Jensen pôde levantar a cabeça com dificuldade assim que ouviu passos apressados em sua direção. Suas mãos presas detrás de suas costas o impedem de levantar e correr em direção ao homem que ama, isso e o seu corpo detonado, mas Jensen está tentando não marcar cada ponto ferrado em sua pele ensanguentada pra não perder a cabeça.

Logo existem mãos o agarrando ansiosamente e um rosto perfeitamente conhecido surge em sua linha de visão.

Aqueles lindos olhos normalmente brilhantes sempre que o vê, agora estavam vermelhos e inchados de angústia por tudo o que havia acontecido.

Jensen tenta falar mas a sua garganta parece fechada e incrivelmente seca, é como uma lixa raspando por dentro e apenas pensar em falar o faz querer estremecer.

Jared corre para trás de onde ele está preso na cadeira e desamarra suas mãos, sem querer Jensen escorrega para frente mas é impedido de cair pelo corpo quente de Jared o segurando.

Jensen choraminga de dor enquanto Jared o levanta nos braços, beijando seu rosto carinhosamente sem ligar para o sangue e o suor, tudo o que Jensen pode fazer e se deixar levar sem reclamar.

Até que algo brilha vindo do escuro, uma luz prateada refletindo pelo fino fio de sol surgindo de uma brecha do teto. Jensen sente quando seu sangue congela, seus olhos dobram de tamanho com a percepção do que está por vir, e com um impulso doloroso Jensen se joga dos braços de Jared, deixando seu peito exposto em frente ao corpo do homem maior.

Um som surdo surge no ar ao mesmo tempo em que uma dor branca atinge seu corpo. Tudo parece em câmera lenta de acordo com que ele perde a conexão com o seu cérebro, seu peito está em chamas e só então Jensen sente algo liquido escorrendo por sua pele.

Assim que Jensen vê o mundo começa a perder o foco e ele não sente quando as suas pernas perdem a força.Braços o seguram e um grito ecoa vindo de muito longe, tudo parece distante agora, e não parece tão ruim se deixar levar pelo cansaço.

Jared surge novamente em sua frente, ele já não parece aliviado como minutos atrás, ele parece terrivelmente em pânico, sua boca continua se movendo como se ele estivesse falando muito alto, mas Jensen não consegue ouvir, ele não pode ouvir mais nada.

Lágrimas escorregam dos olhos de Jared caindo na bochecha de Jensen. Jensen queria dizer que sente muito, que queria que as coisas tivessem sido diferentes, mas tudo o que ele consegue falar é:

— Eu... eu te... amo.

E então tudo se torna preto.

J2J2

Oh não, não, não, simplesmente não. Por favor, Deus, não. Jensen permaneceu repetindo essa minúscula palavra monossílabo tônica enquanto vasculha com as mãos rastejantes e nervosas pelo armário pequeno do banheiro, em busca de seus comprimidos especiais.

Ele sabe que deveria ter comprado junto com a sua caneta Epipen, mas o seu maldito cérebro o fez se esquecer assim que viu um anúncio da 38 edição anual do Gears and Wheels Motorcycle Show, um dos maiores eventos de exposição de motocicletas do estado de Boston, e agora ele está prestes a entrar em desespero por se deixar levar e esquecer de seus comprimidos apenas para ligar para seu amigo Tom Welling, lhe informando as novidades.

Não é exatamente algo de vida ou morte, mas apenas a certeza de que Jensen não tem os comprimidos a mão o aperta em insegurança de voltar da escola pra casa sem resquícios definitivos de um abuso por Justin Hartley e seus capangas. Há anos Jensen tem sentido os efeitos de ser o filho de Alan Ackles, juiz de direito, o cabeça na prisão de centenas de criminosos, e também um homem incrivelmente odiado por isso.

