Nome da Fic: Sorvete de Limão

Autor: Roseangie

Beta-reader: Mia Teixeira

Personagens: Albus Dumbledore,Alfardo Black,Grindewald,

Censura: M

Gênero: Romance

Summary: 1937, Albus Dumbledore sai do orfanato onde acaba de conhecer o jovem Voldemort/Tom, e sua vida cruza com a de Brianna Doyle, uma jovem e bela trouxa.

Agradecimentos: à minha beta Mia Teixeira, pela sua paciência, por aturar essa escritora iniciante, e por me encaixar na sua ocupada agenda.

Disclaimer: Harry Potter e seus personagens são de propriedade de J.K. Rowling, Warner Bros, entre outros. Eu só os levo para passear.

Era um dia ruim, de um mês ruim, num ano pior ainda.
A vida de Brianna Doyle não estava muito fácil, aliás, nunca tinha sido. Naquele dia específico, ela estava com fome e tinha acabado de sair de mais uma frustrante tentativa de conseguir um emprego.

Tudo teria dado certo se o dono da lanchonete não tivesse tentado passar a mão onde não devia e se ela não tivesse jogado o prato de sopa sobre ele.

- Cretino idiota. Verme estúpido! - murmurou entre dentes enquanto descia a rua do orfanato apressada, sem ter realmente aonde ir, apenas andando para deixar a raiva e a humilhação para trás.

Quando passou em frente ao prédio do orfanato, sentiu uma vertigem e quase caiu em cima de um homem que saía do prédio.
- Me desculpe senhor. Eu realmente sinto muito... - começou a dizer, mas as palavras morreram antes de chegarem à boca.
O homem era um acontecimento por si só, enquanto tudo à volta de Brianna era cinza e pálido, ele vestia um paletó cor de ameixa e tinha cabelos e barba longos e vermelhos. Brianna piscou aturdida e desviou os olhos do homem que parecia divertir-se com seu olhar espantado.
- Não por isso! - disse ele. - Você não parece muito bem, deixe-me ajudar.
- Realmente não é preciso - disse ela pondo-se ereta e ajeitando o vestido. - Eu estou bem, realmente bem, obrigada.
O homem era algo de impressionante, e Brianna não conseguia ficar muito tempo sem olhar para ele. Era alto, magro e tinha uns olhos de um azul claro luminoso e cintilante que pareciam penetrar na alma.
Mas para mim já chega de cretinos, idiotas e vermes estúpidos, por hoje - ela pensou.

- Acredite senhorita, eu não pretendo me comportar como um cretino, idiota, verme estúpido - disse ele sorrindo e apertando os olhinhos azuis.
Brianna o olhou meio surpresa, afinal ele tinha repetido quase palavra por palavra o que havia pensado. Abriu a boca para agradecer e seguir caminho, mas se ouviu dizendo exatamente o oposto.
- Acredito senhor; não parece ser do tipo que se comportaria assim. Sou Brianna Doyle, muito prazer - disse estendendo a mão para um cumprimento.
- Albus Dumbledore - respondeu ao mesmo tempo em que apertava a sua mão e a mantinha apertada. - Se importaria se eu lhe pagasse um almoço? Seria realmente um prazer.
Brianna estava faminta, e uma refeição quente era uma proposta tentadora. Pegou-se imaginando um assado seguido de sorvete de limão na sobremesa, e naquele momento, a idéia do sorvete de limão era quase palpável.
- Agradeço o convite, Sr. Dumbledore, mas realmente preciso ir. De todo modo, obrigada de novo pela ajuda. - Ele soltou sua mão, e ela seguiu seu caminho, ainda imaginando o sorvete de limão.
Ele observou enquanto ela caminhava. Desviando aqui e ali de algum outro trouxa e achou que havia algo de positivamente mágico no modo como ela se movia.Ele esperou. Porque sabia que ela se voltaria para olhar. Quando ela se virou, seus olhos se encontraram e ela sorriu.

Brianna costumava confiar em sua intuição, usava este dom como um instrumento de adivinhação, como um cristal através do qual podia ver com uma visão interior. Era como se carregasse em seu bolso a boneca do conto de fadas, e ela sussurrasse quando deveria virar à esquerda ou à direita. E essa voz secreta lhe dizia que podia confiar no homem colorido. Resolveu voltar.

- O convite ainda está de pé? - disse sorrindo e ligeiramente ofegante.
- Com certeza, nada me faria mais feliz do que almoçar com a senhorita hoje. Vamos!
Dumbledore segurou o braço de Brianna com firmeza e disse sorrindo:

- Aconteça o que acontecer, não largue meu braço. - E antes que ela pudesse pensar, sentiu o braço de seu acompanhante torcer e escapar. Apertou com toda a sua força, enquanto tudo a sua volta escurecia e ela sentia como se fosse puxada em todas as direções... Tudo acabou tão rápido quanto tinha começado, e ela respirava com dificuldade. Quando abriu os olhos, a rua do orfanato tinha sumido.
- O que diabos... É você? - gritou ela assustada, começando a duvidar de sua própria intuição.

