My treasure
O cricrilar invadia o carro na estrada, mas apenas eram ouvidos por um dos ocupantes do veículo. Zechs olhou pra trás e sentiu o coração pesar: finalmente seus filhinhos adormeceram, até mesmo o bebê que ia na cadeirinha. Ah, seus pequenos! Tão novinhos e já tinham um triste futuro pela frente... As lágrimas rolaram por sua face:
- Eu juro, meus filhinhos, que eu jamais deixarei que algum ruim lhes aconteça. Vocês são o meu tesouro.
Continuou a dirigir, sem rumo, mas com uma única certeza: faria seus filhos felizes, a todo custo.
Três anos passaram-se desde o suposto desaparecimento do herdeiro ao trono e seus descendentes. Fôra numa noite escura em que um ataque terrorista do maior grupo contra a família real de Sank, matou rei e rainha, a jovem princesa e a esposa do príncipe, além de vários serviçais. Por um milagre, o príncipe conseguiu tirar seus filhos do castelo, antes que as chamas o queimassem por completo, entretanto não pôde salvar as vidas de sua esposa e de seus pais, nem de sua irmã. Zechs nem se lembrava de como conseguira controlar o desespero de seus pequenos, que gritavam e choravam, assustados, pedindo pela mãe. Tivera que esquecer-se de toda a dor que sentia e de seu medo para acalmá-los, mesmo não entendendo, de imediato, o que estava acontecendo. Só quando afastava-se de lá e era perseguido pelos terrorista que soubera o que acontecera: há várias gerações existia um conflito entre opositores à família Peacreft, que reevindicavam serem os verdadeiros merecedores do poder do reino de Sank, um dos maiores do mundo. Naquela época, esse grupo conseguira apoio de uma grande massa e, então, caso todos os descendentes ao trono falecessem, seria fácil, para eles, "subirem ao poder". Zechs sabia que não tinha a quem recorrer, já que a população, em maioria, não lhe daria auxílio; não que seus pais fossem maus governante, ao contrário, eram muito bons, mas a ingratidão das pessoas predominava. Por isso fugira, pois enquanto houvesse uma prova de que os descendentes legítmos estivessem vivos, os terroristas não poderiam governar o reino e isso os faria ir atrás deles, para exterminá-los de uma vez. Zechs juntara seus filhos e fugira para outro reinado, para um vilarejo quase esquecido por Deus, aonde ninguém os encontraria e eles poderiam viver em paz. Com o passar do tempo, as pessoas foram dando por mortos o príncipe e seus filhos, já que não encontraram seus cadáveres nos restos do incêndio que acabara com a família real. E Zechs? Zechs tivera que recomeçar do zero, começar uma nova vida, junto com seus filhos, a quem jurara protejer de todos os perigos.
- Papai, papai! o menininho veio correndo, pulando nos braços do pai.
- O que foi, Duo?
- Posso ir jogar futebol com os meus amigos?
- Quem está cuidando do baixinho?
- O Trowa.
- Então pode ir, mas nada de brincar na rua.
- Tá bem. Duo balançou a cabecinha.
- E não chegue tarde.
- Tá. Tchau, papai!
- Tchau! Zechs beijou a bochecha do pequeno, que saiu correndo.
Zechs trabalhava como marceneiro, no fundo de casa. Quisera uma profissão em que não tivesse que se afastar de casa, para poder cuidar dos filhos e, além do mais, naquele vilarejo todas as profissões eram dessa linha. Ele tem quatro filhos: Trowa, um moreninho de olhos verdes, era o mais velho, com 11 anos; Heero, um garotinho de belos olhos azuis e um temperamento um pouco difícil, tinha 10 anos; depois vinha Duo, um sapeca de cabelos compridos, que quase ultrapassava seu queixo, tinha 7 anos; por fim vinha Quatre, um loirinho baixinho e manhoso, de 4 anos.
Duo passou correndo pelos irmãos, mas se reteve:
- Viu, Heero? Eu disse que o papai ia me deixar brincar mostrou-lhe a língua.
- Bobão! Não mostra essa língua pra mim! Heero se lavantou do sofá e pôs-se a correr atrás do menor.
Duo riu com gosto, adorava provocar o irmão, já que ele era o único que se irritava facilmente. Saiu correndo, indo pra fora da casa, pois sabia que Heero estaria bem encrencado com o pai, caso saísse de casa sem a sua permissão. Heero parou na porta que dava para a rua:
- Vai ver só quando voltar!
- Ele só tá brincando, Heero. Trowa falou, chegando com Quatre no colo É melhor a gente entrar.
- Ah, Tóia, Tóia! Eu quéio íí lá fora! Quatre esticou os bracinhos, indicando a rua.
- Num pode ir lá, não, Quat. Trowa avisou, enquanto Heero fechava a porta.
Quatre fez biquinho, emburrado.
- Mas eu nunca pode íí lá! protestou.
- Quando você crescer o papai deixa você sair. Heero o consolou.
