What am I supposed to do with this time?
It tears so many holes, I stay afloat but I
Feel out of control, so petrified,
I'm petrified

What am I supposed to do to get by
Did I lose everything I need to survive?
Cause at 4 a.m. when the sweat sets in
Did you get my message, did it send,
Or did you just get on with your life?
Oh..

Ela não teve tempo de raciocinar direito. Tão logo Jon abriu a porta do quarto, com o rosto pálido como um fantasma, ela soube que havia algo errado. Ele não deu muitas explicações, pegou o máximo de roupas que conseguiu e jogou dentro de uma sacola. Arya se levantou da cama e foi ajudá-lo para poupar tempo.

Não chegava a ser uma novidade, mas algo no rosto dele dizia que daquela vez as coisas estavam mais complicadas do que o normal. Ela conhecia a estratégia, as perguntas seriam respondidas depois, quando houvesse tempo e uma estrada infinita diante deles. Bran e Rickon ainda não estavam em casa quando ela chegou carregando as encomendas que a mãe havia feito na modista, Arya suspeitava que Robb já havia se encarregado de levá-los para um lugar seguro.

Em uma das sacolas que Jon escondeu dentro do estepe havia dinheiro o bastante para tirá-los do estado e levá-los para um local seguro. Jon acelerou o carro e saiu cantando pneu. Ao saírem da garagem Arya pode ver alguns dos homens que trabalhavam para o pai dela preparando o esquema de segurança. Isso significava que Robb, ou o pai dela voltariam em breve. Sempre deveria haver um Stark na casa.

Jon não disse uma palavra durante pelo menos duas horas. Ela temia que algo grave tivesse acontecido como pai dela. Não podia dizer ao certo, mas tinha um mau pressentimento quando ele começou a negociar com os Lannister e os Baratheon. Para Ned Stark havia um limite, havia um código a ser seguido, mesmo quando seus negócios não eram legais, mesmo que envolvessem algum derramamento de sangue. Nem todas as famílias gostavam desse tipo de coisa e para algumas, poder era poder e devia ser obtido a qualquer custo.

Ele estava com uma arma na cintura e no banco de traz havia uma metralhadora escondida dentro de uma caixa de violino. Se fosse apenas uma confusão qualquer na cidade Jon não estaria carregando armamento tão pesado. Já estava escuro quando finalmente pararam para descansar. O hotel era pequeno e cheirava a mofo.

- Não diga seu nome em hipótese alguma. – ele disse se virando para ela – Se perguntarem, e vão perguntar, você é minha esposa e nós estamos a caminho de New York porque recebi uma proposta de emprego. Nosso sobrenome é Snow.

Arya concordou com um aceno de cabeça contido. Jon abriu o porta luvas do carro e tirou de lá um revolver pequeno, entregando-o a ela.

- Se alguém nos reconhecer, ou se algo errado acontecer no meio do caminho, isso pode fazer alguns buracos se você for rápida o bastante. Vai ter que ser rápida. – ele disse.

- O que exatamente está acontecendo. – ela finalmente perguntou. Jon respirou fundo.

- Te conto quando estivermos no quarto. – ele disse tentando parecer calmo.

- E com o que meu "marido" trabalha? – ela perguntou.

- Trabalho numa agência bancária. Fui contratado por um banqueiro judeu de New York. – ele respondeu abrindo a porta do carro. Jon deu a volta para ajudá-la a descer, mas antes de entrar ele retirou de dentro do bolso uma caixinha – Melhor colocar isso, se quiser convencer alguém.

Arya abriu a caixinha e colocou o anel no dedo. Era a primeira vez que ela tinha de recorrer a um disfarce. Aquilo era um mau sinal. Aquilo indicava que o estado de New Hampshire já não era mais seguro.

Entraram no hotel e foram recebidos por um senhor baixinho, de bigode branco e cabelo ralo. Ele deu aos dois a chave do quarto que ficava no segundo andar e que, segundo ele, estava em melhor estado do que os demais. Jon pediu para que ele levasse comida, nada muito complicado.

