Disclaimer: Naoko continua sendo rica e eu pobre.
Essa fic faz parte do 'verse de A Outra Chance e da série Amor e Guerra, é também outra resposta ao desafio Sailor Moon Brazuca, sim, é uma fic multiuso.
Beta: Cat! Obrigada por tudo sempre, querida.
Phobos
"Eu desconfio que o nosso caso está na hora de acabar
Há um adeus em cada gesto, em cada olhar
Mas nós não temos nem coragem de falar"
Dolores Duran – Fim de Caso
Com a cabeça apoiada no braço dobrado, Minako começou onde a raiz da franja se juntava ao resto dos cabelos, traçando a testa alta, entre as sobrancelhas, tracejando com a ponta do dedo a ponte estreita do nariz de Rei até que seu indicador tocasse os lábios macios de sua amante. Rei suspirou, ainda ferrada no sono e virou-se para Mina. As carícias continuaram, mas, dessa vez, Mina afastou os cabelos escuros do pescoço da bela adormecida, expondo a curva elegante de sua garganta. Ainda com as pontas dos dedos, percorreu aquele caminho também, desenhando a clavícula com cuidado e evitando as alças finas da camisola rendada, Rei nunca dormia nua, nem quando faziam amor. Com as costas da mão e um suspiro, Minako terminou suas carícias percorrendo a superfície da pele macia do ombro de Rei, antebraço, braço e o pulso delicado, as mãos tão pálidas que não faziam contraste com o lençol branco, os dedos longos, unhas curtas. Uma lembrança daquelas mãos nas teclas alvas e negras do salão de música lhe passou furtivamente pela memória, será que ela ainda sabia tocar? Flamma costumava a tocar canções tão tristes.
Ela mordeu o lábio e lançou um último olhar a sua amante, sorvendo o momento lentamente, tentando memorizar sua figura serena sobre os lençóis bagunçados, o sol da manhã tocando em faixas ternamente sua delicada forma adormecida. Quantos mais momentos como aquele teriam? Apesar da paz que aparentava, Rei passara a noite toda tendo pesadelos e chamando por um nome que não era o de Minako.
A loira voltou a se deitar de corpo inteiro, pegando a mão de Rei e beijando amavelmente sua palma antes de entrelaçar seus dedos e trazê-la para perto do coração que batia lenta e pesadamente, cheio de dor.
- Eu te amo – disse baixinho, mas sua voz pareceu ecoar no vazio, mensagem nunca recebida.
Ela achava que depois da briga, depois do acordo e dos beijos, depois do sexo, tudo ficaria bem. Geralmente fica. Elas sempre brigaram bastante, o conflito sempre foi o pilar de sua relação, por isso a única coisa que a tranquilizava foi que ainda discordavam, pois eram tão diferentes que se atraiam – sempre tocando uma a outra, nas batalhas agiam como dançarinas sincronizadas – e se completavam. Minako não tinha ideia do que seria um mundo sem Rei, não queria imaginar e, por sorte, nunca teria, mas já conseguia sentir o cheiro de morte na relação a dois.
- Você mentiu pra mim! – acusou jogando a revista em Minako desviou, deixando o objeto cair no chão, o vento fazendo farfalhar as folhas, expondo as páginas e mais páginas de fofoca e fotos embaçadas dela tirando Midori daquele bar¹.
- Não sabia que você agora lia esse tipo de lixo – replicou com um riso nervoso.
- Não desvie da conversa! – os olhos de feiticeira faiscando com raiva.
- Não estou desviando de nada – somente de mais uma briga desnecessária e objetos inanimados, completou mentalmente – sinceramente Rei, você vai acreditar no que leu nessa revista? – perguntou, com seu ar artificial, tentando mascarar a culpa e a irritação.
Mas suas táticas não pareciam ter sucesso naquela manhã, Rei estava fumegando de raiva.
- Não seja ridícula, você sabe muito bem que não se trata só da revista. Além de estar me expondo – pois a sacerdotisa ainda carregava um pouco dos estigmas pelos casos misteriosos que a envolveram no passado e várias foram as vezes que Governador Hino causou problemas para Rei, mostrando seu desgosto por ter a imagem da filha associada a alguém como Aino Minako – mas você mentiu pra mim! Você estava na cama comigo e quando eu perguntei aonde você ia e você disse que era "coisa de idol" – a culpa queimou no fundo do estômago de Minako ao perceber o quão sentida Rei parecia estar sob toda aquela fachada de fúria – você sabe que eu não suporto mentiras!
- E você sabe que eu não suporto que tentem me controlar! – retorquiu ríspida e respirou fundo – Olha, Rei. Eu sei que estou errada de ter mentido pra você e eu realmente sinto muito, mas eu não teria que ter mentido se você não se comportasse da forma que se comporta.
