- Katekyo Hitman Reborn® e seus personagens pertencem a Amano Akira;

- Os personagens originais pertencem a mim;

- Essa é uma fanfic yaoi, ou seja, contém relacionamento homossexual entre os personagens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de conteúdo sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;

- As postagens serão semanais, aos domingos, mas os próximos dois capítulos serão postados, excepcionalmente, nos dias 23/12 e 30/12;

- A fanfic é continuação direta de Between you and me, The Romance of Sadness e Antipasto.

- Devido ao limite de caracteres na sinopse resolvi transcrevê-la integralmente aqui: "Alaudi se acostumou com a vida que havia conquistado nos últimos anos. Seu amante veio com uma família e aos poucos novas pessoas foram transformando seus dias solitários. Por um tempo ele achou que a vida não poderia mais surpreendê-lo, que ele havia atingido sua cota pessoal de felicidade. Porém, certas verdades não permanecem escondidas por muito tempo e suas consequências são imprevisíveis.
Mas a história não é apenas sobre Alaudi. Ela pertence a oito diferentes pessoas, oito distintos corações, e o modo como lidarão com as mudanças ocasionadas por verdades... e mentiras."


Prólogo

As noites pareciam longas e infinitas, como se o pôr do sol trouxesse não somente o céu escuro e as estrelas, mas uma vasta e permanente solidão. Quando olhava além da janela ele tinha a vívida impressão de que se continuasse naquela posição acabaria sendo levado pela noite que se aproximava. Seu reflexo servia apenas para prolongar aquela sensação de despertencimento ao lembrá-lo de que estava sozinho. Não havia grandes mãos ao redor de seu corpo, apertando-o em um aconchegante abraço. Os belos lábios bem preenchidos não procuravam sua pele em uma tola busca por uma parte que não estivesse escondida dentro do lenço para poder marcá-la.

A solidão, sua velha e fiel companheira desde que deixara a casa de seus pais, não era mais bem-vinda.

Alaudi afastou-se da larga janela da biblioteca ao notar que tinha companhia. Pelo horário ele deduziu quem seria e seu cumprimento foi um discreto meio sorriso. A cadeira de Ivan foi arrastada sem barulho e ele sentou-se ao mesmo tempo em que seu interlocutor pousava um grosso livro sobre a mesa.

"Eu estou com dúvida nessa parte," Francesco inclinou-se e manteve-se tão próximo que sua franja esbarrava no rosto de Alaudi.

A voz que costumava ser aguda e quase feminina havia se tornado masculina e grossa. No passado, a mão que folheava o livro se escondia dentro das suas, com dedos pequeninos e delicados quando passeavam pelo largo jardim da mansão. Agora eles eram longos e firmes, assim como ele. Francesco se transformou em um belo e saudável rapaz de dezesseis anos, doce e gentil, embora temperamental e teimoso. A similaridade com Ivan, no entanto, era o mais assutador, principalmente o olhar. Os olhos cor de mel eram igualmente profundos e cheios de significados.

O louro nunca se cansava de admirá-lo, como o pai coruja que sabia que era. Francesco cresceu diante de seus olhos e grande parte da responsabilidade em educá-lo foi sua. Em algumas épocas do ano o Chefe dos Cavallone estava mais ocupado, então ele tomava para si as tarefas cotidianas, como brincadeiras e leituras. Quando o herdeiro passou a frequentar a escola, era a ele que recorria quando tinha uma dúvida, exatamente como acontecia naquele instante. Todos esses pequenos momentos construíram uma sólida e amorosa relação, que não necessitava de declarações explícitas. Alaudi era tão pai de Francesco quanto Ivan e isso era o que realmente importava.

A dúvida do rapaz era sobre filosofia e, ainda que o assunto não fosse o seu forte, ele se esforçou em tentar ser o mais explicativo possível. Francesco o encarava com atenção, concordando nas partes que havia entendido e juntando as sobrancelhas ao demonstrar incerteza. Quando isso acontecia, Alaudi retomava o pensamento anterior quantas vezes fossem necessárias até que seu interlocutor desfizesse a expressão confusa.

"Obrigado, eu acho que entendi." O rapaz fechou o livro e sorriu, dando a volta na mesa. "Agora só preciso terminar minha análise."

"Eu gostaria de ler quando terminar, se for possível." Alaudi encarou o tinteiro ao lado esquerdo. Eu não tenho nada para fazer o restante do dia.

"Eu adoraria saber sua opinião." Os olhos cor de mel brilharam. "Novamente, obrigado pela ajuda, Alaudi."

