CAPÍTULO I - A razão de se esperar pelo tempo...

"A razão de se esperar pelo tempo, é que pode não haver mais tempo,

para aquilo que se esperava". (Antonio Tecco Jorge).

Um ano e cinco meses. Esse era exatamente o tempo que havia passado desde a última vez que o vira. Todos os dias, ao sentar em sua cadeira, Lisa Cuddy relembrava da última vez que o avistara... podia rever nitidamente sua face confusa e espantada assumindo pela primeira vez que não estava bem. Recordava-se do medo estampado nos olhos daquele homem que lhe fazia tanta falta.

- Um ano e cinco meses... – Pensava em voz alta enquanto olhava para o nada sem perceber que seu amigo adentrara sua sala.

- Cuddy... – Perguntou já de pé, ao lado da mesa, ficando na frente da visão da administradora enquanto acenava a mão tentando tirá-la daquele aparente transe.

- Wilson? – Perguntou imediatamente enquanto balançava a cabeça tentando afastar os pensamentos que a tanto a faziam sofrer. – Desculpa, estava distraída, pensando em algumas coisas. Sabe como é... o hospital, a Rachel, a festa de aniversário dela... Tantas coisas... – Sorriu timidamente um meio sorriso.

- É... eu compreendo. Mas acredito que esses três motivos citados não são os únicos responsáveis por sua falta de concentração durante todo esse último ano.

- Pois saiba que esses são os únicos motivos, Dr. Wilson. – Falou rapidamente enquanto pegava alguns papéis e organizava-os em cima da mesa. – Acredito que tenha vindo por algum motivo, então... pode falar.

- Bom, sim. Na verdade são dois motivos. Mas acredito que não vai gostar de nenhum deles, já que ambos se tratam do...

- House. – Falaram em unissonância.

- Wilson, não é que os assuntos do House não me agradem, eu só não gosto de conversar sobre ele com você. E isso é só porque você insiste em bancar o cupido e provar para nós dois que nos amamos e, se aceitarmos esse amor, viveremos felizes para sempre.

Wilson sorriu com o comentário.

- Por que o que eu penso incomoda tanto vocês? Se isso não é verdade, vocês ficariam indiferentes, não teriam tanta necessidade de provar o contrário.

- Olha, Wilson... – Cuddy suspirou. – Eu não sei o que ele acha disso, mas eu não gosto dos seus comentários apenas porque esse hospital tem ouvidos e eu zelo pela minha reputação. Se a FALSA história da administradora do hospital e seu funcionário possuírem um relacionamento vazar, eu estaria perdida! O que pensariam de mim?

- Que você está indo atrás da sua felicidade?

Cuddy não respondeu. Apenas suspirou novamente e abaixou a cabeça, levantando em seguida para olhar nos olhos do amigo. Quando ia abrindo a boca para falar algo, Wilson a interrompeu.

- Eu não acho que você deveria se importar tanto assim com sua reputação em relação ao House. Pelo menos não mais agora. Todos desse hospital acreditam que vocês transaram por causa da última declaração dele. E ninguém sabe que foi só uma alucinação.

- Eu sei... eu sei...

- E tem outra coisa Lisa... – Wilson sentou-se na cadeira em frente à amiga. – O House sempre brincou com você em relação a vocês fazerem sexo, e, por mais que ninguém pudesse ter provas, todos acreditam que vocês têm um relacionamento escondido há anos.

- Eu sei, mas ninguém tinha nenhuma certeza. Era só desconfiança, e ele deu essa certeza quando falou que dormiu comigo em público.

- AH! Poupe-me desse discurso, Lisa. Você realmente acredita nisso que está dizendo? É claro que todos tinham certeza desse relacionamento. O House faz o que bem entende desse hospital e você não o demite. Ele te humilha publicamente chamando-a de prostituta e você não se importa. Faz brincadeira de cunho sexual com a chefa e você apenas sorri e dá alguma ordem para quebrar o clima... ordem que por sinal ele não cumpre, mas continua nesse hospital sendo tão bem tratado como todos os médicos que respeitam você e os pacientes.

Lisa Cuddy apenas o olhava assustada. Sabia que tudo aquilo era a mais pura verdade, mas também tinha ciência de que não estava preparada para ouvi-la. Conhecia seus sentimentos por House e tentava ignorá-los, mas deixava-os transparecer a cada ação protetora que executava para livrá-lo de alguma coisa.

