Disclaimer: Essa história é uma adaptação do romance aí embaixo. Espero que gostem!!!!
P.S: Mesmo a história não sendo minha, o Sesshy ainda é meu tá? Eu só emprestei pra Rin pq gosto muito dela.
Título: Mamãe sem querer
Autor: Kate Walker
Título original: The unexpected child
Um bebê a caminho... Um casamento forçado
A oportunidade de ter uma noite com Sessoumaru Taisho era mais do que qualquer mulher podia desejar. E Rin Nakigawa não era exceção. Apaixonada por Sessoumaru desde a adolescência, não pôde mandá-lo embora quando ele bateu à sua porta. Mas não considerara as possíveis conseqüências...
Quando soube que Rin estava grávida, Sesshoumaru insistiu no casamento, apesar de ele ter certeza de que jamais poderia lhe dar amor. Porém, manter-se imune ao charme e à sedução de Rin estava ficando cada vez mais difícil!
CAPÍTULO I
Rin Nakigawa saía de casa quando o relógio da sala de jantar deu a badalada de meia hora. Atônita, percebeu que exatamente doze horas haviam se passado desde que abrira a mesma porta na noite anterior. Meio-dia e, mesmo assim, o impacto daquelas horas em sua vida era incomensurável. Nada jamais seria o mesmo.
Se tivesse atendido ao primeiro impulso e ignorado a campainha, aquela seria apenas mais uma segunda-feira e seus pensamentos estariam voltados para as semanas que viriam, com os preparativos para o Natal, as montagens teatrais infantis da época e as outras atividades da escola. Mas haviam tocado a campainha novamente, com mais insistência, e ela, percebendo tardiamente as luzes acesas e as cortinas abertas, não pudera fingir não estar em casa. Relutante, levantara-se.
- Quem é? — indagou, impaciente.
Abriu a porta e arrepiou-se com o ar frio da noite, apesar do suéter cor de vinho que usava com a calça legging preta. Uma rajada de vento mais forte jogou mechas de seu cabelo castanho-escuro contra o rosto em forma de coração.
- O que...
Interrompeu-se e arregalou os olhos castanhos quando a luz do corredor banhou a figura alta e masculina parada junto aos degraus.
- Oi, Rin
Apesar da familiaridade da voz, Rin precisou piscar várias vezes para convencer-se de que estava vendo com clareza.
- Sesshoumaru?
Foi só o que conseguiu pronunciar. Chocada, sentiu o cérebro anestesiado, incapaz de raciocinar. Dez anos antes, também abalara-se ao ver Sesshoumaru Taisho e, desde então, nunca fora capaz de racionalizar qualquer coisa relacionada a ele.
Sesshoumaru ainda tinha o poder de deixá-la emudecida. O impacto de sua presença masculina era letal a qualquer esperança de compostura. Mesmo vestido informalmente, como naquele momento, de calça jeans, camiseta branca e jaqueta de couro preta, com o cabelo cinza desarranjado devido ao vento, ele ainda exercia o magnetismo masculino que a deixava confusa e sem ação.
- Não vai dizer nada, Rin? — A voz fria vinha acompanhada de um tom sarcástico, do qual ela lembrava-se bem. — Não parece você. Lembro-me de que sempre tinha muitas opiniões e era entusiasmada em partilhar seus pontos de vista.
- Você me pegou de surpresa... Não esperava vê-lo aqui.
Era verdade. Já se convencerá, havia muito, de que Sessoumaru Taisho nunca seria parte de sua vida e, se uma parte mínima de seu coração ainda nutria a esperança tola de que pudesse ser diferente, a notícia que agitara a cidadezinha no mês anterior pusera uma pedra sobre o assunto.
- A que devo a honra da visita?
Sesshoumaru riu, matreiro, levemente envergonhado com o tom mal-humorado, deixando-a ainda mais vulnerável. Após acreditar que o perdera para sempre, Rin não conseguia suprimir a alegria por vê-lo ali. Mesmo assim, o realismo dizia-lhe que, se se expusesse novamente, se o deixasse entrar em sua vida mais uma vez, só se magoaria.
- Acreditaria se eu dissesse que estava só passando?
- De jeito nenhum.
Ainda sem saber como agir, Rin tentou endurecer o coração, sabendo de antemão que era uma tentativa vã. Mais um sorriso daqueles e estaria acabada.
- Você também não poderia estar passando pela rua Holme a caminho de algum lugar, pois trata-se de um beco sem saída, e quanto a...
- Está bem, confesso! Eu estava indo para a mansão me esconder quando lembrei-me de que minha mãe viajou e que não haveria ninguém em casa. A governanta está de folga também e pensei que seria uma boa oportunidade de visitar uma velha amiga.
- Velha amiga? — repetiu Rin, cética.
Então, Sesshoumaru moveu-se para mais perto da luz, realçando a palidez e o cansaço no rosto. Bem, talvez fosse o luar drenando toda sua cor.
- Não acha que está exagerando? — questionou ela. — A verdade é que minha mãe foi cozinheira de sua família por alguns anos e você, de vez em quando, dignava-se dirigir-me a palavra.
Oh, por que o tempo não lhe trouxera algum grau de objetividade? Por que o afastamento não colocara uma distância entre ela e esse homem, para que pudesse encará-lo com algum grau de confiança?
Com qualquer outra pessoa, podia comportar-se como a profissional madura de vinte e quatro anos que era. Mas Seshoumaru parecia capaz de apagar os anos com um olhar e reduzi-la à adolescente que o vira pela primeira vez aos onze anos. A situação era pior, pois agora sabia que os sonhos tolos daquela época eram apenas isso... fantasias, sem possibilidade de se concretizarem
- Você não costumava me visitar mesmo quando morava em Ellerby. Seria como a visita do senhor da mansão aos aldeões. Não imagino o que o traz aqui...
