N/a - Oi gente, tudo bem? Estava seriamente pensando em parar mas esta história não me deixou em paz, a Arwen e Legolas não paravam de falar. Estava muito desanimada, me deem um combustível e comente? Sejem bonzinhos! rs

É raro, mas esta é a segunda história het. Pretendo começar à atualizar no blog primeiro, qualquer coisa o endereço é EstrelAntiga .blogspot .com (tirando os espaços). Beijinhos e obrigada à todos que me apóiam.

Quero enviar um abraço forte à CeliYep, uma grande e admirável amiga para quem sou eternamente grata.

140113 - Peamaps

Coberta por um longo manto azul claro, Arwen escondia seu longo vestido branco que lhe ia até os pés. Ela cavalgava veloz em seu cavalo e melhor amigo. Ela conseguia falar com ele e lhe pedira para que fosse correndo.
Seus enormes olhos azuis estavam arregalados enquanto ela prestava atenção na estrada à frente. Ela fugia com desespero.
A elfa era ainda uma adolescente entre sua raça.

Seus olhos já estavam secos de tanto chorar. As lágrimas caíram no início de sua jornada, mas agora o vento e as horas que já se passaram fizeram com que elas secassem. Ela não era daquelas que ficava mergulhada na tristeza. Arwen era por natureza, otimista.

Seu cavalo branco saltou perigosamente por sobre um tronco seco ao chão e ela apertou as coxas no animal, segurando-se para não sair voando adiante.

Só parou à noite, quando as estrelas cobriam toda a Terra-Média e a brisa tornara-se fria. A temperatura não afetava aos elfos como ao resto dos mortais, mas Arwen sentia-se congelar por dentro. Ela estava mais só do que nunca, ou talvez sempre estivera.

Abraçando à si mesma ao colocar os braços em volta de si, ela abaixou a cabeça até os joelhos e começou à chorar novamente.

Dias e mais dias se passaram, em seu caminho nas poucas vezes que parara para comer frutas e sementes, Arwen percebeu que havia se perdido. Isso não importava pois ela não sabia o que fazer de sua vida. Havia o reino de sua avó, em Lothlórien mas ela jamais havia ido lá ou sequer sabia a direção. E após o que acontecera ela não sabia como a Senhora Galadriel a receberia...

Alguns dias antes ela havia avistado um monte de árvores formando uma floresta. Ela era obscura, um pouco sinistra. Arwen avançou com cautela porque algo lhe dizia para agir assim.

Os campos verdes estavam chegando ao fim e a escuridão da floresta mais próxima. Vendo mais de perto ela notou que o sol não conseguia penetrar a folhagem fechada e as árvores criavam um teto.

Nesta tarde ela não pensou em parar mais. Estava estranhamente exausta mas não poderia acampar na vasta clareira, podendo se tornar presa até de animais. Arwen tinha uma espada, que carregava à cintura mas não sabia manejá-la tão bem. Seus irmãos mais a atormentavam do que ensinavam-lhe como manuseá-la, mas eles apenas queriam mantê-la fora de perigo achando que indefesa ela sempre procuraria por eles.
Mas Elladan e Elrohir erraram, e à dias Arwen continuava seu rumo fugindo de casa. Ela pensou nos gêmeos queridos com um aperto de culpa no coração. Corajosos e guerreiros eles já deviam estar em sua busca à muitos dias, mas ainda ela tinha energia para continuar e nem a mínima intenção em retornar ao vale de Valfenda.

Toda a Arda achava que seu lar era um local de sonhos, de onde histórias fantásticas eram feitas, mas não era bem assim. Qualquer um que soubesse de onde ela fugia a acharia louca. Ainda mais sendo a filha de seu fundador, o famoso Curandeiro Elrond e Senhor de Valfenda.

Ela e seu belo cavalo estavam agora prestes à adentrar a floresta negra, ao fundo, meio escondido por nuvens - ou seria aquilo vapor? - ela teve a impressão de ter visto uma torre negra crescer até o céu, mas não deu maiores atenção.

Sem precisar pedir para seu cavalo diminuir a velocidade ele já o fez. Ela sentiu o animal enrijecer e se sentiu tensa também. Uma coisa era estar bem longe dali, outra era perceber que sua intuição fora acertada ao lhe avisar que ali havia algum perigo. Ele era quase palpável e ela embranhiu sua espada.

Ela ouviu o farfalhar de folhas por perto, e girou seu cavalo para a direção onde seus ouvidos pontudos e aguçados lhe indicaram. Mas então o som veio de outro lugar. Arwen nem ousava respirar agora, temerosa pelo que estava por vir.

