DISCLAIMER: os personagens aqui citados não me pertencem. A história é uma adaptação livre do romance '... e o vento levou', de Margaret Mitchell, para o mundo de Harry Potter.
CAPÍTULO I
Bellatrix Black não era bonita; os homens, porém, só a notavam quando já subjugados pelo seu encanto, como era o caso de Lucius Malfoy. Em sua jovem face de dezesseis anos, as delicadas feições de sua mãe, uma aristocrata de origem francesa, e os traços exageradamente marcados do pai, um respeitado membro da Muy Antiga e Nobre Casa dos Black, se confundiam sem harmonia. Mas era deveras interessante, com seu rosto um tanto quadrado; olhos castanho-escuros orlados de sedosas pestanas negras, de pontas levemente arqueadas; sobrancelhas espessas e escuras, um tanto oblíquas, que se destacavam na pele alvíssima como a de todas as mulheres Black de nascimento, pele esta a qual cada uma dava grande importância e preservava, cuidadosamente, dos mínimos raios de sol.
À sombra fresca da varanda da casa de verão da família, Bellatrix e o herdeiro dos Malfoy – família de grande influência no mundo bruxo, mas a qual todos os Black desprezavam internamente devido aos negócios escusos, que eles sequer tinham a decência de tentar esconder, com os trouxas – formavam um belo quadro. A despeito do vestido comportado, embora generoso em revelar suas formas recém-adquiridas de mulher, dos cabelos presos em uma longa trança negra que lhe descia pelas costas e das pequeninas mãos brancas cruzadas sobre o colo, sua verdadeira personalidade se retraía. Aqueles olhos negros, apesar da meiguice que o rosto aparentava, eram travessos, voluntariosos e petulantes, em completo desacordo com a atitude ingênua de sua dona. Suas recatadas maneiras lhe haviam sido impostas pelas severas repreensões maternas; seus olhos, porém, lhe pertenciam.
Ao seu lado, Lucius estava recostado em uma espreguiçadeira, rindo jovialmente, enviesando os olhos para o sol morno do verão da costa do mediterrâneo, com as pernas cruzadas negligentemente, mostrando a dureza de seus jovens músculos. Dezenove anos de idade, ossatura alongada e músculos rígidos, a pele tão clara quanto a da própria Bellatrix, cabelos louro-pálidos, olhar gaiato e arrogante, trajando vestes bem cortadas, de um tecido obviamente rico e caro, Malfoy era obviamente um partido que muitas das bruxas que Bellatrix conhecia morreriam para fisgar.
Embora nascidos em berço de ouro, atendidos desde a infância por numerosos elfos domésticos, em nenhuma das duas fisionomias se lia moleza ou suavidade. Possuíam tanta segurança de si e de sua importância que não viam necessidade de se preocupar com as coisas enfadonhas que os livros contêm, além da vivacidade e do vigor das pessoas em cujas veias corre um sangue tão antigo que lhes é impossível conhecer as origens. E era exatamente por isso que Lucius encontrava-se na varanda da Mansão naquela tarde. Acabava de regressar de uma reunião em que os jovens de sague-puro das famílias influentes de toda a Europa haviam discutido a necessidade de isolar seu mundo e sua magia dos inconvenientes sangues-ruins, mestiços e traidores do sangue que se proliferavam assustadoramente entre eles; na última noite do encontro, embrigados de vinho, de juventude e de poder, haviam chegado à conclusão de que haveria guerra, e que eles matariam cada bruxo impuro que ousasse permanecer em seu sagrado mundo, se necessário.
- A guerra vai começar quando menos esperarmos, e você sabe que sua família é diretamente interessada nela, minha cara. Eu tinha que vir o mais rápido possível para falar com seu pai sobre o que foi dito na reunião.
- Você bem sabe que não vai haver guerra nenhuma – disse Bellatrix enervada. – Tudo não passa de conversa fiada. Meu tio Orion disse ainda a pouco para meu pai que logo os sangue-puros tomarão conta do Ministério e não seremos mais obrigados a conviver com a escória. Em todo caso, os sangue-ruins temem demais a nós para combater. Não vai haver guerra nenhuma, e eu já estou farta de ouvir falar nisso.
- Não vai haver guerra? Bella, não seja ingênua – gemeu Lucius. Os sangue-ruins podem estar amedrontados, mas agora que o Lord das Trevas surgiu disposto a livrar o nosso mundo deles, eles precisam combater, ou serão mortos. Porque a Confederação dos Bruxos da...
Bellatrix deu um muxoxo de impaciência.
