Humano

Akasuna no Sasori era artificial.

Toda a sua constituição era falsa. Nada lhe pertencia. O corpo era feito da madeira dura das árvores, moldada e revestida para ter a forma humana. Seu torso, braços, pernas, mãos, dedos. Total e completamente feitos de madeira.

Madeira morta, cuidada para parecer viva.

Ainda assim, o cheiro de morte disfarçanda se encontrava nela, e não importava o quanto se limpasse, sabia que estaria lá, sempre presente, relembrando-o do que fez e do que faz.

Chamam-o de louco.

Ri. Quem sabe, tenham razão. Quem sabe, ele era louco. Afinal, fora um idiota ao trocar a carne viva pela madeira morta.

Há anos Sasori deixara de sentir, física e psicologicamente.

Não sabia e não reconhecia mais a felicidade, a tristeza, a dor, até mesmo a saudade. Ainda tem na memória sua infância, as marionetes dos pais, tão artificiais como ele. Tão mortos como ele.

Se lembrava de como chorava, esperando seu retorno, mesmo sabendo que era em vão. Com o tempo, as lágrimas deixam de cair de seu rosto.

Não choraria mais, não sofreria mais, não teria mais que precisar se alimentar ou beber, não ficaria mais com os olhos inchados pelas lágrimas ou doente.

Afinal, marionetes mortas e imortais não precisam de sentimentos, não precisam viver.

E com isso em mente, Akasuna no Sasori deixa a humanidade para tornar-se uma simples ferramenta.

Abandona o mundo corrupto humano para o simples das marionetes.

Dos homens, apenas a aparência. Apenas o físico, os cabelos ruivos bagunçados e os olhos castanhos que emitiam tristeza.

Talvez, ele ainda achava aquilo triste. Talvez.

Mas afinal, como era mesmo a tristeza? Como era sentir aquela dor ardente em seu peito, que te torna lento e lhe traz lágrimas aos olhos e te deixa de cara vermelha e inchada?

Não se lembrava mais. E pouco se importava. Os sentimentos eram só um obstáculo que já conseguira passar por cima.

Pra que sentir, se iria tudo ficar no seu caminho, te impedindo de acalçar seus objetivos? Pra que ficar feliz ou com raiva e se descuidar? Pra que ficar cabisbaixo e desistir? Pra que sentir compaixão por aqueles que mataria e transformaria em mais dos seus?

Os humanos são tolos, ridículos. Se deixam levar pelo momento, se descuidam e acabam com suas vidas.

Melhor era ser a marionete sem nada. Muito melhor.

Nada de limitações, podendo sempre se tornar cada vez mais mortal e complexo e com a liberdade de matar sem sentir a mínima pena de sua vítima.

Pois era para isso que ele servia.

Era apenas uma ferramenta para pensar e matar.

Era silencioso e eficaz com seus venenos.

E assistia à morte, as vezes lenta, outras rápida, de suas vítimas.

Mas que tolos, não é? Nem sequer pensaram na morte! Em suas mentes, apenas o desejo de viver, mesmo sabendo de seu fim!

Artificial, frio e belo.

Akasuna no Sasori era, acima de tudo, belo.

Como não admirar a mais perfeita e humana marionete, criada a partir de um humano? Como não prestar atenção nas mechas vermelhas, nas asas falsas, nas dobras perfeitas dos dedos ágeis das mãos, nas orbes castanhas tristes e cansadas, mesmo sem fadiga?

Ele era, afinal, eterno.

Pois, mesmo com o coração perfurado e nos instantes de perder o último fio de vida terrestre, sabia que seu trabalho permaneceria em terra, para sempre.

Sem sentir dor, desmaia.

E pela primeira e última vez, Akasuna no Sasori é humano.

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Apenas uma pequenina oneshot filosófica em homenagem ao Danna. Fofo! Adoro a akatsuki, e espero poder escrever mais deles, com a oportunidade e inspiração.