Yoo minha gente, como vão? Escrevi essa FIC e postei ela primeiramente no Nyah!, já que eu sempre dou prioridade para o FF, fiquei com dó (?) e resolvi postar lá primeiro. É um projeto antigo que finalmente realizei, de presente para minha amiga Isa, que é a minha nee-chan querida, que se eu pudesse enfiaria numa cápsula contra os males do mundo! *O* /lokona

É uma história de quatro capítulos curtos, então, pra quem não gosta ou não tem paciência para FICs compridas, pode ser uma boa sugestão XD /me promovendo aqui -q

A todos uma boa leitura ^^

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Labaredas de um passado.

Quem tem a infeliz ideia de ligar às três da manhã? Sakura chiou e bufou com o rosto contra o macio travesseiro, percebendo que o marido nem tinha se mexido. Invejava a capacidade que Naruto tinha de deitar na cama e apagar completamente, como se entrasse em coma. O som estridente do telefone parecia absurdamente alto àquela hora. Teria acordado as crianças?

- Moshi-moshi? – murmurou, a mão livre coçando os olhos pesados e inchados.

- Lamentamos o horário, mas podemos, por favor, falar com a senhorita Haruno Sakura? – o moço pedia com urgência. Haruno? Há quantos anos não ouvia seu nome de solteira?

- É Uzumaki Sakura, agora. Quem fala? – a voz ainda parecia sumida.

- Senhora Uzumaki, estamos encaminhando a única sobrevivente de um incêndio para o Hospital Municipal de Kyoto e seu número foi o único que apresentou retorno... – mesmo perdida em toda aquela situação, Sakura sentiu o pavor subir pela espinha, como u marrepio involuntário.

- Quem foi encaminhado? – percebeu a voz tremer.

- Hyuuga Hinata. Confere?

Telefone tocando tarde da noite. Haruno Sakura. Incêndio. Sobrevivente. Hinata. Tudo isso riscou sua mente em menos de segundo, e lá estava ela, tremendo e vasculhando com as mãos finas a gaveta do criado, a procura de uma caneta e um pedaço de papel qualquer. Deve ter falado alto demais com a pessoa do outro lado do fone, percebendo o eco de sua própria voz tremida perguntando como fazia para chegar ao tal hospital e em qual bloco a moça estaria. Naruto enfim tinha levantado, coçando a cabeça, bocejando largamente. Desligou o aparelho ainda lendo sua letra contorcida naquele meio papel amassado que ela nem viu de onde tirou. Kyoto? Sabia que os Hyuuga haviam se mudado de Tokyo no fim do Ensino Médio de Hinata, mas para onde a família havia ido era um mistério. Bom, não mais. Dez anos. Céus. O tempo passa mais depressa do que devia.

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Não gostava de cheiros de hospitais. O forte aroma de látex misturado ao cloro que parecia sair das paredes dos corredores muito brancos a enjoava e, hora ou outra, era obrigada a parar e se sentar em uma das cadeiras que tinham espalhadas ao longo dos setores médicos. Não sabia sair da cidade e, por isso, levara mais de duas horas para se encontrar na então cidade de Kyoto. A medida que ia se aproximando do Hospital, o coração ia apertando e disparando. Depois de tudo o que tinha acontecido, era Sakura a única que poderia prestar auxílio à morena. Que irônico. Quase uma maldição! A, agora mulher, de cabelos róseos contorcia os dedos finos sobre o abdômen, enquanto seguia para o quarto de uma numeração qualquer. Ao menos não estava na ala de queimados, suspirou, não sabendo se estava aliviada com aquilo ou irritada – se Hinata fosse um vegetal, não teria de expulsar seus demônios. Mas, lá estava ela, deitada imaculadamente sobre o leito improvisado – sem nenhum arranhão. A enfermeira viu Sakura, nervosa colocando os fios rebeldes atrás da orelha, e assentiu com a cabeça, fazendo-a entrar.

- Estávamos à sua espera. – a moça uniformizada sorriu e olhou para a Hyuuga. Estava acordada! Demônios! Não existia mais escapatória – o passado estava ali, queimando sua vida presente e ameaçando se espalhar, como labaredas violentas e famintas em grama seca.

- Yoo... – murmurou os lábios finos de Hinata por trás da máscara de gás.

- Yoo, Hina-chan... – sem perceber, a chamou no antigo apelido. De quando eram amigas. Melhores amigas.

- Achei que nunca mais te veria... – a rósea pode vislumbrar um sorriso tímido por trás da respiração embaçada da moça. Os anos pareciam ter feito muito bem à Hinata.

- Acharam meu telefone nas suas coisas... – os olhos verdes estavam molhados. Era como se um caroço do tamanho de um pêssego se contraísse entre o final da garganta e o começo do estômago.

- Falaram... – um suspiro agonizante e uma breve pausa. – No meu celular. Não acreditei quando disseram que estava vindo. Achei que estivesse em outra casa...

- Eu e Na... – se deteve. Será que ela tinha esquecido?

- Naruto-kun. – ela sorriu. – Tudo bem, Sa-chan... – sorriu e esticou a mão para a de Sakura, que estava apoiada na beirada da cama. A então senhora Uzumaki, desabou de joelhos ao lado da maca. – Pare com isso, Sakura... – pediu, as sobrancelhas finas contraindo os olhos claros, cerrados numa linha fina.

