N/A: Essa fanfic acontece durante O Prisioneiro de Azkaban e menciona acontecimentos prévios ao livro. Seguirá paralelamente ao livro, com alguns elementos alternativos adicionados.

Aviso: Contém menção a automutilação, sem detalhes e mencionada como fato ocorrido.

Disclaimer: Se esses personagens me pertencessem, eu estaria viajando pelas estradas rurais da Itália na minha Ferrari F430 Spider, contudo estou aqui, escrevendo para vocês. Eles não me pertencem.

N/T: Bem-vindos ao primeiro capítulo de "De Nascimentos, Mortes e Todas as Outras Coisas", tradução de Of Births and Deaths and Everything In Between de EmPoweredBeing. Traduzido por Mellie E. e betado por Gika Black.

Divirtam-se!

Capítulo 1

Harry estava sozinho na escuridão. Ele olhou em volta, um pouco confuso sobre onde estava, e de repente estava rodeado de pessoas por todos os lados, e todas iam em direções diferentes. Ele não conseguia sair do meio da multidão e estava assustado; petrificado porque sabia que não podia usar magia, ele sabia que certamente seria expulso depois do incidente com Tia Marge antes do início das aulas, há pouco menos de cinco semanas. Então ele foi empurrado, puxado e derrubado, temendo cada vez mais que as centenas de pessoas fossem esmagá-lo, até que uma luz brilhante apareceu diante dele. Ele cobriu os olhos e tentou olhar diretamente para ela, mas não conseguiu decifrar o que era. Finalmente, ele sentiu uma mão quente segurar a sua e, enquanto seus olhos se ajustavam à luz, ele pôde perceber um par de olhos verdes brilhantes olhando para ele calorosamente quando seus sonhos mudaram e tudo o que ele conseguia ver era Sirius Black gritando com ele.

Pela terceira vez naquela noite Harry acordou suando frio. Ele se sentou em sua luxuosa cama de dossel em seu dormitório na Torre da Grifinória e olhou em volta. Ele emitiu um suspiro de alívio ao perceber que não estava nem no meio de uma multidão, nem diante de um enlouquecido Sirius Black. Suspirando e esfregando os olhos cansados, ele olhou para seu relógio: 2:27 da madrugada.

"Ótimo." Ele murmurou enquanto se deitava novamente. "E agora?" Pensou, ao perceber que não conseguiria voltar a dormir.

Ele se lembrou da conversa que tivera com o Sr. Weasley na Estação de King's Cross antes de partir para Hogwarts. Prometa que não vai sair procurando por ele, Harry. Harry pensou sobre isso por um momento. Por que ele sairia procurando alguém que queria matá-lo? Ele perguntara isso ao Sr. Weasley, mas o homem apenas conduziu-o para o trem sem falar mais nada. Harry franziu a testa e, sentindo-se muito menos cansado, saiu da cama, pegando a capa de invisibilidade de seu pai do baú, antes de se dirigir ao salão comunal. Ele olhou de relance pelo salão vazio e sorriu de leve. Tivera um verão horrível com os Dursley e sempre levava um tempo até que superasse os efeitos de sua estadia na casa dos tios. Mas enquanto permanecia em pé no salão vazio podia sentir a magia se infiltrar em seus ossos. Não que o salão comunal tivesse tal tipo de magia, mas a magia de estar de volta a Hogwarts, com seus amigos e professores.

Durante os dois anos anteriores Harry, Hermione Granger e Rony Weasley tinham se tornado inseparáveis e ele começara grandes amizades com outros Grifinórios. Ele sabia que o Professor Dumbledore gostava dele, assim como a Professora McGonagall, embora fosse difícil dizer o quanto devido a sua severidade habitual. Ele refletiu sobre a diretora de sua Casa por um momento, pensando que ela parecia incomodada nos últimos dias e suas aulas, de maneira pouco característica, haviam sido bastante calmas. Ela era uma professora rigorosa, mas suas aulas eram sempre cheias de informações e habilidades que, Harry sabia, seriam de grande utilidade. Não essa semana, contudo. Eles estudaram principalmente teoria e cada vez que Harry desviara o olhar de suas anotações, a professora estivera olhando o lago pela janela com um olhar melancólico.

