POV Ginny
O relógio indicava que já passava um pouco das duas da tarde, esse horário eu normalmente já estava em casa havia um tempo. À minha frente, quatro alunos ainda aguardavam para tirar dúvidas a respeito de seus trabalhos de conclusão de curso.
—Você pode me dar um minutinho? - Pedi para o rapaz com o caderno aberto diante de mim, preparado para expor ideias.
—Até dois. - Concedeu, excessivamente simpático.
Por dentro eu rolei os olhos para isso, era o típico charme que alguns deles me lançavam, mas apenas ignorei. Peguei o celular na bolsa e digitei:
"Amor, vou chegar mais tarde hoje, muitos alunos para orientação. Beijos."
Voltei minha atenção ao trabalho, tirei dúvidas, opinei, dei ideias e o dispensei alguns minutos depois, chamando a garota que estava aguardando logo depois dele. Olhei brevemente o aplicativo de troca de mensagens instantâneas, vendo que meu texto havia sido visualizado dez minutos atrás, mas que Harry não quis se dar ao trabalho de responder sequer "ok".
Guardei o telefone de volta na bolsa e deixei isso para lá, quanto antes eu dispensasse todos eles, mais rápido poderia ir embora.
Atravessei a cidade em direção à minha casa quando se aproximava das quatro, e estranhei ao ver o carro do meu marido já ali, porque normalmente ele chegava apenas entre cinco e quarenta e seis horas, todos os dias. Quase todos os dias, aliás.
Acionei o alarme e levei os quatro livros grossos que usei nas aulas para dentro de casa comigo, deixando-os sobre a mesa assim que passei.
—Chegou cedo. - Comentei antes de chegar na sala, seguindo o barulho da TV.
Quando entrei o vi ainda com a calça social e sem camisa, olhando com atenção para o programa que estava sendo exibido.
—Tive uma reunião com uma cliente aqui perto, aí não quis voltar para o escritório. - Respondeu sem se virar para mim.
—Mulher? - Perguntei, me concentrando em soar despreocupada.
—Pois é, algumas mulheres não são gênias da matemática e precisam só trabalhar com compras mesmo. - Falou sarcástico.
—Não precisa ser irônico, só estou perguntando. - Expliquei ressentida, me abaixei tempo suficiente para lhe dar um selinho rápido. - Oi.
—Não estou sendo, só estou respondendo. Oi.
Fui até o quarto e voltei alguns minutos depois com um short curto e uma camiseta básica que eu só usava em casa. Prendi os cabelos no caminho e abandonei os sapatos ao lado do guarda roupa, voltando descalça para a sala.
—Quer almoçar comigo? - Convidei, parando entre ele e a TV para que me olhasse.
—Já comi, obrigado. - Seus olhos enfim me focaram, mas nada muito demorado.
—Tá bom. Tenho uma pilha de provas para corrigir. - Tentei puxar assunto.
—Uhn. - Foi a única resposta que ele me deu.
Fui até a cozinha e comi o lanche que estava pronto me esperando. Eu tinha muito trabalho a fazer, então optei por não me estender muito nessa atividade.
Me acomodei na mesa de jantar com uma quantidade grande de trabalhos e listas de exercícios, separei as pilhas por turma e comecei as correções. Meus olhos já detectavam automaticamente os erros cometidos e abreviações cabíveis nas fórmulas escritas por eles, mesmo assim demorei horas.
Por volta das nove da noite eu ainda estava ali sentada entre meus papéis e ouvi o Harry rindo no cômodo ao lado, sobrepondo o barulho do filme que estava passando. Levantei a cabeça e o vi concentrado na tela do celular, indicando que obviamente não era comigo que estava interagindo.
Eu odiava isso, mas me forcei a ignorar e continuar o que estava fazendo.
—Gin, já vou dormir. - Falou alguns minutos depois.
Levantei a cabeça a tempo de vê-lo desligando a TV e se espreguiçando ao levantar do sofá.
—Vou demorar um pouquinho ainda.
—Tudo bem. Boa noite.
Antes mesmo que eu respondesse ele se virou e saiu em direção ao nosso quarto.
Era quase como estar sozinha em casa, com a exceção de que eu ainda podia ouvi-lo rir vez ou outra.
