TSUBASA RESERVOIR CHRONICLE

FIC: O Jeito de Ser

PAIRING: Kurogane x Fye (principal) / Syaoran x Sakura / (others )

SINOPSE: Não há o que esperar de cada mundo para onde Mokona os leva em busca das memórias de Sakura. O que pode acontecer, então, quando um dos membros passa a correr um real risco de vida? Como Yuuko já havia adiantado, nada nesta jornada é coincidência.

CAPÍTULO 1- ENCLAUSURADOS

- Mokona Modoki não pode mais esperar... PUU!

Já não era mais como na primeira vez. A sensação de estar sendo sugado para dentro do estômago daquele bichinho (ou Manjuu como Kurogane insistia em apelidá-lo) não causava mais espanto, frio na barriga ou qualquer coisa do tipo. Havia se tornado rotina, estavam naquela jornada há muito mais tempo do que qualquer um poderia ter previsto, e isso levando em conta que simplesmente não era possível saber quantos dias ou meses passaram-se desde que eles se conheceram, segundo Yuuko, num encontro inevitável. Recuperar as memórias de Sakura, todas representadas por pequenas e graciosas penas, não era mais apenas a missão de Syaoran, mas o provável destino de todos eles.

Fosse como fosse, estavam rumo á outro mundo novamente, depois de cerca de vinte penas encontradas. A princesa progredia excepcionalmente bem, lembrava-se de toda sua infância, de seu pai, seu irmão e o sacerdote, seu castelo, mas faltavam-lhe pedaços, momentos importantes que talvez por terem sido guardados especialmente em sua memória, teriam de ser recuperados individualmente. Em contraponto, era visível na garota sua decepção por não lembrar-se de alguém que lhe fazia muito feliz. Seus esforços para descobrir quem era aquela pessoa, que pelo menos sabia ser um menino, drenava muito de sua vivacidade e a fazia murchar como uma flor sem água. Agora que ela já se lembrava de praticamente tudo que era necessário sobre sua vida, nada mais importava a não ser aquele garoto de quem ela não conseguia recordar. E esta situação estava acabando com a felicidade não só de Sakura, mas também da pessoa que sem que ela soubesse, era o misterioso rapaz de sua memória.

Quando a paz momentânea da viagem entre dimensões deu lugar á um vertiginoso rodopio, Kurogane sabia que estavam prestes à aterrisar num lugar totalmente novo. E num piscar de olhos Mokona já estava nos braços de Fye, Sakura e Syaoran olhavam o lugar que se exibia para eles, da mesma forma como ele próprio fazia agora. As quatro expressões eram de atordoamento, não era possível que estivessem no lugar certo.

- Mas...- balbuciou Fye, que por raras vezes como aquela não matinha um sorriso etéreo no rosto- Como... como vamos... sair daqui?

- Mokona não errou o caminho!- bradou o bichinho, fazendo cara de pertinência.

Sakura já tinha um braço entrelaçado com o de Syaoran, e este parecia sem reação.

- Não, nós sabemos que você não errou.- disse o mago, voltando à sua maneira de ser- Só não entendo... o que aconteceu...

Bem, de certo Fye partilhava sua perplexidade com cada um deles. Como poderiam ter ido parar numa sala pequena, de paredes escuras, sem saída visível, sem janela, sem absolutamente nada?

- Mokona- por fim Syaoran saiu do breve momento estático- Não temos como ir para outro mundo, ou apenas sair desta sala usando seu poder?

De repente o bichinho era o centro das atenções.

- Não...

- HEIN! Como assim não?- era a vez de Kurogane sair do torpor, agora vermelho de nervosismo. Aquela coisa só podia estar de gozação.

- Não consigo... sentir meu poder... é como se este lugar o tivesse filtrado...- Mokona agora não demonstrava nada além de assombro. Se aquilo era verdade, então nunca havia acontecido antes com ele. O Manjuu branco subiu até o vão entre o pescoço e o ombro de Fye e ali se agarrou. Algo definitivamente não estava certo, mas não era sua culpa.