A criatura parecia estar em todos os lugares, uma hora fazendo barulho aqui e outra ali. Então ela viu algo dourado atrás de uma moita.

Como uma mancha de branco e azul ela saltou do cavalo, aterrizando bem em frente à moita, tão rápida que assustou até seu cavalo, mesmo tão acostumado à sua agilidade. Com a mão esquerda na qual estava coberta por uma grossa luva da cor de sua manta e que ia até quase os cotovelos, ela enfiou a mão por entre os galhos e agarrou algo.

Ela puxou o ser de detrás de seu esconderijo e trouxe-o para frente, para ficar cara à cara com a ponta de sua espada. No momento seguinte seus lábios carnudos se partiram e ela arregalou os olhos, incrédula.

Segurado pelo pescoço um lindo menino loiro, de cabelos longos e olhos impossivelmente azuis fitavam-na. Para uma criança ele estava bem menos assustado do que era de se esperar, era possível até ver um ar de desafio neles. Assim que ela soltou-lhe o pescoço, horrorizada, o pequeno empunhou seu arco e flecha - minúsculos - e apontou a arma bem em direção ao coração dela. Recuperando-se instantâneamente do horror de agredir uma criança, ela cortou o ar com sua espada tão rápido que o menino gritou assustado quando sua arma foi arremessada.

A flecha voou para cima. Arwen agarrou a criança pelo braço com brusquidão e olhando para cima, arrastou-o para um ponto seguro. A pequenina flecha caiu fazendo um baque surdo no chão de folhas secas. Não mataria ninguém mas poderia ter machucado a criança. Franzindo a testa ela agachou-se sobre um joelho e observou o pequenino de perto. Sua mão ainda o prendia pelo braço, e o menino relutava para fugir. Ela teve de arrancar o conjunto de novas flechas às costas do petulante menino pois ele claramente planejava novo ataque.

- Qual é o seu problema? Pare! - Ela disse zangada.
O menino fazia bico para ela, mostrando-se corajoso para ela mas ela podia sentir na ponta dos dedos que ele tremia. Sem suas pequeninas flechas para machucar à ela ou seu cavalo, ela soltou-o. Pode então sorrir por dentro ante à graciosidade de tão pequeno ser achar que poderia se defender sozinho. Este menino certamente terá um gênio forte quando crescesse.

Foi então que ela notou algo que a surpreendeu. Ele tinha orelhinhas pontudas.

- Você é um elfinho? O que está fazendo aqui sozinho?
Ele deu uma olhada para suas flechas jogadas longe deles. Ela viu seu olhar derrotado sabendo que não conseguiria chegar à elas à tempo e o canto dos lábios dela tremeram mas ela se segurou, o menino era orgulhoso e ela não queria ferir-lhe ainda mais o pequeno guerreiro. Talvez ele pensasse que poderia proteger a floresta inteira sozinho. Bem, não com aquelas flechinhas de dez centímetros!

Ele voltou-se á ela e cruzou os braços, zangado.

- Ora não vai me responder? - Ela disse com gentileza. - Eu sou uma elfa também, veja. - E apontou para a própria orelha. Então virou-se para seu cavalo e pediu para o elegante animal se aproximar. Ele veio.

O elfinho ficou claramente surpreso e então observou-a com curiosidade.
-Elleth?*
-Sim! - Ela sorriu.
O menino claramente sentiu-se menos amedrontado e ela aproveitou para se afastar um pouco e tornar-se menos ameaçadora.
-Me perdoe por tê-lo agredido. Veja, - ela apontou para a própria montaria. - Ele gosta de você.

O menino então percebeu que o cavalo de Arwen tinha seu grande rosto bem próximo à ele. Hesitante ele acariciou o animal que bufou com prazer. O elfinho riu. Sua atenção voltou-se à ela.
-Quem é você? - O menino perguntou. - Eu sou o responsável por estas terras. Eu sou! - Ele zangou-se ao ver que ela riu. Quando Arwen tornou-se séria quase que imediatamente, ele continuou. - Também peço desculpas por ter lhe espionado, mas ninguém pode entrar aqui sem permissão.

Arwen imaginou que lugar era aquele, onde claramente os elfos temiam outras raças à julgar pela reação do menino ao confiar em uma elfa desconhecida e por que tamanha hostilidade onde a lei era atirar primeiro e perguntar depois. Até seu pai, egoísta e tirano permitia que estranhos fossem trazidos à sua presença antes de serem expulsos ou o que fosse.

