Seus dedos impacientemente tocavam a mesa de madeira, tamborilando, enquanto pensava no que fazer — e principalmente no que dizer. Talon encarava Yasuo de relance vez ou outra tentando encontrar a lógica para tal tortura mental que se fazia desnecessária em sua mente. Não seria mais fácil fazer de conta que havia esquecido? Estavam naquele bar há quase duas horas e nenhum dos dois se movera sequer um momento para dividir a mesma mesa — estavam distantes, em mesas separadas. O que mais tornava o clima estranho era o noxiano e seu olhar indesviável que se detinham no outro homem naquele minuto decisivo sem parar. Semblante fechado, aparentemente não estava para melhores amigos: assim era Talon. Yasuo encarava de volta e pensava "Tem algo na minha cara?"

— O que é? — Talon perguntou como se quem o estivesse olhando insistentemente fosse o ronin.

— ... — Yasuo arqueou as sobrancelhas e bateu o copo na mesa para que lhe trouxessem mais bebida, ignorando a pergunta de Talon como se quem lhe falara sequer estivesse ali.

"Hoje é o aniversário desse ioniano idiota e mal nos falamos. Se ele está esperando que eu vá sentar na mesma mesa que ele, está enganado".

Em meio a tantos pensamentos, continuava a olhar Yasuo; queria sentar-se ao lado dele e dar os "parabéns", mas sabia que o espadachim tinha a mania patética de usar suas aproximações para deixá-lo sem jeito: traduzindo isto em situações pegajosas que o ronin chamava de "amáveis". Mas Yasuo parecia enfadado com aquele jogo de gato e rato, acabando por se levantar e caminhar até Talon.

Ajoelhou-se pegando nas mãos marcadas por cicatrizes do namorado e, fazendo uma voz debochada e mais grossa... Imitava Talon.

— Feliz aniversário, Yasuo... Vou te pagar uma bebida e vamos nos resolver mais tarde na sua ca-ma. Você me ama? Sim, eu te amo, Talon.

Talon estava sem palavras, mas seu rosto demonstrava a imagem de puro embaraço.

"Filho da puta..."

— Corta essa... E-eu não falaria algo tão idiota assim!

Yasuo riu.

— Então como falaria?

Talon resmungou algo incompreensível e pensou bem antes de prosseguir; Yasuo não desviava o olhar, ainda de joelhos, com um sorriso de quem já esperava algo. O que faria? Suspirou e se aproximou rapidamente para alcançar os lábios do outro homem, dando-lhe um beijo rápido, mas terno — ainda com sua velha cara de poucos amigos .

Não era só isso: seu rosto tingira-se de um leve tom de carmesim... Iria mesmo falar aquilo?

— Eu quero que seu presente seja uma boa noite... Comigo.

"Ah, que merda! Se eu conseguisse, o mataria agora..."

Talon conseguira falar algo mais idiota que Yasuo, mas de quem fora a culpa de tê-lo deixado nervoso? O ronin, um tanto surpreso, riu e o abraçou pela barriga. As pessoas estavam olhando.

"Filho da puta indiscreto..."

Talon afastou Yasuo empurrando-o pelo rosto várias vezes; pôs-se a xingá-lo de "bêbado tarado" quando este o apertou na cintura. Oh, sim, ele sabia que o mais novo tinha cócegas bem ali. Yasuo se levantou, mas não se distanciou antes de beijá-lo outra vez... Uma pena que Talon já não estava mais ali.

— O malandrinho fugiu invisível...

Olhou para onde a sombra da lâmina estivera há poucos segundos e encontrou um pequeno laço com cheiro do melhor sakê. Ah, Yasuo sabia onde encontrá-lo. Com um sorriso no rosto, pagou as contas e foi receber o presente do namorado no único lugar onde este não parecia ter vergonha de nada.