UA e epílogo desconsiderado. Essa não é uma história bonitinha, algumas cenas de violência e sexo devem aparecer por aqui. Se não gostam é melhor nem começarem. Se proceguirem... espero que gostem...
Ar...
O ar que ela tentava inalar era completamente inodoro,talvez porque o simples ato de encher e esvaziar os pulmões já estavam se tornando absurdamente difícil.Mas se ela conseguisse inspirar mais profundamente com certeza sentiria o cheiro peculiar de ferrugem...SANGUE...
Frio...
O frio que estava sentindo, não era algo natural, por estar deitada no chão de pedra talhada e áspero ou por estar precariamente vestida, que pelo que se lembrava; embora os pensamentos não estavam lá muito coordenados, estava vestida com uma blusa de alças e calça jeans. Cada parte do seu corpo estava frio e os arrepios na sua espinha pareciam estar viajando pela sua corrente sanguínea...Muito frio...MORTE...
Luz...
Estava completamente escuro, mas Hermione não tinha certeza se era pela ausência de luz ou pôr não conseguir abrir totalmente os olhos ou ainda se todo escuro que a envolvia era pela ignorância de não saber onde estava e o que se passava com ela... Não sabia quantos dias estava ali, pois não conseguia contar o tempo, não tinha noção de espaço ou de localização, não tinha noção de nada literalmente...VAZIO...
Mas no auge de sua insanidade Hermione Granger conseguiu se lembrar de algo, talvez nem tão propício ao momento mas era uma coisa que sua mãe lhe contou ainda pequena...Qdo uma pessoa morria; antes de ir pro céu ou pro inferno, todos passavam pelo limbo pra remissão dos pecados e lá Deus julgaria e decidiria o destino eterno de cada ser...
Mas bruxos não acreditam em Deus !! Embora se ele existisse talvez ela estivesse nesse lugar esperando seu julgamento, afinal todos somos pecadores!
É claro que a "sabe-tudo" de Hogwarts encontraria a resposta...Óbvia.. Pouco ar, frio intenso, escuridão !!Ela estava no "inferno" e aquilo com certeza duraria para sempre...DESMAIOU...
A única luz que adentrava a ampla e requintada sala de escritório da imensa mansão, provinha das chamas da lareira que parcialmente iluminava a figura pálida, sentado numa das poltronas de espaldar alto forradas em veludo verde musgo detrás da enorme mesa de carvalho escuro, tão limpa e polida que não seria de admirar que algum pobre elfo se dedicava incansavelmente ao trabalho diariamente, aliás; tudo naquele lugar exalava limpeza, sofisticação e coisas caras.
A guerra era cruel, ambígua, traiçoeira...
Para Draco Malfoy a guerra tivera algumas compensações, pelo menos na aparência...o corpo magro e liso dera lugar a um peito definido de abdômen trabalhado, esculpidos impecavelmente pelo quadribol e pelo pesado treinamento de comensal.Os cabelos, esses continuavam platinados, lisos e jogados displicentemente sobres os olhos azuis acinzentados e frios.A pele, branca, cremosa, convidativa, doce que se tivesse gosto, seria de pecado. Draco era perfeito ! Uma brincadeira de algum deus mitológico ou de um demônio travesso para punir e caçoar da humanidade feminina e masculina com a visão de algo parcialmente inatingível, porque Draco era simplesmente desejado e odiosamente orgulhoso, esnobe, convencido e principalmente preconceituoso.
Por outro lado Draco experimentou com a guerra uma coisa que ainda não conhecia...SOLIDÃO... Pois embora houvesse durado pouco mais de dois anos, ela finalmente terminara e o lado vitorioso não fôra o das trevas, Potter vencera.
Draco era mimado, sempre fora.
Pela mãe, que além de fazer todas as suas vontades, incutira em sua mente que ele era insubstituível.
Pelo pai, que embora era rígido e cobrava nada menos que a perfeição, em tudo que ele fizesse, enraizou em Draco que sua superioridade em ser sangue puro o tornava simplesmente soberano.
Pelas "namoradas" que entre gemidos e sussurros alucinavam com sua performance dentro e fora delas.
E principalmente pelos "puxa sacos" que o rodeavam por que...
Estar com Draco Malfoy era status. Ter Draco Malfoy era êxtase. Ser Draco Malfoy era SUPREMO, coisa que já não era mais tão verdade assim...
Logo após Potter ter derrotado Voldemort num duelo que destruiu metade de Hogwarts, todos os comensais que restaram foram mandados pra Askaban, que mesmo sem os dementadores enfraquecendo a sanidade dos prisioneiros era deplorável demais pra manter trancafiados a tão pura família Malfoy. Três dias após Lucius e Narcisa serem levados pra lá, foram encontrados mortos na mesma cela, aparentemente envenenados; como conseguiram isso ninguém sabe...Suborno.
