Este é o primeiro capítulo de uma história imaginada por mim que se passa cerca de um ano depois do último livro do Ciclo da Herança, por isso quem ainda não acabou de ler os livros é melhor não ler a história.

Quase todas as personagens presentes, bem como o cenário (locais), etc pertencem a Christopher Paolini.

Outras personagens e locais foram criados por mim, bem como esta história. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência ou algo assim.

É a minha primeira fic, por isso quem ler dê algum feedback para ter a noção se faço isto muito mal ou não.


Dras-Yawë

Os primeiros raios de Sol do dia entravam pela fresta das cortinas verde-esmeralda que Eragon colocara na janela embutida no tronco da árvore onde estava instalado. O quarto, construído numa árvore à maneira dos elfos, que cantavam na língua antiga de modo a modificar a natureza para os seus propósitos em vez de a contradizer, tinha uma tonalidade esverdeada devido à cortina.

Eragon piscou os olhos algumas vezes e de imediato alcançou a mente de Saphira, como era costume fazer todas as manhãs. Uma confusão de imagens calmas, apaziguantes e um tanto indefinidas e escuras disseram-lhe que o seu dragão ainda dormia. Eragon ergueu-se da cama, também ela trabalhada através de canto élfico, cheia de pequenos detalhes, afastou os lençóis finos e levantou-se. Abriu as cortinas e inspirou o ar fresco da manhã, o Sol ainda a pouca distância da linha do horizonte. Até onde a sua visão conseguia alcançar viu Dras-Yawë, a pequena vila que ele e os elfos que o acompanharam na expedição para lá das fronteiras de Alagaësia tinham formado. Embora não fosse realmente uma cidade como o nome sugeria tinha assim sido nomeada, pensando já em futuros acontecimentos que a obrigassem a expandir. Já o nome Yawë veio do sentimento que Eragon ainda nutria por Arya, seria demasiado explicito chamar-lhe Arya. Então, lembrou-se da tatuagem da elfo e deu o nome à vila de Dras-Yawë.

Era um aglomerado de casas esculpidas em árvores de tronco muito largo, embora de baixa estatura. As suas copas eram frondosas, mas estranhamente achatas, como se tivessem sido comprensadas. Há volta das casas de troncos retorcidos com aberturas estratégicas de janelas e portas havia alguns animais e outras plantas e num canto mais afastado do cenário, perto de um pequeno rochedo com uma saliência estava Saphira, o dragão fêmea de escamas azuis cor de Safira que reluziam com os raios de Sol ténues e reflectiam luz azulada no rochedo de pedra cinzento-clara.

Desde que saíram de Alagaësia passara já quase um ano. Tinham deixado para trás o deserto de Hadarac e navegaram pelo rio Hedda durante cerca de um mês. As planícies secas, agrestes e sem sinal de vida começaram a dar lentamente origem a pequenos aglomerados de erva alta e juncos junto ao rio. O curso de água foi aumentando a sua largura, até que a um ponto tinha quase dois quilómetros de largura. Quando acharam que talvez estivessem a ir dar a um mar desconhecido o rio abriu-se num enorme lago há volta do qual havia imensa vida. Árvores de todos os feitios e tamanhos com flores e folhas coloridas que nem mantas de retalhos. No entanto, ninguém se atreveu a estender a sua consciência a possíveis animais, pois não faziam ideia do que lhes podiam fazer. Tanto ali podiam existir ursos do mais comum possível, como os da Espinha ou um animal perigoso e obscuro como o Nídhwal.

De facto era essa a grande dificuldade da jornada que enfrentavam: o desconhecido.

Não sabiam o que iam encontrar. Não sabiam se havia humanos, elfos, anões, urgals ou qualquer outra espécie desconhecida naquelas paragens. Não sabiam que animais ali haviam, que espécies de plantas podiam ser comidas. A certa altura, nem sabiam se os seus feitiços poderiam ali funcionar.

Uma vez, durante a viagem, quando já todos, inclusive Saphira dormiam Eragon deu consigo a olhar para o céu e a imaginar que Brom estava ali a pairar por cima da sua cabeça, dirigindo ao seu pai as suas palavras de preocupação pelo que o esperava. Avaliado de um ponto lógico aquilo era estúpido, mas Eragon há muito que deixara de se importar com isso.

Depois de chegarem ao enorme lago carregado de seres à sua volta tiveram de atracar o barco na margem. A tarefa, assim como as tarefas seguintes de exploração revelaram-se bastante simples e nada perigosas. Era como se a própria terra os esperasse com alegria e não lhes quisesse fazer mal. Isto lembrou Eragon da Árvore Menoa sem ele saber bem porquê.

Os animais que encontraram eram parecidos com os existentes em Alagaësia na sua constituição, apenas ligeiramente maiores. No entanto, quando Saphira matou três animais semelhantes a veados, apenas com as hastes verdes escuras viram três bolas a flutuar no ar. Nem eram sólidas nem gasosas, mas sim uma espécie de fumo líquido, de um branco muito brilhante. A princípio ficaram assustados, mas vendo que nada acontecia e que todos os animais de que Saphira se alimentava tinham o mesmo comportamento tomaram isso como algo natural daquelas paragens.

Agora ali, passado o medo do desconhecido e as incertezas, tinham assentado e começado a construir o que viria a ser, dali a décadas, talvez séculos, a nova Dorú Areaba, o berço dos Cavaleiros e dos seus Dragões.

Afastando-se da janela Eragon encaminhou-se para uma parte do quarto espaçosa quando sentiu uma consciência tocar na dele. Era um toque especialmente digno mas um tanto vaidoso que Eragon reconheceu de imediato como sendo Saphira, e como o dragão não precisava de permissão de Eragon para se comunicar mentalmente com ele começou logo a "falar":

-Bom dia pequenino. Então, qual o plano para hoje?

-Bom dia dorminhoca – gracejou Eragon – O plano é o mesmo de todos os dias, calculo: construir.

-Eu não sou dorminhoca, pequenino, apenas tenho necessidades de sono talvez ligeiramente maiores que as tuas. E, esse plano está a tornar-se algo repetitivo. Sinto saudades de Fírnen, Eragon…

Ao ouvir Saphira tocar no nome do dragão verde Eragon deduziu que mais cedo ou mais tarde Arya, a sua Cavaleira viria à baila também.

-Eu sei Saphira… Bem, agora tenho de praticar o Rimgar, afinal não é por não estarmos no mais activo que devo descurar isso. Preciso de me fechar em mim, até já.

Saphira entendeu que tocar no assunto Fírnen/Arya afectara Eragon, como aliás, acontecia desde que os tinham deixado para trás. Retirou-se o mais que pode da mente de Eragon, deixando-o só com os seus pensamentos e a desculpa esfarrapada do Rimgar.

Eragon elevou os braços acima da cabeça, inspirou fundo e começou a sucessão de movimentos élficos que Oromis há muito tempo lhe ensinara. Há quanto tempo ao certo ele não sabia, o que a sua mente lhe dizia era diferente do que o calendário lhe impunha. Decerto teriam passado apenas cerca de cinco anos, no entanto, parecia que já Alagaësia tinha renascido umas cem vezes desde esses tempos distantes. Relaxou a sua mente e deixou que o exercício o acalmasse.