- Como ousa! Você sabe muito bem meus motivos!
- Sim, eu sei e os respeito, mas o que diabos você queria que eu tivesse feito? Midori é meu amigo e precisava de mim! – explicou exasperada.
- Ele tem o resto dos amiguinhos traidores dele também ou não há camaradagem nem entre tipinhos como eles?
Minako revirou os olhos, ela já estava cansada de ter aquela mesma briga o tempo todo.
- Ai não, de novo não essa discussão. Olha, querendo ou não o Shitennou é uma realidade. Eles estão aqui, com o aval de Crystal Tokyo e Elysion, se eu fosse você aceitava que dói menos.
Mas aquelas pareciam ter sido definitivamente a coisa errada a dizer, pois a revista começou a pegar fogo e Phobos e Deimos se aproximaram.
- Não me venha falar de dor quando essa defesa apaixonada só é uma desculpa pra poder voltar pra cama dele.
As palavram atingiram Minako como um tapa. Ela havia tentando ser civilizada, havia tentando manter a paciência e a calma, mas aquilo havia sido golpe baixo.
- Cale a boca, Rei! – retorquiu quase gritando, a raiva tão grande que ela chegou a avançar um paço em direção da morena, os punhos cerrados com força – Você não tem direito de me acusar disso!
- Como não? – ergueu uma sobrancelha, seu ar superior irritando Minako ainda mais, se é que era possível – Foi o que você fez da última vez não foi?
Sentindo o sangue lhe subir a cabeça e com medo real de fazer algo de que viesse a se arrepender amargamente depois, Mina tentou controlar os tremores, recuando alguns passos e respirando fundo, duas vezes, antes de responder.
- A situação era totalmente diferente, você sabe disso.
Mas Rei nunca sabia quando parar numa briga.
- A única coisa que agora eu sei é que você me usou esse tempo todo porque estava com medo.
- Não se atreva! Não se atreva quando eu nem olho mais para o Kotei e você tem o Midori o tempo todo do seu lado! – ela tapou a boca com a mão após dizer aquilo, elas nunca falavam da presença massiva do Shitennou do Oriente sempre ao lado da sacerdotisa como um espirito obsessor, era basicamente um tabu, mas estava tão furiosa que não conseguia parar. Simplesmente não conseguia entender porque Rei estava tão magoada, da onde vinha aquela atitude infantil, aquele ciúme sem sentido. Não é como se elas fossem estritamente exclusivas mesmo se ela tivesse de fato dormindo com Midori! Oh...
- Você está louca? – Rei fez-se de desentendida.
- Você acha que eu não o vejo? Você ache que eu sou completamente inconsciente da presença dele a sua volta? Assombrando o templo como uma alma penada. E não se atreva a negar, eu sei que você consegue sentir ele aqui o tempo todo também!
- E o que isso tem a ver? – mas ela empalideceu e desviou o olhar, Rei se orgulhava de ser uma pessoa extremamente honesta, ela nunca desviava o olhar – Não é como se eu tivesse pedido para que ele viesse! Como se eu quisesse ele aqui!
- Mas você também não diz para ele ir embora! – acusou, mordendo a língua, pois sabia que estava jogando do mesmo modo sujo que a morena havia feito.
A expressão no rosto de Rei era de completo assombro e dor. A insinuação de que ela queria o antigo amante por perto foi, em fim, o que a fez perder totalmente as estribeiras e Minako viu a mão dela vir em sua direção, mas apanhou o pulso antes que fosse atingida pelo tapa.
- Não – disse em tom de aviso, o rosto muito sério – você não pode mais fazer isso.
E abandonou o templo sem olhar para trás, só reparando que chorava muito tempo depois.
Mas, embora a briga ter sido uma das mais feias que tiveram. Embora Minako tenha deixado o templo tremendo de raiva e cancelado todos os seus compromissos para ficar em casa chorando no colo do sempre atencioso Artemis, ainda era aquela briga o que a tranquilizava, pois se houvesse um conflito ainda haveria reconciliação, certo?
E quando voltou ao templo naquela noite, invadindo o quarto de Rei – como de costume – e se enfiando no meio das cobertas da morena, não encontrou resistência e as lágrimas foram apenas as suas, seus pedidos de desculpa ecoando no silêncio dos beijos dela que soavam passivos em vez de raivosos, desprendidos do calor que sempre havia encontrado nos beijos da princesa de fogo por quem se apaixonara. Seus toques suaves, frios, lentos, como se sua a amante estivesse memorizando seu corpo, se preparando para o adeus.