- E demola pra eu quecê?
- Bom, primeiro você precisa aprender a falar direito... Heero riu de canto de boca.
Eles sentaram-se no sofá, enquanto decidiam do que brincar.
A casa em que moravam, um sobradinho, era bem simples, entretanto com dimensões até que grandes. Possuía apenas dois quartos, um banheiro, sala, cozinha, copa e um quintal com garagem, onde Zechs transformara em sua oficina. Quando Quatre ainda era um bebê dormia no quarto de Zechs, que os outros eram mais velhos e não respeitariam o descanso do pequeno, já que eles não fariam silêncio quando ele dormisse, o que era cedo demais pra eles, não agüentariam seu choro quando eles quisessem dormir, etc. Aquela vila era bem pequena, com várias ruas não asfaltadas, e as casas ficavam perto da mata que envolvia a cidade. Contudo, a casa deles era a mais afastada, ficando bem próxima à mata; mas Zechs proibira os meninos de entrarem nela, pois podia ser perigoso, e deixou bem claro que daria o castigo pra quem o desobedecesse.
Algumas horas mais tarde, Duo chegou, andando nas pontinhas dos pés, para que ninguém o visse. Mas óbvio que o papai, preocupado, o pegou no flagra.
- Achei que eu tinha dito pra você não chegar tarde.
Duo deu um pulo, assustado, e se virou, encarando o pai:
- Mas não tá tarde... Tá?
- Eu não sei... foi irônico
- Desculpa, papai. Duo pôs as mãozinhas pra trás, inclinando o corpo pra frente e fazendo carinha de anjo.
- Venha cá. Zechs chamou.
Duo, todo sujinho de terra, foi até seu pai e, ao parar em frente a ele, esticou os braços finos, querendo colo, e o loiro fez o que ele queria.
- Confesso que fiquei preocupado, mas você não se atrasou.
- Ufa! passou a mãozinha na testa Pensei que eu ia me dar mal...
- Hahaha! Vá tomar banho, sapeca, que você está todo sujo. Zechs sorriu.
- Tem certeza que eu peciso tomar banho?
- A menos que você queira que as baratas te visitem à noite...
- Não, não, papai! Eu tô indo tomar banho.
Zechs colocou o pequeno no chão, que foi correndo se banhar.
- Papai, eu tô com fome. Heero apareceu, protestando.
- Só um minutinho, campeão, que o Duo foi tomar banho.
- A gente não pode comer sem ele?
- Eu creio que não. Zechs foi até o menino e envolveu seus ombros com um braço Ele ficaria chateado.
- É... Eu num quero ver ele chateado.
- Oh, que gracinha!
Zechs não conseguia se conter. Seus filhos tinham uma ligação maior do que quaisquer outros irmãos: um cuidava do outro, nunca delatavam o autor de alguma travessura, não faziam nada que pudesse magoar o outro, não brigavam (o máximo que faziam eram ameaças, mas o ameaçado sempre sabia que não era verdade), eram carinhosos, enfim, se "davam" super bem. Em parte, pensava que isso devia ao fato de que a tragédia que os marcava os unira mais, pois do mesmo jeito que Zechs não queria que algo de mal lhes acontecesse, eles também não queriam que isso acontecesse com algum deles (e com o próprio pai). Até porque, a super proteção de Zechs, que apesar de ótimo pai era bem rígido, ensinava-os a amar-se. Outro fato que contribuia pra isso era que a cidadela, mesmo sendo pobre, era livre de maldades e seus habitantes eram muito bondosos, acolhedores e corretos.
Os dois foram para a cozinha, onde Trowa e Quatre os esperavam. Heero foi para o seu lugar à mesa e Zechs o seguiu, sentando-se à ponta da mesa.
- Como foi o dia de vocês?
- Foi bom, papai, nós brincamos de cabra-cega, fizemos um teatrinho pro Quatre e assistimos televisão. Trowa informou.
- Sabem que eu não gosto que passem muito tempo em frente à tv. Zechs queria proteger os filhos de toda a "poluição" que aquele aparelho exibia Quanto tempo ficaram, dessa vez?
- O tempo do Happy Rabbit e dos desenhu deies. Quatre contou.
- Foi só uma hora e meia, papai. Heero corrigiu O Quat precisa aprender a ver as horas.
- Papai, quando as hoiras passar aqui, você me avisa pa eu vê elas?
- Hahahaha! os três riram.
- Que foi? Do que cêis tão rino? perguntou, sem entender.
- Meu bem, as horas não têm vida pra ficar andando por aí! Zechs ainda ria.
- Mas como é que eu faço pa vê elas, intão? pôs um dedinho na boca, pensativo.
O loiro pegou seu caçula no colo, a acariciar seu cabelinho:
- A gente vê as horas no relógio, meu filho. Mas isso eu te explico outro dia.
Duo entra na cozinha, de banho tomado.
- Pronto, papai, agora eu tô limpinho.
- Deixe-me ver.
O pequeno foi até ele e parou à sua frente, dando uma meia-volta.