- Eu sou Arwen Undomiel, - ela disse pensativa. - De Valfenda.

Mas então a resposta veio depressa e ela se viu em perigo: Thranduil! Ela estava em Mirkwood agora e estas eram terras do inimigo de seu pai. Sem querer ela se afastou como se o Rei estivesse bem à sua frente.

- O que foi? Indagou o menino, surpreso.

Os dois reinos jamais entraram em guerra mas ela já ouvira o suficiente para saber que Thranduil não morria de amores por seu pai ou qualquer outro Noldor. O mínimo problema entre os dois Senhores porém seria o suficiente para criar a mais devastadora das batalhas.

- Eu preciso ir. - Ela disse com urgência. De repente, voltar para casa e encarar o que ela precisava não parecia tão terrível.

- Espere!

Arwen voltou-se. Estava prestes à montar em seu cavalo mas as mãozinhas gordinhas do menino agarraram sua saia e ela olhou para ele penalizada. Instantâneamente ela agachou-se perante à ele.

- Não vá. - Ele pediu.
- Eu preciso ir meu pequeno. E peço que não fale nada de mim para seu Rei.
- Por que?
- Porque... Bem como disse, ninguém pode entrar sem permissão. Ninguém irá culpá-lo pois eu estou indo embora. Apesar de ter entrado sem permissão você me verá ir e terá certeza que não voltarei, mas prefiro que você retorne à seu lar, seus pais podem estar preocupados.
- Eu não tenho pais. - Ele soluçou.
- Oh, coitadinho. - Mais do que depressa, Arwen abraçou o pequenino. E sentiu-o tremendo em seus braços. - O que aconteceu Elfinho?
- Mamãe morreu ontem. - Ele disse finalmente após muito soluçar. - Por isso estou aqui defendendo a floresta.
- Oh Valar. - Arwen apertou-o contra o peito. - Venha, eu ficarei um pouco mais mas acho esta fronteira perigosa. Existem Orcs andando livremente e cada vez mais por estas terras. Vamos para cima de alguma árvore.

A graciosa criança sacudiu a cabeça positivamente, enxugando as lágrimas na manga de sua túnica verde amarronzada, da cor da floresta. Então no instante seguinte ele deixou Arwen sem palavras ao subir correndo e sem o uso das mãos para cima de uma árvore.
"Aqui é mesmo Mirkwood", - Arwen pensou pois já ouvira falar da lendária conexão daqueles elfos com a fauna, flora e agilidade latente neles. Além do mais dizia-se que tais elfos eram guerreiros e em Valfenda ela jamais vira criança tão pequena empunhar uma arma. A vida parecia ser mais difícil aqui, talvez ela estivesse reclamando demais de sua própria.

Levando o dobro do tempo do que a criança, Arwen finalmente alcançou o topo da árvore. Novamente ela se viu admirada, perguntando-se como o menino conseguira subir da forma que o fez. Era como se ele tivesse corrido no chão. Ela encostou suas costas contra o tronco e ofereceu para que ele sentasse entre suas pernas, de costas para ela e apoiado contra seu peito.

O menino instantâneamente dormiu e ela acariciou seus cabelos dourados. Eles eram incrivelmente sedosos. Ela sentiu as lágrimas encherem seus olhos e sentiu-se grata por ter ido parar ali. Mas que coincidência poder confortar um menino que acabara de perder a mãe, talvez o Valar quisesse mesmo que ela fugisse de casa.

Elladan sempre dissera que se ela visse o mundo lá fora, iria dar mais valor à sua casa e família. Ela começava à perceber que ele estava certo. Não só fora difícil acampar à noite, ouvindo sons estranhos e mal podendo dormir ou sequer descansar sem temer cada sombra que vira em terras estranhas, mas aqui estava um menino tão pequeno que já sabia lutar e cresceria sem ter uma mãe, algo que ela tinha. Daqui à alguns anos ele nem se lembraria mais da falecida pois era tão novinho ainda. Pobre criança que conheceria apenas as dificuldades da vida. Ele não teria sequer as palavras gentis de uma mãe para acalmar-lhe o espírito.

Seu pensamento voltou à floresta negra na qual estava. Ela sabia que ainda não era noite mas a luz quase não entrava por entre o topo das árvores. Que lugar mais horrível de se morar, e crianças eram obrigadas à defender aquilo, e sem saírem de lá mal imaginavam que haviam lugares mais belos e dignos de serem defendidos. Ela se perguntou se a mãe do menino morrera por ser guerreira também, se ali as mulheres também precisavam brandir uma espada e mestrar o arco e a flecha logo após aprenderem à andar.