O Inspetor o viu deixar a biblioteca e assim que a porta foi fechada ele se inclinou para trás na cadeira, espreguiçando-se. O silêncio do lugar tornava sua situação pior, imaginando se Catarina não precisaria de ajuda com alguma coisa. Ao contrário do irmão, a garotinha raramente pedia auxílio com suas lições, preferindo passar horas tentando encontrar a solução sozinha. Aquela independência era positiva para ela, que acabaria se tornando uma mulher capaz de resolver os próprios assuntos, mas para ele era um pouco solitário não ser requisitado, já que a ajuda era apenas disfarce para o real objetivo que era ter sua companhia.

Alaudi permaneceu na biblioteca até o anoitecer. Os corredores já estavam iluminados e seus passos ecoaram pelo chão de mármore até o grande hall. O turno dos empregados mudaria em algumas horas e devido à aproximação do jantar havia pessoas cruzando a entrada quase a toda hora. Todos os que passavam faziam uma polida reverência com a cabeça quando o viam, da mesma forma como acontecia com Ivan. Perambular por aquela casa havia se tornado tão comum que ele sequer lembrava-se da época em que se perdia pelos quartos do segundo andar e da vez que acabou na adega sem saber retornar. Aquele lugar era muito mais do que seu lar, do que sua própria casa, e as pessoas que ali moravam eram mais amadas e queridas do que sua família original, com exceções.

Sem muitas opções do que fazer, ele resignou-se a andar pela propriedade. O jardim era largo e sua extensão vasta o bastante para que uma mera caminhada se transformasse em um passeio. Por duas vezes os empregados se aproximaram para questionar se ele precisava de alguma coisa, cuja resposta foi um menear de cabeça e um agradecimento em voz baixa. A terceira pessoa a falar com ele foi o chefe da segurança, que deixava a mansão e o abordou no retorno à casa.

"Senhor, o jantar será servido. Lorenzo pediu que eu lhe avisasse."

"Obrigado."

Alaudi subiu o restante dos degraus, sentindo que o jantar aconteceria na hora exata, visto que seu estômago começara a roncar. O encontro com Niccolò elevou seu espírito, pois ele tinha no homem um aliado em sua antipatia pelo Braço Direito de Ivan, apesar de achar que a aversão do outro por Mario fosse maior.

Francesco e Catarina já estavam sentados quando ele chegou acompanhado por Giuseppe. Os dois se encontraram no hall de entrada e seguiram juntos para a sala de jantar. Mario sempre acompanhava seu Chefe durante as viagens e, como Braço Direito de Francesco, era sua responsabilidade estar sempre ao lado do herdeiro. Vê-lo à mesa nessas ocasiões era esperado, ainda mais porque Alaudi percebeu que o filho ficava mais animado em tê-lo como companhia. A garotinha sorriu ao vê-los e assim que se acomodou as moças começaram a servir a comida. Naquela noite eles teriam sopa de legumes, com pão fresco e feito na hora.

O inverno começaria em alguns meses, mas o frio chegara antes da data oficial. O meio do outono estava sendo gelado, mesmo que a neve só começasse a cair em dezembro, provavelmente antecipando o Natal. A lareira da sala de jantar estava acessa e o clima era agradável e perfeito para aquela refeição. Não demorou a que os únicos sons ouvidos fossem os talheres de encontro à louça ou Catarina assoprando sua sopa para não queimar a língua. A sobremesa constituiu em um bolinho quente de chocolate recheado com doce de leite, que arrancou um meio sorriso de Alaudi. Ele intimamente adorava doces e aquele pequeno prazer secreto era plenamente saciado na casa dos Cavallone. Lorenzo era o cozinheiro chefe, mas uma das moças que o auxiliava na cozinha era especialista em doces, logo, as sobremesas eram tão aguardadas quanto os pratos principais.

"Estava tudo delicioso," Catarina pediu licença antes de se levantar, "Alaudi, eu preciso que entregue uma coisa muito importante para o Giulio."

O final da refeição foi marcado por uma fumegante xícara de café e ele ouviu ao recado da garotinha com atenção.

"Eu subirei em alguns minutos."

"Eu ainda não terminei!" Ela virou-se para Giuseppe e, com um charme puro e inocente que somente uma menina de dez anos possuía, desejou boa-noite. "Ah, e boa noite para você também, Francis."

