Segredos
By Marmaduke Scarlet
Disclaimer: Tudo da JK. Ou algo assim.
Considerações iniciais: Essa fic é mais forte do que as outras que eu costumo escrever. Tipo, é um romance policial, então tem assassinato, drogas, essas coisas. Nada muito explícito, não se preocupem. E nessa fic James e outros personagens fumam. Eu não sou a favor do cigarro. Cigarro mata. Mas a fic se passa nos anos 70, e todo mundo fumava nessa época. Enfim. Só pra deixar isso bem claro. Ah, todas as informações sobre a cultura punk, Inglaterra e outras coisas foram tiradas da Internet. Se alguém souber de alguma informação errada, por favor me corrija. Os códigos policiais são da polícia dos Estado Unidos, mas eu acho que podem ser usados pelos britânicos. De qualquer modo, isso é ficção. Eu tenho direito de inventar o que eu quiser por aqui, né:D jaijfaisdjfisdf Divirtam-se
"A verdade está dentro de nós,
Don Octavio. Não posso ajuda-lo a encontrá-la."
DON JUAN DE MARCO
O BECO recendia a urina e comida estragada.
As botas grudavam no chão ao caminhar e não havia uma única luz ali.
Caminhei rente a parede, sem me importar com a sujeira. Meu coração batia totalmente enlouquecido, e a adrenalina fazia minhas mãos tremerem, embora não estivesse frio.
Ele estava se aproximando.
E não havia para onde fugir.
Caminhei mais para o fundo do beco, procurando por uma porta, uma escada, uma janela, qualquer coisa. Uma saída.
A policial dentro de mim estava calma. A mulher, desesperada.
E ele chegava cada vez mais perto.
Aparatar estava fora de questão. Um mísero movimento com a varinha e ele iria sentir a magia. A agonia era um punho fechado em volta do meu estômago. Eu precisava fugir.
A luz vermelha de uma boate piscava ali por perto. Dava para ouvir os passos dele vindo, chegando cada vez mais perto.
Me escondi na escuridão e me preparei para matar ou morrer.
ACORDEI sobressaltada.
A primeira coisa que notei foi a dor nas costas que começava a latejar. E a claridade do cômodo. Muito claro para ser de noite.
- Você está bem? - piscando muito, consegui fazer com que James entrasse em foco. Se ele estava presente, então eu não estava em casa.
Ah, droga, cochilei de novo na cadeira da janela.
Assenti com a cabeça, ainda meio grogue, esfregando os olhos.
- Que horas são? - pergunto. James está parado na minha frente ainda, as mãos no bolso, me olhando.
- Você anda tendo pesadelos? - ele pergunta. Ergo o rosto para olhá-lo, irritada. E o fato de ter que contrair os olhos pra poder enxergá-lo com toda aquela luz atrás dele também não ajuda muito para melhorar o meu humor.
- Que porra você é? Minha mãe? - resmungo.
- Você deveria ir ver a Dra. Ashanti.
Aastha Ashanti é a medi-bruxa responsável pela saúde mental dos Aurores e pelos perfis psicológicos de todos os loucos e psicopatas que vão para Azkaban. Eu a respeito muito como profissional, mas sempre que resolvo fazer uma visitinha a ela, ganho de brinde uma avaliação psicológica não-requesitada sobre a minha pessoa. Não gosto de gente bisbilhotando minha mente, ou minha psique. Ou os dois.
- Claro, você sabe que eu adoro ter minha mente estuprada. É um dos meus hobbys favoritos.
James meramente revira os olhos.
- Nem vou me dar ao trabalho de discutir isso com você.
- Ótimo. Agora dá pra sair da frente?
Ele fica me olhando, com aqueles olhos de gato brilhando por trás das lentes dos óculos. Não dá pra ler nada naqueles olhos. Estão sempre impassíveis. Isso é irritante, muitas vezes, mas é também uma das coisas mais atraentes no James.
E olha que a lista é grande.
- Você me ouviu? - pergunto.
James simplesmente se vira e me dá as costas, indo mexer numa pilha de pergaminhos, uma das várias que abarrotam nossa sala. Me levanto e cruzo o minúsculo aposento para pegar café na cafeteira, tendo que me desviar da mesa. Tudo bem, a sala é menor que minúscula. Mas, ainda que seja pequena, tenha uma mesa que ocupe a maior parte do ambiente, tenha um papel de parede azul desbotado com flores de lis cinzas mais velho que o Agrippa (que inclusive tem manchas de mofo. O papel, não Agrippa), que todas as cadeiras da sala tenham sido projetadas para moer sua bunda, eu gosto dela. Quero dizer, pelo menos tenho uma porta para fechar. E posso dar piti sem ter uma platéia me rodeando no final. Quero dizer, tem o James, mas ele não conta. Na verdade, conta porque ele é meu parceiro, mas ele sempre diz que vai sair para fumar quando pressente que vou começar a gritar. O que é uma desculpa, já que ele também fuma aqui dentro (embora seja proibido fumar dentro do Ministério).