Jensen obviamente acabaria pagando por isso momento ou outro, desde pelo menos 7 meses atrás, quando seu pai prendeu por desviar gasolina de um caminhão e por vender metanfetamina ilegalmente, um dos "amigos de Hartley" a pena foi perpétua, sem condicional, e Jensen pode dizer que Justin ficou puto por assim dizer, com as notícias."Talvez eu devesse apresentar ao seu pai um assassino de criancinhas, ou algum estuprador sádico, pra que seu papaizinho saiba medir melhor o real grau de perigo que existe lá fora e pôr a pena certa"

Disse Harley em seu ouvido enquanto torcia seu braço nas suas costas e chutava as suas costelas com seu All Star uma semana depois da prisão de seu amigo. Jensen quase pode sentir o tremor em sua lombar subir lentamente até a área cervical de sua coluna, rastejando como uma serpente por sua pele prestes a pica-lo. Justin Hartley consegue fazer Jensen se sentir pequeno apenas com o almíscar de sua presença.

Ele odeia isso.

Desde então a porra da sua vida tem sido sair de casa fitando todos os seus lados em busca de qualquer ameaça pra suas costumeiras costelas quebradas. Um olho roxo (a menos que ele tenha a sorte de ter os dois olhos roxos) Sangue fluindo pra fora de seu corpo por suas narinas ou boca, ou o fêmur fraturado de sua coxa esquerda/direita, cujos ainda não estão 100% curados.

A lista de ferimentos depois de um encontro com Hartley e sua turma pode dobrar dependendo do humor do cara, ou Jensen pode ter sorte e sair com metade disso (isso e claro, com a promessa de mais depois). Jensen não se orgulha disso, mas talvez ele esteja se acostumando com essa realidade. Ele não pode dizer nada ao seu pai ou então ele está morto, e sua vida pode ser uma merda mas talvez ainda exista uma pitada de esperança no fundo de sua mente de que isso tudo mude algum dia.

A quem ele está enganando? Sua vida está fodida em graus épicos, e o pior é que ele nem se importa mais.

Socos na porta o trazem de volta a dolorosa realidade e Jensen com a mão mais firme fecha o pequeno armário, deixando o espelho preso a porta refletir sua pele pálida, quase doentia, suas olheiras profundas e escuras, e o sangue que planeja surgir por morder os lábios nervosamente todo o tempo desde que percebeu que seus comprimidos acabaram.

— Jensen, o que diabos está fazendo aí dentro até agora? Nem a Mack demora tanto pra se arrumar quanto você — Jensen quase pode sorrir aliviado apenas ao sentir a natureza enérgica de seu irmão mais velho, Joshua, ou apenas Josh pros íntimos, do outro lado da porta.

Seu irmão é um tipo de suporte quando Jensen está mal, e por mais que não pareça Josh consegue intimidar um cara duas vezes maior que ele apenas ao encarar. Jensen sabe que se ele contasse a verdade sobre Hartley, e não escondesse as suas contusões com a maquiagem de Mackenzie e óculos escuros, seu irmão já teria defendido Jensen dos valentões sem pensar nas consequências, e esse é o problema. Jensen não pode deixar seu irmão se meter em encrenca e muito provavelmente se machucar, apenas porque Jensen é maricas demais pra cuidar de si mesmo.

Jensen pode aguentar a barra, ele tem mestrado em suportar a dor física mesmo quando parece ser intolerável. Talvez isso seja algo bom, certo? Jensen adquiriu uma alta tolerância a dor depois que conheceu Justin, talvez nada possa ser pior que isso.

— Já estou saindo, Josh — Jensen estremece e se chuta na bunda por deixar a sua voz sair trêmula como se estivesse passado todo o tempo no banheiro chorando, o que não é verdade, não exatamente. Jensen então pigarreia baixinho e força um sorriso pra que vaze nas próximas palavras — Você ainda tem que me emprestar o carro no fim de semana, então é melhor não enche-lo de lama em outra de suas escapadelas no meio da noite com a Elena.

Jensen considera uma vitória quando ouve Josh bufar.

— Claro, como se você e aquele seu amigo nerd não tivessem deixado um maldito amassado enorme no capô do carro. Ainda preciso saber como fizeram isso pra pensar se devo deixar que o pegue de novo.

Com a voz mais estável e o rosto mais natural, Jensen abre a porta e dá de cara com seu irmão de braços cruzados, usando uma camisa jeans aberta por cima de uma camiseta branca, uma calça preta também jeans e tênis de cano alto. Basicamente seu visual pra sair com a sua namorada á noite.