- Desculpe se a assustei, era o meio mais rápido de chegarmos - ele disse sorrindo e apoiando Brianna pela cintura. - Quanto à sua última pergunta, sou um bruxo, e como já disse antes, Albus é o meu nome, ou, para ser mais preciso Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore. – Fez um movimento elegante, e uma cadeira surgiu; ele fez com que uma Brianna pálida e calada se sentasse.
Estavam na casa de Brianna, um pequeno cômodo sobre uma loja fechada. O quarto era mal iluminado e com cheiros desagradáveis; a mobília estava em mau estado e a cama... Bom, a cama era um capítulo à parte: uma gigantesca cama de mogno, que parecia ter sido entalhada na pedra do próprio apartamento, já que não havia como ter entrado ali. Não havia mesa, apenas algumas cadeiras, um pequeno armário, um baú antigo.
Brianna observou, entre encantada e assustada, Dumbledore fazer a imensa cama desaparecer, fazendo surgir em seu lugar uma mesa coberta por uma toalha de linho branco, e sobre ela estava o assado que ela havia imaginado.
- Não quero ofender Srta. Brianna, mas a senhorita parece positivamente faminta. - Estendeu a mão e a levou até a mesa, onde serviu Brianna e depois se serviu.
- Gosta de música, Srta. Brianna? - Brianna achou sua voz perdida e murmurou que sim. Imediatamente sua música favorita começou a tocar. A voz de Fred Astaire enchia o ar. – Achei que gostaria dessa, me pareceu apropriada. – E sorriu apertando os olhinhos azuis.

Some day, when I'm awfully low,
When the world is cold,
I will feel a glow just thinking of you...
And the way you look tonight.
Yes you're lovely, with your smile so warm
And your cheeks so soft,
There is nothing for me but to love you,
And the way you look tonight.
With each word your tenderness grows,
Tearing my fear apart...
And that laugh that wrinkles your nose,
It touches my foolish heart.
Lovely... Never, ever change.
Keep that breathless charm.
Won't you please arrange it?
'Cause I love you ... Just the way you look tonight.
Just the way you look tonight.

Brianna sorriu ainda nos primeiros acordes, amava aquela música. Dumbledore sorriu também, e ela se acalmou; bruxo ou não bruxo, ela confiava naquele homem colorido e gentil. Comeu o assado com apetite. Conversou sobre música, ele gostava de ópera e ela amava a música americana, em especial Porter e Gershwin.
- Sabe, Srta. Brianna, hoje cedo eu estava muito preocupado com questões muito sérias, e quando a senhorita caiu em cima de mim, foi uma agradável distração me preocupar com questões tão mais fáceis. Como vê, ajudá-la para mim é tão simples como conseguir esse sorvete de limão, delicioso, que tomamos agora.
Brianna sorriu para o bruxo à sua frente entretido com o sorvete e fez a pergunta que queria fazer desde o início daquela estranha refeição.
- Por que se revelou a mim? Por que me mostrou seus poderes? Poderia ter me ajudado sem se revelar, mas escolheu se mostrar. Por quê? Não há muitos bruxos me convidando para almoçar, acredite.

Ele juntou as pontas dos dedos, e seus olhos se fixaram em Brianna; inúmeras rugas foram se formando ao redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Nesse instante, não aparentava ser tão jovem como ela pensara antes. Mas logo sorriu, e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou a parecer jovial e meio desatento.
- Sabe Srta. Brianna, eu não sou o único; existem muitos bruxos e bruxas e uma série de leis e decretos criados pelo Ministério da Magia para manter a magia oculta de pessoas como você.
Dumbledore parecia sereno e ligeiramente divertido.
- Existe até um decreto que diz que magia pode ser utilizada na frente de trouxas em circunstâncias excepcionais, e essas circunstâncias excepcionais incluem situações que ameacem a vida do bruxo ou bruxa, ou qualquer bruxo, bruxa ou trouxa presente.
Ela o encarou por um instante, séria e assustada, olhando para seu rosto afável sem entender.