- Mamãe... - O menino disse.
Arwen apertou-o e pousou sua cabeça por sobre a dele. Pelo menos hoje ele teria algum conforto. Ao menos naquela tarde ele poderia fantasiar que aquela que ele mais amava ainda estava viva.

Alguns minutos depois ele acordou.

- Por que está tão cansado menininho? - Ela acariciou-lhe a cabeça.
- Eu não dormi desde...
- Entendi. - Ela beijou-lhe o topo da cabeça. - Sabe, às vezes quando algo dói no coração nós nos sentimos melhor se falarmos sobre isso.
Ele se voltou para ela, os grandes olhos azuis da cor do céu olhando-a com atenção. Ele a admirava.
- Está bem, - ele disse baixando a cabeça e voltando à se apoiar nela. Ele suspirou fundo antes de começar. - Mamãe saiu para colher flores, ela sempre gostava sabe, de plantar e também de enfeitar a casa com elas. Mas há dias atrás ela decidiu colher flores selvagens, que ficam um pouco longe do palácio. Papai e os guerreiros saíram à sua procura quando ela não voltou. Papai sempre foi protetor... - Ele recomeçou à chorar. - Toda noite eles voltavam querendo notícias. Papai esperava que ela tivesse voltado para casa, pois não a encontrava na floresta.
Ontem eles trouxeram ela. Não me deixaram ver, não sei porque. Apenas me disseram que foram os Orcs mas só depois que insisti muito. - Ele agarrou-se à manga da elfa. - Mas eu sabia que ela tinha partido, que tinha morrido e que eu nunca mais a veria por causa do rosto do Papai.

- Eu sinto muito, - ela apertou os olhos e as lágrimas caíram. - Mas você à verá. Um dia todos os Elfos podem ir à Valinor e após passar pelos Salões de Mandos todos que morreram podem se unir à nós novamente.

Ela não poderia ter ficado mais feliz pelos olhinhos luminosos que se voltaram para ela.

-Você jura? Arwen?
-Sim! Foi nos concedido a honra da vida eterna, e assim não haveria sentido vivermos para sempre se não pudéssemos estar com quem amamos. Que graça teria?
Ele agarrou ao pescoço dela e ela retribuiu o abraço, massageando as costas do pobre pequeno e tentando passar toda sua energia curadoura para ele, como os também grande Curandeiros Elladan e Elrohir lhe ensinaram, - a intenção era tudo -, ensinara o mais velho.

-Estou tão feliz de tê-la conhecido, - o lindo elfinho levantou os dedinhos gordinhos e colocaram uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. O gesto a emocionou.

-Qual o seu nome? Eu não queria ir embora também. Mas não posso ficar.
-Por que não! - As lágrimas encheram os olhinhos, que já transmitiam tanta dor antes disso, partindo o coração de Arwen.
-Me perdoe. - Ela o abraçou. - Eu sou de Valfenda. Filha de Elrond. Seu Rei simplesmente... não gosta da gente.

O menino se afastou indigado.
-Adar não iria tirar minha amiga de mim. - Ele disse choroso, agarrando-se à gola do vestido dela. - Você é tudo que tenho agora.

O que ela ouvira fora como um baque, um tapa em seu rosto não teria efeito diferente.
-Você... você é Príncipe de Mirkwood? - Ela ofegou. O menino consentiu. - Filho de Thranduil?
-Esse é o nome de Papai.
O menino não tinha culpa de nada. Lentamente ela o trouxe de volta para seus braços e o envolveu, desta vez eles estavam de frente um para o outro e ela o segurou como se fosse um bebê, o que não era difícil pois ele era muito pequeno. Uma dor forte lhe assolara. Arwen queria consolar e ajudar a criança nesta fase mas ter invadido o território do maior inimigo era a pior maneira de começar uma reconciliação: e haveria alguma? Ela nunca dera tanta importância à guerra fria entre Valfenda e a Floresta das Trevas, mas agora Mirkwood se tornaria um nome que lhe teria muito significado.
Seu coração também se partia ao conhecimento de que ele jamais se lembraria dela. Isso seria bom se acompanhado do esquecimento da mãe, talvez ele sofresse menos um dia se esquecesse de tudo, mas algo nela, talvez sua parte egoísta lamentava que o pequeno Príncipe não iria se lembrar de sua existência.

O menino adormeceu de novo, Arwen notou quando olhou para baixo. A boca dele estava aberta e ela riu. Ele parecia estar na mais completa paz.
Ela observou as flechas caídas ao chão e decidiu que iria arrumar tudo antes de partir, assim como tentaria levar o Príncipe o mais próximo possível de seu palácio antes de partir. Thranduil era um irresponsável por deixar o menino sair assim, sem guarda alguma.