Eles subiram pela escada. Jon carregava as malas e reclamava sobre a quantidade de roupas que sua esposa tinha. Ela revidou dizendo alguma bobagem que fez o senhor baixinho rir pouco antes de deixá-los a sós dentro do quarto. Jon deixou as malas de lado e fechou as cortinas. Arya aproveitou para retirar o casaco e se sentar sobre a cama.

Jon retirou de dentro do paletó uma daquelas garrafinhas que ele usava para guardar uísque. Deu um longo gole e respirou fundo, antes de passar a bebida pra ela. Arya bebeu, tentando não fazer careta ou cuspir a bebida. Se aquilo era o que havia de melhor no mercado negro, ela não queria nem saber o que era servido em bares vagabundos.

I've taken time and thinking I don't think it's fair for us
To turn around and say goodbye
I have this feeling and I've finally found the words to say
But I can't tell you if you turn around and run away,
Run away

- Pode me dizer agora? – ela insistiu. Jon se virou para ela e seus olhos deixavam claro que ele estava tentando pensar em uma forma de não assustá-la.

- Estamos em guerra. Acho que já percebeu isso. – ele disse e Arya concordou com um aceno de cabeça – Desta vez é diferente. Os Lannister e os Baratheon, bem...Eles estão de olho na bebida que estamos trazendo da Escócia e Irlanda pela nossa costa. Coisa cara, coisa que muita gente está disposta a comprar em todos os cassinos e hotéis de luxo. Tywin Lannister não gosta da ideia de ter que nos pagar para ter o melhor. Ele estava tentando negociar condições melhores através dos Baratheon, o problema é que Robert foi baleado numa emboscada da polícia e agora Joffrey está recebendo juramentos de lealdade das outras famílias. O que quer dizer que o território Baratheon agora é território Lannister. Um dos nossos comboios foi interceptado na Virginia e dizem que a carga foi levada para Ilinois, território Baratheon. Seu pai estava na estrada pra conferir o carregamento. No meio do tiroteio ele foi ferido.

- Onde ele está agora? – Arya perguntou tentando não soar desesperada.

- Não temos notícias ainda. Dizem que foi levado para um hospital local e sua segurança está a cargo dos Bolton, mas eu não boto minha mão no fogo por aqueles miseráveis. – Jon disse as pressas – Bran e Rickon estão com Robb. Com sorte já devem ter atravessado a fronteira e conseguiram encontrar Tio Benjen. Ele saberá o que fazer. Sua mãe e Sansa estão com a sua tia Lysa. O marido dela ofereceu proteção.

- E nós. Pra onde nós estamos indo? – ela perguntou angustiada – Por que não estou junto com a minha mãe?

- Grupos menores podem passar despercebidos mais facilmente. – Jon respondeu de forma prática – Nós vamos pra Flórida.

- O que diabos nós vamos fazer na Flórida?! – Arya perguntou se levantando da cama de uma vez – Aquilo é território Targaryen! Nós vamos pisar lá dentro e vai haver um alvo pintado em nossas cabeças.

- Não vai. – Jon respondeu – Temos garantia de salvo conduto e proteção lá. Aemon Targaryen pode ser um velho senil, mas não atira em gente do próprio sangue.

- Que baboseira é essa? – Arya praticamente rosnou. Jon puxou de dentro do bolso uma carta.

Jon chegou a abrir a boca pra responder, mas alguém bateu na porta, anunciando que era a comida que ele havia pedido. Jon saiu do quarto para pegar a comida e não disse mais nada, preferindo deixar a carta nas mãos de Arya, para que ela visse com seus próprios olhos.

Ele fechou a porta do quarto mais uma vez e colocou a comida sobre a escrivaninha, enquanto Arya encarava a carta ainda perplexa. Jon não se deu ao trabalho de comentar o que estava escrito ali, apenas se sentou e começou a comer um pedaço de pão mergulhado em sopa de galinha.