A diferença no tratamento foi tão nítida que foi impossível não esboçar nenhuma reação. O Inspetor sorriu discretamente atrás da xícara de café, enquanto Francesco olhava abismado para Giuseppe, indignado de ser meramente lembrado. O Braço Direito, por sua vez, ria baixo e tentava fazê-lo esquecer o que havia acontecido. Giuseppe sempre foi o favorito de Catarina. Quando ela era apenas um bebê Giuseppe era o único que conseguia fazê-la dormir. O herdeiro foi o próximo a se levantar, avisando que passaria rapidamente no quarto de Alaudi para deixar a análise que havia feito do livro. Seu Braço Direito ficou em pé e se aproximou, questionando com atenção e seriedade se ele precisava de seus serviços.

"Eu estou bem, obrigado."

Os dois se retiraram e ele ficou sozinho na larga sala de jantar. O lugar principal, e ao seu lado esquerdo, continuava vazio, como havia estado no decorrer daquela semana. As ausências do Chefe dos Cavallone eram frequentes, principalmente naquela época do ano. Porém, os anos poderiam ter passado, mas Alaudi não se acostumara à distância.

No começo daquele relacionamento, eles se viam apenas aos finais de semana ou quando Ivan escapulia para Roma. Os encontros não eram longos e eles não tinham muita privacidade. Francesco era um menino de cinco anos e Catarina um bebê que necessitava de atenção constante. Por meses os momentos a sós se transformaram em noites passadas no sofá ou caminhando com a pequena de um lado para o outro da casa, na vã tentativa de acalmá-la. O amante veio com uma família, a família que ele nunca teria naturalmente.

Com o tempo os encontros aumentaram e o louro passou a visitar a mansão uma ou duas vezes por semana. Era difícil utilizar a mesma desculpa, portanto, Alaudi decidiu assumir para si que as crianças não eram o único motivo que o fazia dirigir por uma hora e meia após um exaustivo dia de trabalho. Nesses dias, chegar e ser recebido por um surpreso e feliz Ivan Cavallone era indescritível. Seu cansaço e mau humor desapareciam e restava somente aquele morno sentimento em seu peito que parecia aumentar todas as vezes que se viam. E, devido ao esforço e amor daquela pessoa, ele havia se tornado um membro da família, e indiretamente da Família, embora existisse certo idiota pertencente aos Vongola que adorava apontar que Alaudi já fazia parte daquele mundo há muito tempo.

O louro retirou-se da mesa, agradecendo aos empregados que estavam em pé próximos às paredes e aguardando o momento de retirar a mesa. Catarina o esperava no topo da escada, vestida com seu pijama lilás e os cabelos presos em uma longa trança.

"Você está atrasado, Alaudi!" A menina ficou em pé e, ainda que demonstrasse sua habitual animação, seus olhos pareciam cansados e prestes a se fecharem a qualquer instante.

"Você já deveria estar na cama, Catarina." Ele ofereceu uma das mãos, que foi aceita de imediato. Os dois caminharam até o quarto da garota e ali Catarina se apressou para entregar um envelope de tamanho médio e que fora lacrado formalmente com o símbolo dos Cavallone.

"No caso de eu me esquecer de entregar amanhã." A garotinha ruiva esticou o envelope, contudo, quando Alaudi tentou puxá-lo ela o segurou. "Você tem que me prometer que não vai abrir! É muito secreto e somente o Giulio pode ver! Digo, se ele quiser lhe mostrar depois eu não me importaria..."

"Eu prometo que não vou abri-lo." Ele pousou o envelope sobre a escrivaninha, notando a quantidade de papéis e tinta que havia ali. Eu preciso fingir que não sei que ela desenha e pede que Giulio avalie suas criações. Seu melhor amigo havia lhe contado na semana anterior e, mesmo que fosse uma criança, Catarina levava jeito para a coisa. "Agora é hora de dormir."

Catarina arrastou-se até a cama e o louro deu uma volta completa pelo quarto, certificando-se de que todas as janelas estavam fechadas. Seu corpo foi até a beirada da cama, cobrindo-a e depositando um gentil beijo nos cabelos vermelhos. A garota estava tão exausta que desejou um baixo boa noite e em segundos já dormia. Alaudi utilizou aquela oportunidade para admirá-la, deixando que seus dedos tocassem os cabelos e sentindo-se extremamente afortunado por ter a chance de colocar sua filha para dormir.

Com o envelope em mãos, ele seguiu na direção de seu quarto, ficando surpreso por ver que tinha outra companhia. Hoje a noite está sendo agitada. Francesco o esperava no corredor e, ao contrário da irmã, não parecia cansado ou sonolento.

"Quer entrar?" Alaudi abriu a porta e fez sinal para que sua companhia o seguisse.

