Disclaimer: Harry Potter não me pertence... blablabla.

Nota: Perdão por postar minha mais nova loucura sem atualizar antes as outras que estão em andamento. Culpa de duas cariocas lindas.

Boa leitura!


"Onde infernos você está?"

Eu olhei para a mensagem na tela brilhante do celular com uma expressão de escárnio.

Uma mulher carrancuda passou por mim com força, desequilibrando-me e forçando-me a usar uma pequenina senhora de apoio. Ela exclamou em surpresa, e eu já havia antecipado um pedido desculpas.

Apressei o passo, ajeitando algumas sacolas no ombro direito. Apertei as outras sacolas na mão esquerda e tentei responder a mensagem da forma mais sórdida possível.

"Vá cagar Potter, não lembro de ter marcado hora com você. Importune-me novamente com outra mensagem descabida e eu juro que você nunca terá filhos."

Esfreguei a tela molhada do celular na única parte de minha blusa que não se encontrava encharcada. Tudo uma questão de tempo, todavia. O coloquei de volta no bolso do short jeans e parei à beira da calçada esperando o sinal abrir com um punhado de pessoas que tentavam usar de qualquer artifício para proteger-se da chuva. Em geral, não sou uma pessoa descortês, mas Potter é malditamente fastidioso.

E sim, eu o odeio.

Não faço questão de esconder tal fato para uma alma sequer, não obstante, sou civilizada sempre que essencial. (Por conseguinte, quando estou em público.) Não é segredo que ele também não é exatamente meu maior fã. O vento soprava com vigor, arremessando a chuva contra meu rosto. Quando eu vira a mulher do tempo anunciar uma chuva ontem, eu não achava que ela se referia à uma quantidade de água equivalente ao Loch Ness. Meus cabelos excessivamente longos estavam dando-me nos nervos, colando-se em meu pescoço e minhas costas juntamente com a blusa molhada.

Não poderia haver dia mais primoroso para esquecer meu guarda-chuva.

O celular vibrou em meu bolso traseiro, e rangi os dentes sabendo que se o pegasse, o atiraria longe após ler a provável resposta de Potter. Resolvi fixar o olhar na luz vermelha do semáforo, e contar.

Um, dois, três, quatro, cinco, s-seis.

Minha têmpora pulsou quando o celular vibrou novamente. Porque eu tive o infortúnio de nascer na mesma cidade que Potter?

O verde néon brilhou no momento em que o vermelho se extinguiu. Tentei evitar uma poça d'água do tamanho de Manchester ao descer a calçada, mas um homem ignorante não teve o mesmo cuidado e pisou com força, molhando a mim e mais duas outras pessoas.

Fuck.

Tentei ignorar a sensação da água suja escorrendo por minhas pernas, e segui com um suspiro de alívio quando vi o pequeno prédio onde morava surgir ao dobrar uma esquina.

O vigia, Mr. Sanders, franziu o cenho ao ver-me passando, mas acenou discretamente. Tentei esboçar um sorriso, que deve ter sido mais semelhante a uma careta do dor, mas não fiz caso e segui para a parte Azul do prédio, à esquerda. Quando olhei as escadas que teria que subir, bufei estafada e sussurrei imprecações por ter comprado o apartamento no terceiro – e último – andar. Minhas pernas doíam, e pareciam pesar uma tonelada cada. Se eu não tivesse conhecimento do conteúdo das sacolas, poderia assentir com toda convicção que naquele momento em particular, eram sacos de cimento que eu carregava.

Parei no primeiro andar após os lances de escada iniciais, Hugh abriu a porta de seu apartamento assustando-me. Ele sorriu em real cortesia antes de notar meu estado lastimável.

- Lily! – Ele se aproximou – Permite-me ajudá-la?

Veja bem, sou conhecida por ser um tanto orgulhosa, chegando por vezes até à própria imbecilidade. Hoje, no entanto, eu mandaria meu orgulho às favas.

- Oh – Suspirei em agradecimento – Eu apreciaria em demasia, mas não quero atrapalhar-lhe os planos.

Hugh riu, e pegou as sacolas de minhas mãos.

- Existe algo mais prazeroso que ajudar uma linda mulher?

- Em absoluto. – Ouvimos aquela voz profunda e arrastada falar – Digo, nada que você saiba fazer com uma Ladett.

Eu não precisei olhar para cima, em direção às escadas, para saber que tratava-se do ser néscio que mora do outro lado de meu estreito corredor. Hugh, por outro lado, levantou o olhar para Potter.