Kurogane então pôs-se a caminhar ao redor da sala, as mãos espalmadas pela parede, enquanto seus olhos procuravam por algum sinal do que pudesse ser uma saída. E os olhos de Sakura acompanhavam milímetro á milímetro observado pelo exímio espadachim.

- Sente alguma coisa, Kurogane-san?- questionou Syaoran, talvez mais preocupado com a reação de Sakura.

- Hum...- ele apenas pronunciou, voltando toda sua atenção à qualquer vestígio de energia que pudesse estar bloqueando o local. Após completar a volta, ele respondeu sériamente- Nada. Nada que eu possa ser capaz de sentir, pelo menos.

- Este é o tipo de situação em que não há nada a ser feito ne?- disse Fye simplesmente. E embora ele não estivesse de todo errado, Kurogane não deixou passar.

- Sente-se aí e espere então! Espere até que apareça alguém e te leve! Se é só isso o que você sabe fazer!

Isso não desfez a expressão no rosto de Fye, é claro. Como se ele já não estivesse acostumado com isso.

- Mas... Kurogane-san, realmente... não há janelas aqui, não há nada... não sei nem como podemos enxergar uns aos outros...- observou Syaoran.

- Syaoran-kun...- a princesa recostou pesadamente a cabeça no ombro do rapaz. Estava exausta. Fye rapidamente retirou seu grosso sobretudo branco e estendeu-o no chão, Syaoran deitando-a sobre a vestimenta do mago. Seria melhor mesmo que ela dormisse enquanto decidiam o que fazer. Aquilo poderia deixá-la mais apreensiva.

Mas os três simplesmente não sabiam como sair da situação em questão.

- Fye-san está certo, afinal. Deve haver uma razão para estarmos aqui. E se há uma razão há alguém. Alguém vai vir nos encontrar... seja isso bom ou ruim.

A expressão de Kurogane parecia ferida em sua determinação. Mas ele não disse nada.

- Hyuu Kuro-pon, dois a um!- exclamou Fye numa extrema falsa inocência. Era claro o quanto aquilo irritava o espadachim. Sem esperar reação, o mago apenas pegou Mokona no colo e sentou-se escorado na parede. O Manjuu também já estava quase caindo no sono. Syaoran também resignou-se a sentar-se próximo à princesa adormecida e observar seu sono profundo. Ele desejava que não tivessem de passar por maiores provações. A frágil garota não merecia tanta maldade que haviam encontrado, tanto perigo... desejava que pudesse procurar por suas penas sem que ela sofresse tanto. Afinal essas eram suas novas lembranças, e ele queria poder proporcionar à ela os melhores momentos. Mas não havia indícios de fim àquela jornada, e quem poderia saber o que ainda os esperava?

Porém Kurogane não estava satisfeito com a idéia de esperar que algo acontecesse. Voltou à andar pelo lugar, decidido á encontrar o que quer que fosse.

- Não há uma fresta sequer... há algo de errado... nós não seríamos capazes de nos ver num lugar totalmente fechado.- comentou ele mais para si mesmo.

- Certamente.- concordou o loiro, acariciando Mokona que já dormia serenamente. Quando o ninja estacou derrotado, com a testa encostada na parede, Fye continuou- Mas isso pode ser proveniente de qualquer coisa Kuro-rin, você iria procurar sua vida inteira.

- Você sente algo?- perguntou Syaoran, agora sentado da mesma forma que o mago.

- Não. Se até mesmo Mokona não sentiu porque teve seus poderes drenados, quem dirá de mim que já não tenho os meus há muito tempo.