"C-Com licença." Francesco entrou devagar e caminhou pelo largo quarto como se pisasse em nuvens.

Os dois se sentaram nas poltronas que ficavam em frente à escrivaninha de Ivan e no meio do cômodo. Ali, o rapaz entregou meia dúzia de folhas de papel que continham a análise que ele havia feito. Alaudi leu atentamente, marcando mentalmente as partes que poderiam ser melhoradas. Francesco permanecia sentado, ereto e sério, como se o pai fosse aparecer de repente e enxotá-lo dali. O louro fingiu não perceber e tentou deixá-lo à vontade. Quando criança, Francesco não gostava de dormir sozinho em seu próprio quarto e Ivan precisou ser rígido para quebrar aquele hábito. Como resultado, o rapaz raramente entrava no quarto principal e na maioria das vezes apenas quando o moreno viajava e Alaudi estava sozinho.

O Inspetor elogiou a análise e ao final apontou as partes que poderiam ser aperfeiçoadas. Francesco meneava a cabeça em positivo e fazia perguntas, demonstrando total interesse. Ele sentia falta de lidar com o garotinho tímido que vivia se escondendo entre as pernas do pai, entretanto, vê-lo crescer e se tornar um homem inteligente e capaz de manter uma conversa era fascinante. As perguntas deram lugar aos relatos sobre a escola e não demorou a que os dois estivessem trocando informações. O rapaz contava um pouco sobre o seu dia a dia enquanto Alaudi ouvia a tudo com curiosidade. Normalmente, aquela tarefa pertencia a Ivan, então ele sentiu como se fosse um privilégio poder escutá-lo falar sobre assuntos bobos, mas que faziam parte de sua vida.

"Melhor eu ir para cama agora, está ficando tarde." Francesco ajeitou os papéis em suas mãos e acenou antes de deixar o quarto. "Boa noite, pai."

Os olhos azuis se arregalaram devagar e a coloração rosada tomou conta de todo o seu rosto. Alaudi precisou levar uma das mãos à face, tentando esconder a felicidade que sentiu ao ouvir-se chamado daquela forma. Quando criança, às vezes o herdeiro o chamava de pai, mas essa foi a primeira vez que se ouviu chamado daquela maneira desde que Francesco deixara a infância. Aquela foi a melhor parte de seu dia e foi com um largo sorriso que ele seguiu na direção do banheiro. O banho foi longo e relaxante e o louro cozinhou na banheira coberta por espuma por um bom tempo. O quarto estava aquecido devido à lareira, e ele arrastou-se para a larga cama vestindo um pijama muito maior do que seu corpo. Quando Ivan estava fora, Alaudi gostava de dormir com suas roupas. Eram grandes e confortáveis e o faziam sentir como se o moreno estivesse sempre por perto.

O livro que estava na cabeceira foi aberto e ele continuou a ler de onde havia parado. O silêncio do quarto era reconfortante, mas por várias vezes seus olhos vagaram das páginas à escrivaninha que ficava naquela direção, do outro lado do cômodo. Geralmente era dali que ele assistia ao Chefe dos Cavallone trabalhar, fingindo ler quando, na verdade, seus olhos e atenção estavam totalmente no amante. Ele disse que estaria de volta no final de semana e hoje ainda é quarta-feira. Resignado de que não havia nada a fazer além de continuar sua leitura, Alaudi se esforçou para não deixar-se abater novamente pela solidão.

x

O barulho o fez despertar, mas foi o movimento na cama que abriu seus olhos. O livro que estava em sua mão direita desaparecera e no lugar havia outra mão, que se afastou rapidamente ao perceber que ele havia acordado. Francesco? Alaudi virou-se devagar, pensando que o filho havia entrado no quarto por algum motivo. Hábito, e influência direta do trabalho, fizeram-no pensar somente em coisas ruins e o sono que ele sentia dissipou-se com o prospecto de que alguma coisa séria poderia ter acontecido.

"D-Desculpe, eu não queria lhe acordar."

Francesco havia envelhecido alguns anos e seus cabelos mudaram do castanho para o negro. Os olhos cor de mel, no entanto, continuavam os mesmos, embora houvessem ganhado um brilho diferente e parecessem cansados. A voz grave era diferente e foi a responsável por desfazer aquele mal-entendido.

"Ivan..." Sua própria voz soou rouca e baixa.

"Volte a dormir." A resposta gentil foi seguida por dedos carinhosos que desceram por seu rosto.

"Quando você voltou?"

