Achar que alguém estará sempre ao seu lado talvez lhe dê a sensação de que, não importando o que aconteça, ela continuará ali. Não importa o que aconteça, o que você diga ou faça, ela simplesmente lhe perdoará por tudo e vocês continuarão juntos. Ter pensado isso um dia me fez crer em um ditado popular no qual nunca acreditei: "só se dá valor depois que se perde". Sim, é verdade; uma dolorosa verdade. Aquela verdade doía tanto que eu andava sem rumo, sem saber por onde passava ou onde iria chegar, tendo por companhia apenas minha tristeza, meu cigarro e aquele límpido céu azul, exatamente como na noite em que o conhecera...
Por algum motivo, uma lágrima rolou solitária por meu rosto ao me lembrar daquela noite. Eu daria tudo para nos encontrarmos novamente, ao menos mais uma vez; talvez eu pudesse lhe dizer o quanto o amo. Mas, para mim, isso se tornara impossível.
"Ate mo naku hitori
samayoi arukitsuzuketa
Kasuka
na toiki wo tada shiroku somete
Utsuri
kawari yuku kisetsu no sono hakanasa ni
Wake
mo naku namida ga koboreta
'Ima
mo aishite iru...'"
(Estava sozinho e perdido andando sem ter pra onde ir
Tingindo de branco um pequeno suspiro
E na mudanca desta estação passageira
Sem motivos derrubei uma lágrima
"Eu ainda te amo...")
Cansado, sentei-me em um lugar onde não havia ninguém; não queria a companhia de ninguém senão a do meu pequeno amado, que com seu sorriso trazia sol aos meus mais sombrios dias. Olhando para o céu, ele parecia sorrir para mim de cada estrela, como se cuidasse de mim, ainda que de longe. Como se ainda se importasse... Se eu pudesse ter a certeza de que ele ainda se importava comigo talvez a dor diminuísse, mas a dúvida me consumia; se ele não se importasse mais, o que seria de mim? Ele era meu mundo, e sem ele não havia chão ou ar. Ele sempre cuidara de mim de seu modo atrapalhado. Eu gostaria de desaparecer... Talvez, se eu desaparecesse, a dor desaparecesse junto... E também desaparecesse toda a tristeza que eu havia causado a ele. Sim, eu sabia de todo o sofrimento que ele tinha por minha culpa, e eu sabia que era egoísmo querê-lo ao meu lado. Mas eu era egoísta, sempre o fora; mas, se ele não pudesse ficar mais ao meu lado, queria apenas um último abraço... Apenas uma última oportunidade de me sentir bem sob seus pequenos e calorosos braços.
- Yuki...? – Ouvi uma voz delicada atrás de mim. Era sua voz, eu a reconheceria em qualquer lugar. Toda a noite eu a ouvia em meus sonhos.
- Shuichi. – Eu disse, correndo até ele e o apertando fortemente contra meu peito. Ainda que ele fugisse depois, eu precisava de tê-lo comigo apenas uma vez mais. Era tudo o que eu pedia naquele momento.
"Furitsuzuku
kanashimi wa masshiro na yuki ni kawaru
Zutto
sora wo miageteta
Kono
karada ga kieru mae ni ima negai ga todoku no nara
Mou
ichido tsuyoku dakishimete"
(A tristeza que chove se transforma em neve branca
Não parava de observar o céu
Se for possível que meu desejo se realize agora antes que este corpo desapareça
Quero que me abrace forte novamente)
- Solte-me, Yuki! – Gritou ele, soltando-se de meus braços.
- O que é, não gosta mais de meus braços? – Eu perguntei, puxando-o novamente para mim por seus braços e olhando-o com um olhar zombeteiro e, ao mesmo tempo, provocante; ele nunca resistira. Mas, dessa vez, foi diferente.
- Eu gosto. – Respondera ele, abaixando a cabeça com os olhos cheios d'água. – Gosto tanto que dói. – Ele colocou sua pequena mão sobre o peito.
Vê-lo chorar cortou meu coração, mas se ele chorava, se ainda doía, então ele se importava. Ele ainda me amava. E isso era o que importava para mim.
- Então, por que não volta? – Perguntei.
- Você nunca entendeu, Yuki... – Disse ele, a voz trêmula e lágrimas rolando sobre sua linda face. – Eu preciso tanto de você que é insuportável, e depois daquilo que você fez... Eu... Dói... Algo dilacerava meu coração... Mas você não entende... Você... EU TE ODEIO, YUKI!
