Presente de aniversário para Bia Elric!


Let it Be

.1.

Você quer conhecer um idiota que aceitou uma aposta ridícula de ficar 90 dias sem sexo por causa de uma garota? Prazer, meu nome é Aiolia.

E a garota é a Marin. Estou a fim dela faz um tempão, mas a garota vive me enxotando dizendo que eu sou muito galinha. Aí surgiu essa aposta, de que se eu ficasse 90 dias sem sexo, ela sairia comigo. E por sair, eu espero que ela entenda que, depois de 90 dias em abstinência, eu vou estar esperando bem mais do que alguns beijinhos inocentes.

Agora faltam só três semanas, mas, puta que pariu, isso parece uma eternidade! Eu sei, você deve estar pensando: para alguém que já aguentou nove semanas, isso não é nada. Ledo engano, caro amigo. As horas do dia se multiplicam quando a gente fica em abstinência desse jeito, ainda mais para alguém acostumado a sexo periódico.

Não que eu seja mesmo um galinha, como a Marin insiste em afirmar. Eu sou apenas um cara normal de vinte e um três que gosta de sexo. Que gosta muito de sexo, que fique bem enfatizado.

Por que garotas precisam ser tão ardilosas e cheias de exigências? Havia tantas maneiras menos torturantes de Marin me fazer provar que estou mesmo a fim dela!

Maldito relógio que não anda.

Ainda mais quando a gente está tentando se concentrar nos estudos para uma prova do mestrado segunda-feira. E lá se vai outro final de semana de festa que perco por causa dessa maldita abstinência. Porque, sério, se eu fosse a qualquer festa e bebesse dois goles de cerveja, adeus celibato!

Do jeito que eu estou, pego até freira! Que Deus não me ouça...

Meu celular tocou me tirando de meus devaneios idiotas sobre, adivinhem? Sexo, claro. Atendi com um grunhido gutural. Acredito que, ao reprimirmos nossos instintos básicos, regredimos até voltarmos ao tempo em que morávamos em cavernas. Era mais ou menos o que estava acontecendo comigo. Eu já vinha me esquecendo de como articular direito as palavras.

Dali a pouco eu estaria fazendo desenhos estranhos na parede de casa. Ainda bem que eu moro sozinho.

"Oi, cara!" Era o bastardo do Milo. Ele foi o filho da mãe que deu a ideia dos 90 dias para a Marin. Eu tenho certeza que ela teria engolido uns 50 dias só, mas não, o desgraçado tinha que praticamente dobrar esse número! Mas o que diabos eu estou dizendo? Ele é um filho da puta só por ter inventado essa aposta!

"O que você quer?" Grunhi bastante amigável. E o homem das cavernas se pronunciava dentro de mim novamente. Bem vindo, Sr. Australopithecus. Sexo? Não, no momento está em falta. Desculpe.

"Nossa, quanta simpatia!" Milo fingiu que se importava. Bastardo.

"Fala logo. Preciso estudar aqui." Grunhi mal abrindo a boca. As contas matemáticas começavam a se misturar na minha cabeça. É, eu sou um doido que está fazendo mestrado de matemática e que dá aulas na faculdade como professor substituto. Agora me diga, como um nerd matemático poderia ser um galinha? Você vê algum sentido nessa teoria absurda da Marin?

Depois, quando carinhosamente dizemos que o QI das mulheres é ligeiramente – e repare bem nesse ligeiramente, se você for mulher, caso não for, desconsidere-o, sim? – inferior ao dos homens, elas reclamam, nos chamam de trogloditas machistas e jogam vasos nas nossas cabeças. Verdadeiras vândalas!

"Cara, um amigo meu tá vindo para cidade, e ele precisa de um lugar para morar. Como você mora sozinho, eu passei seu endereço para ele, pode ser?" Milo tagarelou alegremente.