- Faz tanto tempo, e depois de tudo o que eu fiz, você ainda tem de me ver desse jeito! – soluçou, mãos apertando os olhos.

- Sa-chan, faz tanto tempo... – murmurou, ainda debilitada pelo soro que estava entrando em suas veias. – Como pode achar que, depois de dez anos, eu continuo apaixonada pelo seu marido? – sorriu.

- Eu o tirei de você... – murmurou, como uma garotinha envergonhada.

- Não se tira algo que uma pessoa nunca teve... – murmurou antes dos olhos se fecharem. Estava dormindo.

Hinata era tão boa, depois de tudo. Lá estava ela, vinte e oito anos, aparentando não ter menos de quinze. Era como se o mundo tivesse girado apenas para a família Haruno. Todos os outros seguiram suas vidas em outro lugar – apenas ela e Naruto ficaram. Sakura parou no tempo e o loiro sorridente a acompanhou.

Claro que ele não era mais o rapaz vívido e ativo de antes, mas tinham uma vida boa com ele trabalhando num escritório de contabilidade e ela, bom, pintando caixas de decoração, fazendo sabonetes caseiros para vender. As mães da escola de Yumi e Jiraiya – homenagem ao falecido padrinho do loiro – compravam essas lembrancinhas e as encomendavam para os aniversários dos filhos. A instabilidade de humor de Sakura não permitia atividades externas muito cansativas ou com grande número de pessoas. Há sete anos procurava um remédio que controlasse seus impulsos depressivos e sua raiva desmedida. Nem todo mundo chegava perto dela.

Ah, claro, Hinata chegava. E Sakura a traiu.

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Os cabelos negros e sedosos estavam presos num coque improvisado, com alguns fios voando ao redor do rosto alvo e abatido da morena. Sakura não gostava da janela aberta daquele jeito, mas não se manifestou. Era Hinata que precisava de cuidados. Era Hinata sua prioridade.

Depois de contornar a avenida, viu a entrada de Tokyo, que fez Hinata sorrir timidamente. Os olhos claros buscavam placas, propagandas, qualquer coisa que a levasse a lembrar-se do passado. Passado agora muito presente. A motorista observou com cuidado: nem mesmo as finas linhas que acentuavam os olhos verdes da ex-Haruno sua amiga tinha. Era como se ela tivesse pego os anos de Hinata e acrescentado em seu rosto cansado, inchado e marcado pelas linhas expressivas em seus olhos e no contorno da boca. Olhou no retrovisor e sentiu-se feia, velha. Ainda nem chegara à casa dos trinta. Como tinha deixado a juventude escapar-lhe de modo tão brusco? Há quanto tempo o marido não a procurava?

- Chegamos. – Hinata sorriu. Nem mesmo aquilo era uma surpresa para a visitante: a casa, pertencente à mãe de Sakura ficou para a filha. A filha, ficou na casa. Era quase como se ela tivesse sido a herança e não o imóvel. – Está linda!

Nem mesmo a pintura era mérito da dona da casa: Naruto pagava todo ano alguém para passar uma demão de tinta no exterior. E, falando no loiro, lá estava ele, esperando a esposa e convidada na porta envernizada. Estava penteado, vestido com uma bermuda camuflada que ela odiava e uma camiseta manchada de mostarda que nunca havia conseguido limpar. Teve ímpetos de socá-lo por estar vestido daquela forma, mas conteve-se. O médico aconselhou-a a controlar seus nervos se não quisesse ser internada. De novo.

- Hinata... – sorriu estendendo a mão, que a morena ignorou ao abraçá-lo.

- Você não mudou nada!

- Espero que seja mentira! – riu-se – Ainda acho que evolui bastante...

- Desculpe... – sorriu timidamente. Vislumbrou admiração nos olhos claros? Não, claro que não. Era melhor que parasse com aquilo. – Bela bermuda.

- Está brincando! – Sakura indignou-se, encarando-os surpresa.

- Bom... É uma bela bermuda... – disse perdendo as palavras no meio da frase.

- Bom dia, amor... – Naruto se aproximou de Sakura e beijou-a no rosto. – Viagem cansativa?

- Um pouco...

- Só vim dar trabalho... – lamentou Hinata. Bom, nisso a anfitriã concordava.

- Imagine, Hina-chan, fique o tempo que precisar!

- Só até o seguro cobrir a tragédia... – murmurou olhando para o chão. E então, Sakura culpou-se: sua amiga, a que fora um dia sua melhor amiga, estava perdida, completamente só depois de ter presenciado sua família perder-se num incêndio, e ela, o que estava fazendo? Condenando-a por um acidente, algo que Hinata não previu e jamais considerou acontecer. Viu suas lágrimas grossas, o choro esganiçado que saía do fundo da garganta quando os médicos contaram-lhe que ela era a única sobrevivente. Viu o desespero, a angústia, como poderia condenar sua amiga à solidão depois de ter ela a abandonado? Iria ajudar, iria se dispor vinte e quatro horas se necessário para que Hinata sobrevivesse àquele luto.

Mas, por outro lado, sentia que o passado ainda pudesse a atingir, tão quente quanto o último acontecimento de Kyoto...