E é isso que ele está fazendo agora.
Acendendo um cigarro.
Tomo um gole do café. Está uma droga, só pra variar um pouquinho.
- A gente vai ter folga amanhã? - pergunto, só para preencher o silêncio.
James assente, se afastando da janela.
- Que bom.
- É.
Ele dá mais uma tragada e fica brincando com o cigarro entre os dedos. James tem mãos grandes, de dedos longos e nodosos. E sei que ele tem muita habilidade com elas. Infelizmente, sei disso porque ele constantemente fica brincando com o cigarro, ou girando a varinha entre os dedos, ou virando uma moeda ou fazendo algo assim.
James então sorri.
- Por que você está sorrindo?
- Você está com a bochecha marcada pela cadeira.
Mordo a língua para me impedir de dizer a torrente de palavrões que me vêem à cabeça. Porque isso sempre acontece?
Alguém bate na porta e James se desencosta do batente e saí à procura do cinzeiro dele, que deve estar perdido em algum lugar no meio dessa bagunça. Bem, na verdade o cinzeiro é do restaurante, e James o afanou de lá e o trouxe pra cá, depois que eu reclamei dos eternos copinhos descartáveis cheios de cinzas e guimbas.
Não que realmente tenha adiantado muito, já que ele vive perdendo o cinzeiro.
A pessoa bate na porta, três batidinhas rápidas e impacientes. Fico observando James procurar o cinzeiro.
Finalmente, ele o acha. Largo minha xícara de café pela metade do lado da cafeteira e me desencosto do balcão. Como eu estou mais perto da porta, vou atendê-la.
- Sim? - pergunto, amável.
- Ah, que bom que vocês estão aqui ainda. - É a Bethany. Ela passa por mim, e entra na sala, sem a menor cerimônia. Bethany entrou nos Aurores faz mais ou menos uns oito meses. Ela é apaixonada pelo James, e às vezes eu penso que ela tem algum plano maligno para me matar e tomar meu lugar como parceira dele. Mas na maioria das vezes é ela apenas desagradável, mas inofensiva.
- O que houve, Betty?
- A gente tem um DB¹ no noroeste de Londres, em Camden.
- Onde? - James pergunta. Pego minha bolsa.
- Num bequinho da Pleender Street.
- Pleender Street tem muitos bequinhos. - digo, irritada.
Bethany olha para James.
- Quem foi que te passou a informação? - ele pergunta.
- Andrew.
Sem dizer mais nada, James sai da sala. Ele bufa, ao sair, e eu imediatamente sei que ele está contrariado.
- Bethany?
- Sim?
- Sim, senhora. Sou sua superior. - Sou apenas uma detetive, o que me deixa um nível acima do dela na hierarquia dos Aurores, e isso não é grande coisa, pois não temos grandes privilégios ou coisa assim. Mas é bom jogar isso na cara dela. - Cai fora.
Ela me lança um olhar de desdém, e sai da sala, os cabelos ruivos (são tingidos) balançando suavemente.
Odeio ela.
Realmente odeio ela.
Tranco a porta da sala e passo pelos cubículos do QG, cheio e barulhento a essa hora e em todas as outras do dia. É o point da galera do Nível Dois, o nosso andar. Tudo que é notícia no mundo bruxo passa por aqui. Ou pelo menos tudo que sai na página criminal.
Atravesso as pesadas portas de carvalho da entrada, e fico esperando os elevadores. James logo me alcança.
- Sabe aquela nossa folga? - ele começa, quando aperto (de novo) o botão no elevador. - Acho que não vai rolar.
Ergo as sobrancelhas. Como assim? A área que acharam o DB não é exatamente conhecida por ser o lar de amáveis vovozinhas felizes. Na verdade, aquela parte de Camden é a Meca dos punks de Londres. Então não é raro alguém morrer de overdose ou algo assim. Logo, achei que esse ia ser mais um caso fácil desse tipo.
- Parece que é um um-oito-sete². Dos grandes.
Ah, que legal. Um-oito-sete dos grandes só pode significar uma coisa: um assassinato bem violento e sórdido, só pra animar o meu dia.
Sensacional.
¹ Código da polícia para "Dead Body", corpo morto, literalmente.
² 187 (one-eight-seven, originalmente) é um código da polícia para designar homicídio.
N/A: Mais uma fic minha! Hahaha :D Agora não vai dar nem pra vocês sentirem saudades de mim! Estou tão empolgada! Eu sempre quis escrever um romance policial com Lily e James!
Mas esse vai ser forte. Nada de Lily bobinha imaginando coisas por aqui. Agora ela é uma mulher competente e inteligente (rimou!). Mas ainda vamos ter alguns micos de vez em quando, só pra descontrair.
Ta, chega de saltinhos de alegria.
Reviews são apreciadas.
