Summer pertence parcialmente a Anna DePalo! Quanto aos personagens, uns pertencem a Anna DePalo e outros a J.K. Rowling.


Summer

Ela precisava daquela entrevista. Sua carreira dependia disso. Seu plano dependia disso. E, pelo que podia ver, tudo que estava em seu caminho eram alguns guardas de segurança musculosos, a falta de um crachá de imprensa para entrar nos bastidores e quase vinte mil fãs frenéticos de James Potter.

Lily olhou para James no palco. Mesmo de seu assento, doze fileiras atrás, o carisma dele era palpável. O jeans azul e a camiseta preta justa delineavam um físico esbelto e musculoso. Os cabelos escuros desalinhados enfatizavam a imagem de rebelde.

Mas era o lindo rosto dele que realmente enlouquecia as fãs. Lily gostaria de capturar aquele rosto fascinante com sua câmera.

Naquele exato momento, James pareceu olhá-la diretamente, e Lily prendeu a respiração. A conexão durou apenas um instante, mas a intensidade foi tamanha que ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo, do topo da cabeça aos dedos dos pés.

Somente quando ele desviou o olhar, ela conseguiu soltar o ar que estivera prendendo.

Não havia dúvida quanto àquilo. A atração sexual que James Potter exercia sobre as mulheres era potente demais.

Não que aquele homem fosse o seu tipo, claro. Lily olhou para a própria mão e fitou seu anel de noivado com um diamante de dois quilates.

De jeito nenhum.

Quando, mais uma vez, foi empurrada pelas fãs, suspirou de maneira impaciente e olhou ao redor.

Madison Square Garden. Um dos principais locais de eventos de Nova York. Aquele era o palco de convenções políticas, inumeráveis eventos esportivos e testemunhas da história. Frank Sinatra, Elvis Presley, Rolling Stones, Elton John, Bruce Springsteen... e agora James Potter, vencedor do Grammy, sensação do rock e atual febre do mundo musical, cujo último CD, Falling for you tinha ganhado o prêmio diamante por ter vendido mais de dez milhões de cópias.

Lily tinha todas as informações sobre James.

Sabia que crescera em Nova York, mas agora morava numa mansão em Beverly Hills. Que se tornara famoso pelo conteúdo sexy das letras de suas músicas. Que tinha ajudado a iniciar o projeto Músicas para a Cura, baseado numa série de shows no Madison Square Garden, com lucro revertido para uma bem sucedida campanha contra o câncer.

Mas embora ela conhecesse os fatos, não tinha acesso a James, e infelizmente, estava determinada a cavar uma entrevista com ele para a The Buzz. Há meses vinha pensando numa maneira de conseguir uma promoção no trabalho. Seu avô paterno, Joseph Evans, acreditava que mesmo os parentes deviam trabalhar para subir dentro do império editorial da família.

Então, quando Lily tinha chegado em casa certo dia e visto uma propaganda da Música Para a Cura no meio da correspondência, soube que encontrara seu ingresso para passar de uma mera editora de texto a repórter confiável. Uma entrevista com James Potter seria perfeita para a The Buzz, uma vez que esta se encontrava em uma séria disputa com sua rival mais próxima, a Entertainment Riddle, e também com as outras revistas da Evans. Joseph Evans havia declarado que o gerente editorial de qualquer revista do império da família que obtivesse mais lucro até o final do ano se tornaria o novo diretor geral da Editora Evans, quando ele se aposentasse.

Agora, com um bloco e uma caneta em mãos, Lily ajeitou-se na cadeira, procurando uma posição melhor. Tinha ido para a casa de shows diretamente do trabalho e sentia-se desconfortável. Seus pés, apertados em botas de salto alto, tinham sido pisados mais vezes do que podia contar. A calça de risca-de-giz era perfeita para o escritório, mas quente demais para locais fechados, e inadequada em meio a um mar de jeans. A gola alta também incomodava no calor gerado por milhares de pessoas dançando.

A sua volta, o público parecia mover-se como uma onda, balançando-se suavemente na área em torno do palco.

Por ser ainda apenas uma editora de texto da revista, sabia que o empresário de James teria rido na sua cara se ela tivesse lhe solicitado uma entrevista exclusiva com o ídolo do momento. Mas esperava que, se conseguisse se aproximar de James, talvez o convencesse a lhe dar uma entrevista. Afinal de contas, além de ser ambiciosa, articulada e conhecedora de música, trabalhava para a revista The Buzz. Então, mesmo que sua posição não a qualificasse como imprensa de acesso livre aos bastidores, The Buzz era um nome que abria portas.