- Sabe que sempre odiei esse apelido! — ralhou Sesshoumaru, frio e inflexível. — Se não sou bem-vindo, ésó dizer.
Pierce já dava meia-volta. Era perfeitamente capaz de ir embora sem dizer mais nada, percebeu Rin. Estava pronto para sair de sua vida tão facilmente quanto entrara, sem dar maiores explicações. O bom senso dizia-lhe para deixá-lo ir, mas o coração protestou. Fazia quase três anos desde que o vira pela última vez. Se ele fosse embora, iria vê-lo novamente?
- Bem, já que está aqui, pelo menos posso oferecer-lhe um café! — apaziguou, abrindo completamente a porta. — Entre, antes que se congele, e...
Interrompeu-se ao fechar a porta e sentir o braço roçar contra o corpo musculoso. No corredor, ele parecera muito grande e forte, fazendo-a sentir-se menor do que seu um metro e sessenta e cinco de altura. O porte musculoso e elegante preenchia de tal forma o espaço exíguo que pensou estar encurralada por um felino, sem saber o que fazer, sem saber se seria atacada ou não.
- Vamos para a sala — convidou, sabendo que soava tão perturbada quanto se sentia. Não conseguia imaginar por que Pierce a procuraria após tanto tempo. — A lareira está acesa, você vai se aquecer logo.
Rin acendeu a iluminação principal, incomodada com as sombras lançadas pela luminária sobre a escrivaninha. A visão de Pierce banhado em luz fez com que recuasse um passo, assustada.
- O que houve com você? — indagou.
Ele estava horrível, com marcas de expressão ao redor da boca e dos olhos. A palidez indicava cansaço e deixava-o abatido. O efeito acentuava-se com a marca da barba por fazer.
- Estou um pouco cansado...
Sesshoumaru esfregou os olhos com as costas da mão, não antes que ela avistasse o brilho incomum, quase febril, nas profundezas cor de ouro.
- O trânsito estava terrível — prosseguiu ele. — Todo mundo parecia estar a caminho de algum lugar hoje.
- Todos querem chegar em casa no último minuto do feriado, acho... — opinou Rin. Tirando vantagem do pouco caso que ele fizera de sua preocupação, tentou parecer mais descontraída e relaxada do que se sentia. — Amanhã recomeçam as aulas.
- Sim, deve ser isso... Esqueci-me completamente. Ele focalizou a escrivaninha no canto e franziu o cenho. A pilha de papéis destacava-se sob a luz da luminária.
- Desculpe-me... você estava trabalhando e eu a interrompi.
- Em absoluto! Eu já tinha acabado.
Rin cruzou os dedos mentalmente contra a mentira. Seu instinto dizia-lhe que algo estava errado. Aquela história de "visitar uma velha amiga" não a convencera nem um pouco.
- Então... posso oferecer-lhe algo para beber? Um café?
- Prefiro algo mais forte, se tiver.
- Tenho xerez.
- Xerez está ótimo.
Ao servi-lo, Rin cogitou que talvez álcool não fosse o melhor para ele.
- Já jantou? — Essa era a pergunta que devia ter formulado antes de embebedá-lo, repreendeu-se.
- Não, mas almocei bem. Não queria parar para comer... Queria sair de Londres o mais rápido possível.
- É tão ruim por lá?
- Pode acreditar. — Sesshoumaru tomou um gole da bebida e ela ficou contente ao ver a cor retornando aos poucos a seu semblante. — Ultrapassei o limite de velocidade durante quase todo o percurso...
Aquilo indicava que tratava-se de algo mais do que uma simples visita ao lar. O carro de Sesshoumaru era mesmo muito veloz. Preocupada com os ladrões de carro, foi até a janela, afastou a cortina e olhou para a rua.
Sesshoumaru franziu os lábios.
- Não precisa se preocupar. — A ironia no tom atingiu-a de forma amarga. — Estacionei o carro a alguns quarteirões daqui. Ninguém vai ficar sabendo que a visitei.
- Não era com isso que estava preocupada — esclareceu Rin.
- Ah, não?
O tom dele era áspero, semelhante ao que usara na noite em que ela completara dezoito anos e ele destruíra todas as suas esperanças de que fossem mais do que conhecidos.
- Pelo visto, você é que tem uma reputação a perder — completou Sesshoumaru.
Se o comentário anterior a aborrecera, aquele a deixara boquiaberta e raivosa.
- E você? — rebateu Rin. — Não acha que pode arranhar suareputação ser visto visitando uma...
- Uma das serviçais mais inferiores das terras de minha família?
A descrição fria fez com que Rin recuasse um passo. Só vira Sesshoumaru naquele estado de humor uma vez e ficou tão assustada na ocasião quanto estava naquele instante.
- Pelo contrário, minha querida Rin. Achei que melhoraria minha reputação, se as pessoas soubessem que estou aqui...
Sesshoumaru mudara o tom novamente. Desta vez, as palavras saíram sensuais, turvando o raciocínio de Rin.
- E quanto aos "direitos de senhor feudal" que supostamente tenho... de me deitar com a noiva de meus súditos?
Natalie franziu o cenho à lembrança das palavras que ela lhe despejara num momento de raiva e mágoa, anos antes. Então, como agora, ele sorrira ao falar, mas sem afeto, o humor muito distante de qualquer coisa semelhante a divertimento, exceto nos comentários mais grosseiros e sombrios.
- Afinal, Ellerby mantém tantos costumes medievais... Não acha que o senhor do castelo devia ter o direito de experimentar as virgens do vilarejo?
- Sesshoumaru...
Ele não lhe dava ouvidos. Com um sorriso de tigre avaliando a presa, aproximou-se e acariciou-lhe o rosto, fazendo-a estremecer involuntariamente.