Encolhendo os ombros, ele vestiu a capa de invisibilidade e saiu pelo buraco do retrato. A Mulher Gorda se moveu e abriu um olho, mas voltou a dormir ao não ver ninguém diante dela. Ele perambulou pelos corredores de pedra sem prestar atenção aonde ia, passando as mãos pelas paredes gélidas, sentindo-se cada vez mais em casa ao se deixar envolver no consolo de sua amada escola.

"É bom estar em casa." Ele suspirou enquanto olhava para as pesadas portas trancadas de Hogwarts, sentindo-se mais seguro do que jamais de sentira na casa dos Dursley. Ele entendia que enquanto ficasse com seu tio e tia estaria a salvo de Voldemort, mas Dumbledore não podia saber o quão sozinho Harry se sentia lá. Ele não podia saber o quão atormentado Harry se sentia desde o minuto em que entrava na casa que passara a considerar sua prisão. Geralmente só levava alguns dias até que se descobrisse cortando-se novamente. Nunca em locais em que alguém pudesse notar, normalmente apenas em suas coxas e alto o suficiente para que seus calções trouxas cobrissem as marcas avermelhadas. Mas ele sabia que no momento em que retornava a escola o desejo passava e agora que estava aqui Harry se sentia mais feliz do que se sentira nas últimas doze semanas, sabendo que teria um ano inteiro antes que tivesse que voltar àquilo. Depois de embarcar no trem na Plataforma Nove e Meia ele sentiu um grande peso sair de cima de seus ombros e ele não sentia mais o desejo de cortar sua pele. Ninguém no castelo podia fazê-lo se sentir como quando estava preso em Little Whinging, bom, Draco Malfoy e o Professor Snape possivelmente lembravam-no disso, mas estar cercado dos amigos ajudava a manter tudo afastado.

Ele saiu de seus devaneios quando o som de choro penetrou o silêncio do saguão. Ele franziu as sobrancelhas ao tentar localizar a origem do som. Esticando o pescoço ele decidiu que estava ouvindo coisas e que era hora de voltar ao salão comunal antes que um dos professores fizesse a costumeira varredura dos corredores. No caminho de volta a Torre da Grifinória ele passou pela sala de aula de Transfigurações e ficou surpreso ao encontrar algumas velas ainda acesas e a porta entreaberta. Parou ao olhar para o final do corredor, imaginando se devia apenas voltar para a cama, quando ouviu o choro. Respirando fundo, ele decidiu entrar. Retirou a capa de invisibilidade (era melhor ser pego fora da cama do que com a capa) e enfiou-a no bolso antes de empurrar a porta, hesitante, e entrar na sala. Ele se encostou a parede enquanto seus olhos se ajustaram a luz fraca, mas ao não encontrar ninguém, ele franziu a testa de leve, imaginando de onde vinha o choro.

Ele andou por entre as fileiras de carteiras até a frente da sala, onde ouviu novamente. O som ficava mais claro enquanto se aproximava da porta que ele sabia levar ao escritório da Professora McGonagall. Sentindo-se ligeiramente envergonhado, Harry se encostou a porta e escutou. A Diretora de sua Casa estava definitivamente chorando e ele respirou fundo, tentando decidir o que fazer. Ele respeitava a Professora McGonagall e até gostava dela, mas ela não era uma pessoa de quem era fácil se aproximar, com seu exterior firme e decidido. Era com isso que Harry se preocupava enquanto estava parado do lado de fora da porta; ele sabia que ela não veria com bons olhos o fato de ele se intrometer em seus assuntos particulares, especialmente porque era sempre tão impassível.

Decidindo-se por deixá-la com seu pesar, ele se virou para deixar a sala de aula, mas não antes de diminuir as luzes que estavam acesas. Ele havia quase passado a mesa da professora quando parou por um momento e conjurou uma flor para ela. Não sabia realmente porque o fizera, mas Hermione ensinara a ele e a Rony como fazer no dia anterior e ele achou que seria gentil. Também não sabia porque, depois de conjurar margaridas no dia anterior, a flor na mesa da professora era um perfeito lírio branco. Encolhendo os ombros, ele passou para o corredor apenas para colidir imediatamente com alguma coisa, derrubando-o de costas contra a parede.