"Você o quê?" Eu perguntei indignado, quase esmagando o celular entre os meus dedos. Quer dizer, quando a gente se muda e passa a morar sozinho, há um motivo para isso! E o motivo é que queremos continuar sozinhos, em paz, em silêncio!

"É só por algumas semanas, Aiolia, até o garoto encontrar um apartamento para alugar! Não seja tão anti-social! Você vai adorar o Mu, ele é super tranquilo!" Milo prontamente tentou me convencer ao reparar no meu dom a la Jack Estripador.

"Não mesmo! Você nem me consultou antes de sair dando meu endereço!" Olha, admito que em circunstâncias normais eu até aceitaria numa boa dar pousada para um amigo do Milo, mas, sério, eu estou muito longe da normalidade. Eu estou prestes a explodir! Meu humor anda pior do que do capeta e eu to para matar meus alunos toda a vez que eles perguntam coisas como 'falta muito para acabar a aula?' ou 'isso vai cair na prova?'.

E esse é o tipo de coisa que não deve estressar um professor, porque, sério, eles perguntam em todas as malditas aulas!

"Ah, Aiolia, foi mal, mas ele já deve estar chegando aí. Seja legal e colabora, né? Que coisa, por que tanto mau humor? Até parece que não pega ninguém há mais de dois meses." O filho da puta do Milo debochou.

"Vai se fuder." Rosnei no exato momento em que a companhia da casa tocou. Suspirou exasperado. "Tudo bem, eu vou fazer isso. Mas só por três semanas. Depois eu chuto ele daqui, porque vou trazer a Marin para cá e fazer ela pagar por todo esse tempo que estou sem sexo!" Desliguei o celular e bati-o sobre a mesa.

Depois levantei e fui atender a porta. O tal Mu – mas que porra de nome é esse? – não parava de tocar a companhia, sem parar, como se eu tivesse a obrigação de ter atendido a droga da porta no primeiro chamado. Já dava para ver que o cara era um folgado.

"Já estou indo!" Gritei irritado descendo as escadas que davam diretamente para a porta de entrada. Abri a porta com força, pronto para dizer algumas palavras mal educadas para o cara (quem sabe ele desistia e ia procurar outro lugar para morar?), porém minha voz trancou na garganta.

"Oi!" Disse o rapaz, abrindo um sorriso simpático. "Eu sou o Mu, amigo do Milo! Ele disse que você ofereceu sua casa para eu me hospedar enquanto procuro um apartamento para alugar! Você é o... Aio... Aiola..."

"Aiolia." Corrigi bobamente.

Então, você deve estar se perguntando por que eu estava nesse estado catatônico, parado feito uma estátua de bronze em frente da porta. Antes de explicar, deixem-me dizer-lhes que eu não sou gay. Não mesmo. Em fato, eu frequentemente acho homens uma coisa bem nojenta, peluda e desengonçada.

Mas esse tal Mu não era nada disso. Ele era um pouco mais baixo que eu e, puta merda, ele tinha cabelos roxos, tipo, cor de lavanda! E inclusive o cheiro que se desprendia dele e parecia nocautear o meu nariz era de lavanda. E os cabelos eram longos, tipo, enormes mesmo. Se não fosse pela cor, eu suspeitaria que ele fosse algum tipo de crente, sei lá. O negócio ia até o final das costas, acho.

E ele também tinha esses olhos verdes, contrastando tanto com os cabelos lilases e a pele pálida! Tipo, lindo mesmo, sabe? E eu não sou gay. Era a abstinência e os traços delicados dele me confundindo!

"Ah, erm... você vai me deixar entrar?" Mu perguntou olhando como se eu fosse meio maluco. Eu pisquei aturdido e percebi que estava me fazendo de babaca o encarando com a boca meio aberta e as sobrancelhas erguidas. Nada legal.

Pisei para o lado abrindo passagem.

"Desculpa. Pode entrar."