- Se conseguisse encontrar virgens, quero dizer — retificou. — São mesmo uma raridade hoje em dia. A maioria das moças modernas são tão experientes... tão seguras de si mesmas... tão... - Olhou fixamente para o rosto em forma de coração. — Mas não você, Rin...com esses grandes olhos inocentes e essa cara de anjo... — Acariciou-lhe o lábio com o polegar. — Você é tão diferente...
Rin tinha o coração aos pulos. Apesar de Sesshoumaru nem a estar tocando naquele momento, sentia-se incapaz de mover-se.
E sabia instintivamente que a situação era perigosa, que, permanecendo ali, imóvel, enfrentaria dor e destruição. Precisava fazer algo para reverter a situação.
Embora a razão reconhecesse o fato e enviasse instruções frenéticas para que colocasse seus músculos em ação, o medo parecia ser maior, mantendo-a no estado catatônico.
- Mas não gosto do jeito do seu cabelo — murmurou Sesshoumaru, gesticulando para o coque perfeito com ar de desgosto. — Está muito preso... muito certinho. Você parece uma professora.
- Eu souprofessora.
- Não agora... não a esta hora da noite. Está de folga, e assim...
Antes que Rin pudesse reagir, Sesshoumaru já retirara os grampos que prendiam seus cabelos. Ele sorriu satisfeito quando os cabelos se soltaram, adornando-lhe o rosto e o pescoço de forma selvagem.
- Assim está bem melhor — opinou ele, passando os dedos pelas mechas.
Deliciando-se, Rin emitiu um murmúrio abafado vagamente parecido com o nome dele.
- Estou com vontade de beijar você... — revelou Sesshoumaru.
- Não! — protestou Rin, temerosa em ouvir mais. A amarga ironia da situação estava no fato de que, anos antes, mesmo um ou dois meses antes, teria apreciado ouvir o que ele estava dizendo. Mas ele falava de forma tão sarcástica, com os olhos dourados tão frios, que não podia ter certeza de nada. Naquele momento, mesmo que ele estivesse dizendo a verdade, era tarde demais. Ele estava noivo de outra mulher e todos os elogios deveriam ir para a eleita.
- Sesshoumaru... — Tentava soar determinada, mas não se saía bem. — Falando assim, você pode ser mal interpretado.
- E como sabe o que eu quero ou não dizer? — ralhou ele. — Virou telepata? Pode ler a minha mente?
Rin lembrou-se amargamente da única vez em que Sesshoumaru a beijara. A imagem surgiu em meio ao transe que a mantinha imóvel, misturando-se à compreensão do quanto arriscava-se por não resistir e encerrar aquela cena ali mesmo.
- E o que sua noiva pensa sobre isso?
Rin questionara o mais fria e rude possível. Percebeu que as palavras haviam atingido o alvo, pela expressão derrotada de Sesshoumaru.
- Havia me esquecido de como as fofocas correm rápido no vilarejo — resmungou ele.
- O sistema de informação continua eficiente — confirmou Rin.
- Bem, é verdade. — O tom de Sesshoumaru era estranhamente indiferente. — Eu pedi Kagura em casamento há alguns meses e ela aceitou imediatamente.
Aposto que aceitou, pensou Rin, com ciúme. Nenhuma mulher com sangue nas veias declinaria um pedido de Sesshoumaru Taisho, mesmo que não houvesse a atração extra que era sua fortuna, a qual ele dobrara nos últimos dez anos como resultado de um negócio brilhante na área de informática.
- Então, o que está fazendo aqui? Por que não está com ela?
Por que invadira sua vida, abalando sua vidinha conformada?
- Porque ela está de férias... num cruzeiro pelo Mediterrâneo.
- Num cruzeiro?!
Atitude estranha para uma moça que acabara de ficar noiva. Se Sesshoumaru houvesse pedido a elaem casamento, ninguém conseguiria tirá-la de seu lado, a menos que fosse absolutamente necessário.
- Já estava combinado antes de ficarmos noivos. Ela foi com a prima.
Rin estava convencida de que algo estava errado, que ele batera em sua porta somente porque estava nos arredores, como dissera.
- Seshoumaru... Por que veioaqui esta noite? Ele encolheu os ombros, indiferente.
- Para ver um rosto amigo... para conversar.
- Sobre o quê?
Rin ficou preocupada com a mudança no olhar dele.
- Diga-me — insistiu. — Sobre o quequer conversar? Ele considerou a pergunta tenso, o olhar parado e distante. Então, finalmente, pareceu chegar a uma decisão.
- Sobre Kagura — desabafou, a voz rouca e rude. — Sobre a minha noiva... ou melhor, ex-noiva, já que ela me deu o fora.
Rin não acreditava no que estava ouvindo. Tinha entendido mal... Sesshoumaru devia estar falando de outra coisa.
- Kagura... ela... Mas eu não entendo.
- Minha noiva me deu o fora... terminou o nosso noivado. Para deixar bem claro, ela não quer mais se casar comigo — explicou Sesshoumaru, com paciência exagerada.
- Oh, não éisso! Eu entendo o que está dizendo... mas por quê?
Como podia uma mulher, em sã consciência, aceitar a proposta de Pierce e ser tola o suficiente para mudar de idéia?
- Ela conheceu outra pessoa. — Sesshoumaru franziu o cenho com a declaração amarga. — Alguém que conheceu no cruzeiro... ela o prefere.
- Oh, Sesshoumaru...
Impulsivamente, Rin aproximou-se para reconfortá-lo, mas estacou ao vê-lo enrijecer-se, o semblante fechado, alertando-a a ficar onde estava.
- E o café? — cobrou ele, a fim de quebrar a tensão.
- Oh, sim...
Rin sentiu-se grata por poder retirar-se à cozinha e esconder a dor que sabia estar estampada em seu olhar. Não havia como mascarar, pois, naquele momento simplesmente não tinha força para tanto. Sesshoumaru não queria sua solidariedade, sua preocupação. Se ele a tivesse esbofeteado, não teria deixado isso de forma mais clara ou menos dolorosa. Mas simplesmente não podia permitir...