Quando James terminou de cantar a multidão enlouqueceu, explodindo em gritaria, assobios e palmas. Ele brincou com o público e Lily sentiu aquela voz sexy penetrando-lhe o corpo como uma carícia íntima.

— Vocês querem mais? — perguntou ele, a voz profunda e suave como seda, provocando a multidão.

O público gritou e pediu bis em resposta.

— Como? — perguntou, colocando as mãos em concha em uma das orelhas.

A multidão gritou.

— Muito bem! — James gesticulou para a banda atrás de si, então passou a alça de sua guitarra elétrica sobre o ombro. A música começou e ele cantou um de seus maiores sucessos, uma balada chamada "Beautiful In My Arms".

Enquanto cantava sobre fazer amor sob palmeiras, sob o sereno, Lily sentiu-se sendo seduzida juntamente com o resto da multidão, acalentada em um momento mágico. Somente quando a canção acabou, a magia foi quebrada, e mesmo então, levou alguns segundos para que ela conseguisse se recompor e dizer a si mesma que aquilo era ridículo.

Tinha de se lembrar que estava ali com um propósito, e apenas um propósito, e não para se tornar mais uma admiradora ardente de James Potter.

Trinta minutos depois, quando o show terminou e as pessoas deixavam o local, Lily atravessou a multidão com agilidade, pretendendo chegar aos bastidores. Infelizmente, seu progresso foi detido por um guarda de segurança, alto, forte e de boa aparência.

— Com licença — disse ela. — Eu gostaria de ir até os bastidores.

O segurança, de braços cruzados sobre o peito largo, a estudou, os olhos fixando-se diretamente no diamante do anel dela.

— Certo. Você e mais algumas centenas de pessoas.

— Sou um membro da imprensa — murmurou ela, usando o mesmo tom de voz educado que ouvira milhares de vezes da diretora da escola para moças, a qual tinha freqüentado junto com sua gêmea idêntica, Tess.

— Deixe-me ver sua credencial.

— Eu não tenho. Entenda...

Mas o Sr. Corpulento e Imperturbável já tinha começado a menear a cabeça.

— Sem credencial, sem acesso. É isso aí.

Ela queria dizer: "Podemos conversar sobre isso?" Mas como duvidava que tal técnica funcionasse, procurou na bolsa seu cartão comercial. Então o ergueu para o homem.

— Está vendo? Sou membro da equipe da revista The Buzz. — Ela não se incomodou em identificar qual membro. — Já ouviu falar na The Buzz, não ouviu?

O Sr. Corpulento desviou os olhos do cartão para o rosto dela, não se dando ao trabalho de pegar o cartão.

— Como já lhe disse, somente pessoas autorizadas têm permissão de entrar nos bastidores.

Lily deveria estar preparada para aquele tipo de barreira.

— Tudo bem — replicou exasperada, tentando uma última cartada. — Mas não me culpe quando cabeças rolarem porque James Potter perdeu a chance de ser entrevistado por uma das principais revistas de entretenimento do país.

O segurança meramente arqueou uma sobrancelha.

Virando-se, Lily saiu andando com a cabeça erguida. Na escola, a srta. Donaldson teria ficado orgulhosa.

Certo, pensou, então não ia entrevistar James no camarim. Todavia, sabia que ele teria de sair do Madison Square Garden alguma hora, e quando isso acontecesse, ela estaria lá fora, esperando persistentemente por ele. Não tinha passado mais de três horas sendo empurrada e cutucada pelas fãs daquele homem, por nada. Precisava da entrevista.

Uma hora depois, contudo, sentiu como se estivesse aconchegada na noite úmida e fria de março para sempre, e começou a se perguntar o quanto realmente necessitava daquela entrevista. Estava cansada, com fome, e queria ir para casa.

Começou a procurar na bolsa uma bala de menta, ou qualquer coisa que pudesse comer, até que um tumulto a fez levantar a cabeça e notar que James tinha saído.

Infelizmente, ele estava rodeado pelos produtores do show e seguranças. Apesar disso, ela se apressou, sabendo que tinha poucos momentos antes que ele entrasse na limusine e partisse.

— James! Sr. Potter!

Naquele exato momento, o espaço em volta de James se tornou frenético. Paparazzis batiam fotos e centenas de garotas pulavam e gritavam como loucas.

Lily teve de parar quando colidiu com um corpo sólido, que mais parecia uma parede de tijolos. Ela olhou para cima e deu um passo involuntário para trás quando o policial, um dos muitos perto da limusine, ela agora notava, bloqueou seu caminho.

— Afaste-se — ordenou ele.