- Se você falar em guerra mais uma vez, eu entro em casa e fecho a porta. Nunca tive tanto aborrecimento por uma palavra em minha vida como em 'guerra', a não ser com 'trouxas'. Papai só fala em guerra, em Hogwarts só se fala em guerra, e até você agora deu para isso. Se falar de novo nesse assunto, eu me retiro.
E Bellatrix faria isso, pois nunca pôde suportar por muito tempo a mesma conversa – seu espírito era inquieto e livre demais para se prender a um único assunto. Porém, sorria ao falar, acentuando propositalmente as covinhas do rosto. Lucius, enfeitiçado como ela pretendia que ficasse, apressou-se em pedir desculpas por havê-la aborrecido.
Tendo conseguido afastar o assunto desagradável, Bellatrix procurou introduzir um de seu interesse.
- Tomara que não chova amanhã! Não há nada pior do que um baile onde todos temos que ficar confinados entre quatro paredes, sem poder passear pelos jardins e respirar o ar fresco da noite.
Dentro da casa, a voz suave da mãe de Bellatrix, Druella Black, chamava o elfo encarregado de colocar a mesa do jantar. A voz estridente e infantil do pequeno ser respondeu "Já vou, madame", e seguiu-se o rumor de passos vindos do fundo, em direção à sala onde Druella esperava para supervisionar a colocação das louças, dos talheres de prata e das taças de cristal. Lucius percebeu que já era tempo de se retirar, mas a esperança de ser convidado para jantar com os Black fez com que ele se demorasse um pouco, no vestíbulo.
- A propósito, Bella – disse Lucius, galanteador -, não é certo que amanhã, só porque estive fora e não sabia que haveria o baile, eu não possa dançar. Por acaso todas as suas valsas já estão prometidas?
- Naturalmente! Como eu adivinharia que você voltaria a tempo do baile? Não me arriscaria a ficar sem dançar a noite toda, para esperar por você.
- Você? Sem par? – e Lucius soltou uma gostosa gargalhada. – Escute, querida. Você tem que me dar a primeira e a última dança. Depois nos sentaremos nas escadarias e pediremos para que aquela velhas elfa louca que seu primo Sirius insiste em manter na mansão leia nossa sorte. Vamos, se você me prometer, conto um segredo.
Ela riu alto.
- Seu chantagista. Eu prometo. Agora me conte, o que é? – interpelou Bellatrix, com curiosidade infantil.
- Sua tia Walburga me confidenciou que amanhã, durante o baile, será anunciado um noivado!
- Isso eu sei – disse Bellatrix, desapontada. – Você e Narcisa estão comprometidos desde que eram crianças; têm que se casar um dia, mesmo que você não pareça se importar muito com a minha irmãzinha.
- Acha mesmo que eu não me importo com ela, só porque gosto mais de você?
- Eu não posso impedir que você ande atrás de mim – disse Bellatrix, encolhendo os ombros com pouco caso –, mas às vezes acho que você não passa de um grande idiota.
- Mas não é sobre o meu noivado que a velha Walburga me falou. Narcisa ainda tem 15 anos, precisamos esperar ao menos que ela termine a escola antes de nos casarmos – disse Lucius, solene. – O noivado que vai ser anunciado amanhã é o de Sirius Black com sua irmã, Andrômeda.
O rosto de Bellatrix não se alterou, porém seus lábios se tornaram lívidos como os de alguém que, sem esperar, recebesse um choque tremendo, e no primeiro momento não se dá conta do que lhe aconteceu. Sua fisionomia ficou de tal modo parada ao erguer os olhos para Lucius, que o rapaz, não muito perspicaz, pensou que ela estava um pouco surpresa com a novidade.
- Tolices, Lucius. Sirius é nosso primo, meu e de Andrômeda. Impossível que eles se casem.
- Você sabe muito bem que os Black são famosos por se casarem com seus primos, sua tolinha. Você só escapou dessa porque não tem nenhum primo com idade para se casar com você. Mas então, minha cara, terei todas as suas valsas?
- Todas – respondeu com calma a moça, ainda com os olhos fixos num ponto do horizonte.
- Você é um amor. Aposto que todos os rapazes da festa ficarão loucos de raiva. Mas claro que eu devo dançar também com Narcisa, afinal, ela é a minha noiva – e, dando um beijo delicado em cada uma das faces frias de Bellatrix, Lucius desaparatou.
N/A: queridos, depois de alguns pedidos, estou voltando a publicar O Que o Vento Não Leva. Apaguei os capítulos anteriores porque tinham alguns erros de continuidade, mas a história é a mesma. Espero que vocês gostem!
Beijos,
Lily.