Sesshoumaru estava à porta da cozinha.
- Você dever estar magoado... — analisou, sem querer.
Se quisesse fazer uma idéia de como ele se sentia, bastava pensar na dor que experimentara ao saber sobre o noivado dele. Saber que aquilo mais cedo ou mais tarde aconteceria não ajudara em nada.
- Meu ego ficou chocado, com certeza. — A risada de Sesshoumaru saiu áspera, sem sinal de humor. - E o meu orgulho.
- Quer conversar sobre isso? — Rin concentrava-se em encher a chaleira com água. — Quero dizer... talvez isso ajude...
- Não. — A declaração foi dura e inequívoca, sem chance de negociação. — Não quero falar sobre Kagura, ou sobre seus motivos, ou sobre meus sentimentos... Prefiro falar sobre você.
- Sobre mim?! — Rin pousou a chaleira com força no fogão, confusa. — Mas não acontece nada interessante em minha vida.
- Discordo. — Sesshoumaru sentou-se à mesa. — Por algum motivo, você não se parece em nada com a Rin de que me lembro... você mudou.
- Não é surpresa, considerando que faz três anos que me viu pela última vez. Seria muito estranho se eu não tivesse mudado de alguma forma. Eu cresci, Sesshoumaru... não sou mais uma garotinha.
- Com certeza, não — concordou ele. — Mas há algo além disso.
- Quer dizer, não sou mais a adolescente sem graça e magricela que se esgueirava pela cozinha da mansão? E que foi tola o suficiente para acreditar... sonhar... que o olhar ou a conversa ocasionais que recebia significavam mais do que um vago interesse pela filha de um dos empregados da casa?
- Ninguém pode mais descrevê-la como sem graça... você floresceu. Embora não se favoreça prendendo o cabelo naquele coque de solteirona.
- Eu souuma solteirona, Sesshoumaru.
Rin desabafara sem pensar e só tardiamente considerou as implicações da avaliação de Sesshoumaru sobre ela. O bom senso dizia-lhe para tomar muito cuidado.
Durante todos aqueles anos, teria dado tudo por uma palavra de aprovação, um elogio dele. Agora, quando ele parecia disposto a fazê-los com generosidade, simplesmente não sabia como lidar com aquilo. A dúvida sobre a motivação dele estava permanentemente em seus pensamentos, mantendo-a alerta. Afinal, ele dissera que queria conversar sobre o noivado desfeito, mas logo mudara de assunto.
- Tecnicamente, suponho que seja, mas não acho que o termo se aplique... não após três anos de faculdade.
- Sou uma moça antiquada. — Rin sentiu o rosto ruborizar.
O desdém na risada dele era perturbador.
- Não aquele tipo de antiquada, aposto! Não está tentando me dizer que não tem uma fila de candidatos à sua porta?
- Uma fila? Claro que não.
- Deve ter havido alguém. Não está me dizendo que passou três anos na faculdade e ninguém nunca namorou você? O que eles eram? Zumbis?
- Nada disso. — A risada de Rin saiu quase genuína, só levemente exagerada, para aliviar a tensão que pairava no ar. — Mas não houve ninguém especial.
Como poderia ter havido, quando o homem que ela mais amava na vida estava sentado à sua frente, tão próximo que bastava estender a mão para tocá-lo, para acariciar-lhe o rosto, para afastar-lhe a mecha de cabelo cinza sedoso que caía sobre a testa...
De repente, ciente de que Sesshoumaru a observava com atenção, forçou-se a voltar à realidade.
- Mas não está me dizendo que ninguém...
Rin despejou o café na xícara com ímpeto exagerado e pousou-a à frente dele, externando indignação a fim de mascarar o aperto que sentia no estômago.
- Por que insiste nesse assunto? Eu lhe disse que era uma moça antiquada.
- Estou apenas interessado... e isso não é apenas antiquado, mas puritano! — Sesshoumaru riu. — Está tentando me dizer que está esperando o homem ideal aparecer? — Mostrava-se incrédulo, o tom carregado de divertimento sarcástico.
Mas o que ele dissera estava perto demais da verdade. Rin percebeu que, em vez de rechaçar a indiscrição, estava atiçando as brasas com aquelas tentativas de mudar de assunto.
- Oh, tudo bem, houveum homem... Kohako. Nós éramos... muito amigos na época de faculdade.
Kohako não ia se importar em ter seu nome citado em vão. Ele quisera ser mais do que um amigo. Na verdade, partilharam noitadas muito agradáveis que, por ele, teriam terminado em vôos maiores. Para ela, porém, não passaram de noites divertidas na companhia de um homem atraente. Os beijos trocados não eram nada comparados às sensações perturbadoras que Sesshoumaru causava-lhe ao mais leve toque.
- Pensei que pudesse ter havido... vocês ainda se vêem? — especulou ele.
- Não. — Teria sido mais seguro fingir um envolvimento passional com Kohako, mas Rin simplesmente não conseguia mentir. — Quando saímos de Sheffield, ele arranjou um emprego em Edinburgh.
- É o caso de "longe dos olhos, longe do coração"?
- Acho que sim. Mantemos só uma correspondência...
- Bastante esporádica, pelo jeito — murmurou Sesshoumaru. — Falar desse Kohako definitivamente deixou-a irritada.
- Não, não deixou... você é que está me deixando.
- Eu?! — Sesshoumaru franziu o cenho, a xícara de café a meia altura, a expressão confusa e contida de tal forma que Rin quase acreditou que fosse genuína.
- Sim, você... está xeretando a minha vida particular. — O tom saiu rude, pois sabia que ele aproximara-se perigosamente da verdade. — Está fazendo muitas perguntas.
- O privilégio não é exclusivo — rebateu Sesshoumaru, surpreendendo-a. —Você pode perguntar também. Oh, vamos lá, Rin! — Riu quando ela pareceu cética. — Esta não é a garota que conheço e amo! Se bem me lembro, o problema costumava ser fazê-la parar de falar depois que começava.