Olhando por cima do ombro do policial, viu James entrar no carro. Desanimada, relaxou os ombros. Quatro horas, 27 minutos e 22 segundos. E agora, finalmente fracassada.

Lily teve vontade de chorar de tanta frustração. Como uma deixa, um pingo de chuva caiu no seu rosto, então outro. Olhando para cima, contraiu a face numa careta, então caminhou em direção ao ponto de táxi na Sétima Avenida. Como a chuva estava apertando, ela sabia que não encontraria outro táxi vazio.

Vinte e cinco minutos depois, chegou na casa de Upper West Side, que pertencia a seus avós, mas que os dois só utilizavam como uma segunda residência.

Assim que alcançou o andar de cima, onde ela e Tess tinham quartos separados, sua irmã gêmea saiu do quarto para cumprimentá-la.

— Como foi? — perguntou Tess, vestida num pijama de seda vermelho.

Olhando para o traje de dormir de sua irmã, Lily pensou mais uma vez que ela e Tess não podiam ser mais diferentes, apesar de serem gêmeas idênticas. Tess era conhecida como exibicionista, selvagem e louca, enquanto todos pensavam em Lily como uma garota sensata e metódica.

— Horrível — respondeu ela, sentando-se no sofá da saleta que dividia os dois quartos, e abrindo o zíper das botas. Libertando os pés, movimentou os dedos com alívio. — Não sei o que me fez acreditar que eu conseguiria essa entrevista com James. Nem cheguei perto dele! O homem tem mais seguranças do que o Papa e o Presidente juntos.

Ela resumiu os acontecimentos da noite para Tess, então deu de ombros.

— Agora percebo que foi um plano maluco, mas preciso de um outro esquema para subir na carreira. Alguma idéia?

— É isso? — questionou Tess incrédula. — Simplesmente assim — ela estalou os dedos — você está desistindo de James?

— Não simplesmente assim — disse Lily, estalando os dedos também. — Você não ouviu tudo que eu disse?

— Amanhã à noite haverá outro show. Você ainda tem uma chance de conseguir a entrevista.

Lily costumava administrar uma dose de realidade para conter a exuberância da irmã.

— Não haverá uma entrevista e ponto final.

Tess colocou as mãos nos quadris.

— Bem, com você vestida assim, não haverá mesmo.

Lily olhou para as próprias roupas.

— O que há de errado com o jeito que estou vestida?

— Você está vestida como uma freira. — Gesticulando com uma das mãos, Tess acrescentou: — Está praticamente coberta dos pés a cabeça.

— Está frio lá fora — replicou ela na defensiva. — Além disso, você não está sugerindo que eu deva ir a algum lugar usando saia curta e blusa decotada, está?

— Bem, não dói.

— Certo, e suponho que ajudaria se eu pegasse emprestadas algumas roupas de seu armário — disse ela secamente.

Os olhos de sua irmã brilharam.

— É uma boa idéia.

O amor de Tess pela moda era bem conhecido. Ela frequentemente rascunhava desenhos, e muitas vezes confeccionava as próprias roupas. Lily a admirava por isso, embora seu gosto para vestir-se fosse bem mais tradicional.

— Esqueça.

— É perfeito! Por que não pensei nisso antes?

— No quê?

— No modo de passar pela segurança de James Potter. Vista-se como uma tiete de rock. Eles sempre permitem que mulheres atraentes cheguem aos bastidores.

— Por quê?

Tess suspirou exasperada.

— Lily, às vezes, posso jurar que você nasceu com a mente de uma mulher de 50 anos. Por que você acha? Às vezes, por sexo, outras, para acariciar o ego do artista, e às vezes, é somente por publicidade positiva, porque as mulheres mais tarde vão contar aos repórteres o que conversaram com um astro de rock.

— Oh, por favor! Você não quer que eu me vista como uma garota do tipo cabeça de vento, quer? Estou tentando inspirar respeito como repórter, não luxúria como tiete.

Tess virou-se.

— Tenha dó! Amanhã à noite, você irá vestida para seduzir. A parte séria pode vir depois que você estiver lá dentro. Você irá a um show de rock, não a uma entrevista na ONU.

Lily suspirou, mas relutante levantou-se do sofá e seguiu sua irmã gêmea. Podia facilmente imaginar o que Tess tinha em mente, e esse era o problema.


Quando seus pés tocaram o solo, Lily ajeitou a postura, preparando-se para o que a esperava. Olhou para a fantástica casa de eventos quando saiu do táxi, e repetiu mentalmente o conselho que Tess lhe dera mais cedo.

Liberte sua deusa interior... Liberte sua deusa interior...

