas besteiras pra comer. Mamãe detesta esses docinhos por causa dos nossos avós que são dentistas, mas ela não precisa saber... – piscou marotamente.
Tio Ron saiu sem a bagagem de um quarto, o qual presumi ser o meu. Entramos lá logo em seguida.
- Eu acho que é o melhor por causa da vista. Na hora do pôr do sol você tem que ver. É lindo! Uma vez eu e Scorp... – ela parou de falar bruscamente.
- Vocês ainda estão namorando escondido? – fiquei curiosa.
- Não, o papai descobriu há uma semana. – pareceu repentinamente nervosa. – Agora ele me proibiu de sair de casa sem o Hugo pra vigiar. – ela revirou os olhos. – Ele é tão paranoico, não tem nada demais em ele ser um Malfoy... Fiquei surpresa quando mamãe concordou com ele. Como se valesse menos por isso! O pior de tudo é que eu queria passar o fim de semana que vem acampando com ele e o Al, só que eu duvido que o senhor Ronald Weasley vá deixar. Dá pra acreditar que eu já sou maior de idade e ainda tenho que ficar obedecendo a ele?
- Talvez ele esfrie a cabeça até lá...
- Haha, como se não conhecesse seu próprio tio! Óbvio que a decisão não vai mudar. Ele disse: nem em um milhão de anos. Então, não tem discussão. Mas deixa pra lá... Daqui a pouco sai o jantar. Mamãe que está cozinhando, o que na verdade é um baita problema! Bom, sorria o tempo todo que ela nem vai desconfiar que esteja ruim. Acho que ela realmente gosta do que cozinha, como isso é possível? Ah, pode ir organizando as coisas no armário. Estou tão animada por você estar aqui, Lily! – saiu saltitando do quarto.
A prima Rose falava pra caramba, mas eu a adorava. É que era muito engraçado vê-la tagarelar...
Após guardar as roupas, ajeitei alguns pertences na cômoda e colei algumas coisas na parede.
Toc toc. Me Virei e me deparei com meu primo. Ele olhou por alguns segundos em volta.
- Parece que você já está bem instalada. Ei, esses pôsteres não estão com cola de verdade né? Mamãe teria um ataque...
- Eu não sou louca nem nada, Hugo. É cola de fada, não vai deixar marcas... É só pra tornar o ambiente mais familiar... – a magia é boa por isso, não deixa rastros.
- Nesse caso menos mal. – fingia estar irritado comigo, fechando a cara propositalmente.
- Veio aqui me vigiar?
- Claro, assim que te vi te achei muito suspeita. Se alguma coisa sumir, sei bem onde procurar.
- Ai, como é bobo. – revirei os olhos, esticando o lençol na cama. – Eu não seria idiota de pegar nada enquanto todos estão acordados. O meu plano era sumir na calada da noite com os objetos de valor, mas como me entreguei e você ficará mais atento, terei de pensar em uma nova estratégia.
- Você seria uma péssima ladra profissional. Não se conta o plano de ação pras vítimas, sabia? É a regra número um. – Hugo balançava a cabeça negativamente.
- Não está dentre minhas principais ambições, não se preocupe. Tia Hermione está cozinhando né? – comentei, fazendo uma careta.
- Finja que está bom pra ela ficar feliz. Minha mãe se mata só pra cortar cebolas... Pra fritar um ovo nem se fala!
- Por que não usar simplesmente a varinha?
Ele deu os ombros.
- Acho que ela prefere usar os métodos trouxas, pra honrar suas raízes ou qualquer baboseira assim.
Eu ri levemente.
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O jantar havia superado minhas expectativas. Isso porque minha tia quase ateou fogo na cozinha e decidiu por chamar uma pizza pelo telefone - que demorou a chegar, afinal, eles moravam bastante longe de comunidades trouxas. E olha, estava uma beleza de pizza!
Na hora de dormir, fiquei encarando o teto por um longo tempo antes de cair no sono. Ainda não sentia falta de casa nem dos meus irmãos ou dos meus pais, mas não devia demorar muito... Em alguns dias eu estaria que nem uma criancinha com saudades do lar. Porém, teria que engolir o choro quando isso acontecesse. Poxa, eu tinha que dar uma chance àquele lugar e tentar ao máximo para que aquelas férias fossem as melhores.
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N/a: Bom, uma longfic Hugo&Lily? Sim. Acho que é uma novidade tanto pra mim quanto pra vocês, em português só conheço uma long do casal então... Bom, apesar de ver que são bem receptivos com esse shipper por aqui ainda fico meio receosa em postar, ainda mais porque não escrevi muito mais que isso, não sei aonde essa história vai dar ^^' Estou tentando não criar muitas expectativas... Espero que tenham gostado ;)
Bjooooos!