"Uma hora atrás, você estava cochilando e eu tentei tirar o livro da sua mão."

Alaudi achou a ideia de voltar a dormir tentadora. Aquelas seriam valiosas horas de sono, visto que ele precisaria voltar para Roma na manhã seguinte. Todavia, ele não contava com o retorno de Ivan. A surpresa serviu para que seu coração se lembrasse da saudade que sentia e que optar por qualquer coisa além de seu amante estava fora de cogitação. Dessa forma, foi extremamente natural que seus braços envolvessem o pescoço do moreno e o puxassem para baixo. O beijo já começou profundo e o louro consentiu com aquele momento de ousadia, tomando a iniciativa e deixando sua língua invadir a boca que havia habitado suas fantasias por todos aqueles dias.

A resposta foi rápida e o Chefe dos Cavallone deitou-se sobre ele, retribuindo com a mesma paixão. As línguas se misturavam e os lábios moviam-se com ritmo. Uma das mãos desceu por sua cintura, encontrando fácil acesso por baixo da blusa do pijama de flanela. Alaudi suspirou ao sentir os dedos apalparem seu sexo, consciente de que havia ido para cama com nada além daquela peça de roupa.

"Esse pijama é meu..." A voz soou risonha em seu ouvido esquerdo. "Você sentiu minha falta tanto assim?"

Alaudi gemeu baixo, afastando um pouco as pernas e deixando que os dedos tivessem mais acesso ao seu baixo ventre. A mão que começara a masturbar seu sexo movia-se devagar e cada movimento parecia excitá-lo. Seu rosto afundou-se no pescoço do amante, sentindo o cheiro dos sais de banho e da colônia. Os lábios tocaram a pele e um beijo mais ousado deixou uma marca avermelhada. Aquela seria sua resposta e ele sabia que Ivan entenderia suas mudas palavras, como vinha fazendo pelos últimos anos.

O Chefe dos Cavallone sorriu e desceu com seus lábios pelo pálido pescoço do louro. Os botões da blusa do pijama foram abertos pela mão livre, fazendo a peça escorregar pelo peitoral e deixando sua nudez totalmente à mostra. Ivan não perdeu tempo, subindo a língua pelo mamilo esquerdo e fazendo-o tremer. Uma das mãos de Alaudi foi à boca, tentando omitir suas reações. No começo, quando o moreno precisava se ausentar devido ao trabalho, ele matava a saudade com seus momentos íntimos e particulares. Entretanto, não demorou a perceber que tocar-se não obtinha a mesma satisfação que ser envolvido, deixando-o, ao final, com uma incrível sensação de vazio e insatisfação. Por esse motivo, o Inspetor preferia deixar que Ivan cuidasse de suas necessidades, mesmo que isso significasse estar totalmente sensível a qualquer estímulo.

"Você vai se machucar."

Ivan retirou a mão que cobria os lábios, entrelaçando-a com seus dedos. Alaudi estava tão absorto no momento que não percebeu que o amante havia pegado o vidro de óleo lubrificante do seu lado da cômoda. Ele só notou quando se sentiu invadido pelos dedos, que foram fundo o bastante para fazê-lo arquear um pouco as costas de cima da cama. A facilidade com que se moviam, tocando-o fundo e pressionando seu ponto especial, jamais seria obtido sozinho. Alaudi gostava de sexo como qualquer homem, mas para ele precisava haver harmonia entre o ato e quem o praticava.

E ter aquele homem provocando-o daquela maneira o fazia esquecer cada segundo de espera.

Os dedos foram retirados e quase imediatamente substituídos. O Chefe dos Cavallone afastou as pernas com rapidez, penetrando-o em um único movimento enquanto puxava sua cintura contra seu baixo ventre. O louro arqueou a nuca para trás, apertando a roupa de cama e gemendo tão docemente que se não fossem as grossas paredes ele jamais teria coragem de deixar aquele quarto novamente. Ivan se inclinou sobre ele e começou a mover-se, retirando-se quase por completo e o invadindo em seguida o mais fundo que conseguia.

Alaudi tocou o largo peitoral sobre o dele, sentindo as batidas incessantes do coração e tendo certeza de que não era o único completamente perdido naquele agradável instante. Seus olhos foram um pouco mais para baixo, encarando uma cicatriz que o moreno tinha do lado esquerdo do abdômen. Ela era pequena e o louro recordou-se do dia em que, ao questionar como ela havia acontecido, ouviu apenas que tinha sido na infância. Ele deve ter sido uma criança travessa e presumo que deva ter caído enquanto aprontava.