Continuou repetindo aquela frase como um mantra enquanto andava para a entrada do Madison Square Garden.

Às cinco horas, tinha deixado sua mesa no trabalho e pegado o elevador para a diretoria da Editora Evans, nos escritórios da Carisma, onde sua irmã trabalhava. Tess a ajudara a se vestir com as roupas que haviam escolhido na noite anterior, depois fez uma maquiagem da moda e arrumou seus cabelos.

Lily não precisava imaginar sua nova aparência. Vira-se no enorme espelho dos escritórios da Carisma por tempo suficiente.

Dramática. Sexy. Em resumo, uma pessoa diferente. Ela torceu os lábios. Uma pessoa diferente que se parecia muito com Tess. E não era de se admirar, claro, uma vez que estava vestida com as roupas da irmã, e Tess, por desejo ou inconscientemente, parecia pensar que sexy significava ousadia em excesso.

Lily tocou os cabelos. Estavam soltos, os cachos pendendo em cascata até abaixo dos ombros.

Usava uma saia de camurça preta acima dos joelhos e botas também pretas que iam até os joelhos. Se Tess entendia de moda, joelhos eram altamente sexy.

Sob o casaco verde, curto e acinturado, ela vestia uma blusa vermelha colada ao corpo, e bem decotada, que deixava à mostra parte dos seios. O rosto estava muito mais maquiado que de costume. Normalmente, preferia uma aparência natural, um batom clarinho e sem brilho. Mas não esta noite. Os lábios estavam com um vermelho vivo e um lindo brilho dourado por cima.

Aparentemente, dourado nos lábios era agora a grande tendência da moda. Assim dissera Tess. E quem era ela para discutir? Como editora-assistente de moda da Carisma, concorrente direta da Vogue, Tess estava em condição de saber.

Enquanto andava pelo Madison Square Garden, Lily olhou para seu dedo sem anel. Não havia um anel de noivado na mão para denunciá-la.

Sua irmã tinha insistido para que ela deixasse o anel em casa. Quando protestou, Tess lhe pegou a mão e removeu o anel por si mesma.

— Não seja ridícula, Lily. Como espera fingir-se de tiete?

— E o que o anel tem a ver com isso? — devolvera ela, tentando puxar a mão contra a investida de Tess.

— Já não falamos sobre isso? Tietes têm permissão para entrar nos bastidores porque são jovens, sexy e solteiras. Você vai ter todo esse trabalho para depois estragá-lo com um anel de noivado?

No final, tinha deixado Tess tirar-lhe o anel. Mas a coisa ainda não lhe parecia correta. Sentia como se estivesse sendo desleal a Nathan.

O sentimento era ridículo, claro. Não ia a um encontro amoroso naquela noite. Estava apenas tentando conseguir que um astro de rock lhe desse uma entrevista, usando o recurso da atração sexual. O que havia de errado com isso?

Na verdade, tinha quase convencido a si mesma. Quase.

Pensou em Nathan novamente. Seu noivo retornaria logo da viagem de negócios, o que era bom, uma vez que eles tinham um casamento para planejar.

Lily planejava tudo com cuidado, e mantinha em dia suas metas. Ficar noiva aos 25 anos era parte do plano de cinco anos que estabelecera para si mesma.

O plano era o seguinte: aos 25, ficar noiva e conseguir o cargo de repórter na The Buzz; aos 26, casar-se; aos 28, fazer um nome de sucesso como repórter de entretenimento e aos 30 ser promovida a gerente da The Buzz, e então engravidar.

Até agora, tudo ótimo. Ajudava, é claro, que Nathan também tivesse seu próprio plano de cinco anos. Por esse critério, ela o escolheu dentre os homens com quem costumava sair.

Muito parecido com ela, Nathan era sério e ambicioso. Aos 29 anos, já era sócio de uma agência de propaganda e tinha uma clientela impressionante, a qual exigia que ele viajasse muito pelo país a negócios.

Ele era seu par perfeito, e nesta mesma época do ano seguinte, Lily seria a Sra. Nathan Harlan. Após nove meses de namoro, Nathan a pedira em casamento durante um jantar romântico no Dia dos Namorados. A perfeição da proposta havia sido a última prova que ela precisava de que estava tomando a decisão certa. Tinha pensado que o Dia dos Namorados seria a data perfeita para ficar noiva, mas seu lado de garota escolar bem comportada e educada não lhe permitira dar indiretas. Então Nathan havia tomado a iniciativa e proposto.

E daí se, tarde da noite, sozinha na cama, ela experimentava uma ocasional onda de desconforto? Todas as noivas não se sentiam nervosas, afinal de contas?

