Luzeiros Negros
Autora: Orchidée Riddle
Tradução (autorizada): Inna Puchkin Ievitich
Advertências:
1. Fic do tipo slash - o que significa dizer que aborda relacionamentos homossexuais 'homem-homem'. Se isso o ofende ou simplesmente não o agrada, é recomendável que não leia esta história. Caso esteja curioso e resolva averiguar, aconselha-se cautela.
2. História pertencente aos gêneros Angústia e Tragédia, contendo os elementos Tortura, Violação Não-Consentida e Mortes. Portanto, para aqueles que se impressionam facilmente, Luzeiros Negros pode não ser uma boa sugestão de "entretenimento" - o sofrimento de seu personagem principal, a atmosfera naturalmente trágica e o dramatismo que permeiam cada cena até o desfecho da história, podem impregnar a mente e ficar lá por algum tempo.
Por fim, aos que se propuserem a ler a história, que "se divirtam" ante o belo e o trágico.
Luzeiro s.m. 1. Lâmpada; archote; candeeiro. 2. Farol. 3. Qualquer astro luminoso; estrela.
"Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
- Olavo Bilac, "Via-Láctea, Soneto XIII"-
Capítulo I
Tentado por esmeraldas
Está claro que muitos temiam dizer sequer o seu nome, que os bruxos se horrorizavam com sua lembrança e que os estúpidos trouxas não o faziam porque não haviam tido a oportunidade de conhecê-lo, de conhecer o terror, a miséria, o medo, a morte que deixava atrás de si.
E nesse aposento da mansão que havia estabelecido como centro de coordenação geral, encontrava-se esse ser, Lord Voldemort, sentado na poltrona do escritório ou "A Sala", como costumavam chamar seus Comensais. Nesse lugar pensava. Pensava num menino de quinze anos, pele nívea, cabelo azeviche, lábios rubros e olhos esmeralda que ocupava sua mente mais tempo do que realmente deveria. Embora tivesse que admitir que, tampouco, nada fazia em absoluto para tirá-lo dali.
- Meu Senhor, chegaram os últimos informes de Hogwarts.
Em que momento entrara o seu preposto não o sabia, mas estava seguro de que batera à porta e de que ele, inconscientemente, havia autorizado o seu ingresso; sem dúvida, não lhe causava nenhum bem vagar tanto por sua mente, como ele mesmo gostava de chamar a essas exíguas e raras situações nas quais entrava de cabeça e não recordava, sequer, onde estava.
- E então? Pela saúde dos que estavam a cargo da missão de espionagem, será melhor que apresentem algo de novo e prático, caso não queiram que eu mesmo me encarregue de recordá-los amavelmente como fazer o seu trabalho.
- Senhor, asseguro-lhe que desta vez estará mais que satisfeito com os informes.
Lançou uma gargalhada sarcástica.
- Quando aprenderá que eu nunca estou totalmente satisfeito, Michael?
- Eu sinto, Senhor...
- Não sinta tanto se não quiser ter um fim pior que o de Avery na última reunião. Suma de minha vista e siga com o plano de ataque, não me agradaria se ele tivesse algum ponto débil; trate, portanto, de revisá-lo completamente, todas as situações por mais improváveis que sejam.
Com uma nervosa reverência o então dispensado Michael Lestrange se retira d'A Sala.
Não há dúvida de que o ataque a Azkaban e a aliança com os Dementadores tenham sido dois de seus planos melhor executados e exitosos, nem sequer o amante dos trouxas e sua estúpida Ordem da Fênix puderam fazer nada para evitar a sua vitória.
Lord Voldemort começou a ler o informe. Qual foi sua surpresa quando descobriu algo que contava a seu favor imensamente. Um túnel desde a famosa loja de doces Honeydukes que levava diretamente, não apenas aos terrenos da escola mas, ao próprio interior do castelo. E o melhor de tudo, sem nenhum indício de que Albus Dumbledore e todo seu corpo docente estivessem a par.
Essa era sua oportunidade de demonstrar ao mundo que não temia um velho decrépito e umas quantas paredes de pedra. Porém, o mais importante, era a sua oportunidade de conseguir o que, em verdade, tanto havia esperado: Harry Potter.
Esse garoto era um diamante bruto, a última carta de Dumbledore, sua arma mais letal. Nem sequer o próprio Harry conhecia o que estava adormecido dentro de si, porém não seria o diretor de Hogwarts quem ensinar-lo-ia, não se ele podia evitar.
Embora, ultimamente, a visão de Harry não se lhe apresentasse, precisamente, como uma arma.
Dois meses mais tarde, escola Hogwarts de Magia e Bruxaria. Lua Cheia.
Harry nunca tinha visto tanto movimento na Sala Comum, nem sequer no baile do ano anterior as pessoas estiveram tão agitadas dessa forma. Mas, desta vez, todo o colégio assistiria, em pleno Halloween, o aniversário da escola. Há mil anos atrás Hogwarts havia sido fundada e isso bem merecia um grande baile e muito mais.
