Disclaimer: Gundam Wing não me pertence. Eu escrevo com seus personagens por puro e mórbido prazer. Sem fins lucrativos.
N/A: Essa é a fic q eu fiz para o Natal de 2003... Mas, como o Webfanfics deu pau, não cheguei a fazer o epílogo. Então vou postar aqui também, pra que quem a acompanhou lá no WF possa ver a conclusão, e quem não chegou a ler antes possa fazê-lo agora... e.e'
N/A2: Yaoi. AU. 1x2. 3x4. Entre outros.
Agradecimentos: Rairaku, minha beta, que em verdade não betou todos os capítulos por causa do esquema que fiz na época – de postar um capítulo por dia até fechar no Natal. E a todos que já leram essa fic. n.n
Eu me levanto só na escuridão
O inverno de minha vida veio tão rápido
Recordações voltam para minha infância
A dias que ainda recordo...
Stratovarius – Forever
Fröhliche Weihnachten
Parte I
- Olhe para mim... Você pode me ouvir?
- Pare de importuná-lo...
- Olhe para mim...
xxXxx
Os flocos brancos pararam de cair naquele dia frio de inverno, os jardins cobertos por grossa camada de neve reluziam em triste aspecto enquanto diversas pessoas, devidamente agasalhadas, começavam a sair de suas casas deixando rastros por onde passavam.
- Parou de nevar! – exclamou em pé no sofá observando através das janelas da sala. – Okaa-san! - chamou entrando correndo na cozinha. – Okaa-san, posso sair agora?
Virando o pescoço, a mulher deparou-se com o rostinho ansioso da filha; os grandes olhos azuis brilhavam em expectativa e ela sorria animada.
- Claro, mas termine seu chocolate quente primeiro. – Observou a menina pegar o copo apressadamente, e então virou-se para o garoto sentado à mesa. – E você, vai com ela?
- Vou... – respondeu, admirando a rapidez dela em esvaziar o copo.
- Vamos! Vamos logo! – a pequena puxou-o pelo braço, dirigindo-se para a porta.
- Hilde, pra que a pressa?
- Cuidado, crianças! – a mãe ainda disse, vendo-os pegar os patins. Levantou-se e foi até a porta para dar uma última orientação. – Cuide da sua irmã!
- TÁ! – gritou, atravessando o jardim puxado pela garota.
- Quatre e Sally já devem estar no lago! – supôs Hilde, sorrindo e piscando para o garoto um pouco mais alto que ela. Ele sorriu em concordância.
xxXxx
- O que você quer neste Natal? – indagou com um sorriso amável.
- Nada... – ele murmurou em resposta.
- Como assim "nada"?
- Só o que eu queria é que papai estivesse aqui... E isso nunca mais vai acontecer...
Uma sombra de dor passou pelos olhos dela.
- Ah, querido... – mas precisava ser forte. – Não fique assim, mamãe está aqui com você...
xxXxx
- Hey! HILDE! – acenou, vendo-a deslizar pelo lago congelado, olhando para todos os lados.
- Ah, Sally! – acenou de volta. - Eles estão ali, nii-chan! – apontou, patinando na direção dos amigos.
- Oi, Heero! Oi, Hilde! – o menino loirinho cumprimentou.
- Hah, Quatre! – disse notando que os amigos não estavam sozinhos. – Quem são eles?
- Meu nome é Wufei! – apressou-se o chinesinho.
- Eu sou Hilde! Ah! Esse é o Heero, meu irmão! E vocês?
O garoto de olhos verdes apresentou-se como Trowa, a menina loira chamava Dorothy, e o menino com um rabo de cavalo que lhe chegava até metade das costas era Duo. Logo brincavam e conversavam como se houvessem se conhecido há muito tempo, na alegria simples da infância.
xxXxx
Um abraço consolador o envolveu docemente, podia sentir as lágrimas cristalinas caindo-lhe nos ombros, elas não eram estranhas ou sem motivo, lágrimas idênticas rolavam por suas faces também.
xxXxx
- Quantos anos vocês tem, Heero? – perguntou Duo curioso. Distraído, escorregou e caiu sentado no gelo. - Aaii, ai, ai!
O garotinho japonês piscou surpreso, os outros começaram a rir.
- Nhaa... Calem a boca! – tentou se levantar, desajeitado, e não obteve muito sucesso.
Heero estendeu-lhe as mãos, sorrindo Duo aceitou a ajuda e, ao ficar novamente em pé, deu-lhe um beijinho no rosto.
O menino de cabelos curtos olhou pra ele confuso e perguntou o motivo daquilo.