- Boa tarde Potter. – Ele disse educadamente como se nunca tivesse ouvido o comentário petulante que ele lhe fizera.

Potter ignorou o cumprimento e se dirigiu a mim.

- Traga seu traseiro delicioso para cá Evans. Estou cansado de esperar.

Por fim, levantei meu olhar furioso para encontrá-lo inclinado sobre a barra de proteção da escada. Dessa vez, Hugh se manifestou:

- Já que está tão ávido para vê-la, deveria ao menos ajudá-la.

- Pelo que vejo não é preciso, você já saiu correndo como um filhote necessitado de aprovação para socorrê-la.

Hugh corou, e engoliu em seco.

- Potter, volte para o seu buraco. – Eu disse entediada.

- Como quiser, só não o deixe lhe lamber a pele, esse privilégio é meu.

Eu fiz menção de mostrar-lhe o dedo, mas como afirmei momentos atrás, procuro ser polida quando estou em companhia. Do contrário, eu já teria mandado Potter ver navios. E de uma forma nada agradável, certamente.

- Venha Lily, vamos subir. – Hugh sorriu para mim como se nada houvesse acontecido.

E isso é o que de fato, mais me enerva em Hugh. Não entendo como ele pode ser tão complacente! Eu preferiria mil vezes – que ele nunca ouça isso – casar com o trouxa do James, ao invés de Hugh. Caso a situação fosse contrária, e Potter estivesse aqui comigo ele nunca teria deixado passar o primeiro comentário ofensivo direcionado à ele.

Isso eu tenho que admitir, o cara não leva desaforo para casa.

Assim que Hugh pôs as sacolas em meu balcão na cozinha, ofereci à ele algo para beber por pura educação. Quero dizer, pelo amor de Deus, ele havia acabado de sair de casa, não poderia estar com sede certo? Hugh pediu uma água e analisou três pequeninos gatos de porcelana que eu tenho em uma das prateleiras enquanto eu pegava o copo.

Hugh é um homem bonito. Comum. Na verdade perfeitinho demais, como um boneco. Possuidor de pequenos olhos castanhos, cabelos dourados que mantém religiosamente arrumados para trás e sorriso fácil. Uma boa companhia, uma das primeiras pessoas que conheci quando mudei para cá. A primeira sendo o gorila retardado que mora em frente. Nosso ódio mútuo não surgiu do nada, logicamente.

Lembro que faziam dois dias que eu havia me mudado. Eu acabava de voltar do supermercado, e para abrir a porta, coloquei as sacolas no chão livrando-me as mãos para procurar as chaves em minha bolsa. Assim que as achei, abri a porta e entrei, pegando apenas parte das compras. A tarde estava quente, e eu havia aberto as janelas para que o vento da primavera entrasse. Ao chegar à cozinha, o vento fez com que a porta fechasse e por conseguinte que eu esquecesse que deveria voltar para pegar o resto das compras. O que é um tanto incomum, eu dificilmente esqueço algo. Apenas quinze minutos depois, quando abria o chuveiro para tomar um banho, lembrei que eu não havia guardado as carnes que eu comprara. Naquele momento percebi que deixara parte das sacolas no corredor.

Enrolei-me em uma toalha e corri para a porta, no instante em que pisei do lado de fora, o vento fez com que a porta batesse novamente e eu me vi trancada do lado de fora. Minha reação inicial foi completa e absoluta incredulidade. Em seguida veio a vontade de bater com minha cabeça na porta em razão de minha estupidez, mas pensei melhor e – após respirar fundo – decidi que não seria uma boa ideia.

Com calma, recordei que Mr. Sanders tinha uma cópia de todas as chaves. É de extrema obviedade que eu não estava exatamente excitada para descer as escadas de toalha, então repensando, resolvi bater à porta de meu vizinho. Ele/ela poderia me fazer o favor de descer as escadas e pegar a cópia. Antes uma única pessoa a me ver de toalha do que metade do prédio.

Toquei a campainha, mas quando não a ouvi soar, bati à porta. Dois minutos depois bati novamente, então ouvi uma voz – definitivamente - masculina:

- Ok, ok. Já estou indo.

Eu ajeitei a toalha para que ficasse do modo menos revelador possível, o que um tanto difícil já que a mesma não é o que se pode chamar de "grande".

Quando a porta se abriu, a primeira coisa que notei – perceba – não fora o peitoral largo nu ou a calça de dormir perigosamente baixa nos quadris estreitos, e sim os cabelos negros revoltados. Ele baixou o olhar sonolento para mim, e atentei para seus olhos que eram de uma estranha cor: um castanho que puxava ao dourado com pequenos traços verdes. Eu não podia contestar que eram lindos.