Quando o pequeno acordou ela suspirou fundo e teve dificuldades de convencê-lo à voltar para casa, mas ao final, claramente querendo agradar Arwen ele concordou.
Os dois desceram e Arwen sentiu quase o coração parar pois ele simplesmente se jogara lá de cima. Ele tocara o tronco duas vezes até chegar ao chão e apenas sua visão aguçada permitira que ela visse que ele simplesmente não despencara, mesmo assim era uma agilidade anormal para um elfinho daquela idade. Talvez os elfos de Mirkwood tivessem outras habilidades em seu favor, já que a vida deveria ser mais difícil para um reino não protegido por um Anel como seu pai possuía a Vilya.

Ela sentiu grande compaixão por esse povo, mesmo por Thranduil. Seu pai só falava mal do Rei da Floresta das Trevas mas conhecendo o Príncipe era claro que eles sofriam muito mais dificuldades do que ela e seu povo. Talvez seu pai jamais devesse saber disso mas agora ela estava meio dividida. Seus irmãos não compartilhavam do ódio, esta era uma característica somente de seu pai mas os gêmeos sempre falavam do povo de Thranduil com muita cautela e temor.

Os dois recolheram as flechas e Arwen ajeitou-as no compartimento que prendeu por uma cinta sob o peito do elfinho. A visão de um pequenino guerreiro como ele não podia ser mais graciosa. Ela sentia vontade de apertar-lhe as bochechas mas novamente isso também iria ferir seu orgulho como guerreiro. Ela nunca esqueceria aquele retrato.

Ela nem pensou em ajudá-lo à montar seu cavalo já que ele claramente podia escalar até uma montanha sem o mínimo de esforço - aliás o elfinho parecia ser capaz de andar sobre as paredes. - Ela montou por trás dele e o Príncipe indicou o caminho de seu palácio.
Após meia hora de cavalgada ele mostrou que se lembrava do que ela disse e pediu para que o cavalo parasse muito antes de área povoada, demonstrando também que sabia falar com os animais.
Ele desceu relutantemente e com uma tristeza imensa no olhar. Ela manteve sua expressão neutra, lutando contra os sentimentos que lhe iam à alma. Ele então a imitou e seu rosto tornou-se uma máscara de pura calma.

-Foi um prazer conhecê-lo...
-Legolas, - ele se curvou.
-Prazer Legolas.
-O prazer é meu. - Ele disse voltando ao seu tom infantil e seus olhos demonstrando a imensa tristeza que ele sentia. - Eu vou vê-la novamente .

Ela observou-o ir e só depois que viu um adulto aproximar-se do Príncipe, claramente apavorado com o sumiço do menino, ela e seu cavalo partiram.

A turbulência não se foi até muitos dias depois, quando ela caminhava pela estreita estrada ziguezagueante que levava à sua casa. Três guardas despencaram de uma árvore baixa, olhando para ela como se vissem um fantasma.

- Os Senhores Elladan e Elrohir foram à sua procura, minha Senhora. - Disse um elfo que ela conhecia de vista.
- Dias depois o Senhor Glorfindel saiu liderando uma busca em outra direção.

Saber do problema que ela causara era muito pior do que imaginar. Curvada e sentindo-se terrível, ela cavalgou ao lado dos elfos - que iam à pé - , de volta ao Vale e mais elfos iam despencando de árvores como frutas maduras, olhando-a do mesmo jeito que os primeiros. Não havia repreensão em seus olhares e palavras de preocupação - ela podia fazer o que bem entendesse - mas o genuíno alívio em ver a filha de Elrond sã e salva era o que a fazia se sentir pior.

- Perdoem-me. - Ela sussurrou, sabendo que os ouvidos élficos poderiam ouvi-la.

Ela só conseguia pensar em Elladan e Elrohir e onde eles estariam agora. Prometeu à si mesma que não importava quão terrível fosse a situação que tivesse que enfrentar, ela jamais fugiria novamente.
Esta fora sempre sua saída: fugir. Ela fugira quando criança, sumindo para debaixo da cama de Erestor e ficando por lá por três noites seguidas. Ora ela desaparecera por alguns dias e vivera no guarda-roupa de Glorfindel e se alimentara do resto do café da manhã dele, que ele deixara sobrar em sua bandeja para manter sua forma. Outas vezes ela desaparecia no quarto que os gêmeos compartilhavam desde o nascimento. Mas desta vez, ela jamais fora tão longe. Elrond tinha o dom da visão e relutara em dar à Arwen seu primeiro cavalo, e ela não o decepcionara: em menos de um ano antes de ganhar o presente ela cavalgara para fora do Vale pela primeira vez na vida.

