FAÇA UM DESEJO

Capítulo 01

Não estava sendo um período fácil na vida de Regina. Robin Hood, depois de deixar a cidade de Storybrook e ido morar em Nova York para tratar da saúde da esposa, descobriu que esta, em verdade, não era sua falecida Marian, mas, em verdade, se tratava de Zelena disfarçada. O único objetivo da Bruxa Má do Oeste era o de fazer da vida da irmã um verdadeiro inferno e, desta vez, conseguira. Além de gerar a discórdia para o casal Robin e Regina, ainda fizera o homem escolher por ela, terminando o relacionamento com a morena e deixando a cidade, e depois escolher de novo, quando a Rainha fora até Nova York informar que Marian era uma impostora e o bandido não acreditou até a própria Zelena se revelar. Com esta quebra de confiança, somada a um bebê que estava a caminho, Regina se viu sem esperanças que o seu relacionamento pudesse voltar a ser como antes, pois jamais, por nenhum pó de fada no mundo, aceitaria ver o seu destino selado e atado a um homem para o qual ela não fosse a primeira opção.

Assim, suas semanas visitando Zelena na prisão sob o hospital, aturando as chamadas de Robin para perguntar como ela estava, bem como para saber da ruiva e do bebê, a estavam drenando todas as energias. Chegava em um ponto tão exaustivo que nem os dias da semana lembrava mais, exceto que precisava trabalhar o máximo possível para se ver suficientemente ocupada e não pensar em mais nada.

Enquanto isso, na Granny's, Henry tomava café conversando com a outra mãe:

- Eu não sei, ela tem andado estranha, impaciente.

- Eu percebi. Sei lá, ela não parece mais gostar dele como antes - Emma comentou mexendo a colher em seu café com a ponta do dedo, de forma displicente.

- Ele foi um idiota - Henry comentou e a mãe o olhou de forma repreensiva, ao que o garoto insistiu. - Ele foi e você sabe que foi!

A Salvadora acabou dando de ombros, não havia como discordar do filho neste ponto, vira o quanto Regina havia sofrido, acompanhara de perto e se arrependia de não ter ajudado ainda mais, tão imersa estava nos seus próprios problemas.

- Há alguma coisa que podemos fazer? - A loira perguntou.

- Bem - Henry se pegou pensando -, amanhã é aniversário dela, podemos fazer uma festa surpresa.

- Amanhã?! - Emma se via surpresa por não saber. - Por que não disse isso antes?

- Sei lá, ela não gosta de comemorar aniversários e tal, mas eu acho que esse ano vai ser diferente com Lily - o garoto respondeu e inclinava o rosto para cima, mirando uma mesa um pouco mais distante, na qual a morena tomava um café com Malévola.

Emma olhou por cima do ombro, mas depois se voltou mais uma vez para o filho. Claro, depois de todas as reviravoltas com Robin, saber que tinha uma filha com um dragão havia sido a cereja do bolo na vida de Regina. A Rainha tentava se aproximar, mas Lilith parecia uma pessoa fechada, que não gostava muito de convívio social, sendo minimamente aberta apenas com a outra mãe, Malévola. Nessa história toda, o verdadeiro choque para Emma, além do fato de sua melhor amiga de infância ser filha da sua melhor amiga atual, foi o fato de saber que Regina gostava de mulheres. Regina gosta de mulheres, verbo no presente.

- Mãe? - Henry a chamou de volta para a realidade. - Tudo bem?

- Ah… - Ela se via procurando o que dizer depois de seus devaneios. - Eu acho que pode ser legal fazer uma festinha, sabe? Uma coisa mais em família. Pode ajudar a distrair ela um pouco de Robin.

- Legal! - O garoto concordou feliz, já pegando o celular e mandando uma mensagem para Lily, que, mesmo tão perto, respondeu com uma outra mensagem de "joinha".

Eles tiveram uma noite para organizar como fariam tudo, já deixando arquitetado para o dia seguinte. Não seria difícil, Regina saía para trabalhar cedo, deixando o filho na escola, exceto nos finais de semana, o que era o caso. Henry ficava sozinho em casa, não era complicado abrir a porta para Emma e Mary. Juntos, os três se encarregavam de arrumar a casa com fitas e balões, além de cozinharem salgados e doces. Lily só chegou de tarde, trazendo grades de cerveja, bem como garrafas de vinho e sidra.

- Espero que tenha comprado correto - ela disse guardando tudo na cozinha com Emma. - Quem é que toma vinho de maçã?

- Sua mãe - a Salvadora respondeu lembrando da primeira noite que passara naquela cidade. - Definitivamente sua mãe.

A noite começava a cair e nem sinal de Regina chegar. Henry então mandou uma mensagem dizendo que havia feito jantar para ela. Não demorou muito, veio uma resposta pedindo desculpas e que ele comesse sozinho, pois ela iria demorar na prefeitura. Ele olhava meio perdido quanto ao que fazer. Lily então tomou o celular da mão dele e digitou, enviando a mensagem e depois mostrando para o garoto o que havia feito.

- É assim que se toca o terror - ela disse.

Henry lia e abria muito os olhos:

- Ela vai surtar!

- A ideia é essa, né? Que ela venha pra casa!

Lilith havia escrito que Henry havia explodido o fogão ao cozinhar e que agora a casa estava parcialmente destruída. Foi o suficiente para Regina surgir em sua fumaça roxa no meio da sala, já procurando por Henry, enquanto os presentes gritavam ao mesmo tempo:

- Surpresa!

A Rainha se via confusa, muito confusa, olhando das caras felizes até a faixa de feliz aniversário na parede. Agora fazia sentido, havia esquecido que dia era aquele. Henry foi o primeiro a abraçá-la.

