Nome da Fic: O Sinistro
Beta-readers: FerPorcel / BastetAzazis
Personagens: Sirius Black/ Personagem Original.
Censura: M
Gênero: Drama.
Spoilers: quarto e quinto livro.
Resumo: Um pedido, uma antiga paixão... Será que isso salvará Sirius?
Agradecimentos: às minhas betas, FerPorcel e BatestAzazis, pelo carinho e por ter arrumado um tempinho para mim.
Disclaimer: Harry Potter e seus personagens são de propriedade de J.K. Rowling, Warner Bros, Scholastic e Bloomsbury, entre outros. Ou seja, quase
todo mundo menos eu.
Nota: Esta fic é um presente de aniversário para uma amiga, e uma pessoa maravilhosa, Carla BastetAzazis. Feliz aniversário, florzinha! Te adoro!
O Sinistro
CAPÍTULO I
Era uma noite fria de inverno, e nas calçadas algumas poças ocasionais se formaram por conta de um dia inteiro de chuva, que agora caía fina. As pessoas passavam apressadamente querendo, com certeza, chegar ao calor de suas casas calefatadas. Conforme a noite se tornava mais densa, quase já não se via passar mais ninguém ao longo da Bond Street. Apenas alguns mendigos fuçavam os latões de lixo em um beco próximo e depois se refugiavam em uma fogueira acesa com o que recolhiam.
O silêncio da rua era quebrado apenas pelo burburinho vindo de um pub localizado a duas quadras dali. Aparentemente, o lugar servia de ponto de encontro para os tipos mais estranhos de pessoas; não era, obviamente, o ambiente escolhido pela burguesia londrina. Um casal com estranhos penteados e capas esvoaçantes acabara de entrar no pub vindo da rua principal. Lá dentro, o clima não era muito diferente do que aparentava por fora. Havia um balcão de madeira já desgastado pelo tempo, onde um barman atendia os clientes que se debruçavam aos esbarrões. Espalhadas pelo restante do estabelecimento, várias mesinhas da mesma madeira, sendo que todas estavam ocupadas, e que compunham, juntamente com o balcão, o quadro do estabelecimento.
Sentada sozinha num canto estava uma moça com cabelos castanhos claros longos que caíam sobre seus ombros, sua pele era clara e seus olhos de um castanho escuro intenso. Trajava um sobretudo de lã escura que cobria praticamente todo o corpo, porém deixava bem contornada sua silhueta feminina. A cabeça estava apoiada em uma das mãos longas e bem feitas, na outra havia um copo com uma dose de bebida que, pela coloração, poderia se tratar de um uísque. O rosto virado para a vidraça ao seu lado, e o olhar perdido nas formas que tentava identificar através dos vidros embaçados.
Sorveu de uma só vez o restante do líquido enquanto virava seu rosto para dentro do recinto. Analisou as pessoas que estavam ali e procurou, levantando de leve a cabeça, pelo barman. O pobre rapaz estava se desdobrando em três, mas a um aceno dela, deu meia volta e veio em sua direção, deixando vários pares de mãos se balançando no balcão. Ela havia abaixado seu rosto novamente, os longos cabelos castanhos impediam agora que se admirassem suas belas feições, e vasculhava a bolsa procurando por algo enquanto ele se aproximava enxugando as mãos num avental de aparência duvidosa. O rapaz parou ao lado dela; ela ergueu rosto, e seus olhos castanhos, emoldurados por longos cílios que lhe davam um aspecto desafiador, pousaram sobre ele. Ela lhe deu um sorriso cínico e ergueu a mão na direção dele, com uma nota nela. O rapaz retribui-lhe o sorriso desconcertadamente e falou:
– Obrigada, Srta. Bastet. – E retirou a nota da mão dela. – Não deseja outra dose?
– Não, Eddie. – Lançou seus braços ao ar como se espreguiçasse, voltando a sorrir para ele. – Hoje ainda é quinta, e amanhã tenho que estar cedo na empresa, mesmo sendo a dona. – E encarando-o, acrescentou: – Acho que estou ficando terrivelmente preguiçosa para a bebida, sabia? – E levantou-se pegando a bolsa.
– Sim, senhorita. – Ele assentiu sorrindo e saiu de volta para o balcão.
– Adeus, Ed – murmurou. – Até amanhã. – E foi em direção a porta do pub.
Carla Bastet era uma mulher realizada profissionalmente aos seus trinta e seis anos. Era bonita, charmosa, financeiramente independente e inteligente. Esse último ponto da sua personalidade consistia em um fascínio para os homens e um problema para ela – tornava-a extremamente exigente. Os últimos caras com que saíra não despertaram nela nenhum estímulo mental, e poucos duraram mais que uma noite.
O ar estava mais frio, Carla apertou o passo e fechou os dois botões da gola do sobretudo, não gostava de andar sozinha àquela hora.
Já havia doze anos que ela se mudara para Londres. Alugara um pequeno apartamento e decidira se afastar de certas lembranças. Havia ficado apenas com a indústria de química de seus avós, que possuía um luxuoso escritório na Liverpool Street. Sendo assim, algumas vezes na semana ela ia até o pub de aparência trouxa na Bond Street. Na verdade, freqüentava aquele lugar há mais de quinze anos, conhecia Eddie desde pequeno, quando o pai dele ainda era o barman, e muitas vezes o vira ajudá-lo a servir as mesas. As lembranças mais íntimas de sua vida estavam naquele lugar, esse talvez fosse o verdadeiro motivo dela nunca ter deixado de freqüentá-lo.