Bem, o cara é um senhor pedaço-de-mau-caminho.

- Olá, sou Lily Evans – Tentei apresentar-me com naturalidade apesar das circunstâncias. – Mudei para o apartamento em frente anteontem.

- James Potter. – Ele disse sonolento para então arquear as sobrancelhas e perguntar: - Posso saber por qual razão bate em minha porta seminua?

Seu olhar percorreu meu corpo sem pudor algum.

Ei, eu entendo que essa situação é anormal, mas ele poderia ser um pouco educado e não me encarar de forma a parecer um predador prestes a atacar certo?

Respirei fundo mais uma vez e respondi com certo sarcasmo:

- Certamente não para me oferecer à você.

- Eu nunca disse isso ruiva.

- Evans. – Eu o corrigi.

- Eu acho que prefiro ruiva – Ele falou, a voz arrastada e rouca percorreu meu corpo com um arrepio e ele deu um pequeno sorriso maroto.

- Não se trata do que você prefere. – Falei agastada comigo mesma pelo arrepio idiota e por minha vontade quase dolorosa de beijá-lo. Sim! Beijá-lo! Quando tornei-me tão impulsiva? Digo, eu acabei de conhecê-lo. – E sim, do que é adequado.

- "Ruiva" me parece adequado. – Ele cruzou os braços nus e encostou à soleira porta.

Soltei um pequeno suspiro de exasperação.

- Certo. Olhe, só faça-me um favor e desça as escadas para mim? Preciso da chave reserva que o vigia tem. Pode notar que estrou presa do lado de fora.

Ele soltou uma pequena risada.

- Não sei... Seria divertido ver a cara do velho Sands se você aparecesse por lá assim.

Minha face corou em questão de segundos.

- Esqueça! Não sei porque tive a brilhante ideia de bater à sua porta. – Exclamei afastando-me dele.

- Ei ei, eu não falava sério. – Ele inclinou-se para frente – Eu desço para você.

- Pois prefiro descer nua do que aceitar sua ajuda!

Ele deu de ombros.

- Como quiser ruiva.

- Evans! – Eu o corrigi novamente.

- Tanto faz. – Potter falou antes de fechar a porta de seu apartamento.

No final, quando desci para o segundo andar, a senhora que mora no 08 – Sra. Silverfox estava de saída. Ela foi muito gentil – ao contrário do ogro do Potter – E desceu para buscar as chaves para mim.

Desde aquele dia nós nunca fomos exatamente civilizados um com o outro. E tudo bem, eu sei que exagerei – sempre fui um tanto esquentada – mas ele tinha que fazer uma piada no dia seguinte sobre a situação?

- Sabe Lily... – Ele disse quando lhe entreguei o copo – ... Eu sei que tem estado ocup-

- Evans! – Ouvi meu querido vizinho gritar, já que minha porta jazia aberta.

- Que infernos Potter, eu estou indo! Jesus, será que não pode esperar? – Gritei de volta, dessa vez sem me importar de todo com o julgamento de Hugh.

- Não!

Revirei os olhos em irritação.

- Sinto muito Hugh, tenho que resolver uma coisa. – Eu lhe falei andando até a porta.

Ele largou o copo na bancada sem tomar um gole sequer e seguiu-me saindo do apartamento, fechei a porta marrom atrás de mim e ele sorriu mais uma vez.

- Por favor, não se preocupe. Conversaremos em hora mais oportuna – Hugh disse antes de acenar e descer as escadas. – Até.

- Até. – Sorri.

No momento seguinte ouvi a porta ao meu lado direito abrir. Potter se recostava à soleira da porta, o peitoral agora nu.

A beleza dele é evidente, eu não sequer pensaria em atrever-me a contestar. O maldito é gostoso. Fato. James Potter é tudo o que Hugh Ladett não é. Inclusive mal-educado. Entretanto não havia comparação entre os cabelos castanhos rebeldes de Potter, e os dourados e bem-penteados de Hugh, os olhos ferozes e os pequenos e tímidos. É de tremenda obviedade que eu morreria negando que algum dia já achei Jamer Potter atraente, mas é a mais pura verdade.

Ele falou despretensioso:

- Não se incomode. – E então olhou o caminho que Hugh fizera – Ele não saberia o que fazer com você nem se a tivesse nua e um manual nas mãos.

Revirei os olhos:

- E você sim, eu suponho.