- Feliz aniversário, mãe - ele disse com carinho. - E desculpa pela mensagem. Lily inventou uma mentira para que você viesse logo para casa.

A vontade de reprovar o gesto era grande, mas a própria Regina reconhecia que estava em falta com a sua família, então deu um beijo no rosto do filho e depois se voltou para Lily, usando daquela distância estranha que havia entre as duas, uma certa desconfiança causada por uma adaga e sangue com trevas:

- Obrigada - a Rainha agradeceu.

- Nada - Lily falava também sem jeito, ao que já se escondia numa lata de cerveja para não ter que continuar com o diálogo. Se para Regina aquilo era difícil e estranho, para a moça era muito pior.

Os Charming vinham também parabenizá-la, Malévola, Emma deixava todos virem, sabia que eles possuíam laços antigos, desde antes dela própria nascer, e que deveria respeitar. Por último se deixou chegar perto.

- Feliz aniversário - a loira falou.

Regina já estava com os olhos vermelhos de quem lutava para não chorar. Não sabia lidar com situações em que era lembrada, em que era amada e acolhida, cercada de pessoas que se importavam com ela. Sorriu para a Salvadora e disse de forma genuína:

- Obrigada. De verdade.

E aquela expressão, aquelas palavras, encheram o peito de Emma de uma alegria sem tamanho, um calor único, mesmo quando Hook chegou por trás dela e entregou uma lata de cerveja enquanto passava a mão em sua cintura.

Mary servia as bebidas em uma mesa, ao que fazia questão dela mesma entregar uma taça de sidra para a madrasta:

- Estivemos preocupados com você, sabe?

Mas Regina não parecia querer conversar, ao que tomava um longo gole de álcool e dizia de sua forma dissimulada:

- Não há com o que se preocupar. Já passei por coisas piores, isso também vai passar e, em algum momento, vai acabar.

Mas a Princesa olhava de uma forma desconfiada, especialmente quando tais palavras vinham de alguém que guardou rancor dela por quase quarenta anos. Desistia de argumentar e optava por seguir a abordagem mais branda, tocando no braço dela:

- Você quem sabe, estamos aqui para qualquer coisa.

Neste momento, Henry vinha da cozinha trazendo um bolo coberto de glacê branco e com inscrições em roxo de feliz aniversário. Uma vela vinha acesa em cima e o garoto puxava a canção de parabéns, que era acompanhada pelos demais. Regina começava a chorar, verdadeiramente emocionada com tanto cuidado por parte do filho e dos amigos. Quando eles terminaram, o garoto disse:

- Faça um desejo!

Regina olhou para ele e depois para os lados, um tanto perdida quanto ao que deveria pedir. O que poderia desejar? Havia tantas coisas que queria para si, para os outros, se pegava incapaz de decidir algo, mesmo que aquele fosse apenas um costume, um hábito. Não era como se nada fosse se realizar. Então fechou os olhos, refletiu o que queria e assoprou. Todos aplaudiram, gritos e assobios eram escutados. Ninguém reparou quando Emma, instantes antes de Regina apagar a vela, moveu os dedos e embutiu no objeto uma poderosa magia. Ninguém precisava saber que a Salvadora via necessidade de dar essa ajudinha ao destino da morena e permitir que ao menos alguma alegria fosse realizada. Preferia assim, manter os seus atos em segredo, até porque imaginava que a Rainha não fosse gostar do atrevimento.

A festa prosseguiu tranquila, cheia de momentos felizes, pessoas alegres compartilhando bons momentos. Era bom, era exatamente o que Regina precisava para tirar a sua mente do lugar sombrio em que estava passando a maior parte do tempo.

Quando já era tarde o bastante, os convidados, que já eram de casa demais para se considerarem de tal forma, ajudaram a arrumar tudo, sendo grande parte feito por Malévola utilizando sua magia. Restando apenas a Rainha e Henry na casa, se despediram pela noite:

- Espero que tenha se divertido - ele disse para a mãe.

- Eu me diverti sim, muito obrigada. Você teve uma excelente ideia - ela respondeu.

- Na verdade, foi ideia de minha mãe - ele se referia a Emma. - Ela se importa bastante com você, sabe?

Não era bem uma novidade, mas era gostoso de saber que, mesmo depois de tantas brigas, tantos problemas e alguns murros, as duas finalmente se viam em condições de conviverem juntas e partilharem a felicidade que era ter aquele menino em suas vidas. Regina o beijou no rosto e se despediu:

- Boa noite.

- Boa noite - ele respondeu.

Assim, cada um rumou para o próprio quarto.

Deitar em sua cama nem sempre fora fácil para a Rainha, especialmente com tantos pensamentos barulhentos que costumavam assombrar sua mente e os seus sonhos, memórias de tempos melhores que não retornariam, de piores que não pareciam ter fim. No entanto, nada disso tornava o momento atual mais agradável. Repetia para si mesma que isso ia passar, como parte do seu novo cuidado em ser positiva em vez de se deixar levar e consumir pelas trevas. Tinha motivos pelos quais viver, pelos quais ser boa, mas, em momentos assim, era difícil se manter inabalável.

Então lembrava de Robin e de como fora feliz com ele, sentindo aqueles braços fortes ao redor de seu corpo, o calor contra a sua pele. E chorava. Ela chorava quase todas as noites, quando ninguém poderia ver ou saber, se entregava àquele pouquinho de desespero que se permitia, apenas o suficiente para expurgar os sentimentos negativos e conseguir levantar da cama na manhã seguinte.

Felizmente, em algum momento, o sono vinha, levando embora o cansaço e, quando sem sonhos, repleto de calma e paz.