" Rony, onde está o Harry? Gritou a castanha tentando se fazer ouvir, em meio aos inúmeros feitiços lançados a ermo pelos comensais, que destruíam tudo a sua volta.
Não sei!! Estupefaça...- um comensal acabara de cair ao lado da menina atingido pelo feitiço do ruivo. Não o vejo desde a casa dos gritos...
Rony, temos que achá-lo, antes que... - mas não teve tempo de continuar, pois uma estátua acima deles explodiu e destroços e poeira infestaram o lugar e uma onda de luzes coloridas eram lançados contra eles. Quando Hermione conseguiu sair de perto do tumulto pra procurar pelo amigo foi empurrada violentamente contra a parede, machucando parcialmente o rosto e antes de pensar em se virar, uma voz bem próxima ao seu ouvido falou com a voz arrastada e empreguinada de desprezo.
- Oras se não é a maldita sangue-ruim!... - Sentiu algo apertando sua costela e não viu mais nada.
O peito de Hermione subia e descia descontroladamente e a respiração não parecia tão difícil agora, também com os constantes pesadelos sempre que fechava os olhos, já havia se habituado ao pesado ar da prisão que estava sendo mantida. Logo quando acordou do seu momento de insanidade não se sabe quanto tempo depois, e constatou que não estava no "inferno", chorou... mas logo voltou a razão e começou a reagir.
Primeiro tentou acostumar-se com a precária iluminação que vinha da única janela alta da cela e dos vãos da porta de metal cinza; sucesso,depois tentou ficar de pé mas descobriu que era impossível, pois além da dor no corpo e dos ferimentos, estava completamente debilitada pela falta de comida. Derrota. Não podia avaliar o estado do seu rosto, mas se estivesse com os mesmos hematomas que tinha pelo corpo, e sujo como os trapos que agora vestia, estava horrorosa. Não que fosse vaidosa; não, definitivamente tinha outras prioridades, mas não gostaria que Rony a visse nesse estado. Rony! Só de pensar que poderia nunca mais ver seus amigos seu coração latejava, mas desejava que pelo menos eles estivessem bem, isso lhe dava forças.
O loiro levantou-se e caminhou pra perto da lareira, estava frio. Um rápido pensamento se dirigiu a sua "convidada", trancafiada nas masmorras da mansão..."será que estava viva"? Logo desviou a atenção, para o maço de cigarros jogado na mesinha de centro, pegou um dos cigarros e levou aos lábios finos e levemente pálidos, acendeu com a ponta da varinha utilizando um feitiço não verbal e tragou... Calmo e vagarosamente, inspirando toda a fumaça e sentindo a invasão de seus pulmões ainda sadios... Doeu, mas a sensação de intoxicação o acalmava... Sorriu de lado enquanto soltava o ar. Que vício idiota, odiava tanto os trouxas que estava nesse momento saboreando uma de suas piores invenções. Patético. Mas não iria parar agora, não agora que estava irritado, cansado e confuso; um vício estúpido porém benéfico e ficaria ainda melhor se acompanhado de firewisky. Perfeito!
Após trinta minutos de vício Draco estava relaxado. Relaxado e com vontade de transar... Quanto tempo? Um mês? Talvez mais... Já fazia uma semana que estava trancado na mansão e apenas quatro dias que soubera da morte dos pais, estava completamente sem notícias do mundo exterior, pois não recebia o jornal em casa e a última coruja foi a que trouxe a carta de Askaban. Estava no escuro, mas soube que o maldito que sobreviveu venceria a guerra antes mesmo dela terminar e por isso havia saído dela hora antes do Lord ser derrotado... Draco era inteligente e como já tinha conseguido seu prêmio, não tinha por que permanecer lá, pois pelo menos uma vingança particular ele teria, Granger. Nem que fosse pra deixá-la morrer de fome (pois não teria coragem pra matá-la com um Avada, pelo menos ele achava) ele teria o prazer de tirar algo importante para o Potter, já que este ousou tirar-lhe tudo...Vingança.
Levantou, a coordenação dos músculos estava um pouco lenta, não estava bêbado! Jamais beberia a esse ponto pois não era um fraco, só estava relaxado demais, preguiçoso; indo lentamente até o corredor que descia pras masmorras, com a garrafa em uma mão e o terceiro cigarro aceso na outra, decidiu que, veria como ela estava e se tivesse sorte, já teria morrido.
Hermione sentia o corpo mole, a pressão arterial fraca, o estomago fundo e uma leve tontura que se intensificava toda vez que tentava levantar. Melhor continuar sentada.
