Nota: Vamos ver até onde isso vai. A tradução das falas em Trigedasleng estará no final do capítulo. Enjoy :)

Disclaimer: I do not own this tv show, nor its characters. Unfortunately.


A trilha terminou na entrada de Ton DC. O caos já havia se dissipado, mas a destruição do vilarejo era tão evidente quanto a culpa que carregava. Clarke parou sua caminhada com flechas apontadas para si. Ela não sabia se, com a retirada do exército, a trégua tinha sido quebrada ou não, mas sabia que alguns Grounders não estavam exatamente a favor de deixá-la viver.

Ela conseguia ouvir as cordas de seus arcos retesarem, e a vontade de soltarem os dedos e deixarem que aquelas flechas atravessassem seu corpo escorria indo parar diante de seus pés. No entanto, os portões de madeira se abriram antes que qualquer coisa acontecesse, e a voz dela, fria e autoritária, desmontou os guerreiros prontos para o abate.

- Jomp em op en yu jomp ai op. - Clarke já havia escutado aquela frase antes, quando Quint tentou matá-la na floresta. Sua pronúncia foi tão incisiva quanto naquela vez. - Hukop kom Skaikru ste klir.

- Ba Heda...

- Nou mou. Venha, Clarke.

Ainda que tivesse chegado até ali com um único objetivo, a loira hesitou. Olhava para os guerreiros com o mesmo olhar que eles a olhavam, desconfiados, sempre alerta. Ela se sentia segura ao lado de Lexa, mas diante dos últimos acontecimentos, agora Clarke se via obrigada a acompanhá-la com um pé atrás.

Ambas adentraram o vilarejo destruído sendo observadas pelos seus habitantes; Grounders de luto, sobreviventes do ataque dos Mountain Men. Eram guerreiros. Ainda que sofressem com a dor da perda, permaneciam de pé, reerguendo seus lares e velando seus mortos.

Lexa deixou-a entrar em sua tenda primeiro, talvez o primeiro gesto de gentileza desde a morte de Finn. Vendo-se livre dos olhares e enfim sozinha com a Comandante, Clarke virou-se para olhá-la. Não usava toda aquela maquiagem pesada de guerra, já que não havia mais motivos para tal. Parecia mais humana daquele jeito.

- Você pode dizer ao seu povo - enfatizou, deixando a amargura de ser traída carregar a palavra. - que os Mountain Men estão mortos.

- Mortos? - Por uma fração de segundo ela pareceu surpresa. - Todos eles?

- Todos eles - respondeu na mesma frieza.

- Então você conseguiu salvar os seus amigos - constatou, andando até a pequena mesa onde descansava uma garrafa e dois copos.

- Sem a sua ajuda, sim, consegui.

- Clarke, o que aconteceu...

- Eu não quero ouvir, Lexa. Nada do que você diga agora vai tirar o peso dos meus ombros, nem os rostos dos meus pensamentos.

Um copo foi enchido sem sequer um desviar de olhos. Lexa encheu o outro e entregou-o a ela, fazendo um gesto como se estivesse brindando a alguma coisa.

- Acho que temos mais coisas em comum do que pensamos. - Ela tomou um gole e respirou fundo. - Nós duas nascemos para isso.

- Para nos preocupar pelos outros, para tomar decisões pelos outros...

- Para sofrer as consequências pelos outros.

Clarke olhou para o copo que segurava e sorriu. Estava certa, no fim das contas. Ali estava a única pessoa em todo o universo capaz de entendê-la. Bebeu um gole do líquido escuro e sentiu-o queimar garganta abaixo. A aproximação de Lexa em poucos segundos a fez levantar os olhos. A maquiagem não pintava seu rosto, mas seu equipamento de guerra estava todo ali adornando seu corpo, a espada presa na cintura ao alcance da mão.

- Fico feliz por nos encontrarmos outra vez - murmurou.

Ela dizia a verdade? Não saberia dizer. Aquela máscara indecifrável dificultava qualquer leitura de pensamentos.

- Não sei se posso confiar em você como antes.

- Então por quê está aqui?

- Porque não tenho para onde ir.

Dizer aquilo em voz alta parecia ingratidão. Clarke podia voltar ao acampamento a hora que quisesse, sabia disso. Seu povo estava a salvo por causa dela. Tinha feito aquilo que Octavia tanto queria que ela fizesse: mais. Ela era uma heroína, junto com Bellamy, Jasper, e os outros que fizeram de tudo para que conseguissem sair vivos daquela montanha.

- Você tem o seu povo, seus...

- Não posso ficar lá, Lexa. Não depois... Não depois do que eu fiz.

A Comandante bebeu mais um pouco e pareceu pôr prós e contras na balança antes de tornar a falar.

- Posso transformá-la em uma grande guerreira, Clarke, mas há coisas que você precisará deixar para trás.

- Eu já deixei.

- Você não precisa aceitar nada agora. Não é uma decisão fácil, tampouco uma jornada fácil. Passe a noite aqui, pense, e conversamos outra vez pela manhã.

Não houve objeção alguma. Ela estava certa, havia muita coisa em jogo. Não foi à toa que Octavia decidiu ficar ao lado de Bellamy depois de tanta insistência em fazer parte daquele mundo. Clarke tinha sua mãe. Tinha Bellamy também. Talvez algumas horas pensando nas implicações daquela proposta fossem lhe fazer bem.


- Ataque-a, e estará atacando a mim.

- Mas Comandante...

- Chega.