- Você não imagina. – Ele arqueou uma sobrancelha. – Eu não precisaria do manual, no entanto.

Voltando minha atenção para seu peitoral irritantemente belo, fiz minha melhor cara de enjoo e disse:

- Que visão grotesca, ponha uma blusa Potter. – E abri caminho entrando em seu apartamento sem convite algum.

Ele riu.

- Você por acaso já se olhou no espelho?

- Se bem me recordo, foi o meu traseiro que você elogiou minutos atrás. – Eu não me incomodei em olhá-lo de volta e, após retirar as botas de cano curto que eu usava, segui meu caminho por seu apartamento. – E acredite, você não estaria em condições melhores se tivesse saído com esse tempo lá fora.

Eu parei à porta de seu quarto, e virei para ele cruzando os braços.

- De fato, nada que um banho não resolva. – Potter me mediu atentamente como um expert no assunto.

Ele é dotado com essa habilidade de encará-la como se você estivesse nua.

- Eu não tenho a tarde toda Potter, ao contrário de você eu tenho uma vida.

- Agora você tem pressa? Instantes atrás estava toda entretida com aquele trouxa.

- O trouxa, ajudou-me com as sacolas. – Eu arqueei uma sobrancelha.

- Oh – Ele se fez de inocente – Você precisava de ajuda?

- Creio que você não saiba reconhecer uma dama em apuros quando vê uma.

Ele riu.

- Dama? – Potter repetiu – Doçura convenhamos, se eu descesse para ajudar-lhe, você seria capaz de chutar-me as partes sensíveis e empurrar-me escada a baixo.

Um pequeno sorriso me surgiu.

- Tem razão.

Potter passou por mim abrindo a porta de seu quarto para se dirigir até a cama. Quando não me movi, ele olhou em minha direção e reclamou:

- O que está esperando? Um convite?

Olhei-o da porta.

- Estou pensando na melhor maneira de proteger-me dos germes nojentos que seu quarto deve abrigar. – Falei dando uma rápida olhada no quarto masculino.

- Pelo amor de Deus Evans. Você quer saber se sou vacinado ou algo assim?

- Minha preocupação vai muito além de sua carteira de vacinação Potter. Digamos que você não é muito seletivo.

Eu pisei com cuidado no chão do quarto evitando uma ou duas peças de roupa que jaziam jogadas.

- Oh, isso são ciúmes Evans? – Ele sorriu maroto.

Explodi em uma gargalhada, rindo de tal forma a curvar-me. Meus olhos encheram-se de lágrimas e eu tentei recuperar o controle acalmando a respiração.

- Por favor – Eu disse enxugando os olhos com cuidado para não borrar o rímel – Eu sentiria ciúmes de um chipanzé manco antes de sequer considerá-lo um ser humano Potter.

- Um chipanzé manco tem mais sex appeal que você ruiva.

Revirei os olhos com um sorriso de escárnio.

- Vamos passar a tarde nisso, ou o que?

Potter olhou-me furioso da cama.

- Se você fizer a gentileza de se aproximar da maldita cama, podemos começar.

- Bem, desinfete o seu quarto da próxima vez que eu vier.

Ele revirou os olhos.

Sim, isso é uma coisa que ambos fazemos com frequência.

- Sinto muito se não tenho tempo para isso Evans. – Potter disse.

- Ah, mas tem tempo de sobra para importunar-me com mensagens desnecessárias certo?

Ele olhou-me como se não desse a mínima – e eu sei que não dá – e apontou para o bolo de lençóis na cama.

- Venha agora ou eu vou buscá-la. E eu não serei gentil como seu príncipe encantado do primeiro andar.

Aproximei-me da cama em passos cautelosos.

- Oh, isso são ciúmes Potter? – Repeti sua pergunta arqueando uma sobrancelha.

- Nem que você fosse a última mulher da terra Evans. – Ele riu.

Ignorando-o, olhei para o pequenino gato que estava enrolado como uma bolinha de pelos. Ele espirrou.

- O que você acha que ele tem? – Potter perguntou.

Eu olhei para ele preocupada.

- Quantos meses ele tem?

- Tenho cara de quem sabe? Eu o encontrei faz três dias, não pude deixa-lo na chuva naquela caixa imunda. Resolvi trazê-lo para casa dei-lhe um banho quente e ofereci água e comida, mas ele mal se move.

Peguei o gatinho mantendo-o envolvido nos lençóis que Potter anteriormente havia separado para ele.

- O que está fazendo?

