- Pelas barbas de Merlin, como é bom estar em casa! – Hermione se jogou no grande sofá azul-noite após ligar o rádio trouxa em uma estação qualquer.
Rony levantou as sobrancelhas e sorriu surpreso.
- Você copiando a mim?
A morena deitou a cabeça em suas pernas e fechou os olhos.
- Sinceramente, não tenho tanta certeza se isso é uma coisa boa, Ronald. – brincou com o sorriso nos lábios.
Ron riu, inclinando a cabeça ligeiramente para trás. Não conseguia mais se sentir ofendido com os pequenos comentários irônicos e debochado.
Já moravam juntos a pouco mais de um ano e nesse tempo Rony já aprendera mais sobre Hermione do que na época de Hogwarts.
Ele apoiou a cabeça na mão, cujo braço estava em cima das costas do sofá, e passeou os dedos da outra mão pelos fios castanhos alourados da mulher a sua frente. Sua respiração era calma; as minúsculas sardas estavam espalhadas pelo nariz, dando-a um ar dourado; e suas rugas quase imperceptíveis, causadas pelo estresse no Ministério, se escondiam atrás de fios de cabelo. Ele sorriu inconscientemente.
O rádio, colocado ao lado da enorme prateleira de livros, trocou de música: uma alegre e dançante.
O ruivo franziu a testa para a banda trouxa e o barulho da mistura de instrumentos. "Mas que diabos,", pensou, "como alguém consegue gostar de uma coisa dessas?"
Ouviu uma risada nasalada e voltou sua atenção para a morena. Hermione ria graciosamente da careta de Rony. Ela levantou do sofá e segurou-lhe as mãos.
- Oi?
Hermione sorriu e puxou-lhe com certa força. Rony entendeu onde ela queria chegar.
- Ah, não! Nem vem, Mione! – negou abruptamente, sacudindo a cabeleira ruiva.
- Por favor, Rony! Você nunca dançou comigo!
- Dancei no casamento do Gui!
- Você me puxou pra me manter afastada do Victor! – rolou os olhos com o sorriso no rosto.
O garoto fechou a cara e sentiu as orelhas queimarem. "Mas que inferno".
Com as orelhas da cor do cabelo ruivo, levantou-se do sofá de deixou Hermione guiá-lo até o meio da sala com uma dança animada e espontânea. Mal-humorado, sentiu seus braços serem sacudidos forçadamente em volta de seu corpo.
Deixou de encarar o – estúpido – rádio e voltou seus olhos azuis aos castanhos brilhantes que tanto admirava. Os mesmos olhos que aprendeu a ler e conversar sem palavras, junto com pequenos detalhes que aprendeu a cada dia. Sabia, por exemplo, que quando estava triste ou irritada, ela focava-se nos livros, no trabalho, ou até mesmo em tarefas simples onde se podia usar magia. Sabia que quando estava feliz, seu rosto corava e seus olhos brilhavam. Ele também sabia que todo o sentimento entre eles era recíproco. Que o sorriso idiota dele era interpretado corretamente.
Mesmo nunca tendo dito "as três palavras", ele sabia. E ela também.
E Rony começou a dançar.
