Xeque-Mate

- Boa tarde, Sirius.

O guarda que acompanhava Dumbledore colocou seu jornal debaixo do braço e abriu a cela: o diretor de Hogwarts adentrou e se sentou de frente para a cama na qual o prisioneiro se recostava.

Sirius se permitiu sorrir: as visitas semestrais de Dumbledore eram um pequeno alívio para a frieza daqueles anos. Ele sabia que o seu antigo professor era o único que acreditava na sua inocência, tendo, inclusive, o defendido por ocasião do julgamento, apesar de não ter qualquer prova de sua alegação. Infelizmente, todos os indícios estavam contra ele e nada pôde ser feito...

Então viu que era melhor se concentrar no jogo de xadrez a sua frente e esquecer por alguns minutos os fantasmas do passado.

- Você, vá para a casa F2!

O peão olhou para ele, contrariado, mas não questionou.

Seu oponente, no entanto, num movimento inteligente, levou este e mais dois peões.

- Rapaz, você parece mais distraído que o normal!

- Sempre os mesmos devaneios sobre coisas que não podem ser mudadas...

- É, todos nós erramos em alguns momentos, – afirmou Dumbledore, parecendo muito triste, de repente – mas eu acredito que sempre há uma chance de fazer tudo melhorar. Se Peter sobreviveu e está em algum lugar por aí, ele aparecerá e você sabe disso.

Ouvir o nome do traidor fez o sangue de Sirius ferver:

- Doze anos, – ele não gritou, mas sua voz estava tomada de uma ira que fez Dumbledore recuar ligeiramente sua cadeira – doze anos de inferno, doze anos... – de repente, seu rosto empalideceu ligeiramente – sem James e Lily. A família trouxa de Lily parecia boa, mas aquela irmã... Por que você colocou Harry nas mãos dela? Eu a conheci, em uma ocasião em King's Cross... As coisas pavorosas que dizia à Lily... Lembraram o preconceito da minha própria família – ele terminou, sombriamente.

O outro ouviu o discurso sem se manifestar, então ofereceu chocolate:

- Tome, você vai se sentir melhor.

O chocolate teve o gosto amargo das recordações distantes da adolescência em Hogwarts: Aluado resolvia tudo com chocolate.

- E Remus, como está? – perguntou num tom menos intimidador, tentando voltar ao normal e continuar a partida.

- Foi demitido de novo. Estou há dois anos tentando contratá-lo como professor, mas ele se recusa, com medo de manchar a reputação da escola.

O rapaz se lembrava da teimosia do amigo e suspirou: queria poder conversar com Aluado e convencê-lo de que não haveria pessoa mais qualificada e que Dumbledore sabe o que faz. Contudo, Remus Lupin nunca o visitou, nem o defendeu... Os doze anos de injustiça também o afastaram do único amigo vivo que lhe restou e agora o que podia fazer era aguardar o momento da vingança.

Alguns instantes depois, vendo Dumbledore se afastar, percebeu algo familiar na mascote de uma família que estava na primeira página daquele jornal que seu carcereiro carregava: seus olhos brilharam perigosamente e ele já planejava a próxima partida. O xeque-mate seria dado em breve.