- Vou examiná-lo em meu apartamento, tenho um quarto apropriado para isso. Preciso de meus equipamentos e dos remédios necessários.

Potter seguiu-me a abriu a porta de seu apartamento para mim, com um dos braços segurei o gato e com a outra procurei a chave em meu bolso. Abri a porta rapidamente, Potter sempre em meu encalço, e o mandei esperar na sala.

Cerca de meia hora depois sai da pequena sala com o gatinho novamente enrolado no lençol. Potter levantou-se como um familiar preocupado. Eu lhe sorri momentaneamente – esquecendo que ele é Potter, logico – e disse para não se preocupar. Seguimos para seu apartamento, e eu o pus novamente na cama cuidadosamente. Fechei a porta do quarto de Potter, e deparei-me com o mesmo encarando-me em seu sofá café.

- Eu venho vê-lo durante a semana. Já o fiz tomar alguns medicamentos, não o deixe sentir muito frio.

- ... Obrigado, Lily.

Encarei Potter chocada pelos seguintes motivos: Ele nunca –nunca – agradeceu-me por nada. (certo, não que eu tenho feito algo realmente importante por ele, mas mesmo assim) Segundo, eu raramente o ouvia me chamar de Lily. (Okay, eu nunca dei-lhe permissão para tal, mesmo assim ele sempre fez questão de usar apelidos como "ruiva" – seu preferido – "doçura", "baixinha") Eu não pude evitar me sentir tão íntima dele.

Ao perceber que eu o encarava como uma louca, engoli e respondi:

- É o meu trabalho... James.

Foi a vez de Potter encarar-me em estupefaça. Permanecemos calados em um silencio constrangedor. Foi quando ele disse voltando ao seu tom normal de voz:

- Se o seu namoradinho aparecer e precisar de dicas para tratá-la propriamente, eu não me importaria de ajudá-lo.

Arqueei uma sobrancelha.

- Ajudar Hugh? Você? Em que mundo?

Ele deu de ombros.

- Eu só não a quero mal-humorada por perto quando ele tentar algo mais... Físico com você.

- O que o faz pensar que é tão bom quanto dizem?

- Bem... – Ele fingiu pensar – ... Eu acho que as milhares de mensagens que recebo de mulheres não são pedidos para fazermos manicure juntos.

- Existe sempre a possibilidade de que sejam pobres mulheres ludibriadas por suas cantadas baratas.

- Cantadas baratas? – Potter repetiu incrédulo – Você tem um péssimo gosto para homens Evans.

- Os homens que escolho, Potter, tem um cérebro.

- Qual o sentido de se ter um cérebro sem ter tato?

- E por acaso você tem tato?

Potter jogou a cabeça para trás rindo em deleite.

- Sou capaz de virar seu mundo de cabeça para baixo com um toque. – Ele disse vangloriando-se.

- Pelo amor de Deus Potter, e eu sou capaz de me por a vomitar se vier a me tocar!

- Por favor ruiva – Ele fez um careta – Quem a tocaria por vontade própria?

- Não que eu lhe deva satisfações, mas o cara do primeiro andar é um exemplo!

- Vá em frente! Só não venha lamuriar em minha porta após seu sexo frustrado.

Eu ri em zombaria.

- Mesmo que eu viesse a lamentar Potter, você seria o último ser vivo do universo para o qual eu me queixaria.

Eu disse mais algumas coisas – não muito agradáveis – para Potter quando ele, em vez de responder-me sem escrúpulos como normalmente faria, levantou a mão e tapou minha boca. Antes que eu pudesse acertá-lo com uma joelhada, – no local mais apropriado para tal – ele levou sua mão livre aos próprios lábios pedindo silêncio.

- ... Brigando novamente!

- Eu sei! Agindo como crianças, certo? – Minha... Mãe disse?

Que infernos?

O que minha mãe está fazendo no corredor de meu apartamento?

- Mais que crianças – Ouvi a voz da Sra. Potter – Dois adolescentes cheios de tensão sexual.

As duas riram.

- Isso só acabará quando tiverem um bom sexo selvagem. – Minha mãe falou – O que rezo para que seja logo.

Mas que...?

- Sexo selvagem me parece uma boa ideia Evans – Potter murmurou maroto.

Revirei os olhos.

- Está me dando ânsia de vomito Potter. – Eu afastei sua mão para sussurrar de volta – E cale a boca, estou tentando ouvir!

- Eu também! – Sra. Potter exclamou – Eu amo meu filho, mas Deus sabe que não posso mais suportá-lo mal-humorado toda vez que pergunto como Lily está.