- Eu amo você – repetiu. Uma vez ouviu de alguém que ao mesmo tempo em que a palavra dada não pode ser desdita, tudo que se diz é uma promessa, que palavras ditas em voz alta são eternas e ecoam para sempre vácuo. Minako queria que aquelas palavras ecoassem na eternidade, pois mesmo se Rei se recusasse as a ouvir elas continuariam sendo verdade, ela amaria a mulher ao seu lado para sempre, como amou na vida passada e em muitas anteriores a aquela, ela tinha certeza.
Um amor tão grande forjado em amizade e compreensão adquirida pelo dever compartilhado, sobrevivendo o voto de pureza feito por Flamma no Silver Millennium, consumado nessa nova existência e cantado por povos antigos, não morreria nunca. Mesmo com seus gênios difíceis e tantos desencontros, mas, quanto a estes, bem, se dependesse de Minako, iriam ser adiados o máximo possível.
Ela secou a última lágrima teimosa. Rei franziu o cenho e finalmente abriu os olhos, rapidamente Minako forçou um sorriso no rosto.
- Você já vai? – a morena perguntou, a voz ainda embargada pelo sono.
- Yeah – respondeu Minako, mas embora estivesse ao máximo tentando parecer bem e descontraída, sua voz deu uma falhada, Rei não pareceu perceber.
- Que horas você volta?
- Então Rei-chan, lembra daquele trabalho em Paris? – há uma semana atrás havia aparecido um convite de uma cineasta independente para filmar na cidade da luz, Minako estava tentando convencer Rei a acompanha-la na viagem desde então, mas a morena não queria deixar o templo ou Usagi mesmo que por duas semanas – eu aceitei o convite.
- E vai hoje?
- Sim – respondeu respirando fundo, mas não desviando dos olhos de Rei.
- Sozinha? – Minako observou Rei morder os lábios ao perguntar. Um ato pequeno, mas que mudava tudo, pois, de repente, ela não estava sozinha, não era a única a estava com medo do que iria acontecer agora.
Ela lhe deu um pequeno sorriso.
- Sozinha.
Rei não discutiu, só a olhou longamente com o cenho franzido.
- Isso é por causa de ontem?
- Seria mentira dizer que não é, – começou, colocando uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha – mas também não vou dizer que foi só por causa de ontem – ela enfiou o rosto no travesseiro – eu preciso de um tempo, Rei. De tudo. Da minha vida, dessa confusão, da culpa que eu sinto pelo Midori, da insistência da Usagi e de nós duas também.
- Ok – ouviu-a responder numa voz fraca.
Minako pestanejou, incrédula e se sentou na cama de supetão.
- Ok?
Rei se sentou na cama, ficando no mesmo nível de Minako, enfiou a mão nos cabelos dourados de sua amante e puxou o rosto bonito contra o seu pela nuca. Minako soltou uma exclamação de surpresa que morreu num gemido quando Rei forçou seus lábios se abrirem para recebê-la, não se importando com as implicações da conversa que acabaram de ter ou com coisas como hálito matutino. Logo, a outra mão de Rei deixava de fazer apoio para mesma para agarrar Minako pela coxa, a trazendo para mais perto, colando seus corpos, pensando seus seios até que Mina não conseguisse distinguir o ritmo de seus batimentos cardíacos. Deixando, como sempre, Rei dominar o beijo, Minako simplesmente abraçou sua amante pela cintura, lutando com o tecido escorregadio do cetim da camisola e se entregando as sensações, a agressividade sensual com a qual ela lhe mordiscava o lábio inferior até quase doer.
E quando Minako achou que a coisa ia ficar séria, Rei a largou, deixando de a tocar completamente, para profundo desgosto de Mina que sentia a pele queimar onde a outra havia tocado.
- Volta logo – ela disse, seu rosto afogueado, o cabelo bagunçado, uma visão rara da sempre tão polida Rei Hino, Minako se sentiu privilegiada.
Sem fôlego, mas com o coração muito mais leve, Minako beijou sua amante, sua melhor amiga, sua alma gêmea mais uma vez, dessa vez mais suave, e brevemente, mas juntando suas testas no final e ficando naquela posição por alguns momentos antes de se levantar e se preparar para sair. Se a paixão havia voltado ainda havia esperança e, embora o medo e a desconfiança ainda assombrassem seu coração, Mina já não tinha tanta certeza se seu romance com Rei estava mesmo com dias contados.
¹: Eventos de "Remorsos Passados e Culpas Presentes".
N/A: Em fim Phobos com o ínicio do fim para Reinako. E, como esperado, a próxima fic da série Amor e Guerra é "Deimos", dessa vez centrada na Rei-chan e então "Antero" com o fim do meu ship querido. Sério, está me doendo muito separar as duas assim, mas não é pra ser, não nesse 'verse.
Oh, esperem um certo Judite em Deimos, com todas as referências de Dr. Robert Chase que eu tinha dado a ele láááá em 2012 quando eu comecei a pensar sobre AOC.
Bem, é isso.
Beijos.