- Desculpe a expressão, mas trouxa é o modo como nos referimos aos não-bruxos.
- Foi para me dizer isso que me trouxe até aqui? - perguntou levantando-se e torcendo as mãos. – Suas leis me salvaram de quê? De um patrão abusado? Que eu saiba, fora meu encontro com o senhor, nada de mágico me aconteceu hoje.
Ele fez uma pausa, procurando deliberada e obviamente abrandar suas palavras.
- Srta. Brianna, não havia perigo algum, e eu não a salvei de nada além de dormir com fome. Apenas fiquei encantado pela senhorita e queria conhecê-la melhor, mas não queria fingir ou me esconder, queria que me visse como sou de fato.
Ele pareceu constrangido. Extremamente constrangido. Deu mais um sorriso e olhou em volta, desviando por um instante do olhar dela.
Ela riu baixinho, num sussurro. Seu riso foi crescendo até explodir numa sonora gargalhada. Ela então se recostou na cadeira e, com um sorriso flutuando no rosto, encarou-o nos olhos.
- Que bom. Eu estava começando a ficar com medo. Fico feliz que seja mesmo apenas um almoço com um homem interessante. Não sei por que disse aquelas coisas...
Ele limpou a garganta; sua expressão era serena, quase imparcial.
- Eu gostei muito da senhorita - disse simplesmente -, e como eu pensei, foi bastante interessante conhecê-la, mas vou ter de agir como os outros bruxos e apagar suas lembranças deste encontro. Se aquele homem que a importunou hoje cedo fosse um bruxo, ele a tomaria, e se ele quisesse a senhorita nem mesmo se lembraria do que houve... Se eu quisesse, também poderia, entende?
- Eu sei - disse ela. - Eu mesma vi o seu poder. - Uma sensação eletrizante passou por ela. - Continue, roube minhas memórias se quiser, mas não vá agora.
Mas ele não conseguia prosseguir. Olhava para ela, frustrado e preocupado. Seus olhos vagaram pela mesa até voltarem finalmente a ela. Uma ternura imensa brotava em Brianna ao ver esse sentimento de proteção, ao ouvir na voz dele a delicadeza e o medo de magoá-la. Todo aquele poder, e ele tinha se comportado como um cavalheiro.
- Por que não vem? - disse ela, sussurrando, mais uma vez. - Está com medo de mim, grande bruxo?

Ela se foi até ele. Era leitosa a luz que vinha da rua; já era noite. Ela deu um longo suspiro, quase involuntário, num gesto lento, aproximou-se do rosto dele e deu-lhe um beijo suave e profundo, depois voltou devagar ao seu lugar, até chegar à cadeira vazia, onde ficou à espera.
Albus estava gostando da moça. Não podia dizer ainda o quanto estava gostando dela, mas era agradável saber que nenhum feitiço havia sido proferido, que ela estava onde queria estar. Ele estava acostumado a manipular pessoas e situações, mas ali naquele quarto naquele momento, ela era a bruxa e ele o trouxa!
Não havia momentos em que sentia um vazio? Em que se sentia como se estivesse à espera de alguma coisa, algo de extrema importância que ele não sabia o que era? Talvez a moça de cabelos vermelhos fosse sua resposta, talvez não, mas ele decidiu se arriscar.
Dumbledore ficou de pé. Com um movimento elegante de sua varinha, a mesa desapareceu e a enorme cama retornou ao seu lugar. Ele foi até Brianna soltou os cabelos dela e a trouxe mais para perto com seus dedos insistentes, até sentir o cheiro morno da testa dela e beijar sua pele lisa. Ela sentia nele uma audácia, uma fome e uma solidão impossíveis de medir. E essa fome e essa solidão, ela também conhecia, e o beijava para espantar esses fantasmas com a única mágica que conhecia. Ele a apertava de encontro ao peito num frenesi feroz.

Quantos dias e quantas noites se passaram? Ela francamente não sabia.
Ela estava ali, muda, com os cabelos vermelhos caindo em belas ondas. Nenhuma lágrima nos olhos. O luar entrava pela janela nua, junto com uma boa quantidade de ar frio, e aquela luz iluminava uma Brianna vazia.

Ele havia partido, sem maiores explicações, mas deixara suas memórias. E pensar nisso a fazia sorrir. A intuição lhe dizia que ele voltaria. Sentiu uma leve presença em sua mente.
"Albus?" Sua mente voou como um pássaro noturno por baixo das árvores e sobre campos. "Ainda está com meu cheiro em sua pele, Albus? Virá visitar-me um dia, um ano desses, em alguma ocasião? Será capaz de me reconhecer?"
Ela parou olhos; fechados na noite escura, esperando.
A muitos quilômetros de Londres e das pessoas, acima das fazendas e continentes e rios e colinas, sua mente voava.
"Albus?" - repetiu, docemente.

Dumbledore não dormia. Era tarde da noite; suas roupas estavam penduradas em cadeiras ou cuidadosamente dobradas na extremidade da cama. E, em uma das mãos, ele ainda sentia o perfume suave dos cabelos dela.
Muito devagar, uma fração de centímetro por vez, seus olhos fechavam. Ele nem se mexeu, nem mesmo percebeu quando, sutilmente, maravilhosamente, sua mente voou até ela e a imagem veio bater de leve por um momento contra os claros cristais enluarados da vidraça, e então, estremecendo, ele sussurrou:

- Em breve nos veremos.

A idéia de que alguém o estava esperando era doce.Ele voltaria a vê-la em breve, estava certo disso.Fechou os olhos e dormiu um sono feliz.