Ele voltou a sorrir e pegou a alça da mala de rodinhas dele.

"Obrigado por me deixar ficar aqui. Milo falou que você não anda numa fase muito boa, espero não estar atrapalhando muito..." Ele falou parecendo sincero enquanto entrava na casa, olhando ao redor com um ar curioso. Reparei nas roupas dele – outra coisa que eu geralmente não faço!

Ele vestia uma calça jeans surrada e uma camisa larga dos Beatles. Usava All Star roxo e umas fitas finas e coloridas amarradas no pulso esquerdo, junto com um relógio bem menor do que o normal para homens. Algo que até fazia sentido, considerando o pulso fino dele.

Depois que eu me chutei por estar analisando o rapaz tão descaradamente – ele tinha corado? –, percebi o que ele havia falado e mudei de ideia, achando mais interessante chutar o Milo. Se ele houvesse contado sobre a aposta ele ia se ver comigo! Eu queria que o mínimo de pessoas soubesse sobre meu inferno pessoal de 90 dias.

"O que ele disse?" Perguntei sem nenhum tato, fazendo Mu hesitar quanto ao que responder.

"Só que você não está numa fase muito boa. Ele não entrou em detalhes..." Mu falou dando de ombros e tirando alguns fios lilases do rosto.

"Ótimo." Grunhi. "Vem, vou te mostrar seu quarto." Comecei a subir as escadas. Ao menos eu tinha um quarto de hóspedes! Estava uma bagunça claro, já que eu jogava tudo que era bugiganga inútil – que a gente sempre acha que vai ter algum uso num futuro distante, mas que na verdade só serve para pegar pó – lá dentro.

Mas a culpa não era minha. Eu fui avisado no último minuto do segundo tempo que teria um hóspede!

Parei de subir as escadas ao perceber que Mu estava tendo problemas em subi-las carregando a mala enorme e pesada dele. Quando o olhei, ele sorriu constrangido. Percebi que os olhos dele eram ligeiramente puxados, e que quando ele sorria quase se fechavam por completo. Super bonitinho e... Argh! Esqueça, eu não acabo de chamar um cara de bonitinho!

Desci alguns degraus, abaixei a alça, e peguei a mala pela alça menor.

"Pode deixar comigo." Falei erguendo a mala do chão e a carregando sem dificuldade comigo. Sem querer me gabar, mas meu porte físico era de dois desse magrelo do Mu. Eu fazia musculação todos os dias ao final da tarde, e ainda aproveitava para correr no parque perto de casa sempre que possível. Era óbvio que aquela malinha não fazia nem cócegas no músculo do meu braço.

"Valeu." Mu agradeceu e pôs-se a me seguir em um silêncio respeitoso. De certo ele tava achando que por 'fase ruim' eu houvesse perdido um parente recentemente. Antes isso...

Estou brincando! Não sou tão vidrado em sexo assim para preferir a morte de algum parente. Mas, merda, chega bem perto disso.

Abri a porta do quarto e me senti envergonhado pelo estado do lugar. Em algum lugar dali havia uma cama, juro! O armário estava aberto e cheio de coisas que se estendiam dele também para o chão, e claro, aquelas caixas não viam um pano há um bom tempo, considerando a quantidade de pó circulante.

Mu esticou o pescoço para espiar o quarto e pude perceber seus olhos se arregalarem um pouco. Dois segundos depois ele começou a espirrar e ficar vermelho como se alguém houvesse injetado poeira diretamente em suas veias. Fechei a porta rapidamente e o segurei, sem saber o que fazer. Ele parecia estar entrando em estado de choque, com falta de ar.

"Droga! O que eu faço?" Perguntei desesperado, enquanto ele tentava puxar o ar sem sucesso, fazendo aqueles sons que os asmáticos fazem quando entram em crise. Ele começou a apontar para a mala dele, para um fecho mais externo, e eu me abaixei e a abri começando a procurar feito um doido por algo que lembrasse uma bombinha.