Inicialmente, os movimentos foram lentos, permitindo que seu corpo se acostumasse a algo maior do que alguns dedos. Porém, quando percebeu que Alaudi já estava relaxado, Ivan não hesitou em aumentar o ritmo, permanecendo praticamente todo o tempo dentro dele. Os rostos estavam próximos, quase grudados. As respirações se misturavam e em um raro momento ele deixou que seus gemidos ressoassem.

Todas as vezes que o membro atingia seu ponto especial o gemido escapava por seus lábios entreabertos como uma forma de aprovação. Ser amado daquela maneira tão crua, ao mesmo tempo em que era assistido por um homem tão belo e charmoso, era extremamente excitante. Os lábios do amante tocaram os seus e o beijo foi longo e profundo, sendo interrompido somente pela aproximação do orgasmo.

O Chefe dos Cavallone aumentou o ritmo, abraçando-o e o invadindo com menos gentileza. Alaudi o envolveu, passando suas pernas pela cintura e garantindo que fosse penetrado completamente. O ranger da cama era omitido pelos gemidos que ecoavam alto pelo quarto. Os sons do ato o faziam imaginar o quão indecente ele estava se comportando naquela noite e em como aquele homem era capaz de fazê-lo reagir tão honestamente. Seu orgasmo aconteceu primeiro, decorrente do atrito entre seu sexo e o abdômen do moreno. O clímax de Ivan veio em seguida e foi impossível não arrepiar-se com a sensação morna dentro dele. O quarto tornou-se silencioso e as respirações ofegantes foram abafadas pelo beijo.

Ivan deitou-se ao lado, puxando-o para aninhar-se em seus braços. O Inspetor virou-se sem esforço, apoiando a cabeça no braço do amante e sentindo uma felicidade inexplicável. Os dias longos e as noites solitárias haviam desaparecido, restando apenas a sensação de pleno contentamento, como se não houvesse outro lugar no mundo onde ele gostaria de estar além daquela cama.

Como de costume, o Chefe dos Cavallone perguntou como ele estava, querendo saber com detalhes sobre seu dia a dia. O relato sobre os herdeiros veio depois, e incluía o interesse de Francesco por Filosofia e Línguas, e Catarina entusiasmada com suas aulas de pintura. O moreno ouvia a tudo com um meio sorriso, acariciando o rosto de Alaudi, o que o deixava um pouco embaraçado por ser observado tão minuciosamente.

"Obrigado por cuidar deles mais uma vez, eu sei que você já tem o seu trabalho." Ivan sempre dizia as mesmas palavras quando retornava de uma viagem. "Eu senti sua falta todos os dias."

A confissão foi seguida por um gentil beijo em sua bochecha, que serviu para desarmá-lo completamente. O louro sentiu-se corar, sem saber o que deveria responder e chegando à conclusão de que jamais conseguiria transformar a saudade sentida em palavras. A reação, ou falta dela, pareceu ser suficiente para sua companhia, que abriu um largo sorriso antes de juntar os corpos.

"Eu tenho um recado de Giotto, mas falaremos disso amanhã."

"Eu não quero saber, não me conte nada relacionado àquela pessoa," os olhos azuis se tornaram pequeninos. Alaudi mal se lembrava da existência do Chefe dos Vongola.

O moreno riu e nada mais comentou sobre assunto nenhum que não estivesse nos limites daquela cama. Um novo beijo colocou fim à conversa e ele sabia que a noite estava longe de terminar. O relógio ficava do outro lado do quarto, mas foi fácil deduzir que fosse tarde o suficiente para impossibilitá-lo de acordar de madrugada para ir a Roma. O Alaudi do passado jamais se permitiria chegar atraso à sede de polícia, primando a excelência no trabalho acima de qualquer coisa. Contudo, aquela pessoa havia mudado. O ele de agora continuava a realizar seu trabalho com dedicação, mas sua prioridade era sua família.

Havia um homem maravilhoso em sua cama e que lhe dera dois filhos incríveis, o que mais poderia ele desejar?

x

Os herdeiros já tomavam café quando Ivan e Alaudi desceram. O céu estava nublado e a temperatura baixa o fez pegar um dos casacos do guarda-roupa. Francesco ergueu uma sobrancelha, mas Catarina não conseguiu esconder a curiosidade por vê-lo no café da manhã. Normalmente, quando visitava a mansão durante a semana, o louro ia embora antes que os filhos acordassem para conseguir chegar a tempo ao trabalho. A surpresa por ver Ivan, porém, foi muito maior, e a garotinha esboçou um largo sorriso ao desejar bom dia.