— Já disse que Tom fica um pouco excêntrico quando bebe, pois ele não é acostumado a tomar vodka — Jensen encolhe os ombros e passa por Josh, parando pra ouvi-lo de frente ao banheiro.

— Não posso acobertar você caso decida passar a noite numa balada pra maiores outra vez. Se você tivesse voltado cheirando a resquícios de álcool aquela noite o papai iria te deserdar, e depois iria me deserdar por tentar defender você — Josh aconselha tentando parecer severo, jogando em Jensen sua rara voz firme de irmão mais velho, Jensen prende os lábios para não rir.

— Não foi minha idéia, nem do Tom.

— Claro, foi de ambos. Seu amor por Lynyrd Skynyrd ainda vai te meter em encrenca, maninho — Josh dá dois tapinhas no ombro de Jensen, cujo faz biquinho enquanto encara o irmão ofendido.

— Cara, era simplesmente Lynyrd Skynyrd, um show exclusivo pra arrecadar fundos pro asilo Dummont, não podíamos perder. Eu sequer toquei em álcool, sabe que eu não bebo.

— Nem deve, você está longe de bater os 21.

Jensen revira os olhos pro comentário do irmão e cruza os braços, parecido a como Josh está. Os olhos verdes do seu irmão focam nos igualmente verdes de Jensen profundamente, como se buscasse encontrar todos os segredos escondidos do irmão mais novo. Não seria novidade de ele conseguisse, afinal Jensen é tão transparente quanto uma Salpa.

Jensen tenta fugir daquele olhar, ele não precisa de Josh o julgando como se ele não passasse de um pirralho mimado, o que passa bem longe da verdade. Josh é sempre alguém a quem Jensen recorre quando está com medo e quer se deixar ser o irmãozinho que é, mas as vezes ele próprio se permite se dar seu próprio espaço, pra refletir e se sentir uma merda em paz.

— O que você tem? — Josh levanta a sobrancelha e descruza os braços se aproximando de Jensen como um Sherlock Holmes prestes a inspecionar um caso. Jensen instintivamente dá um passo para trás, mesmo tentando não notar ele percebe como a postura de Josh cai — Tem andando estranho nos últimos meses.

— Acho que... só estou nervoso com minha preparação pra Harvard, sabe, até mesmo os super gênios se questionam de sua própria inteligência e capacidade — Jensen sorri tentando soar zombador consigo mesmo, Josh ri e se aproxima de Jensen, envolvendo seu braço nos ombros do irmão enquanto o guia até a sala de frente para as escadas e de costas para a porta principal.

— Achei que possuir QI 200 fosse suficiente pra ingressar no meio daqueles adolescentes bancados pelos pais ricos, enquanto planejam como será suas férias em Fiji ou talvez no sul da França — Jensen ri, pois é verdade. Inteligência não é suficiente pra estudar em Harvard, mas quem liga quando se tem pais que te dariam um Porsche se pedisse sem esforço?!

— Não é tão simples — Jensen dá de ombros.

— Não é tão simples? Cara, se eu tivesse cinco por cento do seu cérebro ou estaria lucrando com um monte de bugigangas nunca inventadas antes, me tornaria o próximo Bill Gates ou sei lá — Josh lança as mãos exasperado e ganha uma risada aberta de Jensen.

— Você realmente tem uma visão distorcida e errada de como funciona a mente de um grande inventor.

Josh sorri e bagunça os cabelos do irmão antes de passar por ele. Ele abre a porta mas não sai ainda.

— Sabe que se estiver acontecendo alguma coisa com...

— Eu estou bem, Josh, pode ficar tranquilo e apenas se divirta com a sua namorada. Não acho que ela ficaria feliz se furasse com ela outra vez depois da noite fracassada envolvendo problemas no motor e você preso no meio da estrada.

— Nem me lembre — Josh ri e só então sai. Jensen suspira e se senta no primeiro degrau com a cabeça na mão esquerda e a direita enrolada em suas costelas doloridas. Sua mente se voltando em como planeja sair de casa para comprar seus comprimidos especiais sem ser pego por Hartley e sua turma.