Quando achei, me ergui e levei-a à boca de Mu, que estava encostado na parede com a mão no peito, parecendo prestes a desfalecer. Apertei-a duas vezes e ele lentamente começou a se acalmar, para meu grande alívio. Porra, imagina se eu mato o cara em menos de cinco minutos que ele está na minha casa?

"Você está melhor?" Perguntei, e percebi que eu estava tremendo. Mu pegou a bombinha da minha mão e assentiu lentamente, com o rosto ainda corado e a expressão vulnerável e cansada. "Eu acho... acho que você não vai poder ficar nesse quarto. Ao menos não até eu dar um jeito nele."

"Desculpe." Ele pediu. "Mal cheguei e já estou te atrapalhando."

"Não... é que, eu não sabia que você ia vir, aí nem deu tempo de ajeitar nada." Expliquei ainda nervoso. Coloquei as mãos no bolso para esconder minha tremedeira. Mu ergueu as sobrancelhas que eram da mesma cor dos cabelos.

"Milo falou que você ofereceu a casa. Como não sabia que eu estava... Ah! Não me diga que Milo só te avisou depois que já havia me dito que eu poderia ficar aqui?" Acho que ele leu a verdade no meu rosto, já que pareceu imediatamente angustiado. "Olha, você não precisa me abrigar se for te atrapalhar! Eu posso ficar em algum hotel e-"

"Não. Fica tranquilo. Você pode ficar aqui em casa." Falei, sem entender porque toda essa minha vontade que ele ficasse. Até uns minutos atrás eu estava achando a ideia um porre. "Acho melhor você dormir no meu quarto por enquanto. Eu durmo na sala."

"Não! Eu não acho que-"

"Tem sofá cama na sala, dá na mesma." Falei pegando a mala dele do chão e levando-a para o meu quarto, na porta logo ao lado, mais perto das escadas.

"Então eu fico no sofá!" Mu exclamou segurando meu braço. Parei e olhei para as mãos dele. Os dedos eram finos e longos e... a pele era extremamente macia. O toque dele me lembrava o toque suave de uma garota.

Maldita abstinência!

"Já está decidido." Falei firme, voltando a caminhar e sentindo a pele quente onde ele havia tocado. Merda, agora meu corpo deu para ter reações estranhas! Daqui a pouco meu cachorro – que estava na petshop – iria me lamber e eu ficaria excitado. Argh! Nojento!

Entramos no meu quarto, que, obviamente estava bem mais organizado e limpo, apesar dos livros de matemática espalhados pela mesa de estudos. O tamanho era normal, e havia uma porta para o banheiro.

"Eu vou desocupar umas gavetas para você e-" Comecei a falar, mas Mu deu um passo em falso para trás com as bochechas completamente vermelhas, e eu me desesperei achando que ele teria outra crise.

"Eu acho que prefiro o sofá. Eu... é sério, eu prefiro o sofá." Ele pediu enfático. Sabe aquele enfático "Oh, corno, vou fazer como eu quero e você que se dane?". Tipo isso.

Olhei ao redor tentando entender o porquê daquilo e... Ah, porcaria!

"Não... não é o que você está pensando!" Corri para minha cama, bagunçada, e comecei a recolher as camisinhas jogadas em cima dela. Era patético, mas eu havia aberto um monte de pacotes e me masturbado com revistas pornôs antes de decidir que talvez estudar também me ajudasse. Coisa de nerd pervertido, eu sei.

O problema é que eu me esqueci disso completamente, e quando entrei no quarto minha mente imbecil não registrou que eu havia esquecido de limpar tudo depois. Bom, ao menos isso explicava a vermelhidão no rosto de Mu. Mas, puta merda, ele é um homem! Essa visão deveria ser comum para ele! Quero dizer, não entrar no quarto dos outros e ver camisinhas espalhadas pelo colchão, mas, sei lá, alguma vez ele já ter feito algo parecido e ter deixado a cama naquele estado.