As garotas corriam de um lado a outro com extravagantes penteados e vestidos de todas as cores, seus companheiros estavam arrumando-se no dormitório. Ele, por sua vez, já estava pronto há meia hora. Pusera uma túnica verde-escura parecida com a do ano passado, e uma capa de mesma cor presa por um broche com uma esmeralda engastada que, segundo dissera-lhe Dumbledore quando a dera no Verão, havia pertencido à família de seu pai durante anos.
Desta vez não tinha se preocupado sequer em conseguir uma acompanhante, iria ao baile tão somente porque sua presença era obrigatória mas, por ele, teria permanecido em seu dormitório fazendo qualquer outra coisa ou simplesmente "viajando pelo mundo da lua" antes de assistir ao "evento do ano", como o haviam denominado os repórteres do "Coração de Bruxa", coisa que não servira para nada a não ser aumentar o descontrole nos corredores.
Umas horas depois, já estavam todos saturados de cerveja amanteigada e suco de abóbora e com os pés mais arrebentados que nunca, mas a festa continuava sem dar amostras de que as pessoas estivessem chateadas por nada. Melhor deixá-los dançar e desfrutar o quanto pudessem.
Harry decidiu que já havia estado ali o suficiente para prosseguir e saiu para dar um passeio pelo castelo silencioso, a fim de evadir-se do mundo no qual vivia e começar a traçar o seu próprio.
Caminhava tranquilamente, ao compasso da respiração pausada, sem nada que lhe preocupasse, quando ouviu.
Era um ruído de passos céleres, de MUITOS passos. Um grito saiu de algum lugar perdido e, por um momento, pareceu-lhe como se a lua se obscurecesse.
Começou a correr, intentando chegar ao Grande Salão, já que não acreditava ser muito prudente estar sozinho em meio a um ataque, porém qual fora a sua surpresa quando viu que daquela direção começava a brotar uma torrente de alunos descontrolados, que também corriam no afã de escaparem e chegarem em sua Sala Comum, como se naquelas condições esse lugar lhes desse mais segurança.
Voltou-se, um instante, para trás e foi quando seu sangue se congelou. Eram, pelo menos, cinquenta Comensais da Morte que avançavam em sua direção. Afastando as pessoas do caminho logrou chegar numa sala em desuso, a mesma onde cinco anos antes se encontrava o espelho de Ojesed.
Tremia nervosamente, "e se algum Comensal o tivesse reconhecido?", saberiam onde estava escondido. Tratou de acalmar-se, mas não foi possível. Do lado de fora, todavia, chegava aos seus ouvidos o som da escola sendo tomada. Fechou os olhos enquanto escorregava pela parede até o chão.
Estava cansado de lutar, de dar tudo de si para receber mais morte. Desta vez não seria ele quem salvaria os demais, não seria ele o herói, não mais. Porque era uma pessoa e também tinha o direito de ter medo, de chorar, e ninguém podia-lhe negar.
A porta abriu com um estrondo e quicou contra o muro de pedra.
Levantou-se bruscamente. Uns cinco Comensais estavam nas sombras no entanto, o mais preocupante era que diante deles encontrava-se a alta figura do Senhor das Trevas, muito diferente, por certo, da imagem que recordava do ano anterior e mais parecida com a do garoto contra o qual havia lutado no segundo ano, porém uns anos mais maduro. A única coisa que o denunciava eram os olhos, que conservavam a tonalidade vermelha entre as íris cor de mel.
Amaldiçoou a professora Francek por proibir o uso de varinhas durante o baile, e a ele mesmo por haver levado em conta tão estúpida regra. Agora iria pagar caro. Muito caro.
Sentiu como seu corpo retrocedia lentamente até dar de encontro a uma superfície dura, enquanto Lord Voldemort avançava como um lobo faminto em direção à sua presa. Não podia escapar, estava claro que não. Suavemente voltou a fechar os luzeiros que possuía por olhos, esperando que tudo passasse.
Pouco depois, sentiu um corpo colado ao seu e o dorso de uma mão deslizando pela face. As lágrimas começavam a fluir livremente e a ponta de uma varinha colocou-se sobre sua têmpora. Podia sentir a respiração de seu captor sobre o ouvido, estremeceu visivelmente. O odor de terra molhada chegou às suas fossas nasais.
- Por fim, depois de tanto tempo. Harry...
Dois dedos percorreram a silhueta de seus lábios com lentidão.
- Agora você é meu, pequeno. Desmaius .
Antes que chegasse ao chão, o Senhor das Trevas segurou-o em seus braços. Ficara impressionado em não obter nenhuma resistência por parte do garoto, mas não iria protestar por isso, muito melhor assim, sem dúvida. Ergueu seu novo prisioneiro em seus braços com cuidado e vasculhou os bolsos da túnica do garoto em busca de algo.
- Quero o esquadrão de Nott com a varinha de Potter dentro de quinze minutos. AGORA!
Ante o grito de seu Senhor, os Comensais saíram apavorados da sala. Estreitou mais a frágil figura contra si.
- Gostaria de ver a cara de Albus Dumbledore quando descobrir o que lhe falta no castelo.
Apanhou uma moeda e, entre luzes, desapareceram do lugar.
Ninguém suspeitava o muito que mudariam as coisas a partir desse momento.
Continua...