- É verdade? – ela perguntou quase sem fôlego.

- Aparentemente sim. – Jon respondeu deixando – Aemon foi informado do que está acontecendo. Umber mandou um telegrama assim que saímos de New Hampshire. Devia comer enquanto ainda está quente. Não quero que fique doente na metade do caminho.

Arya concordou com um aceno de cabeça e se sentou junto dele para comer, apesar de não ter estômago pra mais nada. Suas mãos tremiam de leve enquanto sua mente vagava. Jon falava como se o pai dela fosse um caso perdido e por mais que ela não quisesse acreditar naquilo, não havia como negar que Ned Stark corria um grande risco.

Ela lançou a ele um olhar furtivo, como se não soubesse o que pensar. Ele ainda parecia o mesmo Jon de sempre, que brincava com ela quando criança e lhe ensinava a atirar escondido durante as férias de escola, quando a mãe dela insistia em dizer que era mais útil para uma moça de família aprender a tocar piano. Jon deixou o garfo de lado para segurar a mão dela num gesto de incentivo. Ao menos ela se sentia grata por estar com ele e não com outro dos irmãos. Jon conseguia mantê-la calma, mesmo quando o mundo estava desmoronando.

What am I supposed to do with these clothes?
It's my twisted way of keeping you close
I'm a nervous wreck, I'm a broken man
Did you get my message, did it send,
Or do you get along on your own?

- Ei. – ele disse acariciando o rosto dela – Não precisa ficar assim. Nós vamos ficar bem.

- Nós dois sabemos que as chances do meu pai são pequenas. – ela disse encostando a cabeça contra o ombro dele.

- Seu pai é Eddard Stark. O homem é um iceberg, ele teria derrubado o Titanic se tivesse tido a chance de tentar. Ele vai se safar. – ele disse, mesmo que Arya conhecesse a voz dele bem o bastante para saber que aquelas eram palavras vazias.

- Você não é mais meu irmão. – a voz dela saiu num fiapo de voz, como se aquela informação a tivesse desestabilizado muito mais do que as notícias a respeito do estado de saúde do pai. Jon a abraçou forte e beijou sua testa.

- Isso não muda as coisas. – ele disse – Eu era um capanga do seu pai, agora vou ser um capanga do meu tio avô. Sou o mesmo Jon de sempre. O mesmo bastardo miserável de sempre.

- Contanto que você continue sendo o meu bastardo miserável, eu não me importo. – ela disse baixinho.

- Melhor ir pra cama. Vamos sair bem cedo amanhã. – ele disse contra o cabelo dela.

Arya concordou com um aceno de cabeça. Ela se afastou para verificar se havia algo que ela pudesse usar para dormir dentro de uma das malas. Conseguiu encontrar uma camisola velha e foi até o banheiro se trocar.

Quando ela voltou Jon estava sentado numa cadeira escorada na parede, sem paletó e colete, com os suspensórios baixos, enquanto fumava um cigarro. Ela achava que ele tinha parado de fumar a seis meses atrás, mas uma recaída naquelas condições já era algo esperado. Jon apagou o cigarro assim que a viu, mas se encarregou de esvaziar a garrafinha de uísque.

Havia círculos escuros ao redor dos olhos dele e seu rosto parecia ter envelhecido cinco anos em cinco dias. Jon não costumava demonstrar suas preocupações, ao menos não para ela. Arya suspeitava que talvez Robb fizesse um trabalho melhor tentando mantê-lo otimista, mas naqueles condições otimismo estava tão em falta quanto o gim.

Ele sorriu para ela um sorriso de encorajamento. Arya se escondeu debaixo das cobertas e ficou encarando-o por um tempo, imaginando se ele pretendia ou não dormir naquela noite. Uma cadeira escorada contra a parede não parecia uma opção muito confortável.

- Não vem dormir? – ela perguntou por fim.

- Vou dormir aqui. Pode ficar com a cama pra você. – ele disse tentando parecer simpático, mas tudo o que conseguiu foi deixá-la contrariada.