"Oof!" Ele grunhiu ao atingir a pedra fria.

"Ora, ora, ora. Se não é o Menino Maravilha, perambulando pelos corredores após o horário. O que está fazendo fora da cama tão tarde, Potter?"

Harry se encolheu ao ouvir seu pior pesadelo praticamente cuspir as palavras de modo condescendente. Ele soube que era Snape no minuto em que colidira com ele. Harry olhou desafiadoramente para o Mestre de Poções e tentou pensar no que dizer desesperadamente, mas era difícil, ele percebeu, pois enquanto seu corpo não estava tão cansado, seu cérebro parecia estar meio adormecido.

"Hum, Professor, eu, hum." Ele gaguejou, maldizendo a si mesmo por não recolocar a capa de invisibilidade antes de deixar a sala.

"Estou esperando, Potter." Falou Snape lentamente, zombando de Harry com repugnância evidente em sua expressão.

Harry desanimou. Sabia que não tinha desculpa para estar fora da cama e encolheu os ombros em derrota.

"O que estava fazendo na sala de Transfigurações?" Exigiu saber Snape de maneira acusadora, encarando Harry.

Harry considerou a resposta por um momento. Ele não queria contar a Snape que ouvira a Professora McGonagall chorando, mas que outra desculpa poderia dar? De novo, ele encolheu os ombros indiferentemente, sem responder nem a verdade nem dando razão para brigar com o professor que o atormentara nos últimos dois anos sem motivo.

"Você é igual ao seu pai. Ele pensava que possuía a escola, andava por onde queria, achava que estava acima das regras. Bom, eu tenho novidades para você Potter, você não vai seguir o exemplo dele. Aquela desculpa patética de bruxo não era nada, ele era um idiota arrogante e você está no caminho certo para seguir os passos dele."

Harry ficou chocado demais para dizer qualquer coisa enquanto ouvia seu professor de Poções insultar seu pai, sentindo a raiva acumular dentro dele descontroladamente.

"Retire o que disse!" Ele gritou inesperadamente. O som ecoou no corredor silencioso, surpreendendo ambos.

"Você não sabe como ele era. Oh, sim, James Potter, o perfeito Potter, herói da Grifinória. Ele era um valentão e um covarde e recebeu exatamente o que merecia!"

A fúria de Harry borbulhou e de repente ele e Snape tinham as varinhas apontadas um para o outro. Antes que qualquer um deles pudesse proferir um feitiço, entretanto, as varinhas voaram pelo ar e pousaram na mão de uma Minerva McGonagall vestida de roupão, que parecia furiosa.

"O que significa isso?" Ela perguntou de maneira ríspida.

Snape deu um passo para trás enquanto Harry apenas olhou para ela, percebendo as marcas de lágrimas nas bochechas dela, antes de olhar para o chão, envergonhado de ter deixado as coisas chegarem tão longe.

"Severo?" Ela perguntou, encarando o colega e Diretor da Sonserina. Ele se empertigou, o choque de quase explodir um de seus alunos desaparecendo antes de responder.

"Potter estava fora da cama, nós estávamos apenas discutindo sua punição."

Harry não pôde evitar bufar.

"Tem algo a dizer, Potter?" Perguntou McGonagall, olhando para ele. Ele sacudiu a cabeça. "O que estavam fazendo apontando as varinhas um para o outro?"

"Eu estava apenas demonstrando ao Sr. Potter-" – Snape começou. Harry o interrompeu.

"Merda nenhuma! Você insultou meu pai!" Ele disse sem pensar.

"Linguagem, Sr. Potter." Repreendeu McGonagall antes de se virar para Snape, que parecia envergonhado ao ser submetido ao famoso olhar severo de McGonagall. "Bem, Severo?"

Ele olhou para ela, analisando-a por um momento antes de responder.

"Eu estava somente informando Potter das reais características do pai."

Harry olhou furiosamente para o Mestre de Poções, que escarnecia dele por sobre o ombro de McGonagall. Harry deu um passo para perto de Snape, mas foi parado por uma mão sobre seu braço.