- Oh, Lily é igualzinha! Você imagina que semana passada ela confessou qu-

Eu abri a porta do apartamento de James interrompendo-a.

- Mamãe! – Eu exclamei corada em revolta.

As duas nos encararam surpresas.

Mamãe não se preocupou em fingir algum constrangimento e a Sra. Potter apenas sorriu para nós.

- O que Evans confessou? – Potter perguntou curioso.

- Que eu prefiro beijar aquela lesma gigante de Star Wars a trocar saliva com você Potter! – Eu disse abrindo a porta de meu apartamento e empurrando minha mãe para dentro.

Nesse momento lembrei da Sra. Potter parada ali ao meu lado.

- Perdão. – Eu disse em embaraço.

Ela levantou as mãos com um sorriso doce.

- Finja que não estou aqui.

- O nome da "lesma" é Jabba. Achei que você fosse a sabe-tudo, Evans. – Potter arqueou uma sobrancelha sem lançar um olhar sequer para sua mãe – E não tenha tanta certeza, Jabba pensaria duas vezes antes de beijá-la.

- Vá cagar Potter. – Eu bati a porta do apartamento.

Mamãe sorriu para mim.

- Bem, isso foi divertido.

- Divertido? – Eu disse incrédula – Mãe, o que tinha na cabeça? Como pode pensar em dizer aquilo à Sra. Potter? Com o próprio Potter logo ali!

Ela pôs as sacolas que segurava ao lado do sofá e se dirigiu à cozinha ignorando-me completamente.

- Mamãe! – Eu a segui incrédula.

- Oh Lily, que mal faria ao pobre rapaz saber que você teve um sonho um tanto... Empolgante com ele.

Okay! Eu admito certo? Pelos céus, eu admito que tive um sonho terrivelmente erótico com James Potter. Quando acordei pela manhã, estava tão assombrada com meu sonho mais-que-absurdo que não me movi por minutos antes de certificar-me que fora apenas um momento de insanidade, uma insensatez de meu subconsciente, porque – por tudo o que é mais sagrado – não é como se eu saísse por aí fantasiando com caras, com Potter muito menos!

E eu tinha que abrir a boca para minha mãe. Ás vezes esqueço o quão perigoso isso pode ser.

Corei até último fio de cabelo ruivo mortificada.

- Nenhum! – Joguei os braços para cima – Nenhum mal faria, só alimentaria seu ego absurdamente desmarcado!

- Não seja dramática – Mamãe falou em abnegação olhando o conteúdo de minha geladeira. – Agora, você irá sábado para o jantar, certo?

Suspirei desistindo de fazer minha preciosa mãe entender a gravidade de seus atos.

- Sim mamãe, eu irei.

Ela pegou minha caixa de suco de frutas vermelhas e serviu dois copos entregando-me um. Bebi o conteúdo todo depressa, sem perceber quão sedenta estava.

- Ótimo. – Mamãe guardou a caixa, pegou seu copo e com um movimento de mãos, pediu para que eu a seguisse.

Pus o copo vazio no balcão ao lado do copo d'água intocado de Hugh, e segui mamãe novamente. Sem paciência para arrumar meu – que agora começava a secar – cabelo, apenas o prendi em um coque qualquer com uma liga.

- Eu estava fazendo compras quando encontrei Evelyn – Mamãe começou a falar sentando-se no sofá – Por coincidência ela estava vindo visitar James, então viemos juntas. Ela é tão maravilhosa. Disse que dessa vez ficará em Londres por um ano enquanto terminam a reforma em sua casa em Oxford.

Lógico que morar em frente à Potter não poderia ser castigo suficiente, então em adição, minha mãe e a sua são como melhores amigas. Eu não posso culpá-la, Evelyn Potter é realmente cativante, e não é culpa de Evelyn ter James como filho. Exatamente o contrário de Marcus – meu colega de faculdade – ele é uma das pessoas mais deliciosas que já pisou na face da terra, mas sua mãe é como a Bruxa Má do Oeste! Ela é tão desagradável que conseguiu afastar cinco namoradas incríveis que Marcus teve. Incluindo Dorcas, minha querida amiga. E acredite, "persistente" dificilmente é a palavra que posso usar para descrever Dorcas. Quando ela foca em um alvo, é praticamente impossível fazê-la desistir. Claro que em geral Dorcas mata com palavras. Só que por pura polidez, ela sempre evitou responder à mãe de Marcus.