As crianças vestiam o uniforme da escola e se aquele detalhe não fosse o bastante pra lembrá-los de que não poderiam demorar muito durante a primeira refeição do dia, a presença de Giuseppe na entrada tornou-se impossível de não ser notada. Francesco praticamente engoliu seu pão doce e deu um longo gole em sua xícara de leite. Catarina parecia menos afetada, mas era visível que os dois comeram mais rápido do que os preguiçosos cafés da manhã tomados aos finais de semana.

"É uma pena que você tenha que trabalhar hoje, Alaudi," a pequena colocou uma uva na boca, "eu adoraria que você nos levasse à escola."

O comentário poderia soar trivial para a maioria dos pais, mas não para ele.

A mesa ficou silenciosa e, ainda que a ruiva não esperasse por uma resposta, foi impossível para Alaudi ignorar o modo como pai e filho o encararam. Ivan foi o primeiro a tentar mudar o assunto, limpando a garganta e pedindo que trouxessem mais geleia. Francesco foi menos sutil, provavelmente chutando a irmã por baixo da mesa, pois Catarina reclamou e abaixou-se para acariciar a canela.

"Você sabe que Alaudi não pode ir, Catarina, você está sendo insensível." O rapaz corou, sem coragem de encará-lo diretamente.

"D-Desculpe." A garotinha juntou as sobrancelhas e inflou as bochechas, colocando várias uvas na boca para tentar apaziguar a dor.

O louro abaixou os olhos, encarando o fundo de sua xícara de café e lembrando-se de todas as incontáveis vezes que ele gostaria de tê-los acompanhado até a escola, ou a uma peça de teatro, ou a um simples passeio pela cidade. Todas as suas fantasias familiares se desfaziam ao se lembrar da realidade e do gigantesco abismo entre o querer e o poder. Alaudi era o Inspetor de polícia da principal corregedoria da Itália; Ivan era o Chefe de uma das mais poderosas Famílias mafiosas, o que tornava aquela relação impossível desde o começo. Se o sexo de ambos já não fosse empecilho, o amor que sentiam nunca seria benquisto pelos outros. Por essa razão, sua posição como pai sempre seria inferior e ele sabia que jamais poderia fazer passeios familiares ou piqueniques com seus filhos.

"Um dia eu espero poder acompanhá-la até a escola, Catarina." A resposta veio quando nenhum deles esperava, nem mesmo Alaudi. Ele apenas sentia que sua filha deveria saber.

"Eu adoraria!"

Catarina sorriu radiante, retirando-se da mesa e avisando que estava pronta. Francesco revirou os olhos, levantando-se em seguida e pedindo licença antes de se retirar. O moreno soltou um longo suspiro, segurando sua mão por baixo da mesa e sorrindo com consideração. Alaudi não deixou que aquilo atrapalhasse seu humor, passando o restante da refeição de mãos dadas e desejando que o dia em que pudesse acompanhar Catarina em todos os lugares chegasse logo.

"Você poderia ficar um pouco mais..."

"Um de nós precisa trabalhar ou Francesco e Catarina terão um mau exemplo."

"Eu estava trabalhando, mas tenho o resto da semana livre..." O Chefe dos Cavallone inclinou-se um pouco mais, apoiando os cotovelos na janela do carro. "O que acha de jantarmos juntos esta noite? Eu lhe busco na sede de polícia, vamos para sua casa, eu cozinharei e..."

"Hoje é impossível, talvez amanhã." Ele foi mais rápido. Se permitisse, Ivan acabaria convencendo-o sem o menor esforço e ter aquele homem em sua cozinha e consequentemente em sua cama era tentador.

"Amanhã, então."

O moreno sorriu e desencostou-se do carro. O motor roncou e o louro acenou antes de cruzar o chafariz na direção do caminho que levaria à entrada da mansão. A grande casa ficava na parte alta e o restante do caminho de pedra batida até o portão principal era quase uma longa e distante descida. A figura de Ivan tornou-se pequenina até desaparecer pelo retrovisor, deixando-o sozinho, com exceção do envelope no banco do passageiro e que deveria ser entregue a Giulio.

Alaudi estava acostumado a fazer aquele trajeto, mas naquele dia a viagem foi um pouco triste. As palavras de Catarina ressoavam em seus ouvidos, lembrando-o de que sua felicidade, embora parecesse completa quando estavam todos juntos, estava longe de ser absoluta. Ele se perguntou se a pequena não estaria se sentindo solitária ou negligenciada e decidiu que na próxima vez que se encontrasse com Ivan mencionaria o assunto.