- Bobagem. Vem pra cama. Precisa estar descansado pra dirigir amanhã. – ela disse séria, num tom mandão e extremamente familiar.

- Babe, não seria apropriado. – ele respondeu sorrindo pra ela num esforço de encerrar aquele tópico.

- O que não seria apropriado? – ela perguntou em tom de desafio, o mesmo tom que ele nunca conseguiu ignorar – Afinal, você é meu "marido", não é?

- Coisinha traiçoeira. É o que você é. – ele disse rindo. Jon se levantou da cadeira e foi até ela. Ele retirou os sapatos e a camisa, deitando de costas na cama e encarando o teto.

- Bom menino. – ela disse, beijando a bochecha dele em seguida. – Durma bem.

- Você também, babe. – ele respondeu fechando os olhos.

Sorrateira como um felino, Arya acabou deitando sobre o peito dele e dormiu sentindo o cheiro de tabaco e álcool, além do cheiro dele, que trazia algo de selvagem e rústico.

O sono dele, por outro lado, estava longe de ser calmo. Não conseguiu dormir mais do que uma hora ininterrupta. Todo tipo de som estranho que ouvia era uma razão para levar a mão à arma. Ele só precisava chegar até a Flórida e deixar Arya a salvo. Depois disso ele já não se importava com seu próprio destino.

I've taken time and thinking I don't think it's fair for us
To turn around and say goodbye
I have this feeling and I've finally found the words to say
But I can't tell you if you turn around and run away,
Run away

O sol ainda não havia nascido quando eles deixaram aquela espelunca. Arya havia tentado trançar o cabelo às pressas, sem grande sucesso. Na noite anterior ela se passou por uma moça de boa família, mas agora era mais provável que alguém a confundisse com uma mendiga. Precisariam fazer alguma coisa com a aparência dela antes que parassem para comer, ou descansar.

Ela agora observava a paisagem através do vidro. O dia era frio e Arya estava encolhida debaixo de um casaco de pele. Em breve os Lannister perceberiam que os Stark haviam sido separados e a busca pelos mais novos começaria. Jon não tinha qualquer motivo para acreditar que eles respeitariam Sansa, ou mesmo deixariam Bran e Rickon em paz. Um frio percorreu a espinha dele ao imaginar o que poderiam fazer com Arya.

Pararam por volta de meio dia em uma cidadezinha no meio do nada. Arya entrou em uma loja de roupas para comprar algumas. Jon a esperou num restaurante do outro lado da rua, mas acabou perdendo a paciência diante da demora dela. Jon saiu do restaurante e foi até a loja para procurá-la.

Chegando lá não havia ninguém além da vendedora. Uma garota magrela e sardenta, que tremia do outro lado do balcão. Ao avistar Jon ela se limitou a dizer que a esposa dele havia saído quinze minutos atrás.

- Aonde ela foi? – Jon perguntou avançando em direção a garota.

- Ao salão, senhor. Ela perguntou se havia um salão na cidade e eu indiquei a direção. – a menina respondeu acuada.

- Então vai me dizer a direção também. – ele rosnou.

- Vire a direita na próxima esquina. É a quarta loja. – a menina respondeu e Jon saiu, sem uma palavra de agradecimento.

Involuntariamente ele levou a mão à arma em sua cintura. Arya devia estar louca pra pensar que aquele era um bom momento para arrumar o cabelo. Ele rangeu os dentes e respirou fundo, fazendo suas narinas dilatarem.

Quando chegou ao salão não havia nenhum cliente além de um garoto, terminando de aparar a nuca. Jon olhou em volta, esperando por uma aparição mágica dela, mas não havia mais ninguém. Ótimo, menos de vinte e quatro horas e ele já havia perdido Arya.

- Pronto, madame. É a última moda em Paris, pelo que ouvi falar. – o cabeleireiro disse. Jon deu um sobressalto ao ouvir uma voz feminina familiar agradecer – E quanto ao senhor. Veio aqui para aparar o cabelo, ou fazer a barba?