- E eu posso perguntar qualquercoisa? — indagou Rin, só com um leve tremor na voz. A consciência dizia-lhe para ignorar o termo "que conheço e amo", ciente do cinismo implícito.
- Qualquer coisa, desde que razoável.
- Então, por que decidiu se casar?
A pergunta estava tão pronta em sua mente que saiu antes que considerasse se era sábio formulá-la. Pelo menos, teve presença de espírito para não acrescentar o nome que transformaria a pergunta em "por que decidiu se casar com Kagura?"
Mas avançara o sinal. Soube ao ver a expressão sombria de Sesshoumaru, os lábios e o maxilar muito tensos.
- Oh, perdão! Eu não devia...
- Você perguntou... eu vou responder. Afinal de contas... Após o acontecido, provavelmente é uma boa idéia dar uma olhada em meus motivos... ver como me meti nessa embrulhada.
Se ela lamentara a pergunta segundos antes, agora desejava ter perdido a língua... desejava fazer qualquer coisa para levá-lo para longe daquela linha de raciocínio sombria que só a fazia lamentar a perda do clima de camaradagem que haviam partilhado havia poucos instantes.
- Eu sempre quis me casar... — tartamudeou Sesshoumaru, concentrado.
- Pois sim!
Rin não pôde evitar desdenhar, lembrando-se da extensa lista de namoradas dele que atormentara sua adolescência.
- Oh, que raios, Rin! Não faça essa cara cética! Que mal há em se divertir um pouco até encontrar a pessoa certa... aquela com quem se quer sossegar?
- Nada... — resmungou Rin, incapaz de injetar entusiasmo à palavra, dolorosamente ciente de que Pierce acreditava ter encontrado a "pessoa certa" em Kagura. — Mas a sua lista sempre foi extensa demais! — acrescentou, na tentativa de esconder a dor que sentia.
- Nunca enganei ninguém, nunca deixei ninguém pensar que era sério quando não era. Todas as garotas com quem saí sempre souberam qual a sua posição... e que não haveria compromisso... apenas divertimento. Todas se divertiram e eu também... você sabe como é.
Rin murmurou qualquer coisa, numa vaga concordância. Gostaria de saber como era. Tentara sair apenas por divertimento, tanto no colégio quanto na faculdade, e apreciara a companhia dos homens com quem saíra... alguns mais do que outros... mas aquilo era tudo, e a verdade era que todos os encontros pareciam decepcionantes ultimamente.
- Tenho de admitir que relacionamentos sem compromisso são como águas passadas... — concluiu Sesshoumaru. — Não levam a nenhum lugar e são improdutivos. Temo ser uma pessoa de tudo ou nada.
E Sesshoumaru era tudo o que ela queria, mas não podia ter. Por isso, para que perder tempo?
- Você sempre foi séria demais para o seu próprio bem. Eu nunca quis nada disso... até meu pai morrer. — Sesshoumaru focalizou o café e franziu o cenho. — Então, tomei noção da minha própria mortalidade... Uma noção baseada no forte senso de responsabilidade.
- Responsabilidade?
- Como meu pai, eu sempre quis filhos, mas de repente dei-me conta de que a linhagem Taisho depende de mim. A mansão pertence a nossa família há séculos e sei que meu pai gostaria que continuasse assim... e eu também. Acho que isso parece feudal para você.
- Na verdade, não.
Rin escolheu as palavras com cuidado, dolorosamente ciente da indiferença no tom dele ao falar "sempre quis filhos". Ele queria uma família e, agora, por causa da decisão de Kagura, não podia realizar seu sonho. Ele parecia ter perdido os sonhos.
- Acho que eu, mais do que ninguém, posso entender como se sente — retrucou Rin. — Afinal, crescer sem um pai, sem saber quem ele era, sempre fez com que eu me sentisse incompleta de alguma forma... como se uma peça importante do meu quebra-cabeça pessoal estivesse faltando, uma peça que me permitiria ver o quadro completo.
- Sua mãe nunca lhe contou nada, nem no final?
- Ela não foi capaz de dizer nada. — Rin suspirou, revivendo momentaneamente a enfermidade da mãe, três anos antes, quando estava no último ano da faculdade. — Pelo menos, não conscientemente, embora, a certa altura, ela ficasse repetindo um nome sem parar... Suikotsu... acho que era isso. Eu quis acreditar que era o sobrenome de meu pai, e que, no fim da vida, ela o perdoou.
A ironia estava no fato de sua mãe, enquanto forte e saudável, ter-se empenhado em manter a ela e Sesshoumaru afastados, mas sua doença acabou aproximando-os, ainda que brevemente.
Se já não estivesse apaixonada por Sesshoumaru, Rin teria se apaixonado naquela manhã de março, quando ele surgira do nada dando-lhe a notícia do colapso de sua mãe, Hana Nakigawa. Se ele já não possuísse seu coração, ela o teria dado em agradecimento por sua delicadeza e consideração naquele momento difícil. Foi quando seu sentimento de garota amadureceu, tornando-se amor de mulher.
- Significa tanto para você?
- Isso me ajudaria a entender quem eu realmente sou... se entende o que quero dizer. Se soubesse quem é o meu pai, ainda que ele esteja morto, pelo menos teria o nome para colocar na minha certidão, no lugar do espaço em branco. Eu me conformaria melhor com o fato de não ter uma família. Então, percebe, sei o quão importante é o nome de sua família para você e o quanto você quer que a linhagem continue. E, claro, acho que sua mãe quer ter netos.
- Minha mãe... — Pierce fechou a expressão, os lábios torcidos. — Vai haver um pequeno escândalo aí... ela já tinha comprado um chapéu espetacular para a cerimônia.
O mau humor dele não convenceu. Natalie ainda estava bem ciente da amargura em seu coração.