Bem poucas vezes ouvira algum som, mas não tinha certeza se era sua imaginação ou o barulho que seu estomago fazia, por isso mesmo o sutil rangido da abertura da porta a sua frente não passou despercebido... Esperança.
- Aproveitando a estadia na sua ultima morada, sangue ruim? - Mione abriu a boca pra rebater mas nada saiu devido a perplexidade que estava. - Não se acostume com o conforto, não é sempre que estou de bom humor! - a voz de Malfoy continuava arrastada mas não tinha o tom debochado que Hermione conhecia, continha uma raiva imensa...
Parou de falar e continuou se aproximando, virou a garrafa de firewisky de uma única vez fazendo o liquido descer queimando a garganta e atirou-a na parede, fazendo o barulho do estilhaço ecoar na cela. Hermione tremeu! Ainda não compreendia direito a situação mas estava com medo.
- Olhando de perto, você é mais imunda do que esse seu sangue sujo! - falou quase cuspindo as palavras, antes de se abaixar ao lado da garota, que mantinha uma expressão atordoada com um misto de pavor e curiosidade, tragou uma ultima vez e perguntou, pausando cada palavra, bem próximo ao ouvido da castanha enquanto soltava a fumaça lentamente.
- Como você quer morrer? - Draco enlouqueceu, o ódio que sentia deu lugar a um prazer insano, cada pêlo do corpo estava arrepiado e uma onda de eletricidade desceu pela espinha quando viu uma lágrima deslizar no rosto sujo dela, apertou o rosto da garota entre os dedos longos obrigando a encará-lo, estremeceu.
Hermione forçou o rosto pro outro lado fazendo-o solta-la bruscamente, um sorriso de canto se formou nos lábios dele, esse sorriso ela conhecia, era o mesmo que viu pelos seis anos que estudaram juntos, debochado.
- Acaba logo com isso Malfoy ? – disse voltando a encará-lo desafiadora, a voz saiu estranhamente esganiçada, pelo tempo que estava sem falar; mas mesmo assim não perdeu o tom autoritário característico dela. Se Malfoy era debochado Hermione era autoritária, e algumas coisas são imutáveis.
- Uhhh! Quanta coragem? - disse ele sarcasticamente enquanto se levantada e se afastava um pouco, ainda a encarando. - Quer encontrar seus amigos no inferno?- Os olhos de Hermione se arregalaram, sobre o que ele estava falando? A garota não conseguiu disfarçar o espanto, o que deixou o loiro absurdamente satisfeito, sorriu afetado. Conseguiria o que queria? Sim ! Teve certeza que sim e já estava conseguindo. Tortura. Mas não hoje. Draco caminhou até a porta e saiu, deixando uma Hermione confusa e irritada pra trás.
Draco subia as escadas pro seu quarto com uma imensa satisfação estampada no rosto, os olhos sempre frios tinham um brilho perverso, não se sentia bem assim à semanas e finalmente tinha um motivo pra sorrir, afinal era divertido ver as lágrimas da sangue-ruim, era prazeroso vê-la sofrer... Adormeceu tranqüilo, deixaria seus reais problemas pra amanhã...
Hermione estava arrasada, as engrenagens de seu cérebro trabalhavam sem parar, tentava desesperadamente organizar as idéias mas era tanta informação... e pro seu desespero, eram péssimas informações... Primeiro, seu algoz era ninguém menos que o miserável Draco Malfoy, não o via desde que deixou Hogwarts após a morte de Dumbledore, e nem sabia que estava vivo! Segundo, ela agora tinha certeza que morreria de fome e terceiro, estava apavorada com as palavras de Malfoy, o que ele quis dizer com inferno?? Ele disse morrer e ir pro inferno junto com os amigos? Não podia ser, não aceitava nem se quer pensar nessa hipótese... Melhor esperar... Adormeceu.
Toc ... Toc... Toc ...Malfoy se virou na cama puxando o edredom pra perto do rosto, dormia tão sereno que os anjos pareciam estar velando seus sonhos, mas que barulho infernal era esse? Parecia alguém batendo com uma varinha na sua cabeça, que sonho idiota... Abriu os olhos irritado, queria dormir mais; acordou praguejando... Pegou a varinha na escrivaninha ao lado da cama de casal com dosséis que dormia, e num curto movimento; abriu as cortinas escuras deixando um brilho intenso de claridade entrar. Merda, virou o rosto e fechou os olhos quase transparentes que arderam levemente com a brusca luminosidade, levantou. Esfregou o rosto e pousou as mãos nos cabelos antes de olhar pra janela novamente. Merda de novo, bufou indo até ela. Não era sonho... era uma maldita coruja das torres cinzenta que se debatia contra o vidro... Abriu, soltou a carta e fez um sinal pra ave partir.