- Eu sempre agradeço assim, to acostumado desde... Desde muito tempo! – respondeu Duo, ainda sorrindo.
- Isso é verdade! – afirmou Sally. – Outro dia eu o ajudei na escola e ele também me deu um beijo! Aí, ficaram falando que a gente tava namorando, por que vocês não dizem isso deles também?
- Porque eles são meninos... E menino só namora menina... É... Não outro menino...! – explicou Wufei, se enrolando um pouco no raciocínio.
- Por quê? – Quatre indagou.
- Ah, não sei direito, mas sempre vi mulher namorar homem... E meu pai diz que é o certo!
- Mas tem homem que namora homem... – Dorothy lembrou.
- Hum... Ah, sei lá! – deu de ombros. – Não sei por que namorar essas meninas chatas, eu não vou fazer isso! – e continuou patinando.
- Vai sim, quando crescer, como todos os "adúlteros"!
- Adultos, Duo! Adultos! – corrigiu Sally, ignorava o sentido da palavra adúltero, mas sabia que não era o que o garoto estava tentando dizer. – Hahah.
- É, isso aí mesmo... Ah! Você ainda não me disse quantos anos vocês têm, Heero!
- Tenho oito, e ela seis. – respondeu apontando para si mesmo e em seguida para Hilde.
- Não! Eu tenho quase sete! – replicou emburrada, levantando as mãos dobrando três dedos e deixando os outros esticados.
- Hahah, eu já tenho sete! – Duo disse orgulhoso, patinando para perto do garoto de olhos azuis cobalto.
- Mas eu sou a mais velha! – Sally interrompeu. – Tenho dez anos!
Heero apontou duas crianças conversando e patinando até eles.
- Aí vem a Relena.
Duo olhou para ele interrogativamente.
- É aquela ali... – Heero continuou - Com cabelos até os ombros.
- É minha prima. – Dorothy informou.
- Ela é muito chata... – Wufei fez uma careta. - Todas as meninas são chatas!
- Mentira, os meninos que são chatos! – gritou Hilde e uma pequena discussão começou.
- OOOOLÁÁÁÁ! – chegou Relena, um 'olá' coletivo ecoou. – Olhem! Olhem! Ganhei patins novos! Lindos, né? – Ninguém respondeu, mas ela não se abalou e continuou falando animada: – Tava pensando nos presentes de Natal! Vocês já sabem o que vão pedir pro Papai Noel?
- Não... – fizeram Hilde e Quatre pensativos.
- Que bobagem. Papai Noel não existe. – declarou o pequeno Heero, convicto.
O espanto e a descrença se estamparam em quase todos os rostinhos, com exceção de Trowa, Sally e Duo.
- Existe sim! – os outros exclamaram, meio incertos.
- É claro que ele existe! Ele dá presentes pra gente todo Natal, é só se comportar bem no ano todo! – irritou-se Relena.
- Não existe. – Trowa concordou com Heero, mesmo vendo o garotinho loiro começar a soluçar.
- Minha mamãe disse... – começou Duo, franzindo as sobrancelhas tentando se lembrar direito como eram as palavras. – ...que não existe mesmo, contam isso pras crianças mas é só folclore. E ela não acha muito certo porque... Ah, porque as pessoas falam em Papai Noel e dão presentes umas pra outras, mas o Natal é o aniversário do filho de Deus, e o povo não dá a atenção que ele merece... Algo assim... – concluiu pensativo, revirando os olhinhos de cor rara, violeta.
xxXxx
- Ah... Eu... – sentia-se assustado com tudo, havia sido tão rápido. Mas estava mais preocupado com ele.
- ...Duo... Deus existe mesmo? ...Então por que isso está acontecendo?
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Alguns ficaram ainda desconfiados, outros curiosos, e os que já sabiam balançaram a cabeça concordando.
- Não, não, não! – Relena exclamou, mais nervosa. – Eu vou perguntar pro meu irmão! – e saiu patinando com os olhos marejados.
- Me espera! – pediu Dorothy patinando atrás dela.
- Nah, como ela é chata e barulhenta! – Duo agitou os braços. – Com Papai Noel ou sem, a gente sempre ganha presentes mesmo! – ele riu e puxou Heero com um dos braços e Wufei com o outro.
Vários risos animados ecoaram entre as pessoas que patinavam no lago congelado, distraindo-se, aquelas crianças se divertiam passando por elas, haviam se conhecido brincando naqueles dias frios, poucos dias antes da tão falada data, e nem imaginavam como deixariam ou continuariam fazendo parte da vida umas das outras.