Droga, eu estava agora parecendo um pivete virgem de treze anos!

"Eu acho... acho melhor você ficar com o sofá." Falei em um tom de lamento, ao que Mu suspirou aliviado e praticamente correu para fora do quarto, como se o lugar fosse algum foco de transmissão de doenças contagiosas. E não, eu não tenho DST's, obrigado por perguntar.

Desci as escadas e encontrei Mu sentado no sofá, roendo o canto de uma unha. Ele parou quando me viu e sorriu sem jeito. Quem deveria estar sem jeito ali era eu! Mas o olhar dele não me enganou. Seus olhos verdes, que no momento pareciam mais escuros, diziam: o pervertido da casa acaba de entrar no perímetro. Fantástico! Se ele achava isso mesmo, que fosse embora então!

"Então você gosta de Beatles?"

Mas que pergunta idiota era essa! O cara estava com uma camisa do Beatles! Por qual outro motivo a gente usa a camisa de uma banda senão porque gostamos dela? Bem, que seja. Eu precisava quebrar o gelo de alguma forma, não é mesmo?

Ele olhou para baixo, para a própria camisa, como se para checar estar mesmo com ela, antes de responder.

"E quem não gosta?" Ele deu de ombros, puxando as pernas para cima do sofá e cruzando-as em estilo 'índio'.

"Eu não gosto muito." Falei e imediatamente arranquei uma expressão incrédula de Mu, que balançou a cabeça não concordando.

"Há dois tipos de pessoa no mundo," Ele começou com um ar didático que eu geralmente usava nas minhas aulas na faculdade. "As que gostam de Beatles, e as que nunca se prestaram para escutar com atenção."

Eu ri. Ele falava como se fosse o dono da verdade.

"Que seja." Revirei os olhos. "Vou ligar para a faxineira. Amanhã ela deve aparecer por aqui e você pode dormir no quarto de hóspedes."

"Tudo bem..." Ele murmurou, visivelmente chateado pelo meu descaso com a provável banda favorita dele. Funguei sem me importar e coloquei a mala dele perto do sofá.

"Então, você está com fome? Quer comer alguma coisa? Tomar alguma coisa?" Perguntei, lembrando-me de ter bons modos. Reparei que o Mu era bem magricela até. Não do tipo pau de vira tripa, mas seu corpo era delgado, dava para perceber pela forma como a camisa ficava larga nele.

"Na verdade, estou com um pouco de sede. Se tiver uma coca-cola, seria ótimo!" Ele se levantou com um pulinho, e eu indiquei que ele me seguisse até a cozinha.

"Tá aí. Você pode vir e se servir à vontade." Avisei, já que era óbvio que eu não daria tudo na boquinha dele o tempo todo. Ele já era bem crescidinho para isso. O pensamento me lembrou que eu não sabia a idade dele. "Quantos anos você tem?"

Ele ergueu os olhos para mim, e ainda terminou de virar o copo antes de me responder, lambendo o lábio superior para recolher o gostinho da coca-cola sobre ele. Eu devo estar ficando louco porque, puta que pariu, o gesto quase causou uma revolução dentro de mim!

Meus olhos se arregalaram e eu encarei feito um vidrado a cena, que pareceu se passar em câmera lenta. Como diabos um homem podia ter lábios tão sensuais? Alguém me explica isso por favor! A abstinência realmente anda me fazendo mal...

"Tenho dezoito. Quase dezenove." Ele falou tranquilamente, me arrancando de meu estado lamentável. Eu pisquei me estapeando mentalmente e assenti ainda meio perturbado pelo formigamento que senti lá nos países baixos. "Entrei na faculdade de Engenharia Ambiental. Por isso me mudei para cá. Foi meio repentino, eu não achei que seria aceito, aí nem planejei nada. Foi uma sorte conseguir pousada aqui com você."