- Nem uma coisa nem outra. Estou procurando minha mulher. – Jon retrucou mal humorado.

- Bem na hora. Eu disse, meu marido não sabe ficar um minuto sem mim. – a voz feminina disse mais uma vez – O que acha, babe? Gostou do meu cabelo?

Ele precisou de um momento para assimilar as coisas. Havia longas mechas de cabelo escuro caídas no chão ao redor da cadeira onde o único cliente estava sentado. O cabeleireiro espanou a nuca a mostra e Jon reparou que aquele era um pescoço delicado de mais para ser o de um rapaz. A cadeira girou e ele deu de cara com Arya.

Jon tentou não parecer desapontado, mas a verdade é que ele não conseguia entender o que ela havia feito, ou o porque ela havia feito. Por um momento ele quis gritar com o homem que havia cortado o cabelo dela e mandar que ele colocasse cada fio de volta, mas aquilo seria inútil. Ele sorriu e elogiou pelo bem das aparências. Arya pagou pelo corte e os dois saíram do salão de mãos dadas.

Foram para o restaurante e comeram às pressas. Não chegaram a ficar meia hora no lugar. Pegaram suas coisas e voltaram pra estrada. Durante este tempo, Jon não disse coisa alguma até estarem a pelo menos quinhentos metros da cidade.

It breaks me down when I see your face
You look so different but you feel the same
And I do not understand, I cannot comprehend
The chills your body sends
Why did it have to end?

I've taken time and thinking I don't think it's fair for us
To turn around and say goodbye
I have this feeling and I've finally found the words to say
But I can't tell you if you turn around and run away,
Run away

- Por que diabos você fez isso? – ele perguntou mal humorado, enquanto lançava a ela um olhar de puro desagrado.

- Pra evitar que nos reconheçam até chegarmos à Flórida. – ela disse calma – Não fique me olhando assim. Era só cabelo.

- Era o seu cabelo. – ele resmungou. Agora ele mais parecia uma criança fazendo birra, mas o olhar de desapontamento quase a fez se arrepender – Eu adorava o seu cabelo.

Arya levou a mão à nuca dele e acariciou seus cabelos. Jon relaxou os ombros em resposta, mas o rosto continuava cheio daquela indignação infantil. Ele sempre foi o protetor dela, mesmo quando isso significava bater de frente com Robb, ou com o próprio pai dela. Doía vê-lo tão magoado por uma coisa tão boba. Cabelo podia crescer em alguns meses e ela achava a sensação de ter a cabeça mais leve muito agradável. Talvez ele só precisasse de tempo para se adaptar.

- Não fica assim, por favor. Em alguns meses vai ter crescido de novo. – ela disse – Além disso, vai ser mais prático assim. Todos esperam que Arya Stark tenha cabelo longo e escuro e use roupas caras. Nós dois poderíamos ser descobertos facilmente. Com o cabelo assim posso até me passar por um homem, se for preciso.

- Uma coisa de cada vez. Ainda estou tentando assimilar a história do cabelo, não sei se quero pensar em você vestindo minhas calças ainda. – ele resmungou mais uma vez e ela riu.

- Você se apega a coisas tão bobas. – ela comentou.

- Prefiro mulheres que parecem mulheres. É mais fácil de reconhecer meu alvo. – ele disse ainda mal humorado, sem tirar os olhos da estrada.

- Não que eu seja um alvo em potencial. – ela disse baixinho.

Eles não tiveram notícias de Ned Stark durante a viagem, tão pouco conseguiram entrar em contato com Robb. A noite caiu e eles tiveram problemas em encontrar um lugar pra dormir.

Jon continuou dirigindo, mesmo quando a estrada já estava escura. Ela podia sentir a ansiedade dele. O carro começou a fazer um barulho estranho, mas eles conseguiram encontrar uma cidade no meio do caminho. Mais um hotel vagabundo, cheirando a mofo e sem aquecimento, o que fazia os ossos dela trincarem de frio.