Voltando a atenção para o show que finalmente tinha começado, logo se encontrou mergulhada no humor sonhador em que caíra na noite anterior.

Se tivesse se sentido tentada a considerar o show da noite anterior como uma tacada de sorte, dessa vez não haveria como negar o poder de James Potter como cantor e, mais importante, a habilidade que ele possuía em afetá-la.

Ocasionalmente, ela parava para escrever no seu pequeno caderno de anotações, procurando pelos adjetivos certos para descrever a atuação dele e no efeito elétrico que tinha sobre o público.

Quando James começou a cantar "Beautiful In my Arms", Lily novamente se sentiu transportada para um lugar mágico, e era como se ele estivesse cantando só para ela. Era quase como a sensação que ocasionalmente experimentava em uma outra circunstância: quando se permitia fazer algo totalmente imprevisto. Alguma coisa que não fosse sensata demais, e que considerava loucura.

Ela reprimiu os pensamentos. Não fazia sentido pensar sobre isso agora. Era seu pequeno segredo. Esta noite, tinha uma missão profissional a cumprir. Desta vez, com alguma sorte, e dicas internas, de uma colega de trabalho da The Buzz, conseguiu sair da platéia no fim do show e localizar-se na metade do caminho que levava ao camarim dos músicos.

Ela tinha desabotoado o casaco. Tess dissera: "Mostre-lhes a mercadoria e não seja tímida". Segurando uma pequena bolsa de camurça em uma das mãos, se compôs quando se aproximou do primeiro guarda de segurança. "Você pode fazer isso", disse a si mesma. "Você é capaz".

Esboçando um sorriso brilhante, notou que os olhos do homem alto e forte a observavam com atenção, enquanto ela se aproximava. De repente, ele perdeu a expressão séria, substituindo-a por uma de apreciação masculina.

Bem, aparentemente, Tess estava certa.

Sentindo-se de súbito poderosa, Lily manteve o sorriso no lugar e lançou-lhe um olhar envergonhado.

— Estou aqui para ver James. Ele pediu-me para procurá-lo quando estivesse em Nova York.

— Ele pediu?

Ela assentiu, aproximando-se mais do homem.

— Falei com Marty mais cedo. — Lily tinha se certificado de saber o nome do empresário de James. Uma vez que ia mentir muito, não fazia sentido errar. — E ele me disse para vir logo depois do show.

— Você conhece Marty?

— Apenas das últimas cinco cidades. Vi o show de James em L.A., Chicago, Boston... — Ela deu uma pausa, então acrescentou de modo significativo: — Nós sempre nos divertimos muito.

O guarda gesticulou por sobre o ombro.

— Terceira porta à esquerda.

Fácil assim? Ela teve vontade de chorar de alívio. Em vez disso, sorriu e murmurou:

— Obrigada.

Por um segundo, pensou que não seria difícil se acostumar a levar uma vida como uma mulher sexy e ousada. Sentia-se livre, quase impulsiva.

Diante da porta de James, respirou profundamente e bateu.

— Entre — soou uma voz masculina do outro lado.

Girando a maçaneta, ela entrou no camarim levemente iluminado.

Do outro lado da sala, a voz dele a alcançou:

— Eu estava esperando você.

A voz pareceu infiltrar-se em cada célula do corpo de Lily. Profunda, sexy, rica e vibrante, era até mesmo mais potente de perto e pessoalmente do que no palco.

James continuou de costas para ela, enquanto pegava o celular de uma mesinha organizada e apertava alguns números.

— Estarei pronto para ir ao hotel em aproximadamente dez minutos. Tudo bem para você, Marty?

Ela podia ver que ele ainda estava vestido com o jeans preto e a camiseta que usara no palco. O traseiro era lindamente definido pela calça justa, e o algodão da camiseta delineava braços fortes e ombros largos.

Ela pigarreou.

— Eu não sou Marty.

James virou-se e parou, olhando-a. O rosto dele era extraordinário. Bonito, sim, mas também muito expressivo. E então havia os olhos. Oh, Senhor, os olhos. Eram castanhos esverdeados e insondáveis como o oceano. Ela teria dito que a expressão dele se tornara dura, não fosse por aqueles olhos. Apesar da reputação de James de ser grosseiro, ele tinha olhos incrivelmente doces.

Com a parte do cérebro que ainda funcionava, Lily notou que ele permanecia imóvel. Era sua imaginação ou ele estava tão perturbado quanto ela?

— Sim — murmurou ele finalmente. — Posso ver que você definitivamente não é Marty. Então, quem é você?