Faz quase um mês que eles terminaram – digo, que Dorcas terminou com Marcus – e quando ela veio dormir aqui semana passada para uma noite de sorvetes, chocolates, compras online e filmes melosos, confessou-me que tudo se trata de um teste. Caso Marcus verdadeiramente a ame, ele mandará a mãe para o Chile – literalmente, eles tem uma casa lá, e irá atrás de Dorcas.

Meu celular vibrou em meu bolso, então enquanto mamãe continuava a falar sobre como eu deveria ser mais civilizada com Potter, o peguei para ler as mensagens. Ignorei as duas que Potter havia mandado mais cedo tentando evitar stress. Eu não estava preparada, claro, para a mensagem que receberia:

"Ruiva, não consigo falar com Prongs! Bata na porta dele e mande-o atender o lixo do celular!"

Eu reli a mensagem de Sirius para ter certeza de que eu não havia me enganado.

"Você fumou? Venha você bater na porta dele!"

Eu respondi irritada.

"Qual é ruiva! Você está a dois passos do cara! Estou do outro lado da cidade!"

Sirius respondeu depressa.

"Nem se você estivesse em Júpiter, Black!"

Segundos mais tarde o celular vibrou novamente.

"E se eu implorar?"

Revirei os olhos.

"Eu não o faria nem que me desse seu sangue. Agora pelo amor de Deus me deixe em paz!"

Nota mental: trocar o número do celular.

- ... que acha? – Mamãe perguntou.

- Sim, claro. – Eu respondi automaticamente.

- Então você concorda? – Ela levantou o olhar para mim.

O celular vibrou novamente, e eu olhei entediada para o pequeno aparelho sabendo que seria Sirius novamente.

- Porque não? – Falei para mamãe pegando o celular para ler a mensagem.

"Você faria se eu revelasse algo que não sabe sobre Prongs?"

Eu ri.

"Que tipo de melhor amigo é você? Entregando o ouro ao inimigo?"

Resolvi esperar a resposta com o celular na mão. Mamãe mostrava-me o conteúdo da sacola – roupas – excitada.

"Ele não ligará. E se ligar, dane-se. Quem sabe ele aprende a atender o celular"

Sorri ligeiramente divertida.

"Surpreenda-me."

"Prongs a acha a mulher mais deliciosa do planeta"

Meu coração – estranhamente – deu um pequeno salto.

"Vá lamber sabão Black! Potter acha toda mulher deliciosa!"

"Não precisa ser grossa ruiva!"

"Comentário idiota, resposta cretina"

"Prongs dorme nu"

Não pude evitar um sorriso.

Eu já tenho conhecimento da maior parte dos hábitos noturnos de Potter. Morar três anos em frente à ele tornou isso possível. Inclui-se aqui, sua mania de dormir despido. É de tremenda obviedade que esse fato não é simples de descobrir, mas ano passado, o alarme de incêndio disparou sem motivo algum. Naturalmente, saltei da cama depressa sem importar-me em pegar nada que não fosse Chiara – a gata de um cliente que eu estava cuidando – e seus dois filhotes.

Quando abri a porta, a primeira coisa que vi foi Potter. Os cabelos estavam mais bagunçados que o normal, ele tinha os óculos no rosto em vez das lentes e segurava seu lençol branco enrolado na cintura sem cuidado algum. O torso nu, e o tecido baixo deixaram claro que ele não vestia peça alguma de roupa.

Ao chegarmos no térreo, vimos Mr. Sanders tentando acalmar os moradores, e pedindo desculpas pelo inconveniente.

"Eu achei que você tivesse algo interessante para mim Black"

Esperei cerca de cinco minutos quando a tela do celular brilhou anunciando uma nova mensagem.

"Faz quase um mês que Prongs não tem ação nenhuma, se é que você me entende. Tudo isso porque não para de pensar em uma mulher"

Eu encarei – completamente inerte – o celular. Sem saber como reagir na verdade. Dentro de mim uma mistura estranha de satisfação, pelo "sofrimento" de Potter, e alguma outra coisa que fazia revirar o meu estomago que não soube identificar.

Asco talvez.

O aparelho, vibrou novamente, a mensagem aparecendo na tela.

"O que é bem idiota se você me perguntar. Prongs nunca foi muito normal de qualquer forma"

Quer dizer que o Todo-Poderoso-Potter está há um mês inteirinho sem se divertir?

Um sorriso maroto me surgiu.

Definitivamente asco.

- ... Dessa forma, amanhã seu pai e eu iremos até a casa deles para tomar chá juntos!

- Parece maravilhoso. – Eu respondi vagamente.