- Viu?
- Vi, querido. Zechs constatou que Duo não tinha tomado outro "banho de gato" em que nem se lavava direito Sente-se, que eu vou servir o jantar.
Duo sentou-se no seu lugar e Zechs levantou-se, colocando o loirinho na sua cadeira. Quando terminavam de jantar, Zechs percebeu que seu caçula estava quase dormindo:
- Hei, vamos escovar esses dentinhos? É só eu lavar a louça e já vou contar a história pra vocês.
Toda noite, antes de dormir, os pequenos gostavam de ficar conversando e, em seguida, Zechs ia ao quarto dos filhos para contar-lhes histórias. Heero e Trowa falavam que eram velhos demais para ouvirem-nas, mas a verdade é que eles adoravam escutar as histórias do pai.
- Tá. Heero concordou, levantando-se e levando seu prato à pia.
Duo e Trowa o acompanharam e os três foram para o banheiro, escovar os dentes. Quatre, que estava sonambulento, ainda pulava da cadeira. Zechs o pegou no colo com um braço e, com o outro, colocou o prato do menino sobre o seu e os levou até a pia. Colocou o loirinho no canto da mesa de pia de madeira e pôs-se a lavar os pratos, copos e panelas que estavam sujos. Enquanto Zechs fazia o serviço, Quatre ia, cada vez mais, se entregando aos "braços de Morpheus". O loiro não queria que ele dormisse logo após comer e sabia que, por mais que acordasse o menino, ele voltaria a cochilar, então teve uma idéia sapeca. Pegou a mangeirinha da torneira e apontou-a para o pequeno:
- Quatre... Quatre, querido, acorde.
Ele foi abrindo os olhinhos lentamente e nem teve tempo para uma reação, que seu pai soltou-lhe um fino esguicho d'água. Levou as mãozinhas à frente do corpo.
- Hahahaha! Pára, papai, pára! Hahahaha! a risada gostosa de criança tomou conta do lugar, contagiando Zechs, que também riu e desligou a mangueirinha.
- Hahahaha! Você está bem, bebê?
- Tô moiado, papai...
Zechs tirou a camisa molhada de Quatre e o enxugou com a mesma.
- Você pode me ajudar a terminar com isso? o loiro perguntou, trazendo seu filhote pra perto da pia.
Quatre balançou a cabecinha afirmativamente.
- Você aperta o tubo de detergente nos pratos, Ok? Zechs deu-lhe o tubo.
- Hun-hun!
Quatre colocava detergente nos pratos, desperto totalmente pela água, e Zechs os lavava. Em pouco menos de dez minutos, tudo estava limpo.
- Muito obrigado, Quatre. Zechs o pegou no colo, junto com a sua camisa Vamos, antes que você pegue um resfriado.
Aquele era um país muito quente e, mesmo no inverno, o frio era pouco. As noites abafadas raramente tinham uma brisa gélida e, por isso, as chances de ficar gripado eram poucas. Zechs subiu com o filho e, ao chegar no quarto, encontrou os outros três falando. Colocou Quatre em sua cama e pegou uma camisa limpa, vestindo-lhe.
- Vá escovar os seus dentes, Quatre, sim?
Quatre pulou da cama e, ao que saía do quarto, seu pai lembrou-se de avisá-lo:
- E faça xixi antes de dormir.
Como ele ainda era pequeno, costumava fazer xixi na cama, por não ir ao banheiro antes de dormir ou porque tinha pesadelos. Duo, às vezes, tinha pesadelos com sua casa em chamas e sua família morrendo, por isso também acabava fazendo xixi na cama e, sempre, era tratado com mais mimo e carinho do que de costume, já que Zechs queria acalmá-lo. Doía muito ao loiro ver os filhos sofrendo por causa disso.
- Papai, hoje você vai terminar de contar a históirinha do Mágico? Duo perguntou, curioso.
- Vou, sim.
Zechs ajeitou Duo na cama e despediu-se de Trowa e Heero. Quatre chegou e, depois de se arrumar na cama, o pai contou o desfecho de uma história que já durava uma semana. Quando terminou, todos os seus pequenos estavam dormindo, como uns anjinhos.
- Tenham bons sonhos, meus amores. sussurrou, saindo do quarto e apagando a luz.
Eu tava com essa idéia faz algum tempo, desde que a minha amiga Akira começou a escrever um fic que todos os g-boys têm 3 anos. Eu vou puxar saco do Quatre, não dá pra resistir! Mas eu não tenho culpa: imaginem o anjinho que ele era, aos 4 anos. Os erros de português que tiverem nas falas das crianças são propositais, porque as crianças fofinhas são aquelas inocentes, que falam com vozinha gostosa e erram tudo. Isso aqui tá OCC também, mas é que eu acho muito baka esse jeito frio do Heero e o calado do Trow-Trow! Além do mais, não ia pegar bem para uma criança.
Esse capítulo num tá muito bom, mas os outros serão melhores