- Ela não sabe?
- Ninguém sabe, exceto Kagura e eu... e agora você.
- Eu não vou contar a ninguém — adiantou Rin, e ficou surpresa com a reação dele.
- As pessoas terão que saber, mais cedo ou mais tarde. Bem... pode ser mais cedo.
Sua mãe não será a única a ficar decepcionada. Todo mundo na cidade estava aguardando o casamento...
- Ora, Rin! — O desabafo de Sesshoumaru foi acompanhado de um movimento violento e, num piscar de olhos, ele estava de pé, deixando-a apreensiva. — Meu casamento não foi planejado para agradar ao vilarejo! Tardiamente, Rin percebeu a grosseria do comentário. Sesshoumaru sempre detestara a forma quase possessiva com que os habitantes de Ellerby se referiam aos Taisho. A família ainda era vista como a nobreza local, suas vidas e atividades eram comentadas quase com tanto interesse quanto as da família real.
- Claro que não... Desculpe-me, eu não pensei.
Sesshoumaru percebeu como ela se retraíra, os olhos arregalados e obscurecidos.
- Oh, raios, Rin... desculpe-me. — Ele passou as duas mãos pelos cabelos cinzas, perturbando a maciez brilhante. — Eu não devia ter vindo... nunca devia ter me imposto a você desse jeito. Não sou companhia agradável para ninguém.
- Não é de surpreender, dadas as circunstâncias. — Rin sorriu franca. — E você não se impôs.
- De qualquer forma, preciso ir.
Ele olhou ao redor e tomou o rumo da porta.
- Sesshoumarue...
- Hum?
Ele fechou e abriu as pálpebras devagar, confirmando as suspeitas dela. Era um sinal mínimo, quase imperceptível, e só alguém tão sensível a tudo relacionado a ele teria captado.
- Quanto você jábebeu?
- O bastante para não me lembrar bem, mas não tanto a ponto de não saber que foram algumas...
Quando ele lhe deu as costas novamente, Rin agarrou-lhe o braço.
- Você já tinha bebido bastante antes de vir para cá, não é? Então, ofereci-lhe o xerez... Sesshoumaru, você não devia dirigir nesse estado!
- Minha querida Rin... minha pequena amiga sensata... como você émoralista e controlada a respeito de tudo!
Ele concentrou os olhos ouro nela com dificuldade, ergueu a mão e pousou-a gentilmente em seu rosto. Mas seu humor logo mudou novamente, rechaçando as reprimendas.
- Eu sei que não devia dirigir, mas não passei do limite e precisava conversar com alguém ou enlouquecia...
- Mesmo assim... — Rin esforçou-se para ignorar o próprio coração acelerado ao simples toque de Sesshoumaru. — Não pode dirigir mais esta noite.
- Eu preciso dirigir, doçura... a menos que você tenha alguma alternativa.
Doçura!Se ainda tinha dúvida da sobriedade dele, o termo dirimiu-a. Sesshoumaru nunca lhe dirigira uma palavra tão afetiva antes. A atitude estranha era mais reveladora do que tudo o que acontecera antes.
Só havia uma possibilidade.
- Você ficará aqui.
- Aqui?!
Ele ergueu as sobrancelhas com uma expressão exagerada de espanto e, logo, o bom humor voltou aos olhos dourados.
- É uma sugestão bastante imprópria, srta. Nakigawa —comentou, malicioso. — O que os vizinhos vão pensar?
- Eles não precisam saber de nada. — Rin recusou-se a entrar na brincadeira. — Afinal, você disse que estacionou longe daqui e, se for embora tarde amanhã, depois que todos tiverem saído para o trabalho... —Deteve-se quando Pierce balançou a cabeça, rejeitando a proposta.
- Melhor não... — decidiu ele. — Onde está minha jaqueta?
- Não, Sesshoumaru.
Ágil, Rin pegou a jaqueta de Sesshoumaru e guardou-a fora do alcance.
- Eu não vou permitir... você não está em condições de dirigir.
- Então, vou andando. — O tom dele era ameaçador, o olhar, cheio de raiva. Contrariava os argumentos com todos os sinais corporais possíveis. — Não posso ser acusado de andar bêbado!
- Está chovendo forte! Vai ficar ensopado!
- Eu não derreto, Rin. Não posso ficar... Não posso dividir a sua...
- Você não vai ter que dividirnada!
Rin sabia que não devia pensar nas declarações dele e concentrou-se em fazê-lo ver a razão. Não podia lidar com os sentimentos ambíguos que a assaltavam à possibilidade de ele estar acreditando que ela estava oferecendo-lhe um lugar em sua cama, com a possibilidade de ele ter entendido dessa forma. Na cabeça, podia ouvir a voz da mãe, censurando-a:
- Só há uma coisa que um homem como aquele quer com uma moça como você, e não preciso dizer-lhe o que é.
Naturalmente, não tinha dúvida do que se tratava, uma vez que era uma prova viva do que aquela "coisa" significava. A consciência do fato vinha acompanhada de dor ao entender que à conseqüência seguia-se invariavelmente o sumiço do responsável.
Mas a mãe enganara-se sobre Sesshoumaru, conforme viera a entender a duras penas. Eledeixara claro que não tinha interesse nenhum em seu corpo. Portanto, agora, Rin não hesitou em manter seu ponto de vista, suplantando a dor que a simples lembrança daquele evento passado causava.
- Esta não é a mansão, mas tenho um quarto de hóspedes.
- Mesmo assim...
Ele tomou a direção da porta, mas Rin chegou antes dele e fechou-a, colocando-se como obstáculo de tal forma que ele precisaria removê-la fisicamente se quisesse mesmo sair.
- Rin...
- Não discuta, Sesshoumaru!
