Eu não acreditava em minha própria sorte
Eu não acreditava em minha própria sorte.
Há poucos minutos atrás eu podia acreditar sem sombra de dúvida que tinha chegado meu fim e de Gina. A própria encarnação do Lorde das Trevas estava naquela Câmara, junto com um basilisco.
Porém, a fênix de Dumbledore surgira, trazendo consigo o Chapéu Seletor e a espada de Gryffindor. Eu havia matado o basilisco e estava com sua presa a poucos centímetros do diário de Tom Riddle.
Eu podia ver o medo na cara do jovem Voldemort. Não só medo, percebi. Angústia, confusão, indecisão... Mas não havia tempo para entender os sentimentos, vou matá-lo.
Foi quando ele agarrou minha mão, me impedindo de matá-lo, e falou:
- Espere! Antes de morrer preciso falar uma coisa para você!
- Eu não tenho nada para ouvir de você!
- Por favor, me ouça antes de tudo, depois poderá me julgar como quiser. E por favor, também não me interrompa, torna tudo mais fácil para mim.
Eu lhe dei a chance de se explicar.
- Harry – ele falou carinhosamente – você provavelmente não sabe porque vivo tentando te matar... É um modo muito rude, eu sei, mas o único que encontrei para chamar sua atenção, para você ficar perto de mim.
"Sim Harry, a verdade é que eu sempre amei você, desde que você era uma pequena criança, chorando porque matei sua mãe."
"No momento que vi seus olhos tão verdes... eu não tinha mais nenhum motivo para te matar."
"É claro que apareceu um dilema em minha mente. Ao mesmo tempo em que meu sentido de autopreservação dizia que você era meu inimigo, meu coração mandava o contrário. Naquele dia, você sabe, meu sentido de autopreservação venceu."
"Mas Harry, saiba que eu não deixarei ele vencer mais uma vez. Meu amor cresceu nesses últimos 11 anos. E nesses últimos tempos, em que tive acesso a informações suas através desta menina – ele apontou Gina – se tornou insuportável."
"Você pode dizer o que quiser, pode me matar, mas saiba que o que eu sinto por você não irá mudar."
- Você, você... – eu disse, confuso – você está me enganando. Só disse isso para me impedir de te matar.
- Não é isso Harry...
- Você é mentiroso! – gritei – Você...
E Voldemort não me deu tempo de terminar a frase. Ele simplesmente se aproximou, me envolveu em seus braços e, encostando seus lábios nos meus, me deu um beijo carinhoso.
E num momento, toda a confusão de minha mente se dissipou, dando lugar a uma profunda certeza:
Eu não acreditava em minha própria sorte.
Mas não tive tempo de demonstrar isso em meu rosto, por isso, quando nossos lábios se separaram, só o que Tom viu em meu rosto era o medo e a repulsa que antes estava sentindo.
O brilho que antes estava nos olhos dele logo foi encoberto por uma sombra, e ele logo se livrou de meus braços e foi para um canto da grande Câmara, triste e deprimido com minha aparente rejeição.
Eu queria gritar com toda força que ele estava enganado, que eu passara a amá-lo depois daquele beijo. Eu havia compreendido o que ele sentia, e retribuía aquele sentimento com tanta ou mais intensidade!
Só que eu não conseguia... diante de sua tristeza. Pensava: Que tipo de monstro eu sou para machucar para machucar a pessoa que amo, mesmo sem querer? Isso me deixava aterrorizado e incapaz de me mover. Assim ficamos por longos cinco minutos, eu, Tom e o corpo inerte de Gina Weasley. Ou pelo menos era o que eu pensava.
Um grito rasgou o silêncio. O grito dele.
Me virei quase automaticamente. Gina, que aparentemente acordara e entendera a situação de forma totalmente errada, estava com uma presa de basilisco fincada no diário de Tom Riddle, com uma expressão triunfante.
E ele, meu amor eterno, agonizando de dor e ficando cada vez mais transparente. Desaparecendo.
Por mais confuso que estivesse, eu não poderia deixar ele ir embora. Desesperado, corri em sua direção e me joguei em seus braços, murmurando entre um beijo e outro coisas sem sentido, como "Não vá!", "Eu também te amo!", entre outros. Ele sorria calorosamente e retribuía meus beijos. Ficamos perdidos nesse momento por alguns segundos, até que eu estivesse abraçando nada mais que vento.
Eu havia chegado a tempo de abraçá-lo mais uma vez, mas não a tempo de tê-lo comigo para sempre,
E eu fiquei lá, caído de joelhos, chorando compulsivamente, transtornado com minha incapacidade de trazer meu amor de volta. E além de tudo, não sabia ao certo se ele havia entendido meus verdadeiros sentimentos por ele.
Quando finalmente consegui me controlar e enxugar minhas lágrimas, percebi que Gina estava ajoelhada ao meu lado, com um olhar inquisitivo, do tipo que não deixará passar aquela cena sem uma explicação convincente.
Sabendo que não tinha escolha, contei para ela tudo que acontecera enquanto estava desmaiada. Incrivelmente, ela não demonstrou gozação, mas uma profunda compreensão de minha situação.
- Gina, você não irá contar a ninguém o que aconteceu na Câmara Secreta?
- É claro que não Harry – ela respondeu com pena.
E eu voltei a chorar, porque sabia que nunca mais veria meu amor eterno.
Fim