Seus olhos marejaram, ela dobrou mais uma esquina, faltava apenas alguns passos para chegar em casa, era no fim daquela rua. O vento frio batia no rosto jogando seu cabelo para trás, e a chuva havia parado. De repente, ela estacou, ouvindo um som atrás de si e, ao se virar, viu um enorme vulto preto. Sua respiração acelerou, seu coração também. Ela se controlou e, colocando as mãos nos bolsos do casaco, virou a esquina. Em um dos bolsos da capa, encontrou o que estava procurando e fechou seus dedos em torno de sua varinha.
A rua parecia que não chegava ao fim. Por sua vez, ela não ousou correr, poderia se tornar uma presa fácil. Olhou para trás, e o vulto havia desaparecido. Sentindo um alívio imediato, afrouxou os dedos que seguravam a varinha. Já podia ver as escadas da sua residência e diminuiu um pouco a marcha, dando um ritmo mais calmo à sua respiração. Só faltava transpor a calçada de um prédio e estaria em casa. Foi quando uma mão vinda da escuridão entre as duas fachadas laterais dos prédios ao seu lado a retirou da rua.
Carla não conseguia localizar novamente a sua varinha; as mãos agarravam-na pela cintura impedindo-a que olhasse para trás. Continuou apalpando os bolsos e sentiu algo sólido e comprido surgir do fundo de um deles. Nesse momento, foi colocada de costas para a parede. As mãos de seu agressor agora a prendiam pelos ombros, e ela tentou se libertar sem sucesso. Resolveu sacar a varinha, mas ele deve ter percebido sua intenção, pois, prendendo-a apenas com uma das mãos, retirou com a outra o que ela tinha no bolso. Carla sentiu a pressão em seus ombros diminuir e, em seguida, ouviu uma voz masculina. Uma voz que há doze anos ela guardava apenas na memória.
– Estava pensando em me azarar, Bastet?
Com a própria varinha apontada para ela e emitindo um pequeno facho de luz, ela pode ver o rosto dele. Apesar dos cabelos desalinhados e a barba por fazer, Carla reconheceria aquele rosto em qualquer lugar. Magro, abatido e cansado, ali à sua frente, estava o motivo dela ter deixado o seu mundo. Ali estava Sirius Black.
Carla o encarou e, mantendo seu autocontrole, disse:
– O que está fazendo fora de Azkaban, Black? – sua voz soou sarcástica. – Deram-lhe uma condicional ou você fugiu?
– Sabe, preferia quando você me chamava de Sirius – ele retribui-lhe no mesmo tom. – E não, não ganhei uma condicional. Eles não são tão indulgentes por lá.
– O que quer de mim? Que eu o esconda, já que é um fugitivo? – E o encarou.
– Não. – Ele baixou a varinha. – Apenas quis ver você.
– Bom, se era só isso, já me viu então – disse virando-se para sair. – Agora, se não importa, pode me soltar e devolver minha varinha? – Sua voz era seca.
– Pensei que sentisse saudades dos velhos tempos... – Sorriu maliciosamente para ela e, soltando-a, entregou a varinha.
– Como você disse acertadamente, são velhos tempos. – Tirou rispidamente a varinha das mãos dele. – Você acha que eu tenho boas lembranças?
– Eu tenho. – Ele passou a mão nos cabelos dela, deixando a outra apoiada na parede, ao lado do seu ombro.
– Pare com isso, Sirius. – A voz dela estava mais suave. – Não quero mais problemas, fugi deles uma vez e não os quero de volta.
– Bastet, você é a única pessoa que sabe que sou inocente. – Ele não estava mais sorrindo. – E que acredita nisso. Preciso que me ajude.
– Como? – Ela fechou seus olhos e os abriu em seguida, fitando-o. – Não tenho mais contato com eles desde que você foi mandado para Azkaban e o Lorde sumiu. Eu deixei aquele mundo e não quero voltar, entendeu?
– Preciso encontrar Pedro Pettigrew, ambos sabemos que ele está vivo. – E passando a mãos pelos cabelos lisos como sempre fazia, completou: – Ele é meu passaporte para a liberdade, é o atestado vivo da minha inocência!
– Não sei onde ele está, Sirius. – Ela baixou seus olhos para o chão. – Como eu lhe disse, não tenho notícias do seu mundo. Não sabia nem que tinha fugido.
– Mas freqüenta o mesmo bar de doze anos atrás, não é mesmo, Bastet? – Ele a encarou. – Não soube da minha fuga por lá?
– Não. Não há tantos bruxos por lá nos últimos anos...
– Escute aqui, Bastet – e ele a segurou de novo pelos ombros, fazendo-a olhar para ele –, Voldemort vai voltar, e quando ele fizer isso, este lugar também não será seguro para você. Preciso provar minha inocência e ajudar o Harry.
– Isso não faz mais parte da minha vida. – As lágrimas escorreram pelo seu rosto.
– Vai fazer quando ele começar a caçá-la. – E, dizendo isso, enxugou as lágrimas dela com as pontas dos seus dedos e deixou que eles escorregassem até sua boca. – Você continua linda, tenho orgulho que Voldemort tenha perdido sua mais bela Comensal por minha causa.
O toque das mãos dele fez Carla estremecer. Ela fechou os olhos, as lágrimas escorreram ainda mais, e sentindo os dedos dele tocarem sua face novamente, seu coração acelerou. Ele deslizou-os por sobre seus lábios, sua respiração ficou ofegante, e então ela escorregou pela parede, desvencilhando-se dos braços dele. Black não opôs resistência. Ela se dirigiu para a rua iluminada e, parando ao final da ruela, virou-se de volta, dizendo:
– Vou pensar sobre o assunto. – E, sem fitá-lo, continuou: – Encontre-me quinta à noite no pub... Na mesa de sempre.
E virando a esquina, deixou Black na escuridão.