A expressão de Fye sofreu uma mudança brusca no momento em que terminou a frase. Em todo este tempo, jamais alguém havia se perguntado se todo o sacrifício, desde o primeiro, estava valendo a pena. O que estavam fazendo era importante sim. Sakura era importante; ela merecia ser ajudada, até porque não pedira para ter seu poder (que por sinal ela nem conhecia) e sua alma roubados, e ainda de maneira tão sarcástica. Cada um deles tivera um motivo para aceitar a condição da Bruxa Dimensional e poderem viajar entre infinitos mundos diferentes, se não fosse assim não haveria necessidade em passar por tudo isso. Mas depois de tanto tempo, em que Kurogane já quase não tinha esperanças de voltar para o Japão de onde veio, e Fye devia estar o mais distante possível do Reino de Celes, apenas Syaoran continuava tendo uma meta a seguir. E era notável que o ninja e o mago já estavam sentindo falta do que tinham deixado para trás. Kurogane foi obrigado a se desfazer da espada com a qual se tornara o homem mais forte de seu mundo. Contudo, em cada mundo por qual passaram isso não fora problema. Ele sempre conseguira uma boa substituição para lutar contra os eventuais oponentes que encontravam. E ele manejava bem qualquer objeto laminado que lembrasse uma espada. A situação de Fye era diferente. Ele tivera que fazer mais uma concessão à Bruxa para que pudessem conseguir um objeto mágico que lhes ajudou muito na recuperação de uma pena de Sakura. Só o que lhe restou foi seu sobretudo branco e felpudo, o que mesmo assim não era prova nenhuma de que ele, de fato, era um mago. Fora isso, ele já não tinha nada que o ligasse à sua magia. E fazia muito mais falta do que um instrumento de luta, uma arma. Ainda que sua agilidade e inteligência fossem admiráveis, não podia fazer muito em se tratando de enfrentar um inimigo. Sua magia era infinitamente maior que sua força física. À esta altura, Fye não conseguia mais disfarçar tão bem sua frustração.

Kurogane já havia se sentado paralelamente aos dois rapazes e Sakura. De cabeça baixa e olhos cerrados, parecia conformado com sua impotência ante a presente situação. O loiro de rosto angelical ainda afagava o Manjuu em seus braços como quem nina um bebê, e Syaoran olhava um ponto fixo no chão, absorto nos mais diversos pensamentos. Foi quando sem perceber uma pergunta escapou de seus lábios antes que pudesse reprimí-la.

- Fye-san, por que você não quer mais voltar ao seu mundo?

O mago não esboçou resposta, nem ao menos demonstrou ter escutado. O mais jovem quis punir-se por tocar num assunto que sem dúvida não era apreciado pelo outro e nem ao menos era de sua conta. Mas de repente ele suspirou alto, e olhou nos olhos de Syaoran com aquela velha conhecida expressão.

- Eu já não tenho muita certeza, Syaoran-kun... mas há uma pessoa que eu não quero encontrar. Não antes de estar preparado, ne.

Sem que ninguém notasse, Kurogane arqueou uma sombrancelha. Então ele tinha... medo de alguém?

- Desculpe minha intromissão, Fye-san... mas eu sempre me perguntei se haveria algo por trás de seu sorriso. Ultimamente venho obtendo a resposta através de suas próprias atitudes.

Fye surpreendeu-se. Syaoran era realmente uma pessoa muito perspicaz e observadora. Ou então ele simplesmente não conseguia mais fingir que tudo estava sempre bem.

- Como eu disse, Syaoran, não quero encontrar esta pessoa antes de estar preparado para isso. Porém nas atuais circunstâncias, eu me pergunto se estarei, algum dia, apto a ficar frente a frente com ela.

- É... alguém que você teme?

- Sim- respondeu simplesmente, meio que encerrando a conversa por ali. O garoto, provando mais uma vez sua perspicácia, não insistiu com mais perguntas.

- Por que você teme esta pessoa?- perguntou Kurogane como se falasse dormindo.

Fye e Syaoran olharam-no instantaneamente.

- Você gosta de fingir que está dormindo para ouvir a conversa alheia, Kuro-tan?- devolveu divertidamente o loiro.