"O que supostamente devo fazer com esse "projeto" de informação?

"O que quer dizer?"

Revirei os olhos.

"Qual é a graça se não sei o nome da pobre coitada?"

"Sinto desapontá-la ruiva, mas eu não sei"

"Pelos céus, você é ou não o melhor amigo desse trouxa?"

"O "trouxa" não me conta tudo ok? Não é como se nos juntássemos sexta à noite para manicure e conversas profundas sobre sentimentos melosos"

Qual é a implicância dos homens com manicure? Sinceramente é uma atividade muito saudável okay? E higiênica.

E relaxante.

"Tenho certeza de que vai fazer pensar em um bom uso para ela. Então? Bata na porta dele por mim?"

"Okay Black. Já estou indo."

Suspirei desencostando-me da parede.

- Dê-me um minuto mamãe, preciso ver Potter. – Falei abrindo a porta e cruzando o corredor para bater na porta logo em frente.

Esperei por um momento, e quando não obtive resposta bati novamente.

- Mãe! – Ouvi Potter – Atenda a porta!

- Eu sou visita! – Ela exclamou de volta.

Eu pude ouvir Potter grunhir em irritação.

- A senhora não é visita!

- E sou o que por acaso?

- Minha mãe! Pelo amor de Deus, atenda a porta.

- Sinto muito querido, está passando minha novela favorita e esse é um episodio muito importante. O que vou fazer se perder algo revelador?

- É para isso que existe You Tube!

- Você sabe que eu não uso essas coisas.

Potter murmurou alguma coisa e pude imaginá-lo revirando os olhos.

- James Potter! Eu ouvi isso!

- Perdão mamãe. – Ele pediu.

Eu ri.

- Agora seja um bom menino e atenda a porta.

Segundos mais tarde ouvi passos pesados vindo em minha direção, e então Potter abriu a porta. Como se ele tivesse algum conhecimento de minha conversa com Sirius ou de meus pensamentos, Potter segurava uma toalha nos quadris com uma das mãos enquanto tentava tirar os cabelos molhados dos olhos com a outra.

Eu mordi os lábios. Se ele não fosse um asno completo eu definitivamente consideraria um contato mais íntimo. Os ombros mal-enxutos ainda tinham diversas gotas d'água e ele exalava um cheiro deliciosamente masculino.

- Qual é Evans? – Ele disse curto e grosso.

Bruto.

- O seu namorado está entrando em parafuso pois você não atende ao telefone, então faça-me um favor e ligue para ele.

- Precisava me tirar do banho para isso?

Revirei os olhos.

- Estou fazendo um favor ao seu amigo, seja educado Potter – Então levantei as mãos na defensiva – E ei, reclame para Black.

Potter arqueou uma sobrancelha desconfiado.

- Eu pensei que você não falasse com Pads. Porque está fazendo um favor à ele?

- Não falo, mas o maldito tem meu número. Uma decisão tomada não por mim, claramente. – Eu o encarei arqueando uma sobrancelha já que fora por meio dele que Sirius obteve meu celular – Não obstante, descobri que seu precioso amigo pode ser útil de ano em ano.

- Querido – Ouvimos sua mãe dizer – Seu celular está me dando nos nervos. Tire-o de minha frente ou vou jogá-lo pela janela.

- É Sirius mamãe. – Potter respondeu.

- Oh! Ele já está em Londres? – Ela perguntou alegre.

- Creio que sim. Porque não atende?

Ele voltou-se para mim desconfiado.

- O que o cachorro prometeu a você?

Fiz-me de inocente.

- Não posso simplesmente ser prestativa e ajudar uma alma em apuros?

- Acontece que Pads não é uma alma em apuros. E mesmo que fosse, você dificilmente cruzaria o corredor para me ver.

- James! Sirius disse que você é pior que uma moça no banheiro e o esperará no restaurante português às oito junto com os outros meninos.

- Diga à ele... – Potter começou a falar.

- Já desliguei amor, o comercial terminou. – Ela o cortou.

Eu ri.

- Adoro sua mãe.

Potter bufou.

- Cai fora. – Ele fechou a porta raivoso.

- Deus, você é tão impolido Potter! – Eu exclamei para que sua mãe ouvisse.

- James Potter! Eu não o ensinei a ser mal-educado! Despeça-se propriamente de Lily.

Eu sorria de ponta a ponta quando Potter abriu a porta novamente.

- Odeio você. – Ele murmurou.

- O odeio também. – Sorri e virei-me para entrar em meu apartamento.


Lalah-Chan;