Com a onda de Orcs rondando por todas as terras, causando terrível conseqüências, ela se penitenciava com o que poderia acontecer com seus irmãos mais velhos, agora, à sua procura e sem necessidade alguma. E até Glorfindel, alguém que ela amava como alguém da família. Ele sempre estivera lá também.
Arwen sentiu-se a caçula mimada que sempre fora protegida mas era quem mais causava preocupações aos outros. Ela reforçou sua decisão em não mais agir como uma rebelde. Ninguém merecia aquilo.

Em frente à Última Casa Amiga ela viu seu pai, alto e imponente e não temeu-o como sempre: desta vez ela ansiava pelo castigo que receberia - ela merecia. - Ao lado dele estava alguém pouco mais baixo. Seus cabelos ondulados quase abaixo do ombro. A coroa imponente em sua cabeça e seu olhar cinzento e frio, fitando-a por trás de sua barba que só de olhar a incomodava. Ele fora seu irmão por algum tempo mas jamais imaginara os sentimentos que ele nutrira por ela ao longo dos anos, o que a fez rejeitá-lo ainda mais.

Aragorn, agora Elessar e Rei de Gondor, aguardava calmamente sua aproximação ao lado do Senhor de Valfenda.

Quando ela saltou de seu cavalo, Elrond aguardou os guardas, - agora dezenas deles pois todos amavam tanto sua Estrela da Tarde que vieram ter certeza que ela fosse entregue ao Pai depois de mais um de seus sumiços, o pior deles - irem embora para então ralhar com ela.
-O que você pensou que estava fazendo?
Pela primeira vez Arwen olhou-o nos olhos, sem temor:
-Tentando tomar as rédeas de minha vida Ada. Mas pelo jeito o Senhor decidiu tudo por mim.
-Aragorn nos dê licença por um instante, meu filho, - Elrond disse com uma ternura na voz que jamais demonstrara por seus filhos de sangue. - Eu preciso ter uma conversa séria com Arwen.
Aragorn curvou-se em consentimento e perfurou Arwen com seu olhar. Ela encarou-o petulante, como ele ousava fitá-la como se ela fosse sua propriedade? Sua raiva pelo humano cresceu mais um pouco.

-Arwen! - Elrond gritou ao ver sua atitude.
Arwen fuzilou o pai com os olhos e caminhou, pisando forte até a biblioteca dele. Era sempre lá que ele ralhava com os filhos, não querendo que ninguém mais interrompesse ou testemunhasse suas explosões.

Arwen entrou e sentou-se na poltrona em frente à mesa de estudos do pai. Não havia o que fazer à não ser ouvir o sermão depressa.
-Você não se importa comigo? - Ele indagou furioso. - Claro que não! O que estou dizendo? Mas e com Valfenda, com a sobrevivência de nossa raça?
-Nós não estamos correndo risco de vida Ada, não distorça sua sede de poder com uma aliança poderosa com o mundo dos Homens.
Ele engoliu a raiva que parecia sentir, mas seus olhos absurdamente maiores do que sempre eram e as sobrancelhas erguidas diziam o contrário:

-Você não entende nada e ainda é muito jovem. Aragorn a ama, e é por isso que concendi sua mão em casamento.
-Mas e eu? Alguém perguntou o que eu quero? E minha imortalidade? Eu ainda quero conhecer Valinor, viver para sempre e jamais vi Aragorn da forma como o senhor me força à vê-lo.
-Arwen, o que você deseja é de pouca importância no grande quadro. Se eu não criar laços com Gondor, Thranduil certamente o fará na minha frente e se ambos se unirem contra mim então será fim!
-Nós podemos ir embora daqui! - Ela gritou se levantando. - O que o senhor quer é ser soberano numa terra que não mais pertence aos Elfos! A Era dos Homens chegou, porque o senhor não consegue enxergar isso?

Ela tentou segurar as próximas palavras, mas sua experiência já havia mudado a forma como ela via certa parte do mundo. Uma muito mencionada ali: Mirkwood.
-Thranduil talvez nem queira o poder que o senhor claramente almeja. Ele pode estar apenas querendo proteger seu reino e nada mais.