Ela esforçou-se para ignorar o sinal de alerta implícito no tom usodo no seu nome e recusou-se a considerar que a determinação dele em sair motivava-se unicamente pela preocupação com sua reputação. Refutou a idéia de que ele simplesmente não queria ficar com ela, pois isso seria muito arrasador.
- Eu não ficaria em paz com minha consciência se o deixasse ir e algo lhe acontecesse, ou alguém...
- Mas, ora, mulher!
Ao sentir a mão forte em seu braço, segurando a carne macia, Rin entendeu, desanimada, que, se ele quisesse mesmo sair, ela não seria capaz de impedi-lo. Sua determinação parecia patética comparada à força muscular dele.
Ao mesmo tempo, de repente, sentiu medo, ao pensar na força da raiva que despertara em Sesshoumaru, ao pensar na potência que liberara e que poderia não ser capaz de controlar. Sempre soubera da influência de Sesshoumaru Taisho sobre a família e no mundo dos negócios. Respeitado pelos arrendatários, tinha reputação de "peixe grande" no mar de gente daquele meio. Mas nunca tivera aquela força voltada contra si pessoalmente e, por isso mesmo, precisava de toda a coragem para manter-se inabalável.
- Não posso permitir que faça isso! — insistiu, corajosa.
Por um ínfimo segundo, ele apertou o toque no braço e ela engoliu em seco, enrijecendo-se para o inevitável. Surpreendentemente, não aconteceu nada. Sesshoumaru encarou-a e viu a determinação nos olhos cor da noite... e desafio... e medo.
- Oh, raios! — resmungou ele, soltando-a tão de repente que ela cambaleou para trás, tendo que se apoiar na porta para não cair. — Tudo bem, se isso vai me deixar livre de você.., você ganhou! Onde é o quarto?
- No fim da escada, primeira porta à direita... o banheiro fica na porta seguinte.
Rin não sentiu prazer na vitória. Ele tinha que deixar tão claro que permanecer era a última coisa que desejava?, perguntou-se, enquanto Sesshoumaru, após dar boa-noite resmungando, tomava a escada. Conseguira o que queria, mas o custo era a dor intensa no coração.
Dar-lhe-ia tempo para usar o banheiro e recolher-se, planejou, com a atenção voltada para a toalete, recusando-se a imaginar Sesshoumaru nu no quarto azul e branco, seu corpo forte e elegante entre os lençóis...
- Coloque a garrafa de leite para fora... tranque a porta... apague as luzes... — murmurou para si mesma, a fim de não se distrair com a outra linha de pensamento. Vinte minutos bastariam?
Teriam que bastar. Já era quase meia-noite. Estava exausta e precisava estar de pé antes das sete horas no dia seguinte.
Não que tivesse esperança de que conseguiria dormir, reconheceu, de camisola curta azul de algodão, ao escovar os dentes. A idéia de ter Sesshoumaru no quarto à frente do seu era mais do que suficiente para mantê-la acordada. Poderia ouvir cada rangido da cama velha, qualquer movimento que ele fizesse.
Pare!
Rudemente, jogou água fria no rosto, rezando para que isso esfriasse seus pensamentos, para que sua temperatura total baixasse. Ao enxugar-se, percebeu que não providenciara toalhas limpas para Sesshoumaru. Ficara tão surpresa com a capitulação dele que nem pensara nisso. Ele precisaria delas pela manhã.
Pois deixaria algumas peças para ele a caminho do quarto. Provavelmente, ele já estava dormindo sob efeito do vinho. Enfiou a cabeça pela porta entreaberta e viu que o abajur estava aceso, iluminando o cabelo cinza de Sasshoumaru sobre a fronha branca.
Ele estava de olhos fechados, percebeu, aliviada, os longos cílios em semicírculo sobre as feições fortes, a marca da barba por fazer ao longo do maxilar. Só deixaria as toalhas e iria embora, decidiu, entrando na ponta dos pés para não perturbá-lo.
Quando chegou ao interruptor do abajur, ele ergueu preguiçosamente as pálpebras e ela congelou, focalizando os olhos dourados que pareciam duas safiras.
- Rin... — O nome saiu como um suspiro cansado, não como uma saudação de boas-vindas, aplacando a tentativa de sorriso dela. — Que raios você quer agora?
- Só trouxe algumas toalhas... esqueci de providenciar-lhe algumas agora há pouco. — A voz dela saiu fria e contida devido à dor. Ela indicou, desajeitada, o pequeno volume ao pé da cama. — Achei que provavelmente ia querer tomar um banho pela manhã.
- Obrigado.
Estava sendo dispensada, analisou Rin, pelo tom de voz. Ele ia fechar os olhos, deliberadamente, pensou ela, comunicando que ela não era bem-vinda.
- Tudo bem, então, vou deixá-lo em paz.
- Por favor.
Ela sentiu o golpe daquelas duas palavras simples.
- Bem... boa-noite.
Não conseguiu evitar. Ao captar a decepção em sua voz, Sesshoumaru abriu os olhos novamente.
- Rin... — A voz saiu grave e rouca. — Obrigado por tudo.
Havia uma sutil e indefinível mudança na expressão dele. Uma mudança que ela não se atreveria a analisar. De repente, ele soergueu-se, estendendo-lhe a mão.
- Não sei o que teria feito se você não estivesse em casa.
- Fico contente por estar aqui para você.
Rin tentou parecer animada e descontraída, lutando contra a lembrança do motivo de ele estar ali... contra a dor e a mágoa por ter sido preterida. Mas, por mais que tentasse, não foi forte o suficiente para resistir ao apelo da mão estendida, da suavidade naquele olhar.
Sentiu o coração revigorado enquanto ajeitava-se ao lado da cama e aceitava o toque da mão forte.
- Afinal, não é para isso que servem os amigos?
- Ela deixou a mão junto da dele por mais um segundo, então, forçou-se a tomar a iniciativa de partir.
- Agora, você deve dormir um pouco... Eu também preciso... Eu tenho...