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- Ei... eu ainda estou aqui! Com você!
- A única pessoa que já me disse isso antes, está morta agora...
Vagamente começou a sentir o ar frio no rosto, as cobertas aquecendo o corpo, o contato da pele macia de um braço sobre seu abdômen e uma perna ousada entre as suas, percebeu um agradável aroma de jasmins, o ruído da neve batendo na janela... Abriu os olhos, piscou e adaptou as esferas azuis cobalto à pouca escuridão do quarto. Acordado. Havia acordado. Mas a sensação atordoante e agitada dos sonhos, entremeados a pesadelos, ainda permanecia.
- Hmm... – o murmúrio veio de baixo das cobertas. – Acordou, Heero? – Moveu a mão sobre o tórax dele e descobriu a cabeça para ver-lhe a face. – Você parece tenso ultimamente...
- Hn. – O rapaz afastou-lhe os fios longos que caiam desalinhados sobre o rosto e o peito, mas não se prendeu aos olhos que o questionavam.
- O ano está acabando... É isso...?
Semicerrando os olhos ele falou numa voz muito baixa e fria:
- Prefiro não falar nessas coisas, Dorothy.
xxXxx
- Você pode me ouvir...?
xxXxx
O dia mal começara, e todos na cidade já estavam empenhados em enfeitar suas casas e lojas para as festividades de fim do ano. "Estupidez." Ele pensou caminhando pelas ruas frias.
Lembrou-se do sonho que tivera, sua infância com seus amigos em um dia de fim de ano também. Vira a si mesmo patinando em um lago congelado com outras crianças, discutindo sobre a suposta existência do Papai Noel.
"Ei... Eu ainda estou aqui! Com você!"
A frase passou-lhe pela mente, lembrando-o que não estivera apenas sonhando. Como uma lâmina, pesadelos cortaram seu sonho, não faziam muito sentido, mas sabia que tinham haver com o que acontecera depois do acidente.
Agitou a cabeça afastando as lembranças, deslizando uma das mãos pelos cabelos desgrenhados.
- Heero! – uma voz feminina o chamou.
Levantou o olhar e viu, mais à frente, uma jovem parada perto de uma lanchonete sorrindo.
- Bom dia! Faz dias que não te vejo, aonde vai?
- Só estou dando uma volta, Catherine. – Respondeu sério, aproximando-se dela.
- Ah... – o sorriso dela se ampliou. – Não tive tempo de tomar café em casa, quer entrar comigo? – notou ele dar de ombros e a seguir. – O que vai fazer nessas férias?
- Nada.
- Eu também acho que não vou fazer nada, meu irmão viajou com Quatre para Paris! Estou só aqui. – Riu, escolhendo o suco que iria pedir.
- Trowa já havia me dito isso.
Catherine terminou de fazer seu pedido e tornou a falar.
- Mesmo? Achei que não, quase ninguém sabe que eles estão namorando! Surpreendente, não?
- Hn. – Limitou-se a fazer, dizendo em seguida que não pediria nada.
- E você? Ainda está com a Dorothy? – perguntou, um pouco ansiosa.
Heero inclinou a cabeça em afirmativa.
Catherine piscou surpresa e se sentiu decepcionada.
- Estão namorando?
- Não. – retorquiu secamente e ela quase se arrependeu por perguntar.
- Ah, achei que estavam, vocês estão saindo faz tempo, né? Você não costumava sair com uma garota por muito tempo, por isso pensei que se gostavam... – disse, desviando o olhar dele e sorvendo um pouco do suco.
- É só sexo. – Heero falou simplesmente, ignorando a garota, que engasgou e começou a tossir. – Não saio com alguém com intenções sentimentais.
Catherine o fitou, pasma. Não pela ultima afirmação, afinal aquilo ela já sabia.
- E ela sabe disso? – Heero afirmou balançando a cabeça. – Hmm... Se é só por isso, por que só fica com ela ao invés de sair com várias garotas? – inquiriu voltando a sorrir.
- Saio com outras garotas também. Quando não estou com ninguém fico com ela de novo. Não temos um relacionamento, Dorothy não reclama. – Heero respondeu em seu tom frio, desprezando a situação.
- Então... – fez ela, tocando-lhe o rosto com as mãos. – Ninguém vai reclamar disso, né? – perguntou maliciosa e o beijou.
Heero não protestou. Não lhe importava que fosse Catherine, Dorothy ou qualquer outra. Não procurava uma pessoa para amar ou algo assim, eram apenas distrações.
Continua...