"Você foi aceito na Link?" Esse é o nome da universidade onde eu estudo e dou aulas. Aulas de cálculo, álgebra linear e equações diferenciais. "Vou ser seu professor em algumas cadeiras."

"Sério? Você parece ser tão novo para ser professor..." Ele comentou, me analisando mais detidamente pela primeira vez.

E, sério, alguém me diz, por favor, que eu sentir meu corpo esquentar com os olhos esverdeados dele percorrendo meu corpo é algo absolutamente normal? Diga, eu imploro!

Pigarreei.

"Eu tenho vinte e três. Estou fazendo mestrado, aí dou aulas lá como professor substituto nas cadeiras básicas de matemática." Expliquei, ao que ele ergueu as sobrancelhas, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado e fazendo seus estranhos cabelos lilases escorregarem como seda por seu ombro.

"Você acaba com os estereótipos de professores de matemática. Sempre que eu imagino um, eles são velhos, pançudos e barbudos. E usam óculos." Ele sorriu e levou o copo à pia para lavá-lo.

"Talvez eu acabe assim, daqui uns anos." Dei de ombros. "Eu posso deixar a barba e a barriga crescerem. Os óculos eu posso arrumar fácil, fácil."

Ele se virou para mim com as sobrancelhas erguidas.

"Não faça isso. Seria um desperdício." Falou num impulso.

Ao menos eu acho que foi num impulso, porque assim que franzi a testa e o encarei incrédulo, as bochechas dele avermelharam e ele pareceu terrivelmente constrangido. E o desgraçado resolveu morder o lábio inferior atraindo minha atenção para sua boca novamente.

Alguma coisa não está certa aqui.

Só que aí ele voltou a sorrir, ainda meio constrangido, e acabou com o silêncio estranho.

"Eu vou sair e dar uma volta pela cidade, para me localizar." Avisou e passou as mãos pelos cabelos, puxando-os para trás para prendê-los com uma das fitinhas que usava no pulso. "Se você não for usar, poderia me emprestar suas chaves? Eu queria fazer uma cópia delas..."

"Ah, claro. Pode ficar, eu não vou sair hoje. Tenho... umas coisas para estudar." Tirei as chaves do bolso e entreguei para ele. "Até mais tarde."

"Até mais, Olia!" Ele exclamou alegremente abanando por cima do ombro enquanto saía da cozinha.

"Olia?" Ecoei incrédulo. "Que história é essa de Olia?" Berrei para que ele me escutasse antes que saísse de casa. Ouvi uma risada divertida do hall de entrada.

"Seu nome é muito estranho e complicado! Olia é mais legal e descolado!" Ele replicou com certa diversão.

"E o seu é bem normal!" Debochei em bom tom, mas minha única resposta foi o som da porta batendo suavemente.

Passei nervosamente as mãos pelos cabelos, repassando mentalmente minhas reações desde que coloquei os olhos no pirralho. Ao menos ele já era maior de idade. Isso porque algo me dizia que essa convivência não iria prestar. Chame de sexto sentido, sei lá. Só sei que eu não estou normal, não mesmo. Talvez eu devesse chamar a Marin e explicar que nove semanas são mais do que suficientes para provar o quanto eu estou a fim dela.

Nove semanas! Dois meses e sete dias! Tempo suficiente para eu começar a pensar em quanto meu novo colega de moradia, e futuro aluno, era atraente. E isso era um problema e tanto. Porque eu não sou gay. Eu só preciso de sexo. Muito, muito sexo.

E sexo heterossexual!


NA: Oh, olha só eu escrevendo em um fandom diferente de Harry Potter! Que raridade! Culpa da Bia Elric, que me vidrou nesse casal! Eles não são uns amores? Bem, esse é meu presente de aniversário para minha amiga mais linda e que eu mais amo: Bia Elric!

Te amo amiga!