O dia no trabalho foi arrastado, apesar de corrido. Giulio era a melhor das companhias em dias como aquele, assumindo as tarefas mais urgentes enquanto Alaudi lidava com as atribuições chatas de seu cargo como Inspetor-Chefe. O envelope de Catarina foi entregue após o almoço enquanto os dois degustavam uma fumegante xícara de café em sua sala. Giulio sorriu ao abri-lo, mostrando com orgulho uma miniatura da visão da janela da biblioteca da mansão, pintada minuciosamente e contendo até mesmo as flores que iluminavam a copa da larga árvore que ficava no jardim.

"Catarina tem talento. A melhor coisa que poderia ter acontecido foram essas aulas de pintura." Giulio disse com orgulho, como se ele mesmo fosse o professor.

"Ivan disse a mesma coisa," o louro não entendia muito de arte, mas achava fantástico que uma garotinha de dez anos pudesse pintar daquela forma, "Catarina se tornou menos impaciente depois que começou a ter essas aulas. Ela vive falando sobre o professor, embora eu não me lembre de seu nome."

"É alguém de muito talento," o Vice-Inspetor admirou mais uma vez o pedaço de papel antes de guardá-lo. "Vou emoldurá-lo como fiz com o anterior."

"Sua sala de estar será uma exposição privada dos trabalhos de Catarina." Alaudi sorriu com a ideia.

"Eu adoraria isso."

Giulio sorriu e o assunto não demorou a mudar para o trabalho. Havia muitas coisas a serem resolvidas e ele precisou esquecer parte de seus afazeres para se dedicar aos filhos durante a ausência de Ivan. Se seu trabalho oficial já não lhe roubasse todo o tempo, Giulio ainda mencionou que Giotto enviou seu Braço Direito naquela manhã e que o homem saiu irritado por não conseguir falar diretamente com ele. Quantas vezes precisarei dizer que não trabalho para aquela pessoa? Se G. aparecer aqui vou jogá-lo em uma cela!

O céu já estava escuro quando Alaudi deixou a sede de polícia, sendo o último a ir embora. O Vice-Inspetor apareceu na porta de sua sala no fim da tarde, questionando se havia algo que pudesse ajudar, mas sendo dispensado sem segundos pensamentos. Ele está cansado e merece ir para casa no horário. Na minha ausência, Giulio é quem assume meu serviço. O louro ainda passou algumas horas entre relatórios antes de vestir o sobretudo e ganhar a rua.

Eu não tenho vontade de cozinhar, então comprarei alguma coisa para o jantar. A lembrança do convite de Ivan ecoou em seus ouvidos e tê-lo em sua cozinha naquela noite parecia muito necessário.O restaurante escolhido foi simples e familiar, algumas quadras de sua casa, o que faria com que a comida não esfriasse quando ele chegasse.

A casa estava escura e do jeito que ele havia deixado na manhã do dia anterior. As luzes foram acessas, iluminando o local e permitindo que ele não tropeçasse na soleira. Em sua mão direita havia a sacola de papel contendo seu jantar, enquanto a esquerda segurava meia dúzia de cartas que haviam sido retiradas da caixinha que ficava próxima à calçada. Alaudi pendurou o sobretudo atrás da porta antes de seguir pelo corredor na direção da cozinha. O pacote foi colocado sobre a mesa e aos poucos ele se pôs a selecionar a correspondência.

Os dois primeiros envelopes eram mensagens do bairro, a terceira continha um belo, decorado e dourado "V" selado com vela e que fora reservada para ser queimada na lareira sem nem ao menos ser lida. A próxima despertou sua curiosidade, mas não tanto quanto a última. A caligrafia roubou sua atenção imediatamente e todo o resto desapareceu.

Alaudi leu as duas folhas de papel sem perceber que havia se sentado. A letra pequena e extremamente delicada não havia mudado, assim como a ternura com que aquela pessoa lhe tratava em todas as linhas, independente do tempo e da distância. "Meu querido, Alaudi..." foi lido várias vezes antes que seus olhos azuis pudessem percorrer o restante da carta. Se ele fechasse os olhos conseguiria ouvi-la chamar-lhe daquela forma tão doce e gentil. O conteúdo da carta, no entanto, precisaria ser digerido aos poucos e em mais de uma leitura. A única certeza, ao fechar a carta e pousá-la sobre a mesa com certa preocupação, foi que as coisas se tornariam um pouco mais complicadas.

Sua irmã estava a caminho da Itália.

Continua...