Elrond mal parecia acreditar que sua própria filha ousara defender seu maior inimigo.
-De onde você tirou essa idéia? Com quem andou falando?
-Eu não falei com ninguém, - ela tentou não vacilar. - Só estou dizendo que quando dois inimigos continuam alimentando a animosidade, mal se sabe quando se está exagerando o que o outro lado está fazendo. Pode ser que um já tenha sofrido demais e aprendido com a lição enquanto o outro continua na ilusão de que é necessário um combate ao invés de esquecer e virar a página.
-Do que você está falando filha? - Elrond indagou confuso. - Alguém disse que Thranduil quer fazer as pazes? Isso é impossível, você não conhece ele.
-Mas em incontáveis séculos ele jamais atacou-nos, ou tentou algo como o senhor diz: uma aliança com um reino poderoso. Elladan e Elrohir entendem da política de Arda e eles me disseram que o Rei de Mirkwood está quieto, silencioso.
-Você não o conhece. Ele é igual à Oropher, ambiciosos sem limites. Eu não vou arriscar que ele passe á minha frente.
-Mesmo assim que chance ele teria de fazer uma aliança com Elessar? - Ela mal podia acreditar no quanto seu pai era obtuso. - O senhor adotou Aragorn como seu e virou seu pai quando ele perdeu sua mãe, porque ele iria trair o senhor?
-Arwen... - Elrond respirou um pouco para se acalmar. - Não dá mais para voltar atrás, eu já assinei um contrato.
-O que? - Arwen gritou tão alto que pássaros que eles nem notaram que estavam próximos à janela, voaram.
-Você vai se casar com Aragorn. - Ele disse caminhando até a porta e abrindo-a. Sempre fazia isso quando o assunto se encerrava. Não havia conversa com ele: Elrond sempre apenas avisava os filhos sobre suas decisões, e então abria a porta. - Você lhe pertence.

Sabendo que não havia como dialogar com seu pai, Arwen começou á caminhar para fora. Suas pernas bambas pareciam querer ceder, e ela mal havia saído da sala quando a porta fechou-se com um estrondo atrás dela.

Ela viu um flash de sua vida passar em frente á seus olhos. Só era possível ver a infelicidade. Ela não amava Aragorn, ele era um homem terrível. Quando ele havia reclamado o trono e tirado o Regente Denethor de seu lugar, apenas com dezoito anos mas já tão ambicioso, Arwen lamentara pelo povo de Gondor. Ao menos Denethor tinha suas idéias malucas mas defendia o país com unhas e dentes, colocando até seus filhos na frente do exército. Aragorn apenas desejava o poder. Ele não fazia mal ao povo, como ela temera, mas sabia que o humano não era capaz de sentir compaixão também.

Mesmo tendo crescido junto e até ter sido cuidado por eles, Aragorn jamais vinha visitar seus irmãos ou perguntava por eles. Elladan e Elrohir é que amavam tanto o caçula, que sempre que podiam visitavam-no em Gondor. Por isso mesmo foi uma surpresa quando Aragorn apareceu demonstrando o desejo de casar-se com Arwen, fazendo-a fugir de casa. Ela mal imaginara que seu pai aceitaria tão depressa e assinatia um contrato para acabar de vez com qualquer chances que ela tinha.
Ela agora entendia os olhares que incomodavam-na desde que Aragorn era Estel*, apenas um menino ainda quando chegara ali. Ele jamais possuíra o brilho comum ao olhar de uma criança...como Legolas possuía...
Ela lembrou-se do menino e desejou que ele estivesse bem. Ela lamentava que agora ele sentia falta não só de sua mãe, mas dela também. Bem que ela quis ficar mais tempo tempo naquela floresta que no começo parecera tão medonha, mas que se tornara mágica por causa do gracioso menino que habitara nela.

Arwen percebeu que chegara á seu quarto. Ela abriu a porta que não estava trancada e espiou cautelosa.

Mas que audácia! Estel estava sentado em sua cama. Era o nome menos digno de Aragorn usar, dado o quadro que ele pintara agora.
Arwen permitira tal intimidade quando ele era um pequeno menino, amedrontado e sofrendo pela morte do pai Arathron, mas desde sua adolescência, por respeito ele não havia mais vindo assim para seus aposentos, preferindo a compania dos gêmeos, e que era mais adequado. Ela nem entrou em seu próprio quarto, parando no umbral da porta e olhando-o com desaprovação.