Arya subiu para o quarto enquanto Jon dava uma olhada no motor. Com sorte conseguiriam chegar até New York no dia seguinte. De lá pegariam um trem e evitariam problemas com a estrada.

Quando chegou ao quarto, ela continuava com aquela obsessão de se passar por homem. Arya tentava dar um nó na gravata, sem obter sucesso. O cabelo curto estava todo puxado para trás e seu peito estava achatado por bandagens encobertas pela camisa. Ele tinha que admitir que era um disfarce melhor do que se passarem por recém casados. Ao menos eles eram parecidos o bastante para se passarem por irmãos, mas Jon ainda não estava preparado para ignorar seu ressentimento pelo cabelo dela.

Arya desistiu da gravata e olhou para ele. Quando ela o olhava daquela maneira todo disfarce ia por água abaixo. Seus cílios longos, o formado de seus olhos, a boca, tudo denunciava seu sexo e aquelas roupas, por incrível que pareça, tornavam-na estranhamente atraente. Ela se parecia com uma daquelas dançarinas do clube que ele, Robb e Theon frequentavam às vezes.

- Como estou? – ela perguntou.

- Convincente, contanto que fique de boca fechada. – Jon disse deixando a sacola sobre uma cadeira, junto com o paletó e o colete. Ele abaixou os suspensórios e começou a desfazer o nó da gravata.

Ele caminhou até ela e levou a mão aos seus cabelos curtos. Tentou não parecer tão contrariado, mas aquela era uma perda difícil de superar. Ele sempre gostou de bagunçar o cabelo dela e agora parecia não ter mais graça. Arya deitou a cabeça na palma da mão dele, permitindo que Jon acariciasse deu rosto.

- Ainda está bravo comigo? – ela perguntou.

- Não estou bravo, só...Eu vou sentir falta de passar a mão pelo seu cabelo. – ele disse. Arya o abraçou pela cintura.

Jon fechou os olhos e se deixou abraçar por ela. Arya tinha esse dom de penetrar a pele dele, sussurrar meia dúzia de palavras doces ou ácidas e ainda conseguir fazê-lo se sentir em paz. Ele se perguntava se Nedd Stark o incumbiu de protegê-la porque de algum modo Arya o impedia de tomar decisões estúpidas, ou agir de forma impensada. Nenhum dos dois era dado à um temperamento equilibrado e sereno, mas quando estavam juntos as coisas pareciam se encaixar e os ânimos eram suavizados.

Ele só queria chegar logo à Flórida. Queria poder fazer alguma coisa para acabar com os Lannister e depois dizer a Arya que ela poderia voltar pra casa. Ele faria o seu melhor para conseguir isso, mesmo que significasse se aliar a uma família que ele nunca conheceu e tão pouco tinha qualquer simpatia. Ele faria qualquer coisa por ela.

I've taken time and thinking I don't think it's fair for us
To turn around and say goodbye
I have this feeling and I've finally found the words to say
But I can't tell you if you turn around and run away,
Run away

Run away, run away (runaway)
Turn around and run away, run away (runaway)
Run away, run away (runaway)
But I can't tell you if you run away, run away (runaway)
Turn around and run away, run away (runaway)

Nota da autora: E as ideias mais inusitadas surgem nas madrugadas insones, na companhia de amigas tão fanáticas quanto eu. Pois é, eu queria escrever outra AU e meu plano inicial era transformar os Stark numa família mafiosa moderna, mas...Quem precisa de máfia moderna quando vc pode simplesmente falar dos adoráveis anos 20 e da Lei Seca nos EUA?! Confesso que a ideia de Jon usando suspensório e colete tmbm tem seu mérito. É uma guerra de gangues ou famílias, que não se restringe a uma cidade, na verdade tem proporções bem maiores. Vai ser difícil trabalhar isso, mas vamos ver no que vai dar. Espero que gostem e comentem.

Bju

Bee