"Mesmo assim, não é razão para apontarem as varinhas um para o outro. Severo, no futuro você se lembrará de trazer qualquer aluno meu pego fora da cama a noite direto a minha sala para que eu possa lidar com eles pessoalmente. Boa noite, Severo." Disse McGonagall em tal tom de finalidade que Snape não pôde ignorar. Ele pegou sua varinha da mão dela e girou em seus calcanhares, a capa voando ao caminhar pelo corredor para longe da vice-diretora e do Menino-Que-Sobreviveu.

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"Cretino." Murmurou Harry em voz baixa, observando Snape desaparecer ao virar um canto.

"O que foi que eu disse?" Perguntou McGonagall, devolvendo a varinha dele. Harry pegou-a cuidadosamente, fazendo uma careta pela repreensão.

"Desculpe Professora." Disse Harry, sincero, sem olhá-la nos olhos. Ele quase podia sentir o olhar severo da professora sobre si.

"Cinquenta pontos a menos para a Grifinória, Sr. Potter, por vagar pelos corredores durante a noite." Ela disse energicamente antes de se virar para voltar aos seus aposentos, pausando um momento na soleira da porta antes de virar-se para ele. "Por falar nisso, Potter, você não saberia de onde isso veio, saberia?"

O olhar de Harry tremulou ao olhar para a Diretora de sua Casa, que segurava a flor que ele conjurara. Ele corou, os cantos da boca crispando-se enquanto se balançava em seus calcanhares. Agora estava meio envergonhado de ter sido pego deixando o presente.

"Hm, é, hm, eu... Bom, eu conjurei, Professora. Eu estava passando e, bem, pensei que a senhora precisava de um pouco de alegria, mas não queria incomodá-la, então, bem, eu... Não importa agora... E então Snape me encontrou e-"

"O professor Snape." Corrigiu McGonagall, pondo um fim ao discurso desconexo de Harry. Ele olhou para ela e percebeu que ela parecia, sim, um pouco mais feliz ao olhar para a flor que segurava.

Ele arfou quando ela sorriu suavemente, perdida em pensamentos. Sentindo-se um tanto tolo, ele se virou para voltar a Torre da Grifinória, ansioso para voltar para a cama, mesmo que fosse apenar para olhar para o teto, sem querer ser pego andando pelos corredores outra vez ou ficar nessa situação estranha.

"Você sabe que dia é hoje, Sr. Potter?" Perguntou a Professora McGonagall brandamente. Harry parou e se virou, chocado ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto dela. Ele tentou oferecer consolo colocando a mão em seu ombro, mas tirou a mão, sem saber como consolar a professora, normalmente tão forte.

"Não tenho muita certeza do que quer dizer, Professora." Ele murmurou, tentando não chateá-la mais.

"Por que um lírio?" Ela sussurrou, olhando direto para Harry, os olhos tremendo enquanto as lágrimas corriam pela face. Harry encolheu os ombros e respondeu sinceramente.

"Honestamente, Professora, eu não sei. Hermione nos ensinou a conjurar margaridas ontem e acho que não estava prestando atenção e a flor só apareceu." Ele se sentiu péssimo ao vê-la chorar, a máscara firme quebrando ainda mais enquanto ela segurava a flor próxima ao peito. "Professora, me desculpe, eu não queria aborrecê-la, só ouvi a senhora chorando e foi a única coisa em que pude pensar em fazer pela senhora..."

Ele parou de falar, envergonhado.

"Harry," começou McGonagall, hesitante, fazendo Harry olhar para ela bruscamente. Ela nunca o havia chamado pelo primeiro nome antes. "hoje é 31 de outubro."

"O que isso quer dizer, Professora?" Perguntou Harry, preocupado que tivesse perdido uma informação vital. Ela balançou a cabeça negativamente, dando palmadinhas no braço dele. Ela sorriu e colocou uma mão na bochecha dele, pegando-o de surpresa com as emoções evidentes em sua professora formidável.

"Sua mãe ficaria tão orgulhosa de você, Harry." Foi tudo o que ela disse ao retornar a sua sala de aula e aposentos pessoais, lançando o feitiço Muffliato, silenciando qualquer barulho dentro da sala e deixando um Harry atordoado sozinho no corredor para pensar em tudo o que acontecera nessa noite estranha.