"Wakari aenakute
nandomo kizutsukete ita
Sonna
toki demo itsumo yasashikute
Fui
ni watasareta yubiwa ni kizamarete ita
Futari
no yakusoku wa kanawanai mama ni
'Ima
mo oboete iru...'"
(Te feri por não poder te entender
Mas mesmo assim você era tão gentil
E a promessa gravada no anel que fora entregue
Não se realizou
"Eu ainda me lembro...")
Sim... Ele estava certo. Aquilo era impossível de perdoar. Mas a culpa era dele e de seu fanatismo por aquele Ryuuichi Sakuma. "Se o quer tanto, fique com ele", eu havia dito antes de o expulsar de casa. Sem contar as insinuações sobre os dois jogadas em sua cara, além da tentativa de estragar a carreira do vocalista da Nittle Grasper. Tohma não gostara também, mas ele nunca faria nada contra mim. Eu sou mais importante que sua banda, todos sabem disso, e talvez por isso nem ao menos Nori tivesse tentado fazer nada. Eu sou importante, invencível. Mas Shuichi não aceitara, dissera que se eu não parasse, iria embora. "Se o quer tanto, fique com ele". E ele, aos soluços, se fora para nunca mais voltar. Eu achei que ele voltaria logo, arrependido e morrendo de saudades. Mas os dias e as semanas se passaram, e ele nem ao menos telefonara.
Era tudo minha culpa, eu sabia, mas isso não significava que eu aceitaria perdê-lo. Se eu bem o conhecia, ele estaria não muito longe, chorando. Eu ainda poderia alcançá-lo.
"Toozakaru omoide
wa itsu made mo mabushi sugite
Motto
soba ni itakatta
Mou
nidoto aenai kedo itsumo soba de sasaete kureta
Anata
dake wa kawaranai de ite
Saigo
ni miseta namida ga kisenakute"
(As lembranças que se passam são tão ofuscantes
Queria ter ficado perto de você por mais tempo
Não poderei te encontrar nunca mais, por isso não quero que você
Que sempre me apoiou, mude
Não consegui apagar a última lágrima que me mostrara)
- Vá embora, Yuki. – Ele dissera, percebendo minha presença. Eu adivinhara, ele realmente estava perto de mim, chorando sozinho.
Eu nada disse, apenas o abracei. Ele caiu, soluçando alto, sobre meus braços e me apertou com toda a força que suas mãozinhas tinham.
- Eu odeio você, Yuki... – Murmurara entre soluços.
Eu sorri.
"Kono shiroi
yukitachi to issho ni kiete shimatte mo
Anata
no kokoro no naka ni zutto saite itai kara"
(Mesmo que desapareça junto com essa neve branca
Quero estar florescendo sempre dentro do seu coração)
Sentei-me e o coloquei em meu colo, como se fosse uma criancinha. Aos poucos, suas lágrimas cessaram. Ele não falava comigo, e eu dei o silêncio que ele queria; ao menos a isso ele tinha o direito. Eu esperava que ele rompesse o silêncio com algum comentário que me fizesse achá-lo idiota e que depois ele sorrisse para mim, e esperei calmamente por isso. Lembrei-me, então, de que ele se fora quando eu esperava que voltasse, e aquela era a minha vez de fazer de tudo para não perdê-lo.
- Shuichi...
- Não fale nada, Yuki. – Ele dissera. Eu arregalei os olhos; aquela era a minha fala.
- Deixe-me apreciar o silêncio. Deixe-me apreciar um pouco mais eu colo.
Ele fechou os olhos e esboçou um sorriso, aquele sorriso que eu tanto amava.
"Yorisotte dakiatta
nukumori wa wasurenai de ne
Chigau
dareka wo aishite mo
Saigo
ni kiita anata no koe wo kono mama zutto hanasanai mama
Fukaku
nemuri ni ochitai"
(Não esqueça o calor que sentimos quando nos abraçamos
Mesmo que ame e já tenha alguém prometido
Quero cair num sono profundo sem largar a sua voz
Que ouvi da última vez)
- Eu te amo, Shuichi.
- Eu sei. – Ele deu um largo sorriso e, suavemente, pousou seus lábios sobre os meus.
"Mou ichido tsuyoku dakishimete"
(Quero que me abrace forte novamente)