- Se você achou que eu dormiria neste lugar sem saber onde estamos e por quê, se enganou redondamente.- respondeu o ninja, sem mover mais que alguns músculos faciais.

Fye ficou apenas o encarando. Sentindo isso, Kurogane levantou a cabeça e o olhou também.

- Vai responder minha pergunta?

- Ah, sim, prefiro falar com quem olha para mim.

- Vai responder?

Mais uma vez ouviu-se um longo suspiro. Não era algo como uma tristeza contida, mas sim uma certa impaciência em ter de explicar a história. Coisa que ele não faria, é claro.

- Por que razão alguém pode temer um outro alguém?

- Oras! Existem vários motivos! Essa pessoa, é mais poderosa que você?

- Sim.

- É um mago?

- Sim.

- Você está fugindo dele?

- Não.

E então Kurogane piscou. O mago mantinha a expressão de divertimento intacta.

- Se você tem medo dele... mas não está fugindo... ent--

- Para quem estava quebrando a cabeça com a nossa situação, você parece ter encontrado outra distração, ne?

O rosto do ninja se contorceu.

- Você está insinuando que eu sou bisbilhoteiro?

- Iie ne! É você quem está dizendo--

- Não quero saber da sua vida estúpida! Nada sobre você me importa! Só me interessa o dia em que eu não terei que ver sua cara novamente, você me atormenta!- o moreno deixara sua pouca paciência de lado.- Não é o bastante eu estar nessa a contragosto, tenho de aturar uma criança super desenvolvida junto com um bicho insuportável!

- Você se arrepende, Kurogane?- indagou o mago, a feição intacta.

- Não tive escolha. Prezo pela menina e pelo garoto, mas não faço questão da sua companhia.

- Kurogane-san...- Syaoran sentiu-se extremamente desconfortável com tamanha rudeza.

Quando o espadachim ia voltar a falar, ouviu-se um barulho abafado na parede, como se algo maciço acabasse de ter sido lançado contra ela pelo lado de fora. Ninguém mais pronunciou palavra, mas tinham os olhares voltados para onde parecia ser a origem do estrondo. Porém, o que eles esperavam não aconteceu. Ao invés disso, do lado oposto ao que estavam encarando, um pedaço da parede que de repente era uma porta se escancarou violentamente, fazendo novamente um grande barulho. Sakura e Mokona sobressaltaram-se, acordando num só fôlego, ao mesmo tempo em que quatro homens totalmente vestidos de negro adentraram o lugar, no que pareceu uma invasão planejada, portando cada um um tipo de arma de cano fino e longo. Syaoran prontamente colocou-se à frente de Sakura, que ao chão segurava Mokona nos braços com terror. Quando Fye fez menção de se levantar, um dos homens disparou silenciosamente contra ele, atingindo-o no antebraço esquerdo com um dardo que provavelmente continha tranqüilizante. No instante seguinte Kurogane partiu para cima do grupo, mas os outros homens foram mais rápidos e um dardo atingiu sua perna direita e a de Syaoran. Fye jazia desacordado ao lado de Sakura, que já estava aterrorizada.

- Syaoran-kun! Fye-san! Ah!- ela soltou um grito agudo quando um dardo também a atingiu no braço.

- Fye! Kurogane!- Mokona gritou, vendo os dois já desmaiados, e Syaoran lutava para não ceder ao efeito do liquido injetado em sua perna, segurando a mão de Sakura com toda a força que lhe sobrava.

- Princesa Sakura... não... se preocupe! Eu... vai ficar... tudo... bem...

Mas ele não pôde continuar a falar, e nem a garota pôde terminar de ouvir. Os dois desmaiaram quase que juntos, mas suas mãos não se soltaram. Os quatro homens então acenaram positivamente a cabeça uns para os outros. Se aquilo era uma missão, ela estava cumprida.

A/N: Minha primeira fic de Tsubasa Chronicles, que atualmente é minha obcessão! Principalmente o casal KuroFye... bem, espero reviews e se eu cometi algum engano, please me avisem!