Sobre Ginny e Um Diário
por Ireth Hollow
Nunca tinha trocado mais do que meia dúzia de palavras com aquela menina ruiva e simpática, mas gostou instantaneamente dela. Por baixo daquela máscara de fragilidade, por detrás dos irmãos mais velhos, existia certamente uma personalidade forte, pronta a vir à superfície. Estava convicta de que Ginny seria uma daquelas feiticeiras capazes de lidar correctamente com um Wrackspurt, por exemplo. Não gritaria, como a maioria das suas colegas de ano; não, ela enfrentaria aquela ameaça invisível com coragem e destreza, e o seu cérebro continuaria tão lúcido como sempre.
O seu conhecimento sobre a Gryffindor derivava quase exclusivamente da observação, no entanto, estava certa de que era mais profundo do que o da maioria das pessoas. Por isso, não é de estranhar que tenha sido a primeira a reparar na soma de factores que gradualmente modificaram a jovem. A palidez e o ar estranhamente alheado não seriam de todo preocupantes, não fossem acompanhados de sessões de choro numa qualquer casa-de-banho vazia, ou da sensação de que a jovem sofria de lapsos de memória.
Se Luna não fosse ela própria, teria reparado que Ginny tinha uma predilecção especial por uma certa casa-de-banho, no segundo andar, e que sempre que dela saía, vinha mais pálida, mais alienada, mais esquecida de quem realmente era. Contudo, se Luna não fosse Luna, não teria relacionado o estranho comportamento da ruiva com o caderninho de capa preta em que ela escrevia durante todo o dia, quando pensava que ninguém estava a ver.
No início, não se tinha preocupado com o olhar de adoração que a ruiva lançava ao diário. Sabia, por experiência própria, o quão afeiçoado se podia estar a um objecto, desde que tivesse significado. Não adorava ela própria o estojo de desenho que a sua mãe lhe dera? Era perfeitamente normal que a outra menina gostasse do seu mais fiel confidente…
O que já não era compreensível era ter medo de um ser inanimado! Seria por causa dos ataques aos filhos de Muggles? Ou seria porque o caderno preto não era um simples diário? E se fosse algo mais vivo, capaz de enfeitiçar Ginny? E se lhe estivesse a revelar segredos tão obscuros que até conseguiam assustar alguém tão valente como uma Gryffindor? E se tivesse aprisionado a sua alma? E se lhe tivesse roubado o livre arbítrio?
Poderia um mero diário ser o dono da vida de alguém?
Pelo menos, a ruiva parecia estar consciente de que aquele caderno era perigoso, de que podia manipulá-la. Não era como as personagens de um livro, que tinham de se submeter à vontade do escritor e, ainda para mais, não sabiam disso. Não, Ginny estava em vantagem: iria ganhar aquele combate sobrenatural, mais cedo ou mais tarde. Era, apenas, uma questão de tempo, até que ela se libertasse do feitiço do diário e se livrasse dele.
Definitivamente, não tinha de se preocupar. Ou tinha?
N/a: 2º lugar no XXIII mini-challenge TG do 6V. POV da Luna (sou doida, omg), espero que gostem x)