Pão quentinho saindo do forno, cheiro de coisa fofa com manteiga derretendo que antes de provar, você já sabe que esta gostoso; virou de lado, que saco!! ... Coisa chata sentir esse chão gelado e cada milímetro do corpo dolorido... O sonho estava tão bom que Hermione se irritou ao acordar, queria dormir, precisava dormir... Fechou os olhos a tão pouco tempo que decidiu não abri-los, ficaria ali, como uma morta-viva até morrer de verdade... Mas que tortura irritante esse cheiro de pão, já que acordou por que continuava sentindo o cheiro? Merlim estava irritado com ela, só podia; maldito cheiro.
Quando finalmente decidiu abrir os olhos foi pra contemplar a melhor visão da sua vida inteirinha...Pão...
Se Hermione ainda tivesse lágrimas, se não as tivesse gastado todas durante a noite, choraria de felicidade. A pouco mais de um braço de distância encontrava-se uma bandeja com o delicioso pão quentinho e o que parecia ser algum líquido fumegante, pois saía uma fina fumacinha da xícara, esticou o braço já que não conseguia levantar e forçou o corpo um pouco pra frente, tocou na bandeja e sorriu abertamente, era real, os olhos marejaram... Puxou pra perto de si e beliscou o pão trazendo um pequeno pedaço até a boca, mágico !! Até mastigar doía um pouco, mas não iria se importar agora, comia devagar mesmo faminta, pois era inteligente o suficiente para saber, que depois de tanto tempo ingerindo somente água, poderia morrer engasgada, aliás; quanto tempo estava ali mesmo?? Não sabia, mas desde que fora jogada ali, passara quatro dias inconsciente e estava à quatro acordada. Seu corpo somava-se oito longos dias sem alimentação e se não tivesse tão boa forma e saúde já estaria tomada pelas câimbras. Claro que agora parecia uma caveira de magra, a aparência extremamente debilitada... Se antes não gostaria que Rony a visse suja, agora então como estava, preferiria nem ser encontrada.
Os olhos fixos esquadrinhando o pergaminho recebido a pouco, nem piscavam; Malfoy relia pela segunda vez tentando absorver cada detalhe ali escrito, pois embora já esperasse algo do tipo, não acreditava na extensa lista de acusações que sofria, claro que nunca fôra uma vítima mas até aquilo parecia exagerado... Uns crucius, muitas azarações, uns poucos impérios e algumas " boberinhas" contra trouxas ele se responsabilizaria com prazer, agora induzir "crianças" a se tornarem comensais contra a vontade, era ridículo... ninguém fez nada obrigado, cada um daqueles moleques sabia exatamente o que queriam... patético... Embora sabia que só continuava em liberdade por que Lucius quando preso declarou que obrigara o filho a tornar-se comensal quando ainda era menor de idade e por isso assumia toda a responsabilidade sobre suas ações (com certeza já havia planejado a própria morte),mas infelizmente ainda tinha a invasão organizada e executada por ele em Hogwarts, que resultou na morte do velho, droga; já fazia tanto tempo...pra que lembrar disso agora?? Ainda bem que não constava nada de muito grave... afinal, nunca matou ninguém propriamente dito; ajudar não conta... Releu mais uma vez, tinha que estar preparado para defender-se e sair totalmente inocentado, não seria fácil! Dois dias era o prazo máximo pra comparecer no Ministério e não tinha como escapar, tormento.
Devia estar na parte da tarde quando Hermione viu Malfoy entrando na cela... O que ele queria agora? Já haviam lhe deixado umas três refeições... Pra que isso? Se Malfoy queria sua morte, por que mante-la viva? Não agüentou??
- O que você pretende com isso Malfoy? Que palhaçada é essa ?
Draco não respondeu, andou pelo lugar com uma expressão completamente neutra, observando cada canto das paredes como se estivesse sozinho e verificando algo de extrema importância, fazendo a garota virar o pescoço para acompanhá-lo, não queria ficar de costa...
- Você não vai se sair bem disso, você sabe; tem gente procurando por mim Malfoy! - o tom de voz não estava alterado mas começava a soar impaciente pelo comportamento estranho dele.
Draco continuava impassível, sem lhe dirigir nem um olhar sequer, definitivamente estava sozinho. Após longos minutos que pareceram horas pra menina, ele parou de andar e ficando de frente onde ela estava sentada, perguntou com uma leve curiosidade no rosto mas ainda sem olhá-la.
- Em qual das paredes você prefere ser pregada? - ele mantinha a voz calma, suave; como se estivesse refletindo - o queixo de Hermione despencou alguns centímetros...