-Desculpe-me minha irmã, por entrar assim mas imaginei que estaria zangada depois da decisão que Ada e eu tomamos. Estou aqui para consolá-la.
Ele sorriu e abriu os braços, imitando o gesto que ela fazia quando ele a procurava em dias de trovoadas e tempestades, quando pequeno.
Arwen apenas encarou-o incrédula. Ele imaginava que ela estaria zangada apenas com seu pai?
-Saia do meu quarto agora. - Ela comandou.
Aragorn deu um passo à frente. Seu sorriso sumindo do rosto. Ela não se intimidou.
-Você sabe que não pode sair disso.
-Eu sei. Meu próprio pai assinou um contrato e me vendeu como uma de suas mercadorias. Tipicamente bem do jeito dele.
-Então sabe também como uma futura rainha deve agir perante um rei.
-Você criou tudo isso. Poderia muito bem ter escolhido qualquer elleth que goste de você e até alguém com um gênio bem melhor que o meu. Você me conhece bem para saber que eu não farei nada do que você peça.
-Você tem um mês para aceitar isso do jeito que eu quero, ou fugir daqui. Acredite ou não, eu procurarei Thranduil caso você se recuse.
-O quê?
-Você se esqueceu irmãzinha que eu sou o mais poderoso em toda a Arda, qualquer um irá se curvar á mim apenas para me agradar. Eu esqueço que cresci aqui e favorecei Thranduil. Talvez lá eu encontre uma elfa mais... submissa como você diz.
-Thranduil possui filhas? - Por um momento ela se lembrou dos olhinhos azuis e luminosos e imaginou se ao menos aquele menino possuía alguma outra figura feminina.
-Não. Apenas um herdeiro que em breve irá servir à mim também. Apenas um pirralho ainda, petulante.
-Você já o procurou! - Arwen acusou-o mais do que incrédula. - Como pode trair Ada assim? Por que foi atrás do maior inimigo de nosso Pai?
-Como eu disse, sou o mais poderoso. Thranduil fechou as portas para todo mundo, mas quando soube que Gondor agora possuía um Rei, que Eu retornei então enviou-me um convite para que nos... conhecêssemos. Eu sou o primeiro Homem à atravessar as suas bordas, - os olhos de Elessar brilharam de uma forma que ela jamais viu antes, um sentimento que ultrapassara a arrogância. - E ainda tendo seus guerreiros curvando-se perante à mim. Ele me serviu o melhor banquete e seu melhor vinho, me ofereceu suas melhores anfitriãs. Você está certa irmãzinha, muitas ali estarão dispostas á se tornarem a minha Rainha.

Arwen percebeu algo que seu coração - pelo amor que naturalmente desenvolvera por Estel como membro da família- não quisera que ela visse á muito tempo antes: ele era mau.

Por mais que estivesse devastada com a traição de seu pai, ela o amava. É claro que o fazia.
Onde estava sua mãe agora que precisava tanto dela?
Sozinha, Arwen ainda tão jovem na idade dos elfos, precisava tomar uma decisão importante. Se Thranduil e Elrond nunca ainda entraram em uma batalha é porque ninguém lhes dera motivos. Elfos não desejavam matar os de sua raça, era algo natural e latente neles embora já tenha acontecido. Mas com Aragorn estranhamente parecendo estar contra Elrond, ela não queria arriscar colocar Valfenda em perigo.
Talvez ela conseguisse ganhar tempo antes do casamento e descobrir porque ele parecia odiar sua própria família. Quando sua mãe morrera Estel só tinha à eles para chamar de família, e agora ele queria traí-los.
Embora sua visão sobre Thranduil tenha mudado, ou ao menos ela suspeitava que o Rei Élfico não era tão ruim quanto dizia a lenda, ela não poderia arriscar que a aliança entre Homens e Elfos mais uma vez se fizesse mas em benefício ao inimigo de seu pai.

Talvez houvesse tempo...

Com tanto poder à seu lado, quem saberia o que Thranduil faria?

-Eu irei me casar com você, Aragorn. - Ela disse baixando os olhos. Sentia como se tivesse dito sua própria sentença de morte.
-Me chame de Estel... como antigamente. - Ele pediu puxando-a pelos braços contra seu peito.

A aproximação não era bem-vinda. Ela ainda não podia acreditar que ele a via dessa forma. Era quase nogento. Ela ficou tensa no mesmo instante, ele não forçou-a à se aproximar mais.

-Você sempre será qualquer coisa menos Estel para mim. Você matou a esperança dos sonhos que eu tinha.

Suas palavras nem afetou o Rei dos Homens. Ele parecia cego em sua felicidade em tê-la tão perto. Ela imaginou quanto tempo se fazia que ele a desejava e estremeceu; Arwen jamais desconfiara.

*
Elleth - elfa (feminino)
Estel - esperança, nome dado por Elrond

150113