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Sentimento Nefasto

Carta 1

Shura a Aioros

Em Atenas

Primeiramente peço-lhe desculpas, meu caro amigo. Demorei muito para enviar notícias. Ocorreram fatos que me deixaram estupefato.

Minha intenção ao pedir férias e vir à Espanha, não se resumia a visitar minha terra natal, e sim reencontrar Juanita. E consegui reencontra-la!

Passamos dias agradáveis aqui em Madrid, visitamos museus, teatros, fomos a touradas juntos. Todo esse contato lembrou-me a época de treinamento, vivíamos a bater pernas pela cidade. O curioso é que em tanto tempo, ela nunca soube que eu me preparava para tornar-me um cavaleiro de Athena.

Não foi apenas uma paixão adolescente, eu desejava que aqueles momentos fossem eternos. No entanto, ao voltar para o Santuário, percebi que não existe eternidade para nós, mortais, é tudo pura ilusão.

Fomos a um baile carnavalesco à moda antiga, todos os convidados estavam mascarados. Ela estava fantástica em uma fantasia de Colombina, e eu, o Pierrô.

Uma espada foi encravada em meu peito. Neste dia vi minha delicada Colombina nos braços de um Arlequim qualquer, seu coração pertencia a ele.

Entre lágrimas, Juanita me revelou a verdade, todos os últimos dias que vivemos foram ilusões, ela me olhava como um amigo qualquer. Em memória aos velhos tempos. Aquele Arlequim era seu noivo.

Acho que não preciso relatar. Fiquei arrasado. Durante toda a noite fria e triste vaguei sem rumos pelas ruas, a imagem dos dois juntos não saía de minha mente.

Amor, esperança, fidelidade? Isso não existe. Tudo foi inventado para enganar os homens. Somos tão selvagens quanto os outros animais.

Amor? Pensar sempre em alguém? Doar-se por inteiro a esta pessoa? Viver ao lado dela até a morte? Não, existe apenas o desejo.

A facada fatal veio no outro dia. Juanita foi assassinada. Acertaram-lhe o coração com um único golpe (provavelmente desprovido de arma), fatal.

Termino aqui esta carta, caro amigo Aioros. Preciso descansar, pôr as idéias no lugar. Amanhã terei que me prestar ao ridículo de depor na delegacia, de qualquer forma, passei dias com ela.

Seu eterno companheiro,

Shura.

25 de Março, 1987

N/A - Meio... Nefasto? P

A idéia de escrever em forma de cartas me veio a cabeça após ler 'Cartas Persas" de Montesquieu. Eu simplesmente amei aquele livro, até indico para quem nunca o leu. Eu acho que em forma de cartas pode dar um ar diferente, mais triste à história.

Se alguém percebeu, sou uma fã incondicional do teatro francês Dell'art! Ok, ok... não tem nada haver com espanhóis, mas não resisti. P Para quem não sabe, a Colombina (divida entre dois amores), o Pierrot (o romântico, poeta apaixonado pela Colombina, chora pelo amor de sua amada) e o Arlequim (boêmio, malandro, também amante da Colombina.) são personagens desse teatro popular. D

Espero que gostem! D Deixem comentários!