HORA DO BANHO

A água com a temperatura certa já estava na tina, o xampu fora colocado ao lado do sabonete, e a toalha amarela e limpinha jazia sobre uma cadeira. Estava tudo pronto para o banho, ou quase. Mu olhou à sua volta, respirou fundo e chamou:

_Chian, vem cá.

O menino de quatro anos estava em seu quarto, rabiscando energicamente um papel com giz de cera. Ao ouvir o chamado do pai, ele se teletransportou num segundo, surgindo na porta do amplo banheiro. Arregalou os olhos quando viu a água, e disse ao balançar negativamente a linda cabeleira lilás:

_Banho não!

_Banho sim – Mu determinou com voz serena.

_Não, não, não – Chian bateu o pé no chão, três vezes.

Todos os dias era a mesma coisa, portanto, já ciente do trabalho que teria pela frente, o ariano sussurrou:

_Vai começar...

Chian desapareceu imediatamente. Mu fez o mesmo. Ambos reapareceram no salão de entrada da Casa de Áries.

_Meu filho, não é bom ficar sujo – tentou explicar pela milésima vez.

O menino fez uma careta e apertou as orelhas dizendo:

_Eu não gosto de ficar limpinho – falou ele ao se teletransportar para detrás de uma coluna.

_E por acaso você quer ficar sujinho igual ao tio Máscara da Morte? – Mu deu a volta e ajoelhou diante do filho na tentativa convencê-lo e levá-lo para o banheiro.

_O tio é legal – o menino desapareceu rapidamente.

Mu fez o mesmo, depois de dirigir um olhar ao templo de Athena e perguntar:

_Eu mereço mesmo isso?

Chian reapareceu no quarto do pai, dentro de um grande baú de madeira. Ele resolveu ficar bem quietinho para não chamar atenção, entretanto, o cavaleiro de ouro já conhecia aquele esconderijo:

_Te achei – falou Mu ao abrir o baú.

Chian cruzou os braços e desapareceu, indo parar no telhado de Áries. Sorriu pensando que não tomaria banho, mas o pai surgiu dizendo:

_Banho já!

O menino deu uma gargalhada gostosa e sumiu.

_E lá vou eu de novo – disse Mu ao reaparecer na cozinha. Seu filho já estava lá, prestes a morder um biscoito. Ao ver o pai, ele arregalou os olhos e sumiu novamente, indo parar na escadaria entre Áries e Touro.

_Nada de lanche antes do banho – disse o ariano ao surpreender Chian, tirando-lhe o biscoito da mão.

O menino sumiu para reaparecer nos ombros de Mu, recuperando o seu lanche e se transportando em seguida. Mu deu um sorriso, satisfeito pelo filho ser ótimo em telecinese. Todavia, estava também preocupado com essa mania dele de viver fugindo do banho, e continuou com a "perseguição", mas com um truque nas mangas. O menino reapareceu na entrada de Áries, mas estranhou a demora do pai em surgir também:

_Papai?

Mu esperou um minuto, dois, três...

_Papai? – buscou Chian olhando ao seu redor.

_Peguei – o cavaleiro apareceu de repente, pegou o filho de surpresa e se transportou com ele para o banheiro. Para dentro da tina d'água, mais especificamente.

_Ah... Acabou a brincadeira – falou Chian com um olhar sapeca, jogando água no rosto do seu pai, que riu.

De repente, um terceiro lemuriano apareceu no banheiro. Era Shion, que observara todo aquele "pique esconde" da escadaria que levava ao Salão do Mestre. Ele pegou o xampu com uma das mãos, entregou-o a Mu, e disse seriamente:

_Agora você sabe o trabalho que eu tinha toda a vez que você fugia do banho – ele desapareceu, mas não antes de sorrir também.