- Agora não me venha dizer que essa preferência é por amizade, Lisa Cuddy, que nós dois sabemos que não é verdade. Você o ama! Pode mentir para o mundo, para mim, para ele e até pra você mesma, mas isso não vai minimizar esse amor ou fazê-lo desaparecer.

Cuddy continuava séria. Sentia seu rosto queimar, seu coração apertar na mais profunda angústia e suas lágrimas começarem a formar em seus olhos, mas não daria o braço a torcer. Ela era Lisa Cuddy, a mulher poderosa que lutou para conseguir ser administradora de um hospital com pouca idade e para mantê-lo estável enquanto assumisse aquele posto; a mulher que lutou contra sua própria fisiologia para ser mãe e que conseguiu realizar esse sonho quando encontrou a pequena Rachel; a mulher que conseguiu negar um amor de vinte anos para si mesma... ou não. Naquele momento, ela percebeu o quanto havia falhado nessa última.

- E esse é um dos motivos. – Wilson prosseguiu. – Lisa, desde que o House foi para Mayfield você não foi visitá-lo nem uma vez. Mesmo se você não amasse esse homem... Pelo amor de Deus, você o ama! Mas mesmo se não amasse, ele trabalha com você há anos e não merece uma mísera visita? Ele sai daqui a um mês, você sabia?

Lisa agora estava assustada. Não imaginava que estava tão próxima de revê-lo. Wilson continuou, tirando-a do transe.

- Não tinha como saber, não é? Não foi visitá-lo, nem procura saber da saúde dele... A única coisa que você faz é me perguntar um "Como ele está?", eu respondo o "Na mesma. Pelo menos na mesma para mim, você deveria vê-lo... Para você é novidade como ele está". Então você faz uma cara de medo, angústia e dor e sai sem uma palavra. – O oncologista fez uma pausa para um forte e alto suspiro. – Ele vai sair de lá daqui a quatro semanas e você não mostrou se importar com ele nem um mísero dia. Conserte isso a menos que não queira nem a amizade daquele homem. - Wilson se levantou e foi em direção a porta.

- James. – Chamou Cuddy enquanto ele rodava a maçaneta para abrir a porta e ele virou-se para a chefe com intuito de ouvi-la. – Qual o segundo motivo que te trouxe aqui?

- A equipe do House está com mais um caso em que ninguém consegue resolver. Estão desesperados e continuam pressionando sobre em que diabos de lugar ele está que nem sequer pode atender um telefone para salvar uma vida. Acredito que algum deles venha aqui pedir novamente um número de contato. Prepare-se para enrolá-los por mais um mês e aproveite esse tempo para consertar seu desinteresse nesse último ano.

Com isso, o médico saiu fechando a porta atrás de si. Ele sabia o quanto doía, em Cuddy, a idéia de ver House em um Hospital Psiquiátrico dopado, usando camisa de força ou apenas trancado em um quarto branco como um louco, mas ele também percebia o quanto o amigo sentia falta dela. De mês em mês, no dia da visita, Gregory House perguntava sobre o hospital e sobre certa administradora atraente que lá trabalha. Quando sóbrio, fazia-se de indiferente à resposta e apenas curioso na pergunta. Quando sobre efeito de medicamentos, deixava claro seu interesse pela reitora. A verdade é que, se havia uma esperança dos dois ficarem juntos, era se Cuddy o visse e percebesse o efeito que fazia naquele homem sem que este tente esconder seus sentimentos. James Wilson tinha apenas uma visita para provar a ambos o amor que eles sentem um pelo outro.

Lisa Cuddy continuou imóvel, sentada em sua cadeira olhando para porta por onde o oncologista havia passado minutos atrás. Pensava em tudo que acabara de ouvir e na veracidade daquilo. Seria impossível visitar House; algo fora de cogitação. Não teria forças para vê-lo num lugar como aquele. Abaixou a cabeça com um suspiro de preocupação e ao levantá-la viu uma foto da pequena Rachel em cima de sua mesa. Lembrou-se de que dali a duas semanas seria o aniversário de dois anos de sua filha. Pegou o porta-retrato com cuidado acariciando-o como se fosse sua criança e sorriu. Recolocou o objeto no devido lugar e, com um sorriso maior no rosto, pegou o telefone e discou alguns números, esperançosa de ser a solução de seus problemas.