- Rin — interrompeu-a Sesshoumaru, de repente, a voz num tom de urgência. — Não vá... não quero ficar sozinho... não esta noite.
- Mas... — Ela viu o olhar obscurecido, um leve traço azul contornando as pupilas. — Sesshoumaru...
- Por favor.
Era assustador perceber como ela considerara a possibilidade com facilidade. E aterrador ver como hesitara pouco em concordar. Era impossível dizer não, embora a razão alertasse-a para nem cogitar a possibilidade e sairdaquele quarto imediatamente.
—Não
tenho segundas intenções... — Por menor que tivesse sido sua
hesitação, Sesshoumaru apressou-se em dar-lhe garantias. — Para
começar, já estou quase dormindo... Estava cambaleando lá
embaixo... e já bebi demais para ser considerado uma ameaça a
qualquer
mulher. Além disso, somos amigos...
Se ele soubesse o quanto Rin odiava a palavra, ainda mais agora, quando a descrição parecia tão sem graça. Era mais do que ele jamais lhe oferecera, mas estava bem longe do que ela desejava. Como amiga, não exercia nenhum apelo físico sobre ele. A conclusão fez com que se atirasse a uma tentativa surpreendente de tomar o controle da situação.
- Não acho que seria...
- Por favor.
Ele disse tão baixinho que ela nem teria ouvido caso não fosse tão sensível a tudo relacionado a Sesshoumaru, mas captou o pedido e injetou-o no coração já vulnerável. Precisaria de uma força de vontade superior à sua para resistir ao apelo em voz baixa. Além disso, ele já estava quase adormecendo de cansaço, os olhos semicerrados, a respiração regular.
Observando-o naquele momento, com os olhos brilhantes ocultos, o rosto relaxado sem as linhas de expressão na pele, Rin via o jovem Sesshoumaru novamente.
- Preciso segurar a mão de alguém...
- O quê?
Ela não podia acreditar no que ouvira. As palavras dele eram confusas devido ao sono. Ou, se tivesse ouvido bem, teriam o mesmo significado para ele?
- Segurar a mão de alguém...
Rin mordeu o lábio inferior, enquanto os anos retrocediam em sua memória. Era novamente uma adolescente, que demoraria a desabrochar e sabia disso, ainda mais quando Sesshoumaru taisho estava por perto.
Ele não a notara a princípio, claro. Quando sua mãe começou a trabalhar na mansão, tinha só onze anos e Sesshoumaru, respeitáveis vinte anos. Ele mal olhara para ela na ocasião, nem em nenhum momento nos anos seguintes, mas então o destino interveio de forma dramática, atirando-a literalmente aos pés dele.
Estava a caminho de casa, após o ensaio do coral na escola. Anoitecia e um nevoeiro começava a se formar. Atravessava a rua rumo ao ponto de ônibus quando um ciclista, correndo demais, dobrou a esquina e atropelou-a, arremessando-a para longe. Perdera a consciência, acordando pouco depois deitada na calçada, amparada por braços fortes e reconfortantes, observada por um par de olhos dourados preocupados.
Pensou que tivesse morrido e ido para o céu, lembrou-se. Sorriu ao lembrar como Sesshoumaru, a caminho de casa, assistira ao acidente e despachara alguém para buscar sua mãe, permanecendo a seu lado na ambulância. Segurando-lhe a mão o tempo todo, aplacou seu medo com palavras gentis, sem se importar com a mancha de sangue em sua camisa cara. Perdera o coração naquele momento.
Nas semanas seguintes, com o calcanhar imobilizado, permanecera do quarto de sua mãe na mansão, visitada diariamente por Sesshoumaru, que lhe levava livros e jogos para distrai-la, além de guloseimas, para abrir-lhe o apetite. Com o coração totalmente perdido, jamais conseguira recuperá-lo.
Nessa ocasião, incapaz de agradecer adequadamente, mas tentando transmitir o que sentia da melhor forma possível, fez-lhe uma declaração sentimental. O diálogo voltou-lhe à lembrança:
- Se precisar de mim... para qualquer coisa... só precisa pedir — dissera ela, sem parar para pensar no que uma garota de catorze anos poderia oferecer a um adulto dez anos mais velho. — Se precisar de alguém... se precisar segurar a mão de alguém, como fez comigo... eu estarei lá.
Nessa época, evidentemente, sentira por Sesshoumaru a admiração que se tinha por um herói, uma devoção cega e inabalável, imune às várias considerações que a maturidade trazia a respeito das relações complexas entre homens e mulheres. Com a idade, passara a entender o temor da mãe e surgiu um novo foco de preocupações, o mesmo que sentia naquele momento à beira da cama, impedindo-a de reagir bem ou mal.
- Rin? — Pierce abriu os olhos com esforço, as safiras brilhando como uma manhã de primavera. — Eu só preciso de alguém...
Soltando um suspiro, Rin admitiu que não havia modo de protelar mais. Se tudo o que ele queria era apenas aquela amizade descompromissada que ele lhe oferecera anos antes, então, ela lhe concederia isso.
Além disso, sabia que era incapaz de resistir à tentação de finalmente achegar-se a ele, fisicamente ao menos. Poderia mantê-lo junto ao seu corpo, oferecendo-lhe o conforto que podia, até que ele adormecesse, quando se retiraria para seu próprio quarto.
Apenas daquela vez, convenceu-se, enquanto puxava a ponta do cobertor e deslizava para junto dele. Que mal poderia haver?
Olá pessoal! Eu voltei! Não com o que queria, mas......... Outro dia eu estava procurando livros na internet e me deparei com esse romance. Não sou muito de ler esses livros tipo romance água com açúcar, mas venci o preconceito e acabei lendo. Achei que a história se encaixava com nosso casal preferido e resolvi adaptar. Então está aí.... não espero reviews, mesmo pq não sou a autora, só quero que